TERCEIRA COMUNICAÇÃO DE JOÃO EVANGELISTA
Uma
colaboração de Estênio Negreiros
"Adão,
Adão, onde estás?
Meus
olhos procuravam-no e não o viam; eu o chamava e ele não me
respondia.
Adão
ainda não tinha vindo.
Onde
estava Adão?
Não
me aparecia; Moisés tampouco vinha, para dizer-me onde se achava
escondido o primeiro homem do Gênesis.
Porque
eu via um homem, dois homens, muitos homens e, no meio deles, não
via Adão, e nenhum deles conhecia Adão.
Eram
os homens primitivos, esses que meu espírito, absorto, contemplava.
Era o
primeiro dia da Humanidade; porém, que humanidade, meu Deus?...
Era
também o primeiro dia do sentimento da vontade e da luz; mas de um
sentimento que apenas se diferençava da sensação, de uma vontade
que apenas alcançava desvanecer algumas das sombras do instinto.
Primeiro
que tudo, o homem procurou o que comer, e comeu; após, procurou uma
companheira, juntou-se com ela e tiveram filhos, parecidos com o pai
e com a mãe; finalmente, ele ergueu os olhos na direção do céu,
e, tombando pesadamente sobre a terra, dormiu.
Quão
nebuloso e triste é o primeiro dia da Humanidade comparado ao tempo
de hoje!...
Meu
espírito procurava o homem, e, descobrindo-o, retrocedia. Volvia a
observá-lo, e de novo retrocedia. Porque meu espírito não via o
homem do Paraíso; via muito menos que o homem, coisa pouco mais que
um animal superior.
Seus
olhos não refletiam a luz da inteligência; sua fronte desaparecia
sob o cabelo áspero e hirsuto da cabeça; sua boca, desmesuradamente
aberta, prolongava-se para diante; suas mãos pareciam-se com os pés,
e freqüentemente tinham o emprego destes. Uma pele pilosa e rígida
cobria as suas carnes duras e secas, que não dissimulavam a fealdade
do esqueleto.
Oh! se
tivéssemos visto, como eu, o homem do primeiro dia, com seus braços
compridos e esquálidos caídos ao longo do corpo, e com suas grandes
mãos pendidas até aos joelhos, vosso espírito teria fechado os
olhos para não ver, e procuraria o sono para esquecer.
Não
obstante, não deixeis de glorificar a Deus; porque Ele é a
sabedoria infinita, e o homem primitivo é uma manifestação - um
raio da luz eterna da sabedoria infinita.
Deixai
seguir a obra de Deus. Seu termo, como o de todas as obras do Senhor,
é a pureza e a perfeição.
O
homem primitivo, visto de hoje, é um espetáculo que fere de horror
e desolação; visto dos primeiros séculos do nascimento dos
animais, é uma esperança luminosa, uma nuvem rasgada no horizonte
da eternidade.
Amemos
e adoremos a Deus.
O
homem dos primeiros dias da Humanidade comia e bebia, porém não
comia nem bebia como homem; andava, porém não andava como homem;
via, porém não via como homem; amava e odiava, porém não amava
nem odiava como homem.
Seu
comer era como o devorar; bebia abaixando a cabeça e submergindo
seus grossos lábios nas águas; seu andar era pesado e trôpego,
como se a vontade não interviesse; seus olhos vagavam, sem
expressão, pelos objetos, como se a visão não se refletisse em sua
alma; e seu amor e seu ódio, que nasciam de suas necessidades
satisfeitas ou contrariadas, eram passageiros como as impressões que
se estampavam em seu espírito, e grosseiros como as necessidades em
que tinham sua origem.
O
homem primitivo falava, porém não como homem. Alguns sons guturais,
acompanhados de gestos, mas precisos para responder às suas
necessidades mais urgentes, eram a linguagem do homem do primitivo
dia.
Fugia
da sociedade e buscava a solidão. Ocultava-se da luz e procurava
indolentemente, nas trevas, a satisfação de suas exigências
naturais.
Era
escravo do mais grosseiro egoísmo. Não procurava alimento senão
para si. Chamava a companheira em épocas determinadas, quando eram
mais imperiosos os desejos da carne; e, satisfeito o apetite,
retraía-se de novo à solidão, sem mais cuidar da companheira e dos
filhos.
Era
extremamente preguiçoso. Estendido na terra, alimentava-se do que
estava ao alcance de sua mão; e, sempre que se punha em movimento,
seus gestos revelavam repugnância e desgosto.
Passava
pelo cadáver de outro homem, fixava nele um olhar estúpido, e ia
além.
Nunca
ria; nunca, os seus olhos derramavam lágrimas. O seu prazer era um
grito, a sua dor era um gemido.
O seu
pensamento era superficial, incerto e fugitivo; as suas idéias eram
elementares e confusas; não deixavam em sua alma outro vestígio
mais que aquele que em vós deixa um sonho incoerente e fugaz.
O
pensar fatigava-o; ele fugia do pensamento como da luz.
Considerava
os animais terrestres como iguais, em natureza, a si mesmo, e
considerava as aves como superiores ao homem.
O céu
girava e as estrelas luziam por cima de sua cabeça, mas ele não
percebia o movimento do céu, nem o brilho das estrelas.
Para
ele não havia terra além do que divisavam seus olhos, nem outros
seres além dos que descobriam os seus toscos sentidos.
Vivia
sem conhecer o motivo da sua vida; morria sem ter jamais pensado em
morrer.
Oh! se
houvésseis visto, como eu, o homem do primeiro dia, com os seus
longos e esquálidos braços caídos, e com as suas grandes mãos que
chegavam aos joelhos, o vosso espírito teria fechado os olhos para
não ver, e buscaria o sono para esquecer.
Não
obstante, não deixeis de glorificar a Deus, porque Ele é a
sabedoria infinita, e o homem primitivo é uma manifestação, um
raio da luz incriada, da sabedoria infinita."
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Comunicação
mediúnica feita pelo Espírito de João, o Evangelista, aos
sacerdotes católicos de Lérida, Espanha. Extraído do livro <Roma
e o Evangelho>, de D. José Amigó y Pellícer, publicado no
Brasil pela Federação Espírita Brasileira, em 2008.
Fortaleza,CE,
03 de maio de 2012.
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