REFINARIA PREMIUM NO CEARÁ: ILUSÃO E FRUSTRAÇÃO

Cancelamento de refinaria frustra expectativa no ‘Eldorado’ do Ceará
Sem Premium II, preço de imóveis despenca e comércio começa a demitir
POR THAYS LAVOR / ESPECIAL PARA O GLOBO
O GLOBO - 03/05/2015 7:00Aluga-se. Moradoras passam em frente à placa com oferta de hospedagem: valor do metro quadrado na região caiu - Marilia Camelo
SÃO GONÇALO DO AMARANTE, CEARÁ - O cancelamento da Refinaria Premium II pela Petrobras frustrou as expectativas de moradores da região e empresários locais. O projeto, que teve sua pedra fundamental lançada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2010, não sairá mais do papel diante do cenário de queda do preço de petróleo e de impacto da corrupção, investigada na Operação Lava-Jato, nos cofres da estatal. O cenário desfavorável levou a Petrobras a rever suas projeções de investimento.
A Premium II seria instalada no Complexo Industrial e Portuário do Pecém. O local era considerado uma espécie de novo Eldorado e vinha atraindo trabalhadores de todas as regiões do país. Com o anúncio do projeto, o fluxo de pessoas em busca de oportunidades cresceu significativamente, segundo o gerente da unidade do Sistema Nacional do Emprego (Sine/IDT) no Pecém, Francisco Carlos Pereira Costa. De acordo com ele, a previsão era que fossem criadas 90 mil vagas, o que gerou na unidade uma média de 300 atendimentos diários.
Ele conta que a frustração com o cancelamento do empreendimento da Petrobras na região atingiu tanto os trabalhadores quanto os investidores:
— Toda esta mão de obra que foi atraída para cá investiu em qualificação, que não é barata, principalmente na área de petróleo e gás. Já os investidores, muitos construíram pousadas, restaurantes, entre outros negócios.
Emprego. Jorge Balbino dos Santos procura vaga no Sine - Marilia Camelo
Diante deste quadro, o montador de andaime Jorge Balbino dos Santos e o carpinteiro Deusdete Francisco da Rocha, que é do Piauí, recorrem ao Sine em busca de uma vaga.
— O dinheiro começa a ir embora, pois pago mensalmente um aluguel de R$ 800, fora os custos com alimentação. Esperava já estar empregado, mas essa notícia foi um banho de água fria. Agora é ter esperança, e esperar que outras vagas surjam. Enquanto isso, continuo vindo diariamente ao Sine — disse Rocha.
QUEDA NO FATURAMENTO
As expectativas frustradas são compartilhadas também por donos de imóveis, hotéis, restaurantes e comerciantes, que investiram e ampliaram seus estabelecimentos com a perspectiva de crescimento superior a 50% este ano. A realidade, porém, foi marcada por demissões e queda no faturamento.
Perdas. Gilmaria e Gilvânia começaram a demitir - Marilia Camelo
Proprietárias do restaurante O Abençoado, as irmãs Gilmaria de Oliveira Rocha, de 39 anos, e Gilvânia de Oliveira, de 38 anos, tinham, até janeiro, um quadro de 24 funcionários. Hoje, são apenas 17.
— Ampliamos o salão de refeição, churrasqueiras, banheiros e o quadro de trabalhadores. Mas em vez do aumento na clientela tivemos foi uma queda, pois interditaram a CE-085, que dá acesso à refinaria, pois passa em frente ao nosso restaurante, e, fora este transtorno, o empreendimento não vem. Nossa salvação foram os contratos que fizemos com a siderúrgica para servimos almoço e café da manhã — relata Gilmaria.
VEJA TAMBÉM
O setor imobiliário é outro que teve que repensar suas ações para 2015. O gestor comercial da empresa FortCasa Loteamentos, Mauro Martins, de 38 anos, conta que deveriam ser lançados 2 mil lotes no Pecém, entretanto somente 500 unidades serão comercializadas.
— Temos uns quatro loteamentos grandes na região, um deles é o Paraíso do Pecém, que nós tivemos que adiar o lançamento por conta do cancelamento da Refinaria, o que reduz o nosso potencial de público — disse Martins.
COMPENSAÇÃO POR PERDAS
Ele relata que o setor imobiliário da região tem reavaliado os valores dos imóveis e o tipo de produto a ser oferecido. Martins explica que um empreendimento lançado há quatro anos tinha preço de R$ 350 por metro quadrado. Outro imóvel de perfil similar está cotado agora a R$ 180 por metro quadrado.
Os cancelamentos foram feitos em janeiro último, sem aviso prévio.
Sobre a questão, o governo do estado afirma estar conversando com o governo federal, por meio da Petrobras, e ,ao mesmo tempo, também tem procurado investidores estrangeiros para a refinaria.
Os principais gastos com a refinaria foram ligados à infraestrutura. A área foi adquirida pelo governo do Estado, na gestão do ex-governador Cid Gomes, por R$ 126 milhões. Os terrenos ainda não foram devolvidos pela Petrobras, que, segundo fontes do governo, já sinalizou que iria devolver.
O projeto já teria custado R$ 657 milhões aos cofres do estado do Ceará, em obras de infraestrutura para a instalação da refinaria, no período de 2009 a 2014.
Procurada, a Petrobras disse que não iria se manifestar.
Na semana passada, o presidente da estatal, Aldemir Bendine, comentou o assunto durante audiência na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado. Segundo ele, ao menos nos próximos cinco anos a Petrobras não terá capacidade de fazer uma refinaria no Ceará e outra no Maranhão, local onde era prevista a instalação da Refinaria Premium I.
Segundo Bendine, uma das alternativas para compensar o estado do Ceará seria a transferência do parque de tancagem de combustíveis de Mucuripe, em Fortaleza, para o Pecém. Seria uma alternativa para aumentar a arrecadação e compensar o estado pelas perdas com o cancelamento do projeto


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