SEXTA EDIÇÃO DE QUINTA-FEIRA, 26/3/2020

NO BLOG DO J. R. GUZZO
Quem tem a vida ganha descobriu só agora que o SUS existe
Por J.R. Guzzo
[Quinta-feira, 26/03/2020] [16:34]
Saúde pública, no Brasil, não faz parte do mundo da classe média alta, mesmo a que não é tão alta assim, e muito menos, é claro, a que está ainda acima, nos galhos mais altos da árvore social. Saúde pública é coisa de pobre. SUS? Esperas dez horas na fila do atendimento? Exames clínicos que não podem ser feitos na semana que vem, nem na outra – daqui a três ou quatro meses, talvez? Cirurgias sem data marcada, do tipo “tente mais tarde”?
É assim que a saúde de milhões de brasileiros é tratada, há 30 anos, todos os dias. Ninguém — governos, mídia, “sociedade civil” — dá a mínima para isso. Por que daria? Não é com eles. O povo, como diria um dos famosos personagens de Chico Anísio, que se exploda.
Entra em cena o coronavírus – ah, agora sim, a saúde publica passa a ser prioridade absoluta. O vírus pega geral. Pega, pode pegar, ou vai pegar as classes apresentadas acima. Tudo muda dramaticamente de figura, então. Fecha tudo. Isola tudo. Confina tudo. Proíbe tudo. Para tudo. Dane-se a necessidade de produzir. Dane-se o pobre que precisa de trabalho para comer e sustentar sua família – não dá, para ele, recorrer às reservas de seus investimentos na bolsa ou em CDIs; ou pega no batente todos os dias ou não ganha um tostão, e sem dinheiro ninguém lhe dá nada. Danem-se os empregos, mesmo porque a maioria das classes médias para cima não precisa de emprego para viver, ou pode substituir o seu se perder.
Toda essa gente, hoje, se escandaliza. “Não se pode colocar a economia acima da vida”, dizem, como se uma coisa impedisse a outra. De um minuto para outro, passaram a se preocupar com a “sobrecarga” nos hospitais, problema que jamais lhes tinha passado pela cabeça na vida.
O brasileiro do SUS escuta, pensa e não entende nada. “Sobrecarga”? Mas a gente vive em sobrecarga, o tempo inteiro. Esqueça a falta de leitos. Não há nem cadeiras para o infeliz sentar. Fica jogado no corredor, até aparecer um lugarzinho. Mas o Brasil que está bem de vida, ou remediado, jamais pensa nessas coisas, porque elas não lhe dizem respeito. Poderiam estar acontecendo em Marte.
Agora, com o coronavírus roncando na porta, entraram em pânico. O que não era problema passou a ser. E, como sempre acontece nessas horas, surgiu a necessidade desesperada de achar um culpado. O judas que encontraram, no momento, é o presidente Bolsonaro. O chefe da Nação, como se sabe, é um homem que não sabe utilizar direito a palavra. Em 15 meses de Presidência, não aprendeu nada a respeito, ou aprendeu muito pouco.
Resultado: ao falar sobre a epidemia, dizendo até umas coisas perfeitamente razoáveis, não escondeu o que deveria ter escondido, provocou, criticou, falou mal de A, B e C — e com isso abriu a porta para os seus inimigos caírem matando. "Inimigo da saúde pública". "Irresponsável". "Criminoso". "Genocida". “Renúncia imediata”.
Vai ser acusado, já, de deixar o vírus à solta no Brasil, de propósito. Depois, de ter destruído a economia, eliminado 50 milhões de empregos e sabe lá o que mais. As classes médias ficarão aliviadas por terem encontrado um demônio. E a "pobrezada" do SUS vai continuar se explodindo.

NO BLOG DO RODRIGO CONSTANTINO
Vida não tem preço! Mas tem custo…
Por Rodrigo Constantino
[Quinta-feira, 26/03/2020] [11:20]
O lucro ou as pessoas? Esse foi o falso dilema que o radical esquerdista Noam Chomsky apresentou como título de um livro. E são muitos os que caem nessa ladainha, repetindo de forma sensacionalista que a vida humana não tem preço.
É claro que seu valor não-monetário é infinito, ao menos para quem acredita que se trata de algo sagrado. Mas a vida tem preço, sim; ou melhor: ela tem custo! E esse é medido pela necessidade de alocação de recursos escassos na economia.
Não vivemos, como "pensam" os comunistas, num estado de plena abundância natural. Ao contrário: a miséria é o estado da natureza. E foi o capitalismo e o livre mercado que retiraram centenas de milhões da pobreza, ou permitiram a existência de bilhões no Planeta.
Quem diz que uma vida não tem preço, portanto, mente de forma demagógica para "lacrar". Morrem milhares todos os anos em acidentes de carro. A decisão é acabar com esse meio de transporte, por acaso? Morrem africanos na miséria aos lotes por dia: então não podemos ter um animal de estimação, pois isso seria "valorizar" a vida dele mais do que a de seres humanos?
O que essa premissa e esse "raciocínio" fazem é nos levar ao comunismo populista, do tipo "troque seu cachorro por uma criança pobre". Ninguém poderia consumir absolutamente mais nada supérfluo enquanto uma só vida estivesse em perigo e pudesse ser salva com algum recurso. Alguém vive assim? Certamente não os comunistas hipócritas...
Construir um leito de UTI custa recursos escassos, que poderiam salvar outras vidas. O cobertor é curto. Se você destina recursos para construir pontes, isso significa menos recursos para plantar alimentos. A vida é feita de escolhas, e elas são melhores normalmente num ambiente de liberdade, não sob o planejamento centralizado do estado. Este, ainda mais se dominado por populistas, pode preferir investir em estádios de futebol em vez de hospitais, como fez o PT...
Quando Ronaldo Caiado e Rodrigo Maia falam que a preocupação com a economia agora vem de empresários gananciosos e investidores tensos com as bolsas, isso é pura demagogia. A paralisação econômica impõe custos altíssimos para milhões de pessoas, e não pode ser justificada com a narrativa sensacionalista de que "vida não tem preço". Para salvar algumas, podemos condenar tantas outras. O buraco é mais embaixo e a análise mais complexa.
No mais, não deixa de ser irônico, como apontou Paulo Mathias, ver esses "humanistas" considerando cada vida humana sagrada agora. Os grandes "defensores da vida" que diminuem a importância da economia, escreveu, são os mesmos que defendem o aborto por questões econômicas. Que coisa, né?

Bolsonaro apostou tudo – e quer saber, eu não o condeno!
Por Pedro Henrique Alves
[26/03/2020] [08:35]
Por Pedro Henrique Alves, publicado pelo Instituto Liberal
O discurso de Bolsonaro foi ousadíssimo em todos os sentidos. Ele se apoiou em uma vertente de otimismo e visão de que a pandemia não é tão grave quanto se desenhava pelos infectologistas, órgãos oficiais e mídias.
Tal vertente é seguida hoje por países como Estados Unidos, Holanda, Hungria, entre outros. Além disso, no discurso à Nação, Bolsonaro mais uma vez mostrou como é assustadoramente incompetente no ato de se comunicar, e ainda que fale sobre algo relativamente correto e sensato, sob sua fala tudo soa um tanto quanto mais imprudente e bobo do que deveria; talvez nunca antes tivemos alguém tão tenebroso e desqualificado para se expressar ― tirando a Dilma, aquela era insuperável. Parece-nos que o Presidente está eternamente num bate-boca de boteco. Profundamente lamentável para um chefe de Estado!
No entanto, como analista político, devo ir além dos defeitos óbvios do discurso ou do emissor para entender a ideia que permeia o discurso. Há uma questão séria na escolha governamental de Bolsonaro evidenciada no pronunciamento, e essa tal questão não pode ser sublimada atrás de um histerismo generalizado, ressentimentos jornalísticos ou vadiagens ideológicas; o pano de fundo merece ser justamente analisado.
Como adiantado acima, Bolsonaro escolheu um tom otimista frente à pandemia do coronavírus e fez um pedido para que os estados voltem à normalidade, ainda que tenha pedido expressamente para protegerem os idosos. Bolsonaro, ao discursar dessa forma, apostou tudo, pois se os estados acatarem o pedido feito no pronunciamento, e os casos do COVID-19 aumentarem de forma alarmante e mortal, isso será praticamente o prego em seu caixão presidencial.
Pessoalmente me abstive em opinar sobre o assunto do vírus chinês, pois simplesmente não tenho capacidade intelectual para falar com assertividade sobre o tema de prevenção sanitária. Mas sobre política e análise da conjuntura social eu creio que tenha tal capacidade que anteriormente me faltou – e fato é que a mídia estava criando um clima gigantesco de pânico e terror, tem gente que está pensando que o apocalipse bíblico já começou, vídeos de pessoas estocando alimentos ou brigando em supermercados já se tornaram corriqueiros. O pânico social é o início mesmo de qualquer queda abrupta de sociedades, e quedas abruptas de sociedades significam morticínios, desgraças e toda sorte de imoralidades e cerceamento de liberdades.
O que mais vejo são análise afoitas. Quantas pessoas pararam de fato para evidenciar o caos social que viria após três meses de quarentena e incontáveis empresas paralisadas? Quantas empresas conseguiriam sobreviver a isso? Sejamos sinceros independentemente do que achemos do Presidente. Após o caos pandêmico passar, quando mais da metade da população tiver sido infectada e se tornar imune, ou uma vacina tiver sido inventada, o que faremos com os 40 milhões de desempregados? Daremos Bolsa-família a eles? O desemprego em massa gera fome, miséria, que por sua via gera desespero, crimes, insegurança, falta de investimento, estagnação econômica, mortes e outros problemas sociais. Qual a solução para além da histeria condenatória? Essa é uma das questões a que parece que os críticos de sofás não querem dar uma resposta.
Falem-me uma coisa: vocês gostam de seus empregos, ou ao menos de ter salários? Pois bem, se os trabalhadores ficarem mais de um mês em suas casas, isso praticamente falirá quase toda e qualquer pequena ou média empresa. Quantos micro-empresários brasileiros têm fundos para sustentar 10 funcionários que não produzem durante 3 meses, por exemplo? Façam o seguinte: abram uma empresa, contratem apenas 5 funcionários, aluguem um imóvel, paguem água, luz, encargos, segurança, etc. Após isso mandem os funcionários para as suas respectivas casas e os sustentem durante 2 meses apenas, ainda que não estejam produzindo. Somente após isso eu começarei a considerar opiniões que ignoram tal fator.
Mas como faremos com os nossos velhos, Pedro? Devem estar se questionando. Eu não sei; nem sempre as respostas são matemáticas. E como sou um conservador confesso, não temo desfraldar minhas limitações. Eu não tenho uma resposta que cobrirá todos os problemas sociais. Se querem uma resposta política para sanar todas as aporias humanísticas, deveriam procurar antes os mentirosos. Devemos ter humildade em situações caóticas; assumir que não há escolha fácil ou opção que agradará a todos neste momento pode não ser a resposta esperada, mas é a que temos.
Bolsonaro parece ter apenas dois caminhos nesse momento: + cuidados sanitários = – empregos; ou + empregos = – menos cuidados sanitários. Não há, até o agora, uma terceira via. Podemos discordar da escolha do chefe de Estado, é lícito que critiquemos o modus operandi presidencial; mas não podemos condená-lo por tomar uma posição diante de um caos que se impõe. Em seu lugar nós também teríamos que escolher um lado.
O fato é que sabe-se que o contágio em massa indubitavelmente passará; muitas pessoas serão infectadas e outras tantas morrerão independentemente do que o Estado faça. Isso é certo e observável! O Brasil, por sua via, é um país de poucas reservas econômicas, e gerar um panorama de desemprego em massa é uma forma de recuar décadas no tempo, criar miséria como nós nunca antes vivemos. Cabe agora lembrar de Mises e rezar sob a cartilha de que o Estado não gera riquezas, que dinheiro não nasce em árvores e nem sai espontaneamente de impressoras. Então, na minha opinião, faz bem o Presidente em amenizar a opinião pública alarmista.
Por fim, afastem-se dos comentários chucros de redes sociais e de jornalismos ideológicos; analisar com a bílis não é o adequado. Sensatez é a palavra de ordem; e ainda que pareça idiotice, geralmente são os capacitados que pedem calma diante de uma calamidade, o puro desespero ao sair de um prédio em chamas pode acabar deixando muitos carbonizados. O ponto fulcral é o seguinte: até que ponto Bolsonaro deve amenizar o medo popular e o alarmismo midiático? Ele usou em seu discurso o termo “voltar à normalidade”. Será? Com que rapidez? Essas perguntas são as que o colocarão na fossa política ou no Olimpo da História nacional; será lembrado como um dos maiores estadistas brasileiros, ou como um palhaço com a faixa verde e amarela no peito; o homem que matou parcela de seu povo ou o que salvou o ganha pão de milhões. A resposta somente o tempo dará!

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