QUARTA EDIÇÃO DE SEGUNDA-FEIRA, 23/3/2020
NO BLOG DO PUGGINA
AS PERNAS E AS ASAS DO VÍRUS
Por Percival Puggina.
Artigo publicado domingo, 22.03.2020
Nesta pequena cápsula que é meu gabinete de trabalho, onde quase tudo está ao alcance da mão, tenho me lembrado de Howard Hughes. Nos anos 60, encantava-me a pluralidade de seus talentos. Engenheiro, aviador, industrialista, diretor de cinema, riquíssimo, namorava as mais belas divas de Hollywood e afastou-se de tudo e de todas, internando-se em sua própria casa num misto de misantropia, fobia de contaminação e drogadição.
Encarcerou-se com grades que seus fantasmas impunham. Renunciou à liberdade que, por décadas, lhe proporcionou uma vida criativa e, sob muitos aspectos, extraordinária.
Diferentemente, nestes dias, eu e minha mulher, a exemplo de tantos em todo o mundo, nos tornamos prisioneiros. Não de fobias, mas de invisíveis ameaças reais e letais. Renunciamos à liberdade um dia antes de essa renúncia nos ser imposta pelas autoridades locais e nacionais. Ficou entendido, para nós, o sentido social, apropriadamente social, do esvaziamento das ruas. Quem não consegue entender o significado do bem comum, tem, agora, uma boa oportunidade de esclarecimento mediante o desenho dos fatos.
É preciso tirar as pernas do vírus. Ele caminha com nossas pernas. Voa com nossas asas metálicas.
Está mudando muitas vidas e não apenas as rotinas dessas vidas a invulgar experiência de protagonizar um desses filmes cujo script cria suspense em torno da luta contra a exterminação da humanidade. Reza-se nas redes sociais (quem diria?), reza-se em família. Lê-se como raramente sobra tempo para ler. E se tem uma erupção de sentimentos profundamente humanos proporcionados pelo desencarceramento do tempo. Entre eles, de um lado, o medo, o egoísmo, a desesperança rumo ao desespero, a mudança emocional para o reino da fantasia; de outro, a solidariedade, a compaixão, a esperança, a busca do transcendente e a necessidade de atribuir sentido a esse novo cotidiano.
Em Viena, no centro da Graben, um monumento domina a paisagem. É a Pestsäule, coluna comemorativa do fim da peste que atacou a cidade no final do século XVII. Obra coletiva de diversos escultores e pintores, o monumento barroco resulta confuso pela pluralidade de mensagens a ver, sentir e interpretar. Mas é essa característica que impõe, a quem o contempla, prolongada análise de seus elementos. Vê-se ali a celebração artística do fim do flagelo, o ódio à peste e o gratificado louvor à Santíssima Trindade.
Nunca pensei que, um dia, aquele monumento fosse ganhar atualidade e se fazer ensinamento na nossa vida.
NO BLOG DO ALEXANDRE GARCIA
"Virose, neurose e psicose. É uma rima, não é solução”
Por Alexandre Garcia
[Domingo, 22/03/2020] [21:44]
De novo o assunto é coronavírus. Eu acho que está valendo aquela paráfrase de Drummond de Andrade, “virose, neurose e psicose seria uma rima, não seria uma solução”. Não é solução implantar neurose nem psicose na população. A solução é serenidade em separar as coisas.
O grupo de risco é de pessoas com doenças crônicas, que estejam com a defesa enfraquecida, e de pessoas idosas. O risco dos jovens é de serem os transmissores do coronavírus para as pessoas do grupo de risco; é isso que está acontecendo.
O Dr. David Uip — que é um afamado infectologista que foi, por cinco anos, secretário da Saúde de São Paulo — em uma fala ao jornal Valor Econômico, disse que Corona é um velho conhecido, que tem matado 5%, 10% dos casos de gripe, mas que sofreu mutação, e que há doenças pulmonares mais letais como a gripe H1N1 e outras doenças como sarampo, que está com surto em São Paulo, e a dengue.
O surto de meningite meningocócica de 1970 tirou muitas crianças da escola, depois se viu que foi exagero, a aids também teve muito temor, muita neurose em torno dela. Agora, o Dr. David Uip faz um alerta de que, as doenças sexualmente transmissíveis estão sendo recorrentes, têm crescido desgraçadamente, diz ele.
Então, eu acho que temos que ter calma nesse caso, tomar os cuidados necessários, e usar água e sabão. Por que água e sabão dissolvem aquela chavezinha, aquela anteninha que tem o vírus para penetrar no nosso corpo. Então, se ele estiver na nossa mão, água e sabão o destroem. É pela mão que a gente leva à boca, ou ao nariz, ou aos olhos, o vírus. Água e sabão são um grande preventivo. Não precisamos perder tempo na fila do álcool em gel.
E uma coisa sobre a Itália: a Itália é o país do mundo, talvez, que mais tenha idosos acamados em casa. E a Itália, durante quase dois meses, recebeu turistas chineses, enquanto a China omitia o que estava acontecendo em Wuhan. O médico morreu, os jornalistas que denunciaram desapareceram, os outros cinco médicos ficaram calados, as pesquisas foram destruídas; somente dois meses depois foi que a gente ficou sabendo.
Então, muito turista chinês foi para Itália. E a Europa, de um modo geral, e a China são os países do mundo onde mais se fuma. Então, é onde há mais casos de enfisema, de início de enfisema, de pulmões enfraquecidos.
Tomara que a gente experimente, aqui no Brasil, uma situação diferente, por ser um país tropical, um país muito jovem e um país que agora está evitando aglomerações.
Não podemos exagerar, como uma cena que eu vi: um sujeito com megafone tirando de um parque um casal de idosos. Pessoa sentada sozinha num banco sendo xingada pelo sujeito do megafone. Pai brincando com filho, distante de qualquer outra pessoa, sem condições de ter contato que tivesse transmissão.
Outra coisa é a produção. A nossa produção de proteínas para a China vai ter um grande resultado. Já está tendo um crescimento de quase 40% de exportações de carnes em geral, e de soja. É um grande negócio. Agora, por outro lado, os insumos da nossa agricultura, que produz alimentos que vão para a Ceasa, que vão para o supermercado, é que vão custar mais caro se tiver que comprar no exterior; 70% dos fertilizantes vêm do exterior. Então, temos que olhar para a nossa produção nacional de fertilizantes para ver se ela cresce, se ela produz mais, se ela ganha produtividade, se ela ganha apoio, para a gente ter também autonomia na nossa produção de alimentos, que pode ser gigante e abastecer o mundo.
NO BLOG DO THIAGO RACHID
Onde Bolsonaro está errando nesta crise
Posted on 22 de março de 2020 by ThiagoRachid

Imagem: fotospublicas.com
As funções do Chefe de Estado transcendem aquelas que a Constituição estabelece. O líder máximo de uma nação, via de regra, é muito observado. Suas palavras e exemplos acabam por guiar seu povo para o bem ou para o mal, sobretudo nos momentos mais duros.
Bolsonaro é um chefe de Estado privilegiado. Uma das razões de inspirar tanta admiração é ter uma família unida e amorosa entre si. E é aí que ele está desperdiçando uma grande chance para o Brasil neste momento tão difícil.
UMA FRENTE TÉCNICA E OUTRA POLÍTICA
O Presidente da República está sendo injustamente chamado de louco e irresponsável nas últimas semanas. A imprensa está potencializando um erro de comunicação e a postura de Jair Bolsonaro em relação à crise. A confusão tem origem no fato de que Bolsonaro tem buscado agir politicamente com sua popularidade e exposição para poupar o País do pânico e da paralisia econômica, enquanto sua equipe de ministros e servidores age tecnicamente sobre os problemas.
Isso está muito claro para quem analisa com honestidade o comportamento do Presidente e de sua equipe. Enquanto os ministros se esforçam e apresentam caminhos para o enfrentamento, o Presidente patina e apanha na imprensa e nas redes sociais.
NÃO BASTA BOA INTENÇÃO
Essa dialética político-técnica não parece uma ideia ruim. O problema é como Bolsonaro vem fazendo a sua parte. Ao prescindir das orientações técnicas e científicas na sua ação política, Bolsonaro cria confusões e contradições em relação à sua equipe que são exploradas covardemente pela oposição política e da extrema imprensa.
Casado com uma mulher engajada e articulada na ação social, Jair Bolsonaro está perdendo uma grande chance de sair dessa crise ainda maior e mais popular. Ao contrário, o que temos visto é a gordura de sua popularidade derreter, sobretudo entre a classe média. Mas como a família Bolsonaro poderia servir melhor à nação neste momento?
O EXEMPLO DA “PRIMEIRA-FAMÍLIA”
A sociedade brasileira está sendo exortada pelas autoridades a confinar-se em suas casas e com suas famílias para diminuir o risco de contágio pelo coronavírus causador da COVID-19. Esse confinamento gera toda sorte de inconvenientes na vida das pessoas, inclusive no aspecto emocional dos indivíduos.
A família Bolsonaro é uma família como qualquer outra e deve cumprir as recomendações das autoridades sanitárias, mesmo tendo a maior autoridade do País dentro dela. Por que Bolsonaro, Dona Michelle e família não estão servindo de modelo para as famílias brasileiras? Por que a rotina de confinamento da família Bolsonaro não está sendo compartilhada com os brasileiros para dar exemplo e fazer com que o povo sinta-se amparado?
Imagens como a de Bolsonaro conversando com sua mãe idosa por videoconferência poderiam estimular as famílias a fazer o mesmo. O testemunho da rotina da família do Presidente cumprindo as recomendações de confinamento poderiam ser registradas. Dicas e conselhos (avalizados por médicos) da primeira-dama para outras mulheres sobre como agir em casa e conduzir a família, as emoções, as atividades com as crianças já deveriam estar sendo compartilhadas pelas tias do "zap" e pelos “robôs”, como se intitulam alguns defensores do Presidente nas redes sociais.
NÃO ADIANTA LUTAR CONTRA O INEVITÁVEL
A paralisação do País é inevitável. Está ao alcance do Presidente e de sua família ajudar seu povo ensinando-o a aproveitar esse tempo ocioso lendo, rezando, aprendendo coisas novas, se aperfeiçoando, acompanhando pela TV a Missa no caso do Presidente e o culto no caso de D. Michelle. É preciso fazer do limão uma boa limonada.
Todavia, o que temos visto é um chefe de Estado preocupado, tentando ajudar, mas cometendo deslizes que causam confusão nas pessoas, chateiam seu eleitorado e alimentam a covardia oposicionista. Para que seguir nesse caminho claramente equivocado? Em um momento tão sensível para as famílias brasileiras, a primeira-família pode ser exemplo e servir aos irmãos brasileiros de forma eficiente e fraterna.
Post Views: 690
Comentários
Postar um comentário