DICA VERNACULAR
Evite o uso indevido de “o mesmo” e "a mesma"
Evite o uso de "o mesmo" e "a mesma" no lugar de substantivos ou pronomes. Essa prática é objeto de ácida crítica por parte da doutrina especializada. Entendem os doutrinadores que é “ruim ou não convém”; “são extremamente deselegantes”, além de outras considerações.
Poderia
se objetar que com o argumento de que seu uso é freqüente nas peças
processuais. A objeção poderia ser aceita se o uso se desse de forma
adequada. No entanto, não é o que acontece, como se extrai da oportuna lição de Dad Squasiri:
"Xô, muleta
Atenção,
preguiçoso. Conserve os pontos e o prestígio. Não use o mesmo, a mesma,
os mesmos, as mesmas no lugar de substantivos ou pronomes. Mande pras
cucuias frases como estas: "Maria se encontrou com o professor. Depois
de conversarem, o mesmo deu as orientações para o trabalho. (O pronome
ele quebra o galho: Depois de conversarem, ele deu orientações.) Para
participar dos debates, os presidenciáveis têm de tomar conhecimento das
regras do mesmo. (Que tal um sinônimo? Os presidenciáveis têm de tomar
conhecimento das regras do evento.)". [1]
No mesmo sentido, o posicionamento de Maria Tereza de Queiroz Piacentini
O
problema está em usar "mesmo" no lugar dos pronomes pessoais, sejam do
caso reto (principalmente a terceira pessoa: ele/ela) ou do caso oblíquo
(o/a, lhe etc.). Isso indica pobreza de linguagem, falta de
familiaridade com os pronomes pessoais, desconhecimento da língua,
enfim. Algumas vezes, imagino, a pessoa tem insegurança no trato com os
pronomes mas ao mesmo tempo sabe que deve evitar a repetição de um
determinado substantivo, então tasca-lhe um "mesmo" (ou "mesma", se for
feminino) no seu lugar. Observe que nos exemplos 1 e 2 "mesmo" acompanha
um substantivo – não o substitui. No exemplo 3 acompanha um pronome. Em
4, acompanha um advérbio. Em 5 e 6, um adjetivo. Em nenhum caso de boa
redação a palavra "mesmo" toma a vez do substantivo.
É mais uma questão de estilo do que de gramaticalidade. Digamos então que fica ruim, ou não convém, escrever da forma abaixo:
Insatisfeito, foi à diretora e pediu que a mesma lhe concedesse o abono.
Ontem vi meu ex-chefe e convidei o mesmo para um cafezinho.
Já que o secretário executivo esteve nos visitando, entregamos ao mesmo a documentação.
Não importa quem seja o pai do Plano Real, mas quem manteve o mesmo a despeito de toda decisão desastrada do Sr. Itamar.
Busque as fichas no almoxarifado e verifique se as mesmas estão carimbadas.
Desejando rever o conteúdo jurídico do projeto, solicito seja o mesmo retirado de pauta.
Excelente a entrevista. A mesma mostrou que Lula é um homem simples e corajoso”.
Em bom português você diria assim:
Insatisfeito, foi à diretora e pediu que ela lhe concedesse o abono.
Ontem vi meu ex-chefe e o convidei para um cafezinho.
Já que o secretário executivo esteve nos visitando, entregamos a ele (ou entregamos-lhe) a documentação.
Não importa quem seja o pai do Plano Real, mas quem o manteve a despeito de toda decisão desastrada do Sr. Itamar.
Busque as fichas no almoxarifado e verifique se elas estão carimbadas.
Desejando rever o projeto, solicitou seja ele retirado de pauta.
É também a lição de Solange Lauro Marcondes:
“Esse
erro ocorre porque, na ânsia de se evitar a repetição, grafa-se "o
mesmo", "a mesma", já que os pronomes "ele" e "ela" devem ser usados com
cuidado. Na frase: "Conversamos com o juiz e o mesmo afirmou que…",
tem-se a impressão de que não existe erro, uma vez que, para muitos,
esse é um exemplo que segue rigorosamente a norma culta. No entanto,
frases como essa são extremamente deselegantes e, por isso, deve-se
substituir a palavra "mesmo" por um pronome pessoal "e ele afirmou que…"
ou por um pronome relativo "o qual afirmou que…".
Outro
exemplo corriqueiro: "Favor desconsiderar o nome do aluno José do 9°
ano, pois o mesmo acabou de entregar a carta de advertência assinada
pelo responsável". A forma correta é bastante simples, basta substituir
"o mesmo" pelo pronome pessoal adequado: "ele" (…pois ele acabou de
entregar a carta…).[3]
Portanto,
em atenção aos entendimentos da doutrina especializada, o uso indevido
de “o mesmo” e “a mesma” deve ser evitado, adotando-se, como solução, os
critérios por ela recomendados.
(*) Advogado, escritor, pós-graduado em Direito do Trabalho e Legislação
Social, ex-Diretor Geral da Escola Superior de Advocacia da 12ª Subseção
de Campos dos Goytacazes e Professor Universitário.
Notas e referências bibliográficas
[1] SQUASIRI, Dad. Dicas de português. Jornal do Commercio. 25 out.2006.
[2] PIACENTINI, Maria Tereza de Queiroz. O mesmo – I. Disponível em: <http://kplus.cosmo.com.br/materia.asp?co=2&rv=Gramatica> . Acesso em: 22 ago. 2007).
[3] MARCONDES, Solange Lauro. Palavra tem sido usada incorretamente por força de lei. Disponível em: <http://noticias.uol.com.br/licaodecasa/materias/medio/portugues/ult1706u77.jhtm> . Acesso em: 22 ago. 2007.
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