UM PRESIDENTE ACIMA DE QUALQUER SUSPEITA

Presidente do TCU prepara mudança para imóvel do filho
FÁBIO FABRINI - O ESTADO DE S. PAULO
18 Julho 2015 | 05h 00
Apartamento de alto padrão, em reforma, foi comprado por empresa de Tiago Cedraz, alvo de operação que apura tráfico de influência na corte de contas
Brasília - O presidente do Tribunal de Contas da União (TCU), Aroldo Cedraz, se prepara para usufruir de um dos imóveis milionários comprados pelo filho, o advogado Tiago Cedraz, alvo de uma operação da Polícia Federal que apura suspeitas de tráfico de influência na corte. O ministro faz uma reforma, com direito a itens de luxo, em apartamento da Asa Sul, em Brasília, adquirido por R$ 2,7 milhões pela Cedraz Administradora de Bens Próprios. A empresa, com capital de R$ 20 milhões, foi aberta pelo advogado em sociedade com a mãe e mulher do ministro, Eliana Leite Oliveira, como mostrou o Estado na última quinta-feira.
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A obra no apartamento de 250 metros de área privativa, assinada por um dos escritórios de arquitetura mais renomados de Brasília, está em fase final. Há bancadas, pintura feita e máquinas de ar condicionado nos ambientes generosos. A montagem de móveis, em execução, está a cargo de uma requintada loja da capital federal, cujo projeto descreve como cliente "Aroldo Cedraz de Oliveira". 
Um dos responsáveis pela encomenda diz que serviço semelhante ao do "Seu Aroldo", como os funcionários do prédio se referem ao esperado morador, sairia de R$ 250 mil a R$ 300 mil. "São basicamente armários", explica, acrescentando que há itens de marcenaria previstos para três suítes, três banheiros, escritório e rouparia. Na sala, continuou, haverá móvel para acomodar adega, home-theatre e cristaleiras. "As proporções são grandes, porque o espaço é bem generoso", explica.
A Polícia Federal também cumpriu nesta terça mandados de busca e apreensão em endereços ligados ao advogado Tiago Cedraz, filho do presidente do Tribunal de Contas da União (TCU), Aroldo Cedraz. Os agentes estiveram na casa do advogado e em seu escritório. o escritório que ele mantém numa mansão do Lago Sul, área nobre de Brasília. Segundo fontes da PF, embora não tenha foro privilegiado, Cedraz é alvo de investigação no Supremo porque o caso envolve suspeitas sobre ministros do Tribunal que o pai preside.
O piso indicado no projeto é de mármore travertino, material de origem europeia, cujo metro quadrado, conforme a configuração, varia de R$ 450 a R$ 650 no mercado de Brasília. Questionado sobre o padrão da reforma, um dos funcionários do prédio reage: "O homem é chique, tudo de primeira. 'Chiquete mesmo'". Ele diz que "Seu Aroldo" aparece de vez em quando para cuidar de detalhes, acompanhado dos empregados, e deve se mudar em breve.
No mesmo prédio, já moram o filho, Tiago, e a nora em apartamento com as mesmas dimensões, negociado por R$ 2,9 milhões, parte financiada pelo Banco do Brasil. Em pouco mais de nove anos de carreira, o jovem advogado, de 33 anos, fez fortuna com uma banca que atua no TCU. Como revelou o Estado, os imóveis comprados em três anos em Brasília somam R$ 13 milhões.
Levantamento de técnicos da corte mostra que advogados que integram ou já integraram o escritório, construído por Tiago numa casa de alto padrão, no Lago Sul, têm procuração em ao menos 130 processos. Ministros da corte, incomodados com o escândalo, cobram do tribunal a lista completa para "monitorar os casos".
Na última terça-feira, o escritório de Tiago foi alvo de buscas da Polícia Federal na Operação Politeia, que apura suspeitas de tráfico de influência na corte. Em depoimentos prestados em regime de delação premiada, o empresário Ricardo Pessoa, da UTC Engenharia, disse que pagava R$ 50 mil mensais a ele para ter acesso a informações de seu interesse. Por um processo que tratava de obras na Usina de Angra 3, ele teria negociado R$ 1 milhão com Tiago, supostamente para que o caso fluísse.
A investigação corre no Supremo Tribunal Federal (STF), diante das suspeitas de que haja participação de algum ministro do tribunal. Processos que discutiam a montagem eletromecânica da usina tramitaram na corte sob relatoria do ministro Raimundo Carreiro.
Integrante do TCU desde 2007, Cedraz recebeu R$ 18,1 mil líquidos, segundo o último contracheque do tribunal. Veterinário por formação e ex-deputado egresso do extinto PFL (hoje DEM), declarou bens de R$ 1 milhão quando disputou sua última eleição, em 2006. Questionado pelo Estado sobre os projetos de mudança, outras fontes de renda e os recursos que custeiam a reforma, ele não respondeu. Em nota, ao se referir ao apartamento que está em nome de uma empresa do filho e da mulher, afirmou: "Sobre imóveis de terceiros, recomendamos contato com o proprietário para obter as informações solicitadas".

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