SEGUNDA EDIÇÃO DE TERÇA-FEIRA, 24-7-2018

NO O ANTAGONISTA
Toffoli aguarda HC de Lula
Terça-feira, 24.07.18 08:48
O plantonista Dias Toffoli está aguardando a chegada de um habeas corpus de Lula.
O Antagonista só não sabe quem o avisou.

ACUSADO POR ASSASSINATO DE MARIELLE É PRESO
24.07.18 09:45
O Globo informa que a Delegacia de Homicídios do Rio de Janeiro “prendeu, na manhã desta terça-feira, um ex-PM acusado de ser um dos ocupantes do carro em que estavam os executores da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes.”
O nome do policial militar reformado é Alan de Morais Nogueira, mas ele é conhecido como Cachorro Louco.

“O maior laxante do Brasil”
24.07.18 09:18
Gilmar Mendes está processando o promotor Fernando Krebs, que o descreveu como o “maior laxante do Brasil”.
A Folha de S. Paulo informa que o promotor convocou Joaquim Barbosa e Rodrigo Janot como suas testemunhas.

Lula pode fazer campanha sem sair de casa
24.07.18 08:01
Lula precisa da imprensa para fazer campanha.
É por isso que Sepúlveda Pertence está barganhando sua prisão domiciliar.
A advogada Karina Kufa disse para a Veja que “tudo dependeria dos contornos da decisão judicial, mas, em casa, o ex-presidente poderia conceder entrevistas a veículos de comunicação”.
Outra possibilidade “é a de que Lula peça para se recolher apenas à noite, das 21h às 5h, utilizando o tempo restante para atos públicos de pré-campanha.”

NO BR18
Segunda-feira, 23.07.2018 | 16h37
Do Marcelo: Governo de coalizão é um modelo falido
Os candidatos ao Planalto insistem em manter vivo o fracasso do modelo de governo do presidencialismo de coalizão, trocando cargos por votos no Congresso. E é incrível que repitam o erro.
Esse jeito de governar não trouxe progresso ao País e levou à ruína política seus defensores. Ao tentar administrar essa prática, Lula precisou apelar para o Mensalão, Dilma Rousseff sofreu impeachment e Michel Temer, depois de ver vários ministros sendo presos ou investigados, deixará o Planalto com uma rejeição gigantesca. /Marcelo de Moraes

Terça-feira, 24.07.2018 | 08h37
Alckmin e Bolsonaro: cada um tem o que o outro quer
“Jair Bolsonaro e Geraldo Alckmin estão em situações exatamente opostas na corrida pela Presidência”, opina Eliane Cantanhêde no Estadão. Enquanto o tucano tem apoio e promessa de governabilidade, mas pouca intenção de voto, Bolsonaro não consegue conquistar nenhum partido, apesar de boa parte da população o apoiar.
A colunista destaca outros pontos de oposição entre os dois pré-candidatos, desde a forma de discursar até a estratégia para angariar eleitores.

24.07.2018 | 06h47
Maluf vem aí?
Quem viu as imagens de um Paulo Maluf curvado, de bengala, fragilizado, quando de sua prisão no ano passado, se prepare: ele pretende registrar sua candidatura a deputado federal. O próprio deputado – cuja cassação ainda não foi apreciada pela Câmara – informou ao colunista Bernardo Mello Franco, do Globo, que quer se candidatar.
“Posso registrar o número e cair fora no meio da campanha”, ele desconversa, alegando não ter mais saúde para as viagens semanais a Brasília.

24.07.2018 | 07h47
Lula e Maluf: tudo a ver
Os que defendem a candidatura de Lula à Presidência também acham que Paulo Maluf tem o direito a registrar sua candidatura a deputado, certo? Deveriam, ao menos.
Maluf é condenado pelo STF. Foi preso. Em 2014, o deputado chegou a ser barrado pela Lei da Ficha Limpa, mas teve 250 mil votos e o TSE autorizou sua posse. Até hoje a Câmara não cassou seu mandato. Nesta terça, Fernando Haddad defende na Folha a “jurisprudência” da Justiça Eleitoral, que permite a Lula ser candidato. Poderia nominar: o PT defende a jurisprudência Maluf para Lula. Maluf e Lula: tudo a ver. / Vera Magalhães

24.07.2018 | 07h00
Opinião do Estadão: Fazendo o diabo
“É certo que, em política, é preciso ser pragmático, mas há situações para as quais nenhuma justificativa jamais será boa o suficiente, como é o caso da submissão de Alckmin ao deputado Paulinho da Força, sacrificando as convicções tucanas no altar do mais desbragado oportunismo.”
Trecho de editorial do Estadão desta terça-feira, 24.

24.07.2018 | 06h28
PT quer controle social do Judiciário
Fernando Haddad segue sua jornada de entrevistas como dublê de coordenador de programa de governo e candidato reserva do PT à Presidência. Ao Estadão, detalhou a proposta de ampliar o controle externo do Judiciário e de órgãos como o Ministério Público ampliando sua “diversidade de representação”, para que não sejam corporativistas.
Também defendeu mandato, que poderia ser de 12 anos, para ministros do STF. Disse que Lula, que está preso e teve 6 dos 5 votos do Supremo contrários à concessão de um habeas corpus a seu favor, “se ressente” de ter feito escolhas muito isoladas para a Corte.

NO BLOG DO JOSÉ NÊUMANNE
Mãos e Pés Sujos de Lama
Para tomar tempo em rádio e TV de seus adversários na eleição, Alckmin assumiu podres de corrupção, que não são só dele nem de outros tucanos, mas de aliados condenados no Mensalão e acusados pela Lava Jato
Por José Nêumanne
Segunda-feira, 23 Julho 2018 | 19h31
As eleições, daqui a três meses, batem a cada dia que passa recordes de originalidade e baixo nível, que já eram extremos, das anteriores.
Conforme as pesquisas, o primeiro lugar no primeiro turno é ocupado por um preso que cumpre pena de 12 anos e 1 mês por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, decretada em primeira instância e confirmada por unanimidade na segunda. Ou seja, pela Lei da Ficha Limpa, de iniciativa popular, aprovada pelo Congresso Nacional e sancionada pelo próprio condenado, o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva – se os Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário reconhecerem o primado do povo – é inelegível. Para que ele concorra, sua defesa, ativa na produção de recursos e chicanas em geral, teria de convencer o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o Superior Tribunal de Justiça (STJ) e o Supremo Tribunal Federal (STF) a rasgarem a lei. E porão em dúvida as boas intenções de todos quantos a aprovaram e a firmaram, com bravatas retóricas e fanfarras ideológicas, que, então, pareceriam estelionato eleitoral da pior categoria.
Seria impossível? A História o nega. Há uma guerra suja na cúpula do Judiciário em torno da jurisprudência de 2016 que autoriza mandar um condenado começar a cumprir pena, enquanto lhe é garantido o direito de recorrer até o trânsito em julgado, do qual fala o artigo 5.º, parágrafo único, da Constituição federal (que não se refere à prisão ou liberdade, mas à culpabilidade, ou seja, negação da inocência). Arre, égua! Esses Tribunais já passaram o texto constitucional a limpo a serviço dos chefes de facções partidárias que os tornaram “supremos” (leia-se acima do bem e do mal).
Ricardo Lewandowski, quando presidia o STF e, por isso, também a sessão do Congresso que depôs Dilma Rousseff da Presidência, em 2016, rasurou uma linha do artigo 52 só para permitir que a petista escapasse da punição de passar oito anos sem exercer cargos públicos. Seria injusto, segundo o jurisconsulto de São Bernardo do Campo, que madama não pudesse mais, coitadinha, ser “merendeira de escola”. Recentemente, um colega do rasurador, Dias Toffoli, mandou soltar o próprio ex-chefinho José Dirceu, condenado a mais de 30 anos de cadeia, tornando letra morta a jurisprudência acima citada e cuspindo no plenário ao qual comparece todos os dias úteis de seu ofício, tratando todos de Excelência e por todos sendo tratado com iguais pompa e circunstância. Ou seja, pode ser até difícil, mas impossível não é, se for considerada a ética duvidosa de quem nem sempre tem reputação ilibada e os notórios conhecimentos jurídicos exigidos. Toffoli, reprovado em dois concursos para juiz, será em breve presidente do Órgão que se julga acima de todos e de tudo, aí incluída a Lei.
Mas digamos que Rosa Weber no TSE e seu colega advogado João Otávio de Noronha no STJ em setembro cumpram seu dever e Toffoli resolva seguir os passos da companheira ao lado dele no plenário, não permitindo mais uma esquisitice em sua biografia. E, dessa forma, Lula, ainda que venha a ser libertado pelo antigo subordinado, não possa mesmo candidatar-se. Sobrariam, então, os que estão ali logo abaixo nas pesquisas.
Será que o capitão que promete enquadrar os “coronéis” (assim mesmo com aspas, pois Jair Bolsonaro não é besta de desafiar os antigos superiores de farda) e manterá o primeiro lugar na campanha, mesmo com os pífios sete segundos ao seu dispor no horário eleitoral nada gratuito, menos até do que os do famoso Dr. Enéas? Para isso terá de contar com o apoio denodado da bancada da bala, que não dispõe de tempo no tal horário pago pelo bolso surrado do contribuinte. Será por isso que tem imitado revólveres com dedos que, nus, não disparam projéteis, mas têm uma enorme carga simbólica? Se não tivessem, por que ele repete tanto o gesto? Mas não é bom reclamar aqui, pois ele já definiu qualquer comentário racional contra o ato de matar com uma palavra pouco gentil: “frescura”.
O candidato dos nostálgicos de golpes passados chegou à convenção nacional, domingo, sem tempo nem vice para chamar de seus. A advogada Janaína Paschoal, uma das signatárias do impeachment de Dilma Rousseff, parece uma pareceira promissora, mas fez um discurso louco de tal lucidez que enfureceu os fanáticos da chapa, que se assume mais à direita de todas. Ela advertiu apenas que não se ganha eleição sem apoio nem se governa sem aliança. Só não dará para chamá-la de Conselheiro Acácio porque a personagem de Eça e a professora da USP são de gêneros diferentes. Certo é que, com ou sem o discurso rebelde da quase vice, e quase não, do capitão dos revólveres de dedos em mãos infantis, ele não conseguiu o apoio de nenhum outro partido, nem sequer os de um “centrinho” qualquer.
Foi esse também o caso de Ciro Gomes, o “coronel” a quem os adeptos de Jair se referem quando ameaçam com o capitão deles. Entre tapas e beijos, o cearense de Pindamonhangaba (no vale paulista do Paraíba do Sul) tentou seduzir os “golpistas” com o canto da sereia da preferência de um dígito só do pretendente tucano à Presidência, Geraldo Alckmin, nascido na mesma cidade. Deu em nada e Ciro terminou a semana passada criticando duramente o “baronato” e fazendo acenos à esquerda, como registrou o noticiário. Mas, espere aí, o coronelzinho dos Gomes de Sobral já não é de esquerda? Ou só estaria acenando para o espelho da própria pia?
Alckmin foi recebido com marchas e dobrados pelo dito “Centrão”, grupo que se insinua nas decisões do Congresso desde que ajudou os tucanos de alta plumagem José Serra e Mário Covas, além de Ulysses Guimarães e Nelson Jobim, a redigirem a Constituição. Aliás, Jobim foi presidente da Constituinte e, como o coleguinha Lewandowski, mexeu no texto final da Carga Magna sem passar por anterior aprovação do plenário.
O anestesista paulista começou a semana passada com a perspectiva de ter de pagar algumas dívidas na Justiça, que podiam abalar suas pretensões a subir a rampa do Planalto. Todas são relativas a suspeitas em torno de um tal de Santo, codinome no propinoduto da Odebrecht. E terminou-a definitivamente endividado com os dirigentes partidários mais sujos da História recente de uma República que nunca se destacou pela alvura da imagem. Entre seus novos aliados os únicos que não podem ser chamados de suspeitos de corrupção são Valdemar Costa Neto, dono do PR, e Roberto Jefferson, proprietário do PTB. Pois eles foram condenados, apenados, mas depois, indultados pela então presidente petista Dilma, mereceram o pródigo perdão da bondosa supremacia dos ministros do STF, que se habituaram a soltar quem os juízes de baixo prendem. Outros sócios desse clube sobre o qual se projeta o foco das lanternas dos guardas-noturnos são Gilberto Kassab, suserano do PSD, e Paulo Pereira, o Paulinho mandachuva da Força Sindical e do partido Solidariedade (afff!).
Jefferson e Paulinho já deram uma ideia a Alckmin de que deve preparar-se para pagar a dívida com eles abrindo mão, se não da honra, pelo menos da coerência. O PTB do delator do Mensalão em Pernambuco mandou dizer que está comprometido com outro. E não será o único: outras legendas fiéis ao presidiário mais célebre do Brasil no Nordeste certamente também terão más notícias a lhe mandar. E o magnata do sindicalismo, cuja vida à tripa-forra depende da cobrança forçada de um dia de trabalho de cada trabalhador, sindicalizado ou não, convenceu-o a desistir de apoiar a reforma trabalhista para evitar que verbas públicas mínguem ainda mais.
Não nos cabe omitir que o “Centrão” se comprometeu com Temer a aprovar a reforma da Previdência e terminou abrindo para o presidente a porta de saída da intervenção militar na segurança do Rio, prevista no dispositivo constitucional que proíbe reformas quando algum Estado esteja sob intervenção federal. A turma de Marun, Jovair e Rosso tem recebido cargos a mancheias para aliados, apaniguados e parentes em troca de derrotas frequentes do governo federal no Legislativo. Entre as quais a mais óbvia é o recorde de impopularidade do pródigo gestor federal.
Mas com mãos e pés sujos de lama Alckmin ainda se nega, em público, a juntar os trapinhos com o MDB do pessoal do palácio, com a desculpa de que não se junta com gatunos. Com os condenados e suspeitos, dos quais tirou o tempo de rádio e TV que deixou de ser dado a Bolsonaro, Ciro, Marina e outros, ao seu lado será impossível, para a recente esperança ressuscitada do mercado, convencer o distinto público de que vai dar força à Lava Jato e pôr seus alvos nas prisões do Paraná. Conta outra, cara!

NO BLOG DO MERVAL PEREIRA
Política em tempos interessantes
POR MERVAL PEREIRA
Terça-feira, 24/07/2018 06:30
É sintomático desses tempos interessantes que vivemos no País, no sentido da maldição chinesa de instabilidade e caos, que nenhum candidato tenha escolhido até agora um vice. Se é verdade que vice não ganha eleição, ajuda a governar, como foi o caso de Marco Maciel do PFL nas gestões de Fernando Henrique, ou sinaliza uma tendência, como a escolha de José de Alencar nos governos de Lula. Ou até mesmo de Temer nos governos Dilma.
O que os candidatos estão buscando, nesse nosso presidencialismo de cooptação, é tempo de televisão e a chamada governabilidade, que tantos escândalos já justificou. O mais bem-sucedido até o momento, pelo menos aparentemente, é Geraldo Alckmin do PSDB, que está para anunciar um acordo político com o chamado “Centrão”.
Na sua forma embrionária e não tão tóxica, o Centrão já foi de Fernando Henrique, e depois de Lula e de Dilma, gerando o Mensalão e o Petrolão. Todos os demais candidatos estão isolados em suas posições, para o bem e para o mal.
O PT não abre mão de dominar o espaço da esquerda e quer esticar a corda ao máximo, na tentativa de colocar a foto de Lula na urna eletrônica. Tudo indica que não conseguirá, e o projeto pessoal de Lula deve inviabilizar a união dos partidos de esquerda que, se não têm muitos votos, reforçariam o sentido ideológico de uma candidatura única.
Assim como controlou a esquerda engolindo Leonel Brizola, depois de vencê-lo em 1989 e fazê-lo seu vice em 1998, Lula não aceita apoiar Ciro Gomes, do PDT, o mais bem colocado candidato identificado com a esquerda. E tenta manter outros partidos menores, como o PCdoB e o PSOL, sob sua asa. Mesmo com candidatos próprios, esses partidos não oferecem perigo à hegemonia do PT.
Quanto mais demorar a indicar um substituto, menos eficácia terá na transposição de votos para ele. E talvez seja a estratégia oculta do PT perder a eleição e liderar a oposição. Mas só com a vitória de um aliado Lula tem chances de sair da cadeia.
Por sua vez, Ciro Gomes foi de um lado a outro na tentativa de ganhar o apoio de Lula, ora elogiando o líder petista, ora criticando-o. E buscou com afinco o apoio do mesmo Centrão que está em vias de apoiar Alckmin. Foi mal sucedido nos dois casos, e agora busca o apoio da Rede de Marina Silva, que aparece nas pesquisas à sua frente.
Apesar desse seu bom desempenho, Marina também não conseguiu até agora uma aliança política que lhe oferecesse coerência, além do tempo de televisão. Rejeitou o Centrão desde o primeiro momento. Provavelmente vai dar a Ciro uma negativa educada: se ele aceitar o programa da Rede, poderia ser o seu vice.
O líder das pesquisas quando Lula não está, Jair Bolsonaro, também encontra dificuldades para aumentar sua exposição na propaganda eleitoral: dois nomes de militares de outros partidos foram aventados e inviabilizados nas negociações políticas, e a advogada Janaina Paschoal, tentada pela possibilidade, acabou inviabilizando sua própria indicação ao realizar um discurso crítico na convenção que indicou Bolsonaro oficialmente a candidato à presidência da República. Tudo indica que fez o 'sincericídio' de caso pensado.
De todos os demais candidatos, apenas o ex-tucano Álvaro Dias tem alguma, embora escassa, possibilidade de ser bem sucedido. Mas o que lhe restou de apoio são nanicos que podem lhe dar um pouco mais de tempo de televisão e vices exóticos como os eternos candidatos Emayel ou Levy Fidelix.
Como se vê, a dois meses e meio das eleições, o cenário político continua confuso, sendo impossível saber-se neste momento o que vai prevalecer, se os esquemas da velha política, baseados em estruturas partidárias enraizadas pelo País e tempo de televisão, ou a necessidade de renovação que aparece em todas as pesquisas, mas não nas eleitorais.
Lula, na cadeia, continua sendo o líder das pesquisas, e Bolsonaro, Marina e Ciro Gomes são os preferidos até agora. Desses, apenas Marina, embora política tarimbada em sucessivos mandatos, representa uma novidade na maneira de encarar a política, mas foi destruída pela máquina partidária do PT e do PSDB na eleição de 2014.
Bolsonaro e Ciro Gomes são políticos tarimbados e, cada um à sua maneira, representa a velha política. Desde a busca de alianças mesmo à custa da coerência, até a tão conhecida política familiar.

NO BLOG DA MÍRIAM LEITÃO
O difícil retorno
POR MÍRIAM LEITÃO
Terça-feira, 24/07/2018 06:01
Em época de eleição, candidatos mentem ou simplificam situações complexas. Em 1990, Collor iria derrotar a inflação com um tiro, em 1998, Fernando Henrique adiou o ajuste do câmbio, em 2014, Dilma Rousseff negou que o País estivesse entrando em recessão. Quem diz agora que será fácil resolver a crise fiscal e retomar o crescimento sustentado está vendendo gato por lebre.
Em 1990, o tiro de Collor saiu pela culatra e atingiu o País inteiro. Com o plano do sequestro da poupança, houve uma recessão de 11 trimestres, e a economia precisou de sete trimestres para voltar ao ponto em que estava em 1989, como mostrou a reportagem de ontem de Cássia Almeida neste jornal. Em 1998, Fernando Henrique adiou o ajuste do câmbio que explodiu em 1999. Em 2014, Dilma, em todas as entrevistas, negava a crise, explicava que os “indicadores antecedentes” mostravam que a economia não estava em crise, como fez no Jornal Nacional. Que nada! Os erros que ela cometeu durante o primeiro mandato estavam cobrando a conta já em 2014. Os números vieram depois, mas os sinais eram visíveis e uma propaganda cara, e paga com dinheiro sujo aos marqueteiros João Santana e Mônica Moura, criou o biombo que enganou milhões.
Era o começo da mais longa das nossas recessões. Olhando o passado, dos nove períodos recessivos desde 1980, só dois têm o tamanho do que entramos no último ano eleitoral. A recessão da crise da dívida nos anos 1980, nos estertores do regime militar, e a do Plano Collor. A atual consumirá ao todo, segundo a FGV, que fez o estudo citado na reportagem, 16 trimestres na lenta caminhada de volta ao ponto de partida, ou seja, ao começo de 2014.
A mentira de 2014 não criou antídotos no Brasil e enganos já estão sendo distribuídos aos eleitores. A versão muda conforme a conveniência de cada grupo. Entender o passado só é importante para preparar a cura do presente. O País saiu oficialmente da recessão em 2017 mas está prisioneiro do baixo crescimento e das expectativas cadentes.
Há um conjunto de motivos para explicar a lentidão da retomada. Na saída da recessão do Collor, havia uma proposta eficiente de reorganização da economia no governo Itamar, com o Plano Real. Em 1998-1999, a recessão derrubou o PIB, mas a taxa anual continuou levemente positiva (0,3% e 0,5%) e o país estava com superávit primário. Desta vez, o governo Michel Temer conseguiu administrar o País por um ano, mas em maio de 2017, com a delação de Joesley Batista, ele perdeu o rumo. Hoje ainda tem uma equipe econômica séria, mas no Congresso tem perdido todas as batalhas fiscais.
A crise tem camadas: o desajuste fiscal é grave demais e não foi revertido, a base parlamentar está aprofundando o buraco das contas, a greve do setor de transporte de carga abateu o pouco de melhora no índice de confiança de empresários, está havendo um aumento dos juros de longo prazo e do risco-país, o desemprego é alto demais e trava o consumo das famílias. A arrecadação vinha aumentando este ano todos os meses, mesmo quando se desconta as receitas extraordinárias, como o Refis, mas a melhora é insuficiente. Quando se olha para o futuro não há razões para se confiar na superação da crise.
O cientista político Carlos Mello, em entrevista publicada ontem no jornal, enumerou as vezes em que os economistas erraram na análise recente, quando previram o fim da crise. Não há mais espaço para o autoengano. A crise é grave. O buraco fiscal no qual o País caiu exigirá, como disse o secretário do Tesouro, Mansueto de Almeida, em entrevista que me concedeu, um ajuste de 4% do PIB. E vários candidatos, mesmo quando falam em ajuste e mudança da trajetória de crescimento da dívida, apresentam soluções mágicas. Nenhum dos nossos problemas é simples ou terá solução fácil.
Os candidatos seguirão sua natureza de culpar o adversário, simplificar o complexo e prometer a virada rápida caso sejam eleitos. Mas a dolorosa verdade é que reorganizar a economia brasileira, para sair da crise fiscal e retomar o crescimento com geração de emprego, é um trabalho difícil e vai levar anos. Dependendo de quem for eleito, o que pode acontecer é o País afundar ainda mais na crise que ainda não superamos.
(Com Álvaro Gribel, de São Paulo)

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