SEGUNDA EDIÇÃO DE 19-4-2017 DO 'DA MÍDIA SEM MORDAÇA'

NO BLOG DO FAUSTO MACEDO
Santana confessa que dinheiro de caixa 2 da Odebrecht era dívida de campanha de Dilma
Marqueteiro do PT, que fez delação premiada com a Lava Jato, afirmou ao juiz Sérgio Moro que US$ 10 milhões registrados em planilhas da propina do grupo em nome de 'Feira' são valores que ele recebeu não contabilizados da campanha de 2010, pagos após acerto com Palocci e Lula
Ricardo Brandt, Julia Affonso e Fausto Macedo
Estadão -18 Abril 2017 | 19h39
O delator João Santana, marqueteiro das campanhas dos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva (2006) e Dilma Rousseff (2010 e 2014), confessou nesta terça-feira, 18, ao juiz federal Sérgio Moro, dos processos da Operação Lava Jato, em Curitiba, que os valores de US$ 10 milhões recebidos por ele em 2011 e 2012 da Odebrecht, em conta secreta na Suíça, foram referentes à dívida da campanha presidencial de 2010.
“Em 2011 há depósitos nesse período de um ano, depósitos feitos por offshore da Odebrecht relacionados, salvo engano, primeiro a um restante da campanha presidencial de Dilma de 2010”, afirmou Santana, ouvido como réu por Moro, depois dele fechar acordo de delação premiada com a Lava Jato.
O marqueteiro do PT afirmou que os valores recebidos por ele, parte na conta da offshores Shell Bill Finance, que ele mantinha na Suíça, e parte em dinheiro vivo no Brasil, pagos pelo setor de propinas da Odebrecht, também eram de outras campanhas.
“Também parte da campanha da Venezuela e um pouco de campanhas municipais que estavam se realizando em 2012, do prefeito Fernando Haddad (PT) e do candidato Patrus Ananias (PT), em Minas Gerais.”
Prática 
O marqueteiro, que chegou a ser preso em fevereiro de 2016 e solto em agosto, após iniciar negociação de delação, junto com a mulher e sócia Mônica Moura, disse que o caixa 2 é uma prática comum no mercado de marketing político.
- “Houve recebimento de pagamentos não contabilizados?”, quis saber Moro.
- “Houve, constante, aliás como é uma prática no mercado de marketing político eleitoral, no Brasil e em boa parte do mundo.”
- “Houve pagamento não contabilizado proveniente do Grupo Odebrecht?”, perguntou o magistrado.
- “Sim, sim, bastante.”
Santana e a mulher, Monica Moura, são réus nesse ação penal pelo recebimento de caixa 2 da Odebrecht, em nome do PT.
Os valores estão registrados sob o codinome “Feira”, que identificaria Santana no Setor de Operação Estruturadas da Odebrecht. Os valores saíram da conta “Italiano”, que era o codinome do ex-ministro Antonio Palocci, apontado pelos delatores da Odebrecht como interlocutor do PT e da Presidência com o grupo para acertos de caixa 2.
“Em 2011, a Odebrecht pagou uma parte da campanha que eles tinham combinado de pagar comigo, para mim, da campanha da presidente Dilma em 2010. Eles pagaram uma parte em dinheiro no Brasil durante a campanha e pagaram uma parte na Shelbill no ano seguinte. Logo em 2011, eles saldaram em vários depósitos num valor que ficou, que eles tinham acordado que iam pagar, eles pagaram esse valor na Shellbill.”
Tesoureira 
A mulher e sócia Mônica Moura era quem cuidava da contabilidade do casal de marqueteiros do PT. Ela confirmou também a Moro que os valores eram de dívida da campanha de Dilma e detalhou como recebeu os valores.
- “Eu sei que foi pago para a gente, em 2011, R$ 10 milhões, que foi US$ 4 milhões e poucos mil na nossa conta Shellbill, que era referente a esses R$ 10 milhões que a Odebrecht tinha se comprometido a pagar.”
Ela detalhou que além das transferências, houve repasses em dinheiro vivo.
- “Eu sei que eles pagaram em 2010 uma parte em dinheiro, 5 ou 6 milhões, não me lembro bem, em dinheiro durante o período de campanha que eu precisava para as despesas e uma outra parte de R$ 10 milhões foi pago na Shellbill logo no ano seguinte, eles fizeram vários depósitos.”
Moro quis saber por que pagar no ano seguinte à eleição.
- “Acontecia frequentemente isso, dr. Sempre, sempre, quase sem exceção.”
Segundo ela, era acertado com os executivos do setor de propinas da Odebrecht os recebimentos.
- “A gente fazia uma programação de pagamento, de como seria. Eu fazia com alguém da Odebrecht, normalmente com Fernando Migliaccio ou com Hilberto. A gente fazia uma programação de pagamento em dinheiro ou nessa conta de x parcelas de tanto. Nem sempre dava certo, na maioria das vezes não dava certo. Ficava muita coisa para pagar depois.”
- “Quase toda as campanhas eu recebi no ano seguinte da Odebrecht o valor correspondente. Alguma coisa no mesmo ano e uma grande parte no ano seguinte.”
COM A PALAVRA, FERNANDO HADDAD
Com relação ao depoimento do casal João Santana e Mônica Moura, o ex-prefeito Fernando Haddad, através da sua assessoria informa que todos os recursos recebidos na campanha de 2012 foram devidamente contabilizados e informados ao TRE.
Mônica Moura jamais cobrou da campanha qualquer valor que não estivesse no contrato. Se houve outros acertos, com pretensos interlocutores da campanha, o ex-prefeito Fernando Haddad desconhece.
Cabe esclarecer que a Odebrecht na gestão Haddad teve todos os seus interesses contrariados, sobretudo aqueles relacionados a construção do túnel da avenida Roberto Marinho e da Arena Corinthians.

‘Todos’ os candidatos sabiam de acertos financeiros, afirma delatora
Monica Moura, interrogada pelo juiz da Lava Jato, apontou pagamentos 'por fora' nas campanhas petistas de Marta, Haddad, Gleisi e Patrus, entre 2008 e 2012
Julia Affonso e Ricardo Brandt
Estadão - 19 Abril 2017 | 05h00
Ao juiz federal Sérgio Moro, na Operação Lava Jato, a empresária-delatora Monica Moura declarou que ‘todos’ os candidatos sabiam de acertos financeiros eleitorais. Monica é mulher do marqueteiro de campanhas do PT João Santana.
A delatora apontou pagamentos ‘por fora’ nas campanhas petistas de Marta Suplicy e Fernando Haddad à Prefeitura de São Paulo, em 2008 e 2012, respectivamente, de Gleisi Hoffmann à Prefeitura de Curitiba, em 2008, e Patrus Ananias, em Minas.
Segundo Monica, houve pagamentos não contabilizados a campanhas na Venezuela e em El Salvador.
Durante o depoimento, nesta terça-feira, 18, o magistrado questionou a delatora se os candidatos em geral tinham conhecimento desses acertos financeiros.
- “Sim, todos tinham. Posso lhe dizer com segurança que todos eles sabiam dos valores exatos, de quanto estavam nos pagando e como era o pagamento”, afirmou.
Monica confessou a Moro que ‘sempre’ trabalhou com caixa 2. A delatora afirmou que ‘era uma exigência dos partidos que tivesse sempre a maior parte em caixa 2’.
João Santana foi também marqueteiro das campanhas dos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva (2006) e Dilma Rousseff (2010 e 2014). Monica cuidava da contabilidade do casal.
O casal foi interrogado em ação penal sobre lavagem de dinheiro e corrupção ativa e passiva relacionados à obtenção, pela empreiteira Odebrecht, de contratos de afretamento de sondas com a Petrobrás.
Segundo a denúncia, entre 2006 e 2015, Palocci estabeleceu com altos executivos da Odebrecht ‘um amplo e permanente esquema de corrupção’ destinado a assegurar o atendimento aos interesses do grupo empresarial na alta cúpula do governo federal.
O Ministério Público Federal aponta que no exercício dos cargos de deputado federal, ministro da Casa Civil e membro do Conselho de Administração da Petrobrás, Palocci interferiu para que o edital de licitação lançado pela estatal e destinado à contratação de 21 sondas fosse formulado e publicado de forma a garantir que a Odebrecht não obtivesse apenas os contratos, mas que também firmasse tais contratos com margem de lucro pretendida.

NO BLOG DO NOBLAT
A Palocci, só resta delatar
Quarta-feira,19/04/2017 - 03h55
Ricardo Noblat
Os depoimentos ao juiz Sérgio Moro, ontem em Curitiba, de João Santana, ex-marqueteiro das campanhas do PT, e Mônica Moura, sua sócia e mulher, só deixaram a Antonio Palocci, ex-ministro dos governos Lula e Dilma, uma única saída para livrar-se da cadeia por muitos anos: delatar.
No caso de Lula e de Dilma, os depoimentos esvaziaram o discurso deles de que não sabiam de nada, de que nunca souberam de uso de caixa dois em seu favor, e de que foram e continuam sendo exemplos de políticos honestos, incapazes de ferir a lei.
Santana e Mônica contaram em detalhes como foram pagos nas campanhas de Lula em 2006, e de Dilma em 2010 e 2014. Orientados por Palocci, a quem Lula havia recomendado que se reportassem, eles confessaram que foram pagos pelo PT e pela Odebrecht sempre por meio de caixas um e dois.
O PT pagou com dinheiro declarado à Justiça (caixa um) e não declarado (caixa dois). A Odebrecht por caixa dois. Era pegar ou largar, segundo Palocci disse certa vez a Santana. Dinheiro de caixa dois foi pago em espécie, entregue em mãos, ou depositado em contas no exterior.
O que os dois disseram a Moro confirma o que os delatores da Odebrecht haviam adiantado à Procuradoria Geral da República. Preso em Curitiba desde setembro do ano passado, Palocci teve mais um pedido de relaxamento de sua prisão recusado, ontem, pela Justiça.
Há duas semanas, pelo menos, Palocci começou a negociar sua delação premiada com a Polícia Federal e o Ministério Público Federal. Ele tem pressa. Está perto de ser julgado por Moro sob a acusação de corrupção e de lavagem de dinheiro.
Os que negociam com ele exigem de Palocci que não se limite a detalhar a corrupção dentro dos governos Lula e Dilma, e do PT. Querem que ele conte o que sabe de negócios irregulares que envolveram os governos do PT e o próprio partido com bancos e empresas.
Palocci sabe muito. Ele sempre foi o homem do dinheiro de Lula e do PT. Do dinheiro cuidou também como coordenador da segunda campanha de Dilma. Ela o nomeou chefe da Casa Civil. Mas Palocci logo saiu quando se descobriu que ganhara milhões de dólares como consultor de empresas.
A eventual delação de Palocci abrirá de vez o caminho para as futuras condenações de Lula e de Dilma.


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