PRIMEIRA EDIÇÃO DE 17-02-2018 DO 'DA MÍDIA SEM MORDAÇA'

NA COLUNA DO CLÁUDIO HUMBERTO
SÁBADO, 17 DE FEVEREIRO DE 2018
Muitos dos que se queixam do banditismo no Rio de Janeiro ajudaram a financiá-lo usando cocaína. A intervenção federal ocorre no momento em que os chefes do tráfico estão capitalizados, com o faturamento recorde no carnaval, com seus 6,5 milhões de foliões. Certa vez, em 2002, um delegado, Zaqueu Teixeira, que chefiava a Polícia Civil do Rio, colocou o dedo na ferida: “As pessoas têm que cheirar menos.” De lá para cá, tudo piorou muito nessa área, na linda capital fluminense.

No desabafo, que continua atual, o delegado advertiu que “se quer diminuir a violência nas ruas, as pessoas têm que cheirar menos.”

O delegado carioca deu nomes aos bois: “O Elias Maluco matou Tim Lopes, mas quem financiou essa morte foram os usuários das drogas”.

O crime avançou no Rio, mostrando a opção dos cariocas, e o bom policial Zaqueu Teixeira descuidou da própria biografia: virou deputado.

O fortalecimento do tráfico dá força a quem defende a legalização das drogas: deixando de ser um negócio, o traficante desapareceria.

A poderosa ex-cafetina do Mensalão, Jeany Mary Corner, guardiã de alguns dos segredos mais bem guardados da República, foi flagrada furtando rabada congelada em um bar da 313 Sul, em Brasília. O dono não registrou ocorrência. Pivô do escândalo que derrubou o ex-ministro Antonio Palocci, Jeany Mary fornecia prostitutas para autoridades, durante o governo Lula (PT), cobrando até R$10 mil por programa.

Em 2013, Jeany Mary chegou a ser presa sob a acusação de comandar uma rede de prostituição de luxo, na capital.

O bar estava cheio e Jane fingiu que ia ao toalete. Subiu a escada e desviou para a cozinha, pegou a carne congelada e pôs na bolsa.

Quando o proprietário tomou-lhe a rabada, Jeany Mary Corner ainda fez ironia: “Pensei que fosse um filé...”

Ao criar o Ministério da Segurança Pública, absorvendo órgãos policiais e penitenciários e a bilionária Secretaria Nacional de Segurança, Michel Temer esvazia tanto que deveria extinguir o Ministério da Justiça.

Não durou 24h na agenda oficial da Câmara a discussão da reforma da Previdência. Incluído na noite de quinta-feira, o debate deu lugar, na tarde de sexta-feira, à análise do decreto de intervenção federal no Rio de Janeiro.

“O plano nacional de segurança pública lançado pelo governo foi um fracasso total”, na ótica do senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP). Apesar disso, garantiu: “Votaremos a favor da intervenção”.

Juntas, as estatais Petrobras e Caixa Econômica Federal vão gastar R$ 1,1 bilhão do contribuinte brasileiro em publicidade e propaganda, durante o ano de 2018.

O Ministério Público de Alagoas apura o uso de veículo oficial como se fosse particular, pelo comandante da Policia Militar. O coronel foi assaltado e os bandidos levaram a Amarok oficial de placa particular.

Antes da intervenção, o senador José Medeiros (Pode-MT) disse que a insegurança em seu Estado é tão grave quanto no Rio. A polícia está “acovardada” e de “mãos atadas” por medo de ser tida como violenta.

O PSB se deu muito bem na eleição para o Senado, em 2014: quase dobrou a bancada. Passou de quatro para sete senadores. Agora, às vésperas da nova eleição, o PSB já voltou a ter só quatro.

Na Câmara, a bancada do PSB encolheu de 35, em 2014, para 32 deputados em 2018. Danilo Forte (CE), Tereza Cristina (MS), Fábio Garcia (MT) e Adilton Sachetti (MT) se desfiliaram no final de 2017.

... além de votar a 1ª intervenção federal desde a redemocratização, o Congresso terá outra raridade para uma segunda-feira: parlamentares.

NO DIÁRIO DO PODER
NEGOCIAÇÃO CONTINUA
TEMER DIZ QUE DECRETO DE INTERVENÇÃO SERÁ SUSPENSO PARA VOTAR REFORMA
DECRETO SERÁ SUSPENSO E DEPOIS REFEITO AO SABOR DA REFORMA
Publicado sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018 às 16:25 - Atualizado às 18:37
Da Redação
O presidente Michel Temer assinou o decreto para a intervenção federal na segurança pública do Estado do Rio de Janeiro e fez um discurso em tom de declaração de guerra ao crime organizado. O presidente, no entanto, não deixou de citar a tramitação da proposta de reforma da Previdência, diretamente afetada pela medida no Rio. 
Temer disse que Maia e o presidente do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE), darão continuidade à tramitação da Reforma da Previdência. "Quando ela estiver para ser votada - segundo a avaliação do Legislativo -, farei cessar a intervenção. O trabalho de segurança federal no Rio será mantido sem alteração durante esse período", afirmou.
Enquanto a intervenção vigorar, não pode haver alteração na Constituição. Ou seja, nenhuma Proposta de Emenda Constitucional (PEC) poderá ser aprovada pelo Congresso. O próprio presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), já admitiu que o cronograma de votação da reforma está inviabilizado, inclusive porque o Congresso estará mobilizado para votar o decreto de intervenção. 
O ministro da Defesa, Raul Jungmann, reafirmou que, apesar da intervenção, o processo de negociação sobre a Reforma da Previdência continuará. 
"Quando chegar o momento da votação da reforma, o presidente Temer irá suspender a intervenção, mas irá decretar Garantia da Lei e da Ordem (GLO) ampliada no Estado. Assim que a votação acabar, será decretada novamente a intervenção, que será novamente levada ao Congresso", completou. 
Para suspender os efeitos da intervenção, Temer teria de editar um novo decreto, que teria que novamente passar por votação do Congresso. Tanto a intervenção federal como esse segundo decreto precisa de maioria absoluta entre os parlamentares em uma votação conjunta do Senado e da Câmara. "O efeito da intervenção tem que ser suspenso por outro decreto, mas o governo pode deixar no texto uma disposição prevendo que uma situação pode ocorrer e abrir uma válvula de escape", afirma o professor de Direito Constitucional do Mackenzie, Flávio de Leão Bastos Pereira. Para ele, "nenhuma medida excepcional pode passar longe dos parlamentares, eleitos pelo povo."
Prazos
O decreto de intervenção federal, ao ser assinado, precisa ser enviado pelo governo ao Congresso em um prazo de 24 horas. Ao receber, o Congresso tem 10 dias para aprovar ou rejeitar a medida. Se a intervenção não for apreciada nesse prazo, a intervenção perde seus efeitos, explica o professor. O presidente tem em mãos, também, a possibilidade de decretar estado de defesa ou estado de sítio, previsto em situações de desordem mais graves. "Esses outros instrumentos seriam utilizados quando há suspensão de direitos fundamentais em um nível de gravidade ainda mais excepcional. Mas a intervenção já é suficiente para interromper emendas constitucionais", diz o especialista. 
Ele observa que o conteúdo do decreto a ser assinado por Temer hoje precisa delimitar, objetivamente, o prazo da intervenção, os limites territoriais e as prerrogativas de ação das Forças Armadas e de outros órgãos envolvidos. Pereira opina, ainda, que a medida não resolve os problemas de segurança do Rio. "Só a medida policial não é suficiente, vai dar alívio para o cidadão em um período antes da eleição, mas a espinha dorsal do problema envolve intervir em territórios ocupados por traficantes, serviço de inteligência para combater o mercado da droga e um trabalho social árduo com a população." (AE)

DECRETO REGULAMENTA USO DE VEÍCULOS OFICIAIS POR AUTORIDADES E SERVIDORES
TEXTO TRAZ TRÊS CATEGORIAS PARA OS CARROS E ALGUMAS PROIBIÇÕES
Publicado sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018 às 10:14
O governo federal editou o Decreto 9.287/2018, que dispõe sobre a utilização de veículos oficiais pela administração pública federal direta, autárquica e fundacional.
O texto, publicado no Diário Oficial da União (DOU) desta sexta-feira (16) revoga decreto de 2008 que tratava do assunto. As disposições do decreto não se aplicam aos militares das Forças Armadas.
O decreto classifica os veículos oficiais em três categorias: de representação; de serviços comuns; e de serviços especiais. Os de representação serão utilizados exclusivamente pelo presidente da República; pelo vice-presidente da República; pelos ministros de Estado; pelos ex-presidentes da República; e pelos ocupantes de cargos de natureza especial ou pelas autoridades que comandam agências reguladoras.
O texto ainda traz algumas proibições; dentre elas é vedado o uso de veículos de empresas públicas e de sociedades de economia mista como veículos oficiais do governo e o uso de veículos oficiais nos sábados, domingos e feriados, exceto para eventual desempenho de encargos inerentes ao exercício da função pública – ou nas hipóteses de necessidades dos ex-presidentes da República e segurança dos familiares do presidente e do vice-presidente da República. (AE)

NA COLUNA DO AUGUSTO NUNES
Empulhação
Não adianta chamar o Exército e deixar a lei ao lado dos criminosos
Por J.R. Guzzo
Sábado, 17 fev 2018, 07h02
J.R. Guzzo, publicado no Blog Fatos
As Forças Armadas, com o Exército à frente, são a organização mais respeitada do Brasil. Dão de 10 a 0 no Supremo Tribunal Federal, no Ministério Público, nos juízes que ganham o “auxílio-moradia”, na mídia e no Congresso Nacional. Ganham de longe de qualquer organização civil ─ sindicatos, empresas estatais ou privadas, confederações disso ou daquilo, clubes de futebol, OABs e similares. É melhor nem falar, então, da Igreja Católica e das CNBBs da vida ─ e muito menos desses lúgubres “movimentos sociais”, entidades de “minorias” e outros parasitas que vivem às custas do Tesouro Nacional. Enfim, as Forças Armadas têm mais prestigio que qualquer outra coisa organizada que exista neste País. Militar não rouba. Militar não falta ao serviço. Militar não é nomeado por político. É exatamente por essas razões ─ por ter nome limpo na praça, e valer mais aos olhos do público do que todos os Três Poderes juntos ─ que o Exército foi chamado para defender um Rio de Janeiro invadido, tomado e governado na prática por um exército de ocupação de criminosos. Mas é só por isso, e por nada mais: o governo chamou os militares, porque esta é a única maneira de tentar mostrar à população que está “fazendo alguma coisa” contra a derrota humilhante que lhe foi imposta pelos bandidos. O Exército não pode derrotar o crime no Rio de Janeiro. Nenhum exército foi feito para isso, em nenhum lugar do mundo. Pode haver algum alívio durante um certo tempo, mas depois a tropa tem de sair ─ e aí o crime volta a mandar, porque é o crime, e não o governo e sua polícia, quem manda no Rio de Janeiro.
O governo Michel Temer, no caso, é culpado por empulhação ─ mas só por empulhação. Pela situação do crime no Brasil, com seus 60.000 assassinatos por ano, recordes de roubos, estupros e violência em massa, e a entrega da segunda maior cidade do País à bandidagem, as responsabilidades vão muito além. A culpa pelo desastre, na verdade, é conjunta ─ o que não quer dizer, de jeito nenhum, que ela é dos cidadãos. Ela é de todos os que têm algum meio concreto de influir na questão e não fazem o seu dever. Como é possível enfrentar a sério o crime se temos leis, um sistema Judiciário e agentes do Estado que protegem ativamente os criminosos? Afinal, do jeito em que está a ordem pública no Brasil, eles têm praticamente o direito de cometer crimes. A maior parte da mídia mantém uma postura de hostilidade aberta à Polícia ─ nada parece excitar tanto o fervor do noticiário do que as denúncias contra a “violência policial”. Obedece, ao mesmo tempo, a mandamentos de simpatia e compreensão perante os criminosos, sempre tratados apenas como “suspeitos”, vítimas da situação “social” e portadores prioritários de direitos. A maior parte dos 800.000 advogados do País é contra qualquer alteração que torne menos escandalosa a proteção e garantias fornecidas ao crime pelas leis atualmente em vigor. Policiais são assassinados em meio à mais completa indiferença ─ policial bom é policial morto, parecem pensar governo, oposição e quem está no meio dos dois. Os bispos, as ONGs, as entidades de defesa dos direitos humanos, as variadas “anistias” internacionais que andam por aí, as classes intelectuais, procuradores, juízes, políticos e mais uma manada de gente boa são terminantemente contra a repressão ao crime. Punição, segundo eles, “não resolve”. Sua proposta é esperarmos até o Brasil atingir o nível educacional, cultural e social da Noruega ─ aí sim, o problema estará resolvido.
A jornalista Dora Kramer, na sua coluna da última edição de VEJA, escreveu o que está para ser dito há muito tempo e ninguém diz: a cidade do Rio de Janeiro vive, hoje em dia, como se estivesse ocupada por uma tropa de invasão nazista. Nem mais nem menos. Um invasor do país tem de ser combatido com guerra, e não com decretos, criação de “ministérios de segurança” e a intervenção de um Exército que é mandado à frente de combate com as mãos amarradas. Não tem estratégia clara. Não tem missão definida. Não tem a proteção da Lei. Não tem o direito de usar suas armas dentro da finalidade para a qual elas foram projetadas e construídas. Não tem meios adequados sequer para proteger os seus próprios soldados ─ muito menos, então, para atacar o inimigo. Enquanto for assim, o Rio continuará entregue aos invasores.

O grande roubo
Quanto maior o governo e maiores suas despesas, maiores as possibilidades de corrupção, certo? Mas não foi bem assim
Por Carlos Alberto Sardenberg
Sexta-feira, 16 fev 2018, 15h55
Carlos Alberto Sardenberg, publicado no Globo
Repararam na denúncia contra o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu? Cem mil dólares, menos de R$ 340 mil, esse é o valor de presentes que ele teria recebido de um empresário amigo ─ segundo denúncia formal da polícia. Claro que corrupção é corrupção ─ foram presentes em troca de favores do governo ─, mas vamos reconhecer: uma mixaria, um dinheiro de troco quando comparado aos valores descobertos pela Lava-Jato aqui e na América Latina.
Eis alguns números: Israel tem uma população de 8,3 milhões e um PIB de US$ 350 bilhões. Portanto, um país de renda elevada. O governo lá gasta em torno de US$ 102 bilhões ao ano.
Tomemos agora El Salvador. População de 6,2 milhões, para um produto total de US$ 27,1 bilhões. O PIB per capita é muito pobre, de apenas US$ 4,3 mil/ano. E o governo tem despesas anuais de meros US$ 6,7 bilhões.
Quanto maior o governo e maiores suas despesas, maiores as possibilidades de corrupção, certo? Mas não foi bem assim.
O ex-presidente de El Salvador, Mauricio Funes foi recentemente condenado pela Justiça de seu país a devolver ao governo US$ 200 mil. Seu filho, Diego Funes, tem que devolver um pouco mais, US$ 212 mil, mas pelo mesmo motivo, enriquecimento ilícito.
Ou seja, o roubo per capita, digamos assim, é infinitamente maior em El Salvador. Tem mais, porém. O marqueteiro João Santana disse que Lula e Antonio Palocci mexeram os pauzinhos para que a Odebrecht financiasse a campanha de Funes, isso em 2009. Marcelo Odebrecht disse que atendeu ao pleito e mandou mais de US$ 1,5 milhão para a campanha em El Salvador.
Entre parênteses: eleito, Funes recebeu empréstimo do BNDES, para cuja assinatura recebeu o então presidente Lula. E mais uma coisinha: processado depois que deixou o governo, Funes conseguiu asilo político na Nicarágua, presidida por seu amigo bolivariano, Daniel Ortega. Interessante, não é mesmo?
Voltando ao tema central: não se trata de absolver Netanyahu por roubar pouco. Trata-se aqui de mostrar o tamanho inacreditável da corrupção espalhada pela América Latina, especialmente via Odebrecht.
Alguns exemplos: no Equador (população de 16,2 milhões, PIB de US$ 98,5 bilhões), o atual vice-presidente, Jorge Glas, está condenado a seis anos de prisão. Segundo a delação da Odebrecht, foram nada menos que US$ 33 milhões as propinas pagas a agentes públicos, incluindo o vice-presidente.
No Peru (31 milhões de habitantes, produto de US$ 210 bilhões) a Odebrecht declara pagamentos superiores a US$ 50 milhões. Um ex-presidente está preso, Ollanta Humala, um foragido, Alejandro Toledo, e o atual, Pedro Paulo Kuczynski, escapou do impeachment por oito votos. Todos acusados de serem beneficiados por recursos ilegais da Odebrecht.
No pequeno Panamá (população de 3,7 milhões, PIB de US$ 59 bilhões), a Odebrecht tinha, ainda tem, muitas obras ─ aeroporto, estradas e metrô ─, além de ter levantado um belíssimo museu, desenhado pelo celebrado arquiteto Frank Gehry. Na entrada desse museu, está lá: “Patrono Odebrecht”. Segundo as delações da empreiteira brasileira, foram mais de US$ 60 milhões em propinas, boa parte do dinheiro depositada diretamente na conta dos filhos do então presidente Ricardo Martinelli.
É certamente a maior corrupção per capita da América Latina. O ex-presidente foi preso nos Estados Unidos, pela Interpol, depois de condenado em seu país. Os filhos estão foragidos. O governo do Panamá também recebeu financiamentos do BNDES.
Mario Vargas Llosa ironizou. Algum dia, comentou, a gente vai ter que dar um prêmio, levantar um monumento, alguma coisa assim, para a Odebrecht. Isso mesmo, por ter desvendado o tamanho da corrupção nesta América Latina.
Ela mesmo paga
Roubar está sempre errado. Mas roubar tanto, em países tão pobres, com populações tão carentes, é certamente um grande roubo.
Em tempo: o ex-presidente da Guatemala, Alvaro Colom foi preso na última terça-feira, com vários ex-ministros. Mas, desta vez, a Odebrecht não está no meio. Teria sido propina na compra de ônibus.
E todos, claro, incluindo Netanyahu, negam tudo.

NO BLOG DO JOSIAS
Sobre intervenção no Rio, trapezistas e palhaços
Por Josias de Souza
Sábado, 17/02/2018 00:43
Segundo a definição do presidente da Câmara, ao decretar a intervenção federal na segurança pública do Rio de Janeiro, Michel Temer deu um “salto triplo sem rede”. Rodrigo Maia soou categórico: “Não dá para errar.” O deputado tem razão. E a chance de dar errado é enorme. Na verdade, já começou errado. Redigido em cima do joelho, o decreto de intervenção não foi precedido de planejamento. Apresentado à imprensa, o general Walter Souza Braga Neto, nomeado interventor, não tinha o que dizer.
A intervenção tem múltiplas serventias. E a segurança pública no Rio não é a principal. Ainda que quisesse, Temer não teria como suplantar décadas de descaso nos dez meses que lhe restam de mandato. A medida, oportunista, serve de pretexto para que Temer saia de fininho do fiasco da Reforma da Previdência. Serve também para que o presidente entre de mansinho na disputa presidencial, apropriando-se de uma pauta de combate à bandidagem que ajudou Jair Bolsonaro a escalar índices superiores nas pesquisas eleitorais.
A metáfora circense de Rodrigo Maia é boa porque intervenção é mesmo como o trapézio. Os envolvidos precisam confiar um no outro de olhos fechados. Não é o que se observa em cena. O próprio presidente da Câmara levou o pé atrás quando foi informado sobre a novidade, na noite de quinta-feira. De resto, os espetáculos do Gran Circo Brasil são muito repetitivos: há sempre meia dúzia de trapezistas e 200 milhões de palhaços.

Temer ajusta intervenção ao marketing eleitoral
Por Josias de Souza
Sexta-feira, 16/02/2018 20:43
Deflagrada em segredo na terça-feira e concluída na madrugada de sexta-feira, a articulação que transferiu de Luiz Fernando Pezão para Michel Temer os poderes para governar a segurança pública no Rio de Janeiro foi marcada pelo improviso. Mas num ponto a assessoria do Planalto caprichou: a divulgação. Convocou-se o marqueteiro Elsinho Mouco, que serve ao PMDB e à Presidência. A operação ganhou volume de campanha e timbre de propaganda eleitoral.
Em princípio, cogitou-se anunciar a intervenção por meio de um comunicado oficial do Planalto. Mas optou-se por bater bumbo. Com método, organizou-se uma solenidade para Temer discursar.
Mais: reservou-se espaço nas emissoras comerciais para assegurar que a primeira incursão da intervenção federal fosse uma invasão de Temer à sala de estar dos brasileiros. Não apenas no Rio, mas em todos os Estados, numa rede nacional de rádio e TV.
O discurso noturno, colado ao Jornal Nacional, foi um repeteco mais enxuto do pronunciamento feito no final da manhã. Foi como se Temer e sua marquetagem quisessem impor sua própria edição ao telejornal da Globo.
A autopromoção prosseguirá neste sábado. Temer voará para o Rio de Janeiro. A pretexto de “apresentar” à sociedade fluminense o interventor, general Walter Souza Braga Neto, Temer desfilará pelo palco de sua intervenção. Deseja ver e, sobretudo, ser visto.
Tudo na intervenção do Rio foi improvisado: reuniões de emergência, viagem de última hora para dobrar resistências do subgovernador Pezão… Até o decreto enviado ao Congresso foi redigido às pressas, em cima do joelho, como se diz. Só o marketing foi planejado com esmero.
Nas últimas horas, Temer ganhou orelhas de candidato, nariz de candidato, boca de candidato à reeleição. Mas o Planalto ainda vende ao País a ilusão de que se trata apenas de um presidente genuinamente preocupado com a segurança do Estado do Rio de Janeiro.
Na noite desta sexta-feira, em reunião com oficiais do alto comando das Forças Armadas, no Planalto, Temer assegurou que a intervenção no Rio não será ''politizada''. De fato, não será. Já foi.

Temer interveio no Rio, mas tolera Sergio Cabral
Por Josias de Souza
Sexta-feira, 16/02/2018 16:26
Michel Temer decretou intervenção federal na segurança pública do Rio de Janeiro porque “o crime organizado quase tomou conta do Estado.” Considera “essa medida extrema.” Mas avalia que “as circunstâncias exigem”. Por isso, seu governo “dará respostas duras”. Adotará “todas as providências necessárias para enfrentar e derrotar o crime organizado e as quadrilhas.”
O mesmo Temer que falou grosso em discurso no Planalto é presidente licenciado do PMDB, partido que mantém em seus quadros, entre outros ilustres cidadãos do Rio, o ex-governador Sérgio Cabral, o ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha e o presidente da Assembléia Legislativa fluminense, Jorge Picciani.
Cabral, Cunha e Picciani têm algo em comum. Pilhados em atos de corrupção, estão todos atrás das grades. Mas contra essa quadrilha de estimação Temer não tem nenhuma resposta dura a dar. Ao contrário, homenageia-os com seu silêncio. Se tivesse que dizer algo decerto seria o seguinte: ''Ah, continuam filiados ao PMDB? Ótimo! Tem que manter isso, viu?”
Resignado, Luiz Fernando de Souza, o Pezão, declarou que o Estado ''tem pressa'' para realizar o enfrentamento da bandidagem. Reconheceu que, sozinhas, as Polícias Civil e Militar não estão conseguindo deter “a guerra entre facções no Estado.” O pseudo-governador absteve-se de recordar que integrou a facção cabralina, já parcialmente detida.
O lapso de memória de Pezão é natural. Ele viveu o ápice da ficção estrelada por Cabral. Foi secretário de Obras e vice-governador do agora presidiário. Hoje, atravessa uma ruína que ajudou a criar. Vive a neurose do que está por vir no dia em que perder as imunidades do cargo que finge ocupar. A partir de janeiro de 2019, nada impede que a Polícia Federal lhe faça uma visita no início de uma manhã qualquer.
É contra esse pano de fundo que o desgoverno do PMDB de Brasília interveio no desgoverno do PMDB do Rio. Desse modo, o PMDB tornou-se um partido auto-suficiente. Ele mesmo assalta o Estado, ele mesmo perdoa os assaltantes e ele mesmo, empunhando um decreto de intervenção, sai correndo pelas ruas aos gritos de “pega ladrão!”

NO O ANTAGONISTA
Ciro sobre intervenção: “Motivação é mesquinha”, mas general “deve ter o apoio de todos nós”
Brasil Sábado, 17.02.18 11:10
Ciro Gomes escreveu no Facebook que a intervenção federal no Rio é uma “aposta irresponsável” para “retirar da absoluta ilegitimidade” um “governo caracterizado por uma agenda anti-povo, anti-nacional e pela metástase da corrupção generalizada”.
“Ninguém duvide: a motivação é mesquinha e politiqueira. Biombo para o fracasso político da malfadada reforma da Previdência que de reforma nada tem.”
Mas, segundo o pré-candidato à presidência pelo PDT, o decreto “corresponde a uma súplica generalizada da sociedade brasileira que anda com medo (…) da crescente audácia de facções criminosas organizadas e empoderadas por anos de conivência e omissões de governos dos principais estados brasileiros”.
“O general a quem se atribuiu a penosa tarefa, Walter Braga Neto, é o que há de melhor em nossas Forças Armadas. Sério, competente e com elevado espírito público, deve ter o apoio de todos nós. Mas deve saber, com clareza, que, sem os meios corretos, sem inovações institucionais profundas, sem uma convergência com um Ministério Público e um Poder Judiciário muito diferentes do que temos, por média, sua tarefa corre muitos riscos.
(…) Torço muito que possa dar certo, mas duvido muito!”

Álvaro Dias sobre intervenção: “Que não seja encenação política”
Brasil 17.02.18 10:50
Presidenciável do Podemos, Álvaro Dias (PR) considerou a intervenção no Rio uma atitude “lamentável”, mas que tem que ser apoiada, registra o Estadão.
“Mas que não seja uma obra de marketing, que não seja uma encenação de natureza política.”
O senador afirmou que sua proposta para a área é uma reforma de Estado que permita destinar recursos para o combate da violência.
“Os governantes não tiveram tempo de se preocupar com a segurança do povo porque estavam roubando recursos, e agora não tem recursos – o caixa foi raspado pela corrupção”, acrescentou Dias em vídeo publicado nas redes sociais.
Para o senador, faltaram recursos federais para ações como armamento e qualificação técnica dos profissionais de segurança pública.
“O combate à violência começa também na faixa de fronteira, com uso do Exército.”

O trunfo de Alckmin em Segurança Pública
Brasil 17.02.18 10:30
A escalada da violência no País, somada à intervenção federal no Rio, coloca a Segurança Pública no centro do debate eleitoral de 2018.
Geraldo Alckmin usa como trunfo em seu discurso a taxa de homicídio do Estado de São Paulo, de 8,02 por 100 mil habitantes – a menor entre os Entes da Federação, registra o Estadão.
(O Antagonista lembra, porém, que o Estado registrou o maior número de latrocínios - roubo seguido de morte - desde 2003, no acumulado de janeiro a julho do ano passado: 237 casos, com 240 vítimas.)
O governador propõe ainda criar uma agência nacional de inteligência, ligada diretamente ao presidente da República com foco no combate ao tráfico de armas, de drogas e lavagem de dinheiro e um ministério para a área.
“Tirar bandido da rua, ao contrário do que muita gente fala, dá sim resultado”, disse Alckmin.
O tucano declarou na sexta-feira que a intervenção no Rio foi uma medida “extrema, mas necessária”.

Bolsonaro sobre intervenção: “Isso tudo me cheira a mais um remendo”
Brasil 17.02.18 09:30
Jair Bolsonaro, que antecipou sua opinião sobre a intervenção no Rio a O Antagonista, publicou na noite de sexta-feira em suas redes sociais um vídeo sobre o tema.
O deputado repetiu que falta aos policiais civis, militares, federais e integrantes das Forças Armadas uma “retaguarda jurídica, o excludente de ilicitude em operação” para que, no futuro, não sejam eventualmente julgados por alguma ação que fizeram.
“Defendemos a intervenção, sim, mas não dessa forma, feita nos porões do Planalto, longe dos integrantes da Forças Armadas e longe da cúpula da Polícia Militar e Civil do Rio de Janeiro. Isso tudo me cheira a mais um remendo apenas, e nós queremos algo sério. A insegurança no Rio de Janeiro tem que ser combatida com energia ou, se for o caso, com mais violência ainda.”

A “intervenção” olímpica
Brasil 17.02.18 09:50
Nada garante que a intervenção federal no Rio de Janeiro será bem-sucedida.
No período em que o Estado tinha mais homens nas ruas (cerca de 50 mil) – justamente durante os Jogos Olímpicos de 2016, sob comando deste mesmo general que agora coordena a intervenção –, o número de assaltos explodiu.
A onda de violência que vinha crescendo estabeleceu, naquele mês de agosto, um recorde histórico: foram 17.255 roubos, seis mil a mais do que o registrado no mesmo período de 2015 (11.290), segundo reportagem da Veja na ocasião.
“O que impressiona na ineficiência do aparato de segurança para a Olimpíada é que mesmo nas áreas de competições os números de assaltos registraram aumentos significativos. Na área de Copacabana e Leme – que concentrava muitos turistas e contava com militares do Exército por toda a parte – os 147 roubos dobraram em relação a agosto de 2015 (71). No Leblon e em Ipanema o salto foi de 98 para 137.”
Como o carnaval acabou, os turistas, dessa vez, já estão indo embora.

Alô, Carminha
Brasil 17.02.18 09:15
Cármen Lúcia recebeu um telefonema protocolar de Michel Temer sobre a intervenção federal no Rio, segundo o Painel da Folha.
Temer informou o que faria e adiantou que iria ao Estado para reunião com a cúpula do Tribunal de Justiça e do MP.
Tem que intervir nisso aí, viu?

Horário de verão “deixou de se justificar pelo setor elétrico”
Brasil 17.02.18 09:00
O horário de verão termina neste fim de semana.
E pode não voltar.
O Ministério de Minas e Energia encaminhou uma nota técnica para a Casa Civil na qual sinaliza, segundo O Globo, que o horário de verão “deixou de se justificar pelo setor elétrico” e pede para “que o assunto seja submetido a superior consideração do Excelentíssimo Senhor Presidente da República, objetivando a competente tomada de decisão” quanto à avaliação da pertinência da manutenção desta política de governo.
Ela vem deixando de ser eficaz para economizar energia por causa da mudança no perfil do consumo dos brasileiros.
“Muita gente deixou de ter um horário tradicional de trabalho, chegando em casa mais tarde. Outro fator importante, segundo o MME, é a intensificação do uso de equipamentos como o ar-condicionado. De acordo com a pasta, o melhor aproveitamento da iluminação natural reduz o consumo e a demanda energética enquanto que o aumento da temperatura intensifica a utilização de equipamentos de condicionamento de ar, aumentando o consumo.
‘Estes efeitos devem ser avaliados conjuntamente e, para os Estados do Centro-Oeste, Sudeste e Sul do Brasil foi constatada neutralidade dos impactos do horário de verão do ponto de vista do sistema elétrico’, informou.”

Comentários

  1. GASTAO EDUARDO COURY MAIA DE CARVALHO17 de fevereiro de 2018 às 21:05

    Prezados, parabéns. A edição de hoje, 17/02, está impagável. Forte abraço.

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