SEGUNDA EDIÇÃO DE SEXTA-FEIRA, 02 DE NOVEMBRO DE 2018

NO O ANTAGONISTA
A missão do soldado Moro
Sexta-feira, 02.11.18 07:23
Luiz Weber, na Folha de S. Paulo, analisou os motivos que levaram Sérgio Moro a pendurar a toga e aceitar o convite de Jair Bolsonaro:
“A Lava Jato entrou em sua fase de recursos. Logo, processos-chave sairão da órbita de Curitiba e do TRF-4. Tudo ocorrerá em outro plano simbólico e material — em Brasília, no Congresso, no Superior Tribunal de Justiça, no Supremo Tribunal Federal. Moro se antecipa. Sempre foi um soldado com uma missão: combater a corrupção.
Com essa transferência, questões essenciais surgirão. A execução da pena após segunda instância será mantida? As delações serão garantidas? O entendimento atual sobre o alcance da lavagem de dinheiro permanecerá íntegro? Apesar da sintonia atual das decisões de Curitiba com a opinião pública, o STF deverá debatê-las, ajustá-las, se assim entender. No campo do Direito, não há inimigos. Nem um super Moro pode pensar assim.”

Sérgio Moro condenou Lula e Fernandinho Beira-Mar
02.11.18 09:18
Sérgio Moro não condenou apenas Lula e seus asseclas.
Ele condenou também Fernandinho Beira-Mar, como lembrou O Globo:
“Precursor ao homologar o primeiro acordo de delação premiada no Brasil, o juiz Sérgio Moro é especialista em lavagem de dinheiro e um estudioso do crime organizado. Já condenou líderes do tráfico internacional, como Lúcio Rueda Bustos, do Cartel de Juárez, maior organização criminosa do México, e Fernandinho Beira-Mar, que comandava distribuição de drogas e armas de dentro da cadeia.
A condenação de Beira-Mar ocorreu em 2008, quando Moro ainda estava à frente da 2ª Vara Federal Criminal. A sentença foi a maior dada até então ao traficante: 29 anos e 08 meses de prisão.
Foi a primeira vez que a Polícia Federal conseguiu estabelecer vínculo entre a atividade criminosa do traficante e a lavagem de dinheiro com a montagem de negócios paralelos, como uma revendedora de gás.”
No superministério da Justiça, Sérgio Moro terá de combater corruptos e narcotraficantes. Seu retrospecto mostra que não há ninguém mais capacitado do que ele.

O Plano Real de Bolsonaro e Moro
02.11.18 09:09
Com o superministério oferecido por Jair Bolsonaro, Sérgio Moro poderá realizar seu Plano Real contra a Corrupção.
Diz Merval Pereira:
“É muito bom que ele tenha aceitado o cargo num governo que tem uma agenda anticorrupção e está dando a ele todos os instrumentos para montar um esquema anticrime organizado muito necessário, pois o País chegou a um limite de corrupção inaceitável.
Moro disse que o Brasil precisava de um Plano Real contra a corrupção e, aparentemente, o presidente eleito está dando a ele condições de montar grande esquema para estimular as investigações e a Polícia Federal. As medidas contra a corrupção apresentadas pela Transparência Internacional, FGV e procuradores de Curitiba têm mais chance de serem aprovadas, porque haverá um ministro poderoso empenhado nisso.
Moro poderá até mesmo ajudar o governo a superar certas questões polêmicas, como a classificação de terrorismo para os atos do MST ou do MTST, ou a permissão para matar que se pretende dar à polícia, especialmente no Rio, onde o futuro governador Wilson Witzel anuncia, com o apoio do presidente eleito, que treinará atiradores de elite para atacar bandidos que andem de fuzil. São medidas que, provavelmente, serão barradas na Justiça, e Moro poderá aconselhar a melhor maneira legal de fazer o combate.”

Presidente Moro
02.11.18 08:33
Ao aceitar o desafio de largar a toga para se tornar ministro do governo, Sérgio Moro atravessou a fronteira que o separava da política e já se cacifa, inclusive, para a sucessão do próprio Jair Bolsonaro, diz a Crusoé.
Se antes o incomodava a ideia de deixar o posto de juiz para ser candidato, agora o caminho parece mais livre para uma candidatura presidencial. Claro que tudo dependerá do desempenho do futuro superministro (e de seu chefe).
Leia a reportagem completa aqui.

Palocci delata rosto conhecido da TV
02.11.18 08:19
Entre os anexos de Antonio Palocci, há a menção a um rosto conhecido da televisão que teria recebido pagamentos suspeitos, diz a Crusoé.
Os investigadores agora trabalham para aprofundar a história.
Leia aqui todas as notas do Sexta-Feira.

Toffoli corteja Bolsonaro
02.11.18 08:15
O presidente do STF, Dias Toffoli, está cortejando Jair Bolsonaro.
Ele disse em Nova York:
“É necessário que, com a renovação democrática ocorrida nas eleições gerais de outubro deste ano, a política volte a liderar o desenvolvimento nacional. Nós passamos, nos vários anos recentes, com o Judiciário sendo um protagonista. É necessário restaurar a confiança na política para que possamos voltar à clássica distinção: o Legislativo cuida do futuro, o Executivo cuida do presente e o Judiciário pacifica os conflitos ocorridos.”
Dias Toffoli promete não perturbar Jair Bolsonaro, mas quer “pacificar os conflitos ocorridos” mandando Lula para a prisão domiciliar.

Congresso tenta achacar Moro
02.11.18 07:57
O Congresso Nacional, cheio de réus da Lava Jato, reprovou a escolha de Sérgio Moro para o superministério de Jair Bolsonaro.
Por meio da Folha de S. Paulo, os parlamentares já estão tentando achacá-lo com a promessa de CPIs:
“Sucesso entre eleitores do PSL, o ‘sim’ de Sérgio Moro a Jair Bolsonaro bateu quadrado no Congresso. Integrantes de diversos partidos, da esquerda à direita, passando pelo centrão, dizem que a escolha do presidente eleito para o Ministério da Justiça foi vista como uma tentativa de emparedar o Legislativo, como se o agora ex-juiz fosse uma espada na cabeça de parlamentares. Deputados e senadores lembram, porém, que fora do Judiciário Moro ficará exposto, suscetível a CPIs e convocações.”

Bolsonaro desautoriza
02.11.18 07:43
O Globo noticiou que a equipe de Jair Bolsonaro quer criar uma nova CPMF para acabar com o pagamento de INSS sobre os salários dos funcionários.
“A informação foi confirmada por Marcos Cintra, responsável pela área tributária no grupo coordenado por Paulo Guedes”, acrescentou a reportagem.
Jair Bolsonaro correu para o Twitter e desautorizou o economista.
(A grande imprensa está, é claro, atrasada no episódio do convite de Bolsonaro a Sérgio Moro... LEIA AQUI)

O PT está com medo
02.11.18 07:32
O PT está com medo que Sérgio Moro, em seu superministério, possa investigar a roubalheira dos governos Lula e Dilma Rousseff.
Diz a Folha de S. Paulo:
“O PT está preocupado com a possibilidade de o juiz Sérgio Moro direcionar órgãos como a CGU para fazer devassas nas administrações anteriores do partido, criando fatos negativos para a legenda nos próximos anos.”
José Eduardo Cardozo, o JEC das mensagens da Odebrecht, comentou:
“Eu fui muito criticado por não utilizar o ministério nem para proteger amigos nem para perseguir inimigos. Mas hoje, sinceramente, temo que isso possa ocorrer.”
Ele sabe que nem tudo foi descoberto pela Lava Jato.

O best-seller de Dilma
02.11.18 09:46
Dilma Rousseff, que voltou a ser mineira só para ser humilhada na disputa pelo Senado, vai continuar morando no Rio Grande do Sul.
Segundo O Globo, ela agora pretende retomar o projeto de um livro de memórias.
Será um sucesso, como tudo o que ela faz. Vai quebrar mais umas quatro cadeias de livrarias.

NO BLOG ALERTA TOTAL
Sexta-feira, 02 de novembro de 2018
Moro na Justiça deixa oposição “piscando”
Edição do Alerta Total – www.alertatotal.net
Por Jorge Serrão - serrao@alertatotal.net
Quem mais bem definiu o efeito da escolha do juiz Sérgio Fernando Moro para comandar o “Superministério” da Justiça na gestão Jair Bolsonaro foi o jornalista-humorista José Simão: “Se cu piscando gerasse energia, Brasília seria auto-sustentável”. Falando sério, Moro simboliza o compromisso do futuro governo Bolsonaro com o efetivo e inteligente combate à corrupção sistêmica e institucionalizada. Sobre as críticas do PT, Bolsonaro foi irônico: “Se eles estão reclamando é porque eu fiz a coisa certa”.
A escolha de Moro foi vendida, midiaticamente, como uma feliz sugestão do futuro superministro da Economia, Paulo Guedes. Só que, nos bastidores, o fato relevante é que o “apadrinhamento” de Moro vem das Forças Armadas, principalmente do Exército. Obviamente, tal apoio não será oficialmente reconhecido por nenhum militar da ativa, e muito menos pelos Comandantes. Bolsonaro deixou claro que nunca esteve, conversou ou apertou a mão de Moro, embora tivesse grande admiração pelo juiz.
Nos 24 minutos de entrevista coletiva para as emissoras de televisão, após 40 minutos da conversa em que Moro aceitou o encargo do Superministério da Justiça, o futuro Presidente soltou duas mensagens que a maioria da imprensa preferiu não dar o merecido destaque, pelo constante preconceito com os militares. Bolsonaro frisou: “As Forças Armadas, vão, sim, fazer parte da política nacional. Não vão ser jogadas a um segundo plano”.
Outra excelente notícia: Bolsonaro revelou que está aumentando o entrosamento com seu vice, o General na reserva Antônio Hamilton Mourão – que também esteve presente ao encontro com Moro. Um repórter tentou provocar uma intriga entre Bolsonaro e o vice Mourão sobre a data em que Moro foi convidado para o ministério, antes ou depois do segundo turno. O futuro presidente foi sincero: “Isto não tem nada a ver. Foi depois... Eu tenho pouco contato com Mourão, estou aprofundando o contato com ele agora. Eu tive uma reunião com ele”. 
A opção Sérgio Moro foi um golaço de Bolsonaro. Ontem de manhã, vindo de Curitiba, Moro passou 40 minutos na residência de Bolsonaro - na casa 58 da rua C do Condomínio Vivendas da Barra, no Rio de Janeiro. Logo depois, Moro soltou uma nota oficial:
"Fui convidado pelo Sr. Presidente eleito para ser nomeado Ministro da Justiça e da Segurança Publica na próxima gestão. Apos reunião pessoal na qual foram discutidas políticas para a pasta, aceitei o honrado convite. Fiz com certo pesar pois terei que abandonar 22 anos de magistratura. No entanto, a perspectiva de implementar uma forte agenda anticorrupção e anticrime organizado, com respeito a Constituição, a lei e aos direitos, levaram-me a tomar esta decisão. Na pratica, significa consolidar os avanços contra o crime e a corrupção dos últimos anos e afastar riscos de retrocessos por um bem maior. A Operação Lava Jato seguira em Curitiba com os valorosos juizes locais. De todo modo, para evitar controvérsias desnecessárias, devo desde logo afastar-me de novas audiências. Na próxima semana, concederei entrevista coletiva com maiores detalhes”.
Procuradores, juízes e delegados federais apoiaram a escolha de Moro. A maioria da sociedade brasileira, também. Por isso, só resta à oposição ficar “piscando”, apertadinha, porque o combate à corrupção não será brincadeira. O mais importante é ter a certeza de que, sob regime do Crime Institucionalizado, o Brasil não vai crescer, nem se desenvolver.
Criatividade na coletiva


NO BLOG DO NOBLAT
Quer saber o que são Fake News? Procure a Imprensa Estrangeira ou o PT
Deu no New York Times
Por Maria Helena RR de Sousa (*)
Sexta-feira, 02 nov 2018, 10h00
Ora vejam só, de repente descubro que confiar na imprensa estrangeira para informações sobre política – econômica ou não – dos países do hemisfério norte, não é garantia de estar retransmitindo informações de confiança. Sou daquelas que dizia, enfática: deu no New York Times; li no The Guardian; está no The Times; como publicado no The Economist… Hoje, vejo que confiar cegamente nesses jornais e revistas, é o caminho mais certo para o descrédito.
Em que me baseio para esse descrédito? Em certas manchetes como: The Times, Inglaterra: “Bolsonaro promete alto cargo a juiz que aprisionou seu rival”; The New York Times, EUA: “Juiz brasileiro que condenou Lula aceita cargo no gabinete de Bolsonaro”; El País: “O juiz que encarcerou Lula aceita ser ministro da Justiça de Bolsonaro”. Se eu vivesse em Londres, ou New York ou Barcelona, claro que acreditaria no que essas manchetes insinuam, ou seja, que Lula, o preso político, foi prejudicado pelo juiz Sérgio Moro.
Mas acontece que vivo aqui, que sou muito interessada em política, que leio tudo que me cai às mãos e que sempre li os melhores jornais e revistas estrangeiros em busca de notícias sobre os EUA ou sobre a Europa. O que me deixou muito preocupada… Onde mais posso me informar sobre o que se passa na Inglaterra, nos EUA, na França? Como acreditar nesses jornais se o que eles dizem sobre o Brasil é tão inverídico?
Lula foi investigado, julgado, condenado pelo juiz federal Sergio Moro. Seus advogados entraram com recurso contra essa condenação no Tribunal Regional Federal-4 onde os três desembargadores da 8ª turma, além de rejeitar o recurso, ainda aumentaram a pena de Lula. Foi preso. Recorreu ao STF com um pedido de Habeas Corpus que lhe foi negado. Um preso político com direito a tantos recursos? Onde? Aqui neste Brasil onde não há presos políticos e sim presos ficha suja?
Mas não é só a Imprensa Estrangeira que inventa adoidado. A presidente do PT, partido que se alimenta de fake news, disse ontem: “Moro será ministro de Bolsonaro depois de ser decisivo pra sua eleição, ao impedir Lula de concorrer. Denunciamos sua politização qdo grampeou a presidenta da República e vazou pra imprensa; qdo vazou a delação de Palocci antes das eleições. Ajudou a eleger, vai ajudar a governar“.
Moro impediu Lula de concorrer? Ou foi o próprio Lula e sua desmedida ganância que o levaram a parar numa cela em Curitiba.
Como cidadã brasileira, louvo o juiz Sérgio Moro que vai sacrificar uma carreira de 22 anos na Magistratura para ocupar um Ministério que vai ajudá-lo a defender e salvar a Lava-Jato que, desde que Lula foi preso, andava correndo o perigo de ser dizimada. O Brasil agradece!
(*) Maria Helena Rubinato Rodrigues de Sousa é professora e tradutora, escreve semanalmente para o Blog do Noblat desde agosto de 2005.


O show de bola do capitão
Céu de brigadeiro
Por Ricardo Noblat
02 nov 2018, 08h00
Os políticos que não gostam do presidente eleito Jair Bolsonaro, e até mesmo os que se escalam para lhe fazer dura oposição, admitem contrariados e em voz baixa: o capitão está dando um show de bola até aqui, deixando parte da direita perplexa e a esquerda sem saber o que fazer.
Bolsonaro disse que não haveria toma-lá-dá-cá quanto tivesse que escolher seus ministros – e cumpre a palavra. Ignora os partidos e os grupos de pressão. Se os ministros escolhidos não derem conta do recado, o problema será seu. Mas trocar ministro é como trocar uma lâmpada.
Bolsonaro disse que a escolha dos ministros se basearia antes de tudo em critérios técnicos – e cumpre a palavra. Quer escolha mais técnica do que a do astronauta indicado para o Ministério da Ciência e Tecnologia? Pelo menos ele já viu o Planeta à distância.
Bolsonaro disse que governará com menos auxiliares e cortando gastos – e parece disposto a cumprir a palavra. Haverá fusão de ministérios e extinção de órgãos desnecessários. Cargos comissionados serão suprimidos. E empresas estatais privatizadas. Não há por que duvidar de que será assim.
Bolsonaro disse que o combate à corrupção e ao crime organizado será prioridade do seu governo. E para provar que falava sério, foi buscar o juiz Sérgio Moro para cuidar das duas coisas. Seu eleitor comemora a compra do passe de Moro à Justiça. Seu não eleitor estrebucha na maca irritado.
Se o combate à corrupção e ao crime for um fiasco, jogará a culpa em Moro. Se a reativação da economia se frustrar ou se ficar aquém do esperado, jogará a culpa no seu Posto Ipiranga que não terá sido a Brastemp que ele tanto desejava.
A dois meses de assumir o cargo, Bolsonaro já tem desenhada sua sucessão. Ou será candidato outra vez, se o Congresso não acabar com a reeleição, ou terá em Moro um candidato forte. Precisará combinar com os eleitores, mas haverá tempo para isso.

NO BLOG DO GABEIRA
SONHOS E REALIDADE
Sexta-feira, 02.11.2018 
A vitória de Bolsonaro não é idêntica à de Trump. Mas antes e depois das duas eleições há pontos de contato. Não servem para explicar tudo, mas ajudam.
Um dos livros em que encontro as semelhanças é de Mark Lilla, uma crítica aos liberais com um subtítulo interessante: 'Depois das políticas de identidade'. A julgar pelo livro de Lilla (The Once and Future Liberal: After Identity Politics), a vitória de Trump suscitou o mesmo movimento nos EUA e no Brasil: resistência. Lilla põe essa palavra entre aspas, pois significa uma oposição a tudo o que Trump representa, sem ainda uma visão clara de futuro.
A vitória de uma figura controvertida acabou despertando nos EUA uma grande solidariedade entre os derrotados, campanhas, marchas, abaixo-assinados. Mas ainda são raras aqui, no Brasil, onde Bolsonaro acaba de vencer, as visões críticas do período que abriu o caminho para que ele triunfasse.
Lilla fala no descaminho dos democratas por se terem fixado nas políticas identitárias: mulheres, homossexuais, indígenas e negros. Não que seja contra essas lutas.
Sua análise da campanha republicana mostra que na maior parte do tempo ela se fixava em temas nacionais, que interessam a todos. O exame do site democrata, no entanto, revela grande peso às lutas fragmentárias, que interessam a setores bem específicos do eleitorado.
Lilla considera um erro a fixação nas lutas identitárias porque elas afastam um pouco as pessoas dos temas mais amplos, que envolvem o bem comum. As pessoas mergulhadas nessas lutas têm tendência menor a defender temas nacionais, sair para uma conversa nas ruas sobre o que ele chama o bem comum.
Coincidência ou não, eu já tinha manifestado em artigos a mesma reserva quanto ao alcance das lutas identitárias na eleição brasileira. Também na minha crítica ressaltava a ausência da ênfase no bem comum, só que nos meus textos não usava essa expressão, mas a adesão a um projeto nacional.
Num artigo afirmava que as lutas que ainda chamam das minorias tendem a criar a necessária solidariedade de grupo, regras e objetivos próprios. Mas ela se dá em oposição a uma sociedade que ainda não reconhece esses direitos.
Torna-se muito difícil conversar com o homem comum, encontrar um assunto que mobilize todos, e não apenas alguns setores da sociedade. No caso brasileiro, os três grandes temas nacionais em jogo passaram um pouco ao largo das forças de esquerda. Um deles era a corrupção. A esquerda o subestima de modo geral e o escamoteia especificamente quando o PT é o maior acusado.
Um segundo grande tema nacional foi a segurança. A visão clássica e tradicional da esquerda é condicioná-la à melhoria das condições econômicas, da educação, da renda. Como a expectativa é de respostas em curto prazo, o discurso cai no vazio e é facilmente ironizado.
Um terceiro tema, mais intelectualizado, foi a discussão sobre o tamanho e o papel do Estado na economia. Também aí a perspectiva privatizante pareceu mais atraente. E não só pela teoria. As manifestações de 2013, em parte, revelaram a precariedade dos serviços públicos.
A corrupção também passou a ser uma chave para explicar o fracasso do governo. Tenho a impressão de que é a conversa na rua quando não se tem nada a dizer sobre aqueles temas.
Uma das características da luta identitária é a autoexpressão: sou gay, negro ou indígena e tenho orgulho de minha condição. Isso é irretocável na posição pessoal. No entanto, Lilla observa em seu livro que numa campanha eleitoral não é a autoexpressão que conta, mas a persuasão.
O exemplo que usa para definir o comportamento dos liberais nos EUA talvez seja aplicado também à esquerda brasileira. Lilla compara as eleições à pesca. É preciso acordar cedo e pescar até tarde, lá onde o peixe existe, e não onde você gostaria que estivesse. Se o peixe morde a isca e se debate, dê linha e espere que se acalme.
Mas, para o escritor, os liberais ficaram na praia discorrendo sobre os problemas do mar, sobre a necessidade de a vida aquática abrir mão de seus privilégios. Tudo na esperança de os peixes confessarem coletivamente seus pecados e nadarem mansamente para ser pescados. Se esse é o seu enfoque da pesca, lembra Lilla, o melhor é se tornar vegetariano.
Nesta altura, não se podem comparar totalmente as táticas. No caso brasileiro, se, de um lado, a luta identitária pode ter dificultado um pouco a conquista da maioria, o caminho eleitoral das minorias acabou comprometendo o seu futuro. Isso simplesmente porque no tema central, a corrupção, o PT, embora não seja o único, é o maior acusado. A associação entre o partido e as minorias acabou trazendo para elas também a desconfiança do homem comum.
Não sei ainda como as coisas se vão recompor. Se as lideranças minoritárias fizerem uma análise do que se passou, creio que um dos seus passos será libertar-se de governos. Para isso é preciso ter uma nova visão da importância dos recursos materiais na política. O período que se encerra foi marcado por campanhas milionárias. O PT venceu com uma em 2002 e não reaprendeu o caminho da austeridade.
A vitória de Bolsonaro, a julgar pela de Trump, deve suscitar um grande movimento, que até lembrou aos liberais americanos que eles têm mais energia do que suspeitavam.
Aqui, no Brasil, enquanto estiverem gravitando em torno de um partido acusado de corrupção, os simpatizantes da esquerda podem até descobrir uma energia insuspeitada. No entanto, a chance de essa energia se dissolver em vão é muito grande, sobretudo se as pessoas não pararem um segundo para pensar, achando que o momento é como a Quarta-Feira de Cinzas em Salvador, onde todos saem às ruas cantando e dançando as mesmas músicas do carnaval que passou.
Faria bem um tempo de reflexão, estudos e debates. Foi tudo tão rápido e, para alguns, tão surpreendente que, a rigor, nem o governo nem a oposição sabem precisamente o que fazer.
(Artigo publicado no Estadão em 02/11/2018)

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