O avião UTI, a escolta de batedores e o respeito à saúde pública | | |
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http://brasilacimadetudo.lpchat.com28 de abril de 2012 | | |
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Assistimos
contristados a indigência humana ser atendida pela rede de saúde do
Estado Democrático de Direito em todo o país e, ao mesmo tempo, o show
midiático da vida dos artistas e humanos dignatários dos palácios e
parlamentos do Brasil sendo atendidos com tapete vermelho no Hospital
Sírio-Libanes, na Capital de São Paulo. Afinal, é uma questão de
privilégios; os aquinhoados não vão para o SUS. (OI/Brasil acima de
tudo) |
Por Milton Corrêa da Costa (*)
Meu saudoso avô ensinou-me um antigo e verdadeiro ditado popular:
“dizes quanto tens que eu te direi quanto vales”. Tal assertiva, trazida
para a realidade do setor de saúde em nosso país, assim ficaria: “dizes
quanto tens ou o cargo público que ocupas que lhe direi quais são as
suas reais chances de sobreviver a um grave acidente ou a uma
enfermidade”. Outra verdade absolutamente verdadeira.
Ou seja, se puderes pagar um bom plano de saúde que inclua resgate
aéreo, avião UTI, uma equipe de atenciosos médicos e ainda por cima um
pelotão de motociclistas para limpar o trânsito à frente, suas chances
de sobrevivência serão muito maiores. Se ocupares um cargo público de
alta importância também terás todas as chances possíveis. Uma equipe de
bons médicos e entrevistas aos holofotes da mídia, com direito a
boletins periódicos sobre seu estado de saúde, não lhe faltarão.
Aliás, recentemente, o ministro Gilberto Carvalho, da Secretaria
Geral da Presidência da República, foi realista ao dizer: “o mundo
acabaria caso todos passassem a consumir bens e produtos da mesma forma
como os ricos”. Ou seja, enquanto milhares morrem diariamente de fome e
desnutrição no mundo –vejam o caso de alguns países na África- os mais
aquinhoados continuarão consumindo o que bem entenderem, sem dividirem o
bolo. É um direito de quem tem. Quem não tem recursos nem para
sobreviver que se resigne e morra da melhor forma que puder.É óbvio,
nobres autoridades, que nenhum brasileiro pobre quer dispor dos mesmos
bens e serviços dos mais ricos. Gostariam, pelo menos, no setor de saúde
pública, de um pouco mais de atenção e respeito com qualquer ser
humano, seja este rico, celebridade ou não. “A gente só quer ter saúde e
ser cidadão” como disse o saudoso Gonzaguinha numa bela canção. Não
precisa avião UTI, nem escolta de motociclistas, mas pelo menos que não
sejam jogados como abutres num chão de um hospital fétido, impregnado de
bactérias por todos os cantos, como se fossem hospitais de campanha (de
guerra).
Eles só querem respeito no momento em que mais necessitam. Ninguém
aguenta mais permanecer horas e horas, em intermináveis filas de
hospitais públicos, com a boca arreganhada esperando a morte chegar,
por absoluta falta de estrutura hospitalar e de pessoal (médicos e
enfermeiros), que por sua vez labutam por indignos e miseráveis
salários, num país onde o dinheiro público destina-se muitas vezes ao
bolso dos “mais espertos”.
Sugiro, pois, da mesma forma do direito indiscutível das cotas
raciais para o ingresso de negros nas universidades -os índios têm o
mesmo direito- que os brasileiros miseráveis, que não têm como pagar a
exorbitância dos planos privados de saúde, também tenham o direito a
hospitais públicos, clínicas e unidades de emergência de primeiro mundo.
A implantação progressiva das UPAs, em todo Estado do Rio de Janeiro,
como um exemplo positivo, comprova que quando há vontade política é
possível atender com a mínima dignidade os menos aquinhoados.
Pobres não querem avião UTI, nem escolta de motociclistas, só querem
respeito à vida. País rico é país onde a saúde pública de qualidade é um
direito humano.
(*) Recebido por email |
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