SEGUNDA EDIÇÃO DE TERÇA-FEIRA, 28 DE AGOSTO DE 2018

NO BLOG DO LAURO JARDIM
Bretas libera Adriana Ancelmo de prisão domiciliar, mas impõe uso de tornozeleira
POR LAURO JARDIM
Terça-feira, 28/08/2018 06:05
Adriana Ancelmo | Reprodução

Por determinação do juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Criminal Federal do Rio de Janeiro, Adriana Ancelmo teve sua prisão domiciliar substituída pelo uso de tornozeleira eletrônica e por recolhimento domiciliar nos finais de semana.
Bretas atendeu a um pedido do MPF.
De acordo com a decisão de Bretas, durante a semana Adriana só precisará recolher-se em casa entre 20h e 6h da manhã.
No resto do tempo, pode deixar sua casa, inclusive para trabalhar — contanto que use a tornozeleira.
A substituição de penas tem também um efeito prático. O tempo dessa prisão domiciliar integral, que Adriana vinha cumprindo é considerado cumprimento de pena — e será abatida da pena de prisão se a ex-primeira dama tiver que voltar para penitenciária.
As novas medidas impostas por Bretas não contam como cumprimento de pena.

NA COLUNA DA ELIANE CANTANHÊDE
Arrastão do Bolsonaro
O candidato do PSL à Presidência avança sobre agronegócio, evangélicos e malufistas, eleitorados que pareciam ter 'dono', ou 'dona'
Por Eliane Cantanhêde, O Estado de S.Paulo
Terça-feira, 28 Agosto 2018 | 03h00
Nas pesquisas sem o ex-presidente Lula, Jair Bolsonaro (PSL) lidera em todas as regiões, menos no Nordeste, e avança sobre votos que seriam naturalmente de seus adversários em três segmentos, ao menos: agronegócio, evangélicos e, como mostrou o Estado, até os velhos malufistas de São Paulo. Mas, se tem 20% a seu favor, ele precisa amansar os 37% que não votam nele de jeito nenhum e disputar os incríveis 38% ainda sem voto.
Na opinião de Marina Silva (Rede), a segunda colocada, a transferência de votos para um neófito em disputas presidenciais como Bolsonaro, inclusive ou principalmente de setores evangélicos, se deve a um “populismo de extrema direita”. Ela reforça o perigo do populismo, tanto à direita quanto à esquerda, mas o difícil é o eleitor e a eleitora se darem conta disso.
Não fosse a solidez da agricultura, a recessão dilmista teria ido ainda mais fundo, teria sido mais danosa, e o agronegócio brasileiro não é apenas um dos mais competitivos do mundo como tem líderes, máquinas e logística modernos e sofisticados, mas continua sendo fortemente conservador em termos de costumes. Nada como um candidato que fale em ordem, tradição, família, Deus e... armas.
Pelo Ibope, Bolsonaro lidera no Centro-Oeste, no Norte e no Sul, tirando votos que escaparam do PSDB. Há poucos dias, enquanto o tucano Geraldo Alckmin prometia tratores para a agricultura, ele acenava com liberação das armas, num discurso que anima mais a plateia, além de render mais reportagens e manchetes. Tratores eles já têm, mas a questão das armas ainda é polêmica e enfrenta muita resistência no Brasil. Ainda bem.
É com esse discurso também, de ordem, família..., que o capitão da reserva foi se infiltrando no eleitorado evangélico, fatiado em diferentes designações, espalhado por todo o País e mais engajado nas eleições do que qualquer outro grupo religioso. Apesar de ser a única candidata evangélica, Marina está sendo vítima direta desse ataque especulativo.
Em 2014, Marina teve 43% de votos evangélicos, mas hoje está com 12%, enquanto Bolsonaro abocanha 26% difusamente, ou seja, nos diferentes Estados e regiões. Com um detalhe: os evangélicos não são apenas fortes, eles continuam em ascensão. E, assim como há a Frente Parlamentar da Agricultura, há no Congresso uma forte bancada evangélica que tende a aumentar a partir de 2019 e ser u'a mão na roda para qualquer presidente, em especial um que seja de um pequeno partido e não tenha feito coligações consistentes na eleição.
Pela reportagem do Estado, também os velhos e resilientes malufistas de São Paulo estão sendo fisgados pelo discurso de extrema direita de Bolsonaro. Com o declínio político do indescritível Paulo Maluf, eles vinham nas últimas eleições se bandeando para os candidatos do PSDB, que mandam e desmandam no Estado há décadas. Mas, enfim, parecem ter encontrado um substituto à altura para seu ídolo, agora em prisão domiciliar, com tornozeleira e tudo.
Curiosidade: uma das bandeiras de Bolsonaro é o combate à corrupção, mas vamos convir que Maluf não se encaixa aí. Nenhum Sérgio Cabral, nenhum Eduardo Cunha, ninguém tira o troféu de Maluf nessa área, porque “quem já foi rei nunca perde a majestade”. Assim, os votos malufistas vão para Bolsonaro pela a identidade de direita, a tradição, as armas, nada a ver com anticorrupção.
Além de 30% no Norte-Centro Oeste e dos 23% no Sul, Bolsonaro tem 21% no Sudeste, onde se concentram 43% dos eleitores, e só no Nordeste, com 13%, ele perde para Marina (17%) e Ciro Gomes (14%). Mas não se esqueçam: quanto mais Bolsonaro cresce nesses setores, mais ele aumenta sua rejeição em vários outros. No segundo turno, rejeição pode ser fatal.

NA COLUNA DO JOSÉ CASADO
Companheiros golpistas
Razão tinha o poeta Drummond, quando dizia que uma eleição é feita para corrigir o erro do pleito anterior, mesmo que o agrave
Por José Casado
Para alguns candidatos será constrangedor e difícil explicar. Para milhões de eleitores vai ser quase impossível entender as próximas cenas da campanha eleitoral.
O primeiro capítulo vai ao ar na sexta-feira, 31, quando começa a propaganda política no rádio e na televisão. Nesse dia, por coincidência, se completam dois anos do último impeachment (em três décadas de democracia, o País já derrubou metade dos quatro presidentes que chegaram ao Planalto pelo voto direto).
Em vários Estados o eleitor será surpreendido com o desfile do PT de Dilma e Lula abraçado aos “golpistas” do MDB de Michel Temer. Foram parceiros no poder por 12 anos e 07 meses, até o impeachment de Dilma.
Atravessaram os últimos 24 meses em histeria na Câmara e no Senado. Todo dia gastavam hora e meia nos plenários injuriando-se como “ladrões” e “corruptos” — não necessariamente nessa ordem. Houve parlamentar petista que fez 350 discursos de ataques aos “golpistas”, dois terços do Legislativo.
Agora, o PT está de novo entrelaçado ao MDB de Temer, ao PR de Valdemar Costa Neto, ao PP de Ciro Nogueira, ao PTB de Roberto Jefferson, ao PSD de Gilberto Kassab, ao SD de Paulinho da Força, ao DEM de Rodrigo Maia e ao PSB dos Arraes. Por milagre eleitoral, todos voltaram a ser bons companheiros.
Pelos antigos sócios, em nove Estados os petistas renegaram o PCdoB, seu mais fiel e permanente aliado. Esse partido precisa de bancada em nove Estados (ou 1,5% dos votos válidos no País) para se manter no mapa político.
Foi preciso ordem judicial para obrigar o PT do Amazonas a não deixar desamparada a senadora comunista Vanessa Graziottin (PCdoB), isolada na batalha pela reeleição. Em Pernambuco, aniquilou uma candidatura própria (Marília Arraes) para apoiar a reeleição de um “golpista”, o governador do PSB em Pernambuco (Paulo Câmara).
Razão tinha o poeta Drummond, quando dizia que uma eleição é feita para corrigir o erro do pleito anterior, mesmo que o agrave.

NO BLOG DO MERVAL PEREIRA
Bolsonaro em julgamento
POR MERVAL PEREIRA
Terça-feira, 28/08/2018 06:30
A Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) pode tornar hoje o candidato à presidência da República do PSL, Jair Bolsonaro réu pela segunda vez. Ele já o é por incentivo ao estupro, devido ao episódio envolvendo a deputada Maria do Rosário. Desta vez, será julgado, antes do início da propaganda eleitoral de rádio e televisão a próprio pedido, por declarações consideradas racistas sobre os quilombolas.
A maioria da Primeira Turma já firmou posição de que a imunidade parlamentar não significa impunidade, como disse a ministra Rosa Weber. E que o parlamentar só tem direito à proteção da lei caso suas palavras tenham sido proferidas durante o mandato e em função dele.
Hoje, os ministros terão que decidir se, quando Bolsonaro mediu o peso dos quilombolas em arroubas em uma palestra, queria compará-los a animais, como está sendo acusado pela Procuradoria-Geral da República, ou se foi apenas um vício de linguagem, uma piada de caserna, sem insinuações racistas.
Os comentários de Bolsonaro ganharam ressonância maior devido a declarações de seu candidato a vice, General Mourão, para quem o Brasil "herdou a cultura de privilégios dos ibéricos, a indolência dos indígenas e a malandragem dos africanos". Mesmo tendo se declarado indígena no registro no TSE, o General provocou polêmica.
O historiador Alberto da Costa e Silva, da Academia Brasileira de Letras, o maior especialista brasileiro em África, tem outra visão: “Foi o africano que ensinou o europeu no Brasil a batear o ouro dos rios, a cavar poços, a fundir o ferro. Foi o africano que desenvolveu a pecuária de grande extensão, onde o gado é solto no pasto, sem currais. Os africanos trouxeram uma nova maneira de vestir e de se comportar, de sentar, caminhar, construíram a casa de pau a pique, diferente da casa de taipa de Portugal. Os africanos trouxeram novos instrumentos musicais, comidas, vegetais”, cita o historiador.
Costa e Silva lembra que o Português falado no Brasil foi influenciado e enriquecido com palavras de línguas faladas, principalmente, em Angola. “Quando eu xingo, eu estou falando em kikongo, quando eu cochilo, estou falando em kimbundu”.
“Uma troca permanente de culturas, costumes, que nos deu o maxixe e levou de volta a mandioca, o milho”, ressalta. O acarajé é encontrado na Nigéria, Togo, Gana e Benin, onde viveu Alberto da Costa e Silva como embaixador do Brasil. “Foi uma troca de modos de viver, de valores, de gostos de um lado para o outro”. 
O também historiador e sociólogo Jorge Caldeira avalia que a visão de uma suposta indolência indígena mudou radicalmente a partir da década de 1970, quando antropólogos, através de novas métricas, constataram um trabalho de alta produtividade. “Hoje não há quem deixe de avaliar como muito relevante o trabalho indígena na formação da riqueza nacional”, afirma Caldeira, que tratou do assunto em um texto intitulado “Teoria do Valor Tupinambá”.
O tema da malandragem, como ressalta o antropólogo Roberto DaMatta, tem a ver com um Estado centralizador e injusto. Quando se tem uma relação com o Estado que não é de confiança, diz ele, “você cria o jeitinho e a malandragem”, como tratou no livro de 1979 “Carnaval, Malandros e Heróis”.
Jorge Caldeira reforça a tese dizendo que era uma “necessidade imperiosa” adaptar os comportamentos para a sobrevivência numa realidade econômica e cultural muito distante daquela que criara os preceitos legais e morais, sobretudo em Portugal.
Para Roberto DaMatta, a suposta “indolência vem de nós, que criamos um Estado para nós”. O antropólogo avalia que devemos ao negro “tudo o que foi construído no Brasil, até hoje. “Os negros carregaram nas costas nosso sistema de água, nosso sistema sanitário. O escravo foi um dos elementos da nossa civilização”. Já os índios, cuja tribo Gaviões Roberto DaMatta estudou in loco, “foram catequizados e massacrados”, afirma.
Um julgamento negativo para Bolsonaro, que está em primeiro lugar nas pesquisas quando Lula não aparece, reacenderá a polêmica jurídica sobre se um réu pode ser candidato à presidência da República, tema posto desde que o mesmo Supremo retirou da linha sucessória por esse motivo o senador Renan Calheiros, então presidente do Senado. 
Esclarecimento 
O trabalho do cientista político Jairo Nicolau sobre a transferência de votos no Nordeste foi originalmente publicado no blog Observatório das Eleições da Unicamp.

NO INSTITUTO MILLENIUM
PROFESSOR UNRAT
Por J.R. Guzzo
Sábado, 25/08/2018
A coluna Fatos, regularmente publicada nesta VEJA digital, também é cultura. Só de vez em quando, claro, e sempre em doses moderadas, pois artigos escritos por jornalistas raramente farão muito mal a alguém se ficarem nos limites da leitura ligeira. É o que será tentado nas linhas abaixo, levando-se em conta que certas obras de primeira classe podem ajudar na compreensão do presente ─ no caso, uma cena particular da aflitiva disputa eleitoral pela Presidência da República que está aí. Trata-se de comparar <O Anjo Azul<, um dos momentos mais festejados na história do cinema universal, e a inédita candidatura por default, como se diz no Português de hoje, do professor Fernando Haddad. O filme, um símbolo pungente da Alemanha a caminho da catástrofe, lançado em 1930 e inspirado na obra de Heinrich Mann, narra a tragédia humana do professor Unrat ─ um impecável educador cuja vida entra em decadência e acaba em ruínas, na miséria, na sarjeta e na cadeia.
A desgraça de Unrat é o resultado de uma paixão alucinada por Lola-Lola, uma dançarina de cabaré, “O Anjo Azul”, que em dois anos de convívio destrói a sua reputação, suas finanças e o seu amor próprio. De homem respeitado e temido, ele se transforma num palhaço, serviçal de Lola e sua trupe de companheiros suspeitos, e desliza progressivamente para a humilhação, a loucura e a delinquência. Haddad, na sua atual aventura política, lembra o professor que liquida a sua honra a serviço de Lola-Lola. Anulou a própria personalidade, e assumiu publicamente o papel de pano de estopa de um ex-presidente da República que está na cadeia ─ e se mostra disposto a qualquer extremo para escapar à punição dos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro a que foi condenado. Haddad é o candidato do PT na vida real, pois o seu líder está impedido pela Lei da Ficha Limpa de disputar a eleição. Mas não pode dizer que é candidato enquanto o chefe não mandar ─ coisa que, nos seus cálculos, deve demorar o máximo possível de tempo para lhe render o máximo possível de lucro na vida pessoal.
Ninguém está dizendo aqui que a comparação é entre o caráter do professor Unrat e o caráter de Haddad. Unrat, no fundo, não era um homem bom, e tinha uma inclinação fatal para a vida torta. Haddad, ao contrário, manteve até agora uma postura de integridade, respeito às leis e boa educação em sua vida pública e pessoal ─ justamente o oposto do que tem sido há anos a conduta exibida pelo grande líder. Mas ao aceitar na frente de todo mundo o papel de objeto inanimado, sem vontade própria e disposto a tudo para servir aos interesses de um homem que pensa unicamente em si mesmo, Haddad está descendo ladeira abaixo, como no tango de Gardel. Tornou-se um cúmplice integral do grupo de arruaceiros que está no comando do partido. É o instrumento-chave da tentativa de sabotar a eleição com a farsa do “duplo cenário”, da litigação judiciária de má fé, da “intervenção da ONU”, da foto do não-candidato na urna eletrônica e tudo o mais que possa fraudar o processo eleitoral com a produção de desordem. Enfim, ao oferecer-se como voluntário para a posição de “poste”, está contribuindo diretamente para destruir o futuro de seu partido. Cuesta Abajo acaba mal, é claro, como a história do “Anjo Azul”. No tango, o homem apaixonado fala do amor de sua vida ─ que era como "un sol de primavera, mi esperanza, mi pasión …". Mas as ilusões terminam, e "ahora, cuesta abajo en mi rodada, como diz, o amante lamenta ter acabado triste "en la pendiente, solitário y ya vencido." O que lhe sobra é o sonho "con el tiempo viejo que hoy lloro, y que nunca volvera." Está bom assim ou precisa mais, em matéria de tristeza? Está bom assim.
(Fonte: “Veja”, 23/08/2018)



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