DA MÍDIA SEM MORDAÇA - PRIMEIRAS DO DIA

NA COLUNA DO CLÁUDIO HUMBERTO
25 DE MAIO DE 2015
O meticuloso trabalho da força-tarefa levou a Lava Jato a pôr as mãos nas figuras mais importantes do submundo da corrupção na Petrobras. Mas no eixo Brasília-São Paulo causa espanto que ainda não tenha surgido nome de Fernando Moura. Ligado a José Dirceu, foi o lobista – que hoje vive em Miami – quem sugeriu Renato Duque ao então ministro da Casa Civil de Lula para a Diretoria de Serviços da estatal.
Fernando Moura sempre foi considerado uma espécie de chefe do lobista Milton Pascowitch, preso na quinta (21), e do irmão dele, Zeca.
Atribuiu-se a Moura e ao ex-diretor do PT Silvio Pereira, aquele do Land Rover, a intermediação de interesses privados na Petrobras.
A pedido de Dirceu, Fernando Moura chegou a entrevistar candidatos a diretorias na Petrobras, ao lado de Silvio Pereira.
Dessa turma, Silvio Pereira sumiu, Renato Duque está preso e há anos Fernando Moura vive em Miami, sem descuidar dos seus interesses.
O balanço divulgado pela Petrobras no mês passado esconde prejuízos de mais de R$ 4 bilhões com o Complexo Petroquímico de Suape (PE). A obra tocada pela Odebrecht com financiamento de R$ 2,6 bilhões do BNDES e contratada sem licitação pelo Conselho de Administração da estatal – à época presidido por Dilma – consumiu R$ 5,5 bilhões e não está pronta. Segundo o Tribunal de Contas da União (TCU), em 2013 a obra já tinha 100% de superfaturamento, que não é citado no balanço.
Só as empresas Petroquímica Suape e Citepe, ambas do Complexo, divulgaram prejuízo de R$ 3 bilhões e R$ 2,6 bilhões, respectivamente.
Segundo levantamento recente do banco Credit Suisse, o prejuízo das empresas supera o valor de mercado, estimado em R$ 4,54 bilhões.
Questionada sobre prejuízo maior que investimento e valor de mercado das empresas, a Petrobras foi enfática: “não vamos comentar”.
Emissários de Lula conversaram com caciques do PP e do PDT sobre o projeto de lançar o ex-presidente à sucessão de Dilma em 2018. Prestes a sair, o PDT tratou logo de se reintegrar à base governista.
O governo se preocupa com a dupla Renan Calheiros-Eduardo Cunha, presidentes do Senado e da Câmara. Ambos iniciaram movimentos em busca da recondução aos cargos. Até Lula foi avisado da ideia.
Com a posse de Luiz Fachin, dia 16, o ministro Luis Barroso deixa de ser o “ministro novato” no Supremo, conforme apelidou o colega Marco Aurélio. Com isso, Fachin passa a ser o primeiro a votar no plenário.
Na visita da CPI da Petrobras a Londres, o deputado Leo de Britto (PT-AC) levou bronca de Jonathan Taylor, enrolado na Lava Jato. Após o brasileiro insistir que os documentos poderiam ser falsos, Taylor disse que a falsidade era do governo, que nem quis apurar a roubalheira.
A bancada feminina, na Câmara e no Senado, ameaça obstruir votação da reforma política caso não seja prevista reserva de 30% das vagas para mulheres. Parlamentares de 17 partidos aderiram ao movimento.
Mesmo com medo do “distritão”, o PMDB apoia outros pontos na reforma política, como o fim da reeleição para presidente, governador e prefeito e fixação de teto para financiamento público de campanha.
Vai virar uma grande lavação de roupa suja o 5º Congresso do PT, marcado para junho. Nem o presidente do PT de SP, Emídio de Souza, esconde que a insatisfação com o governo Dilma será pauta no evento.
Esfriou, por ora, o plano do PDT de deixar a base aliada. A boquinha do Ministério do Trabalho, feudo do partido, pesou na decisão. O PDT até voltou a participar das reuniões de líderes com Michel Temer.
...o desemprego, em abril, chegou para 100 mil trabalhadores, mas passou longe dos 22 mil aboletados em cargos comissionados do governo.

NO DIÁRIO DO PODER
CARLOS CHAGAS
O BONÉ DE JOAQUIM LEVY
Cresce entre os ministros palacianos, núcleo duro do governo, a impressão de não demorar muito para o ministro Joaquim Levy pedir o boné. Ou recebê-lo no final de mais uma reunião a que não comparecer. A presidente Dilma não engoliu a ausência dele quando do anúncio dos cortes ao orçamento. Seu lugar na mesa ficou vazio e não foi por acaso que permaneceu a placa com o nome dele, diante de uma cadeira vazia. Muito menos Dilma aceitou que na mesma hora Levy tivesse viajado para o Rio, deixando como desculpa um resfriado. Na verdade, sua proposta era para cortar de 70 a 80 bilhões, curvando-se aos 69,9 bilhões mas ficando agastado com todo mundo. No reverso da medalha, pegou mal junto aos principais assessores da presidente terem sido as mais sacrificadas as verbas para Educação, Saúde e o programa “Minha Casa, minha Vida”.
A conclusão é uma evidente má vontade nas duas margens do rio da amargura econômica: tanto o ministro quanto a presidente parecem mal satisfeitos. Para complicar ainda mais a situação, vem o presidente da FIESP, Paulo Skaf, afirmar que o empresariado não aceita pagar um centavo a mais de impostos, logo depois de nova ameaça clara do dr. Levy: se o Congresso não aprovar as medidas provisórias do ajuste fiscal, o aumento será inevitável.
Assim começa a semana, conturbada também pela previsão de que a Câmara rejeitará todas as propostas de vulto da reforma política, limitando-se a apoiar perfumarias. Dilma mandou anunciar que estará em Salvador entre os dias 11 e 13 do próximo mês, para o congresso nacional do PT. Estaria cogitando de, ao lado do Lula, fazer uma espécie de exposição a respeito das dificuldades atuais do governo e do país. Seria bom fiscalizar a bagagem do alto comando dos companheiros para saber se não estão levando algumas panelas. Aliás, foi um fracasso a reunião da sessão paulista do partido, no fim de semana que passou. Sobraram lugares no auditório.
Para cada lado que Dilma se volte, encontra problemas. Não terá gostado da performance do senador Lindbergh Farias, cujos petardos atingiram o governo, tanto quanto as medidas provisórias do ajuste fiscal, especialmente pela versão de que o ex-presidente da UNE teria sido estimulado pelo Lula. Os amantes da Astrologia sustentam que no período de um mês anterior ao aniversário de cada pessoa transcorre o seu inferno zodiacal, onde tudo de ruim pode acontecer. O aniversário de Madame é em dezembro, mas, pelo jeito...

NO BLOG DO CORONEL
SEGUNDA-FEIRA, 25 DE MAIO DE 2015
Sem maior atenção da imprensa, começa hoje em Brasília a XVIII Marcha dos Prefeitos, reunindo cerca de 5.000 administradores municipais. O clima é tenso e estão sendo esperados protestos fortes contra Dilma Rousseff e o seu governo. A situação é explosiva. "Tentaremos fazer uma marcha propositiva, mas será difícil controlar prefeitos com nervos à flor da pele", afirma Paulo Ziulkoski, presidente da Confederação Nacional dos Municípios, sobre o clima de cobrança a Dilma Rousseff. A presença da presidente está prevista para amanhã e vários ministros estão convidados a prestarem esclarecimentos aos prefeitos. O mais provável e que, por medo das vaias e xingamentos, ninguém apareça.
POSTADO POR O EDITOR ÀS 06:53:00


NA COLUNA DO AUGUSTO NUNES
24/05/2015 às 19:38 \ Direto ao Ponto
Nos últimos dias, estive no Ceará, na Bahia e em Mato Grosso. Fui forçado a reduzir o ritmo da coluna, mas valeu a pena. O que vi e ouvi transformou em certeza a suspeita que cresce desde novembro: a acelerada decomposição do PT vai muito além de São Paulo Paulo. E é irreversível.
Tal constatação será analisada mais extensivamente em posts que também examinarão as causas do fenômeno — e, sobretudo, os efeitos provocados na paisagem política brasileira pela brusca antecipação da agonia da seita acampada no poder há mais de 12 anos.
Não há esperança de salvação para um PT devastado por uma perversa mutação genética que mistura corrupção institucionalizada, incompetência administrativa, cegueira econômica, surdez política, vigarice populista, ignorância presunçosa, arrogância autoritária, muita sem-vergonhice; fora o resto.
O partido que ainda ontem pretendia ser o único, quem diria?, logo será um nanico a mais.

NO BLOG DO REINALDO AZEVEDO
25/05/2015 às 6:47
Eu nunca entendi por que diabos a presidente Dilma Rousseff tem a ambição de parecer uma pensadora, uma intelectual, uma estilista. Ela não é nada disso. Ao forçar a mão, acaba dizendo patacoadas estupendas, que concorrem um tanto para ridicularizá-la. Nesse sentido, Lula é mais prudente: transforma a sua ignorância em agressão aos adversários (especialmente FHC) ou em graça. Dilma tem a ambição de ser profunda. Aí as coisas se complicam. Ela concedeu uma entrevista ao jornal mexicano de esquerda “La Jornada”, publicada neste domingo (24). A transcrição, na íntegra, sem edição, está no site da Presidência (aqui).
Há de tudo lá: algumas parvoíces decorrentes do esforço de parecer sabida, distorções ideológicas as mais detestáveis e humor involuntário. E, claro!, também imposturas. A sua fala sobre o impeachment é, para dizer pouco, imprudente. Já chego lá. Começo pelo humor involuntário. Prestem atenção a este trecho do diálogo:
Dilma: Teve um teatrólogo brasileiro, que você deve conhecer, Nelson Rodrigues, que, além, disso, foi um colunista de futebol.
Jornalista: Sim, claro.
Dilma: Que, quando se referia à Seleção Brasileira, dizia que a Seleção Brasileira era a pátria de chuteiras, a pátria verde e amarela de chuteiras. Lá, a Seleção Mexicana é a pátria azul, branca e verde…
Jornalista: Não, a camisa é verde, a camisa da Seleção. Sim, é verde.
Dilma: É verde? Então, é a pátria verde de chuteiras. A nossa também às vezes é verde, hein?
Vamos lá, leitor! As cores nacionais do México são verde, vermelho e branco, sem o azul. A Seleção Brasileira já jogou com camiseta branca, amarela, azul e até vermelha — curiosamente, em 1917, ano da Revolução Russa, e 1936, anos seguinte à intentona comunista. Mas verde, como disse Dilma, nunca! E a conversa ainda vai avançar para o terreno do surrealismo explícito. Leiam.
Jornalista: Agora deixa eu fazer uma pergunta, uma pergunta…
Dilma: Agora, a Petrobras é tão importante para o Brasil como a Seleção.
Jornalista: Claro.
Dilma: Então, eu sempre disse o seguinte: “Se a Seleção Brasileira é a pátria de chuteiras, a Petrobras é a pátria com as mãos sujas de óleo.”
Jornalista: Ah, isso é muito bom, presidente, é uma frase muito boa!
Dilma: E vocês têm também a pátria suja de óleo lá, a mão suja de óleo.
É espantoso que, diante do maior escândalo conhecido da História do País, que tem a Petrobras como epicentro, Dilma diga que a “Petrobras é pátria com as mãos sujas de óleo” e transfira, digamos, esse mérito duvidoso também ao México. De resto, a Petrobras é, sim, a pátria de mãos sujas. Mas não de óleo…
Suruba histórico-antropológica
Dilma começa a conversa, se vocês lerem a transcrição, tentando demonstrar a sua expertise em história mexicana. Arma uma lambança dos diabos com os povos pré-colombianos — seu interlocutor não ajuda muito, diga-se — e faz uma defesa do relativismo cultural que chega a flertar com sacrifícios humanos. E eu não estou brincando.
Referindo-se à cidade arqueológica maia de Chichén Itzá, diz a nossa sábia presidente:
Presidente - Eu fui a Chichén Itzá (…). É impressionante Chichén Itzá e também todo o conhecimento astronômico, a precisão do conhecimento astronômico. Para você ter aquela precisão, tem de ter um certo domínio razoável da Matemática para aquele tipo de precisão que eles tinham. (…). E o que é destacado de forma bastante simplória para nós? É destacado sacrifícios humanos [ela disse assim, com erro gramatical mesmo], numa visão, eu acho, preconceituosa, contra aquela civilização que tinha um padrão de desenvolvimento e de desempenho que nós não conhecemos. A nossa população indígena não estava nesse nível de desenvolvimento. A mesma coisa o Inca, não é? Mas lá é mais, era mais avançada, a mais avançada de todas. E não era asteca, não é? Eles não sabem, eles chamam de Tolteca, Olmeca.
Jornalista: Maia.
Presidenta: A Maia é mais embaixo, é ali na península do Iucatã, não é?
Santo Deus!
Vamos botar ordem na suruba histórico-antropológica pré-colombiana feita por Dilma. Comecemos pelo maior de todos os absurdos. A cultura inca não tem relação nenhuma com o México porque foi uma civilização andina, que se estendeu de um pedacinho do Oeste da Colômbia até Chile e Argentina, passando por Equador, Peru — que era o centro irradiador — e Bolívia.
Reparem que, dado o contexto, a presidente sugere que a cidade de Chichén-Itzá não fica no estado de Iucatã, mas fica. Para a presidente brasileira, que deve ter lido apressadamente um resumo feito pela assessoria, Chichén-Itzá não é uma cidade asteca, mas tolteca ou olmeca… Bem, nem uma coisa, nem outra nem a terceira. A cidade é maia.
Trata-se de um erro de Geografia e de tempo. Os olmecas (vejam o mapa), prestem atenção!, existiram entre 1.500 e 400 ANTES DE CRISTO. Os toltecas, entre os séculos 10 e 12 DEPOIS DE CRISTO e foram dominados por bárbaros, que resultaram no Império Asteca.
O mais encantador, no entanto, é Dilma sugerir que a gente vê com preconceito os sacrifícios humanos das civilizações pré-colombianas… É, vai ver que sim! Confesso que vejo com preconceito também os atos sacrificais em massa levados a efeito por Hitler, Stálin, Pol Pot, Mao Tse-Tung. Sabem como é… Cada civilização tem seu jeito de matar…
Há mais besteira.
Num dado momento, ainda tentando se mostrar sábia sobre a cultura mexicana, disse a presidente:
“Eu sei de todas as histórias da relação do México com os Estados Unidos, que, na Revolução de 1910, diziam: ‘Ah, pobre México! Tão longe de Deus e tão perto dos Estados Unidos!’. O jornalista, não mais esperto do que a presidente, emenda: “Isso”.
É uma tolice. A dupla trata a frase como se contivesse um conteúdo revolucionário. Mas não! O autor da dita-cuja foi o então presidente Porfírio Dias, que foi derrubado pela… revolução!
Impeachment
Indagada sobre o impeachment, afirmou a presidente:
“Sem base real, porque o impeachment está previsto na Constituição, não é? Ele é um elemento da Constituição, está lá escrito. Agora, o problema do impeachment é sem base real, e não é um processo, e não é algo, vamos dizer assim, institucionalizado, tá? Eu acho que tem um caráter muito mais de luta política, você entende? Ou seja, é muito mais esgrimido como uma arma política, não é? Uma espécie de espada política, mistura de espada de Dâmocles que querem impor ao Brasil. Agora, a mim não atemorizam com isso. Eu não tenho temor disso, eu respondo pelos meus atos. E eu tenho clareza dos meus atos. Então…”
Não sei o que Dilma quis dizer. De fato, o impeachment está na Constituição. O que não está institucionalizado? Eu, por exemplo, acho que a investigação já evidenciou a sua responsabilidade no escândalo do petrolão, mas certamente não há 342 deputados que concordem com isso. Ademais, é evidente que o impeachment é um processo político — essa é, diga-se, a sua natureza. Fazer essa afirmação para tentar descartá-lo é uma estultice. Ademais, convém aguardar o resultado da investigação.
Não por acaso, a presidente brasileira vitupera contra a deposição legal e constitucional de Fernando Lugo no Paraguai, o que lhe deu o ensejo de suspender aquele país do Mercosul e de abrigar a ditadura venezuelana.
A entrevista é uma confusão dos diabos. Dilma precisa ler melhor os briefings que recebe da assessoria e parar com esse negócio de querer recitar dados. Não é a sua praia. Melhor falar pouco e não dar bom-dia a cavalo!
Não é que a entrevista não seja engraçada. Dei aqui boas gargalhadas. Mas também se ri de tédio, não é?
(Texto publicado originalmente às 4h34)
Por Reinaldo Azevedo

NO O ANTAGONISTA
Brasil 24.05.15 17:14 Comentários (144)
Eduardo Cunha não desistiu do projeto de se reeleger presidente da Câmara em 2017. Segundo a Folha, ele vem articulando com aliados trâmites para uma PEC que derrubaria a proibição de parlamentares se recandidatarem na mesma legislatura...
Economia 25.05.15 04:00 Comentários (5)
Segundo O Globo, Joaquim Levy se recusou a participar do anúncio do corte de 69,9 bilhões de reais "porque está muito irritado com a forma pela qual o Palácio do Planalto está conduzindo as votações do ajuste fiscal".
É mentira.
Joaquim Levy aceitou trabalhar para uma presidente que deu uma pedalada fiscal de 40 bilhões de reais. Ele sabe que a irresponsabilidade é a marca desse governo. Ele sabe também que, com Dilma Rousseff, a meta fiscal jamais será atingida...
Brasil 25.05.15 06:50 Comentários (9)
Guido Mantega foi vaiado ao sair de um restaurante italiano em São Paulo, neste sábado, depois de jantar com sua mulher. A Folha de S. Paulo não informa, porém, se Guido Mantega pagou a conta do restaurante ou se deu uma de suas habituais pedaladas...


NO BLOG DO JOSIAS
Josias de Souza - 24/05/2015 16:59
Depois da tempestade que Dilma Rousseff provocou na economia veio a cobrança. O desmantelo do primeiro mandato foi grande. E a presidente virou outra depois que o eleitorado lhe deu uma segunda chance. Uma mulher, assim, do mesmo tamanho, só que bem mais magra e muito mais fraca.
Dilma continua filiada ao PT, mas decidiu ser mais realista que o PSDB. A metamorfose cobra-lhe um preço político tão alto que a presidente ainda não entendeu bem se é ela que tem um ministro da Fazenda ou se é Joaquim Levy que a tem. Da resolução desse dilema depende o futuro do governo de madame.
Ao privar a plateia de sua presença no palco montado para o anúncio do megacorte orçamentário de R$ 69,9 bilhões (pode me chamar de sorvo de gigante), Levy sinalizou que não está interessado no ziguezague de um jogo de gato e rato. Ultraliberal, o ministro é adepto do comunismo de resultados de Deng Xiaoping: não importa se o gato é preto ou branco, desde que cace os ratos.
Levy foi convocado para cumprir duas tarefas: fechar o cofre e arrancar do bolso do contribuinte a grana que vai tapar a cova que Dilma cavou para si mesma. Antes de aceitar o desafio, avisou que o esforço seria grande e penoso. Recebeu carta branca. Perguntou sobre o Congresso. Disseram-lhe que não haveria problemas.
Decorridos menos de seis meses, Levy toma café da manhã, almoça e janta com congressistas arregimentados por Michel Temer. E vê seu ajuste fiscal ser mastigado por um Legislativo rendido às conveniências dos investigados Eduardo Cunha e Renan Calheiros, morubixabas do PMDB do vice-presidente.
Sem respostas conclusivas do Congresso, Levy quis empurrar o talho no Orçamento para a vizinhança da casa dos R$ 80 bilhões. Dilma piscou. E o ministro se deu conta de que é chefiado por um ponto de interrogação com crise existencial. A presidente tornou-se uma dúvida que sofre com o desencontro entre sua teoria e sua prática.
Na teoria, Dilma já havia percebido que seus primeiros quatro anos foram como uma festa que acabou em detritos e exames de consciência. Ela também já notara que, para que outra festa comece, alguém terá de colocar o abajur em pé, limpar o vômito no banheiro e tirar as manchas de vinho do tapete.
Levy topou fazer a faxina. Mas parece incomodado com a fofoca segundo a qual os colegas Aloizio Mercadante (Casa Civil) e Nelson Barbosa (Planejamento) fazem sua caveira junto à presidente, na cozinha do Planalto. Leva o pé atrás porque sabe como esse tipo de tititi termina. Pode acabar em triunfo ou em desastre.
Levy chefiava o Tesouro Nacional no alvorecer do primeiro reinado de Lula. Viu Antonio Palocci tocar a Fazenda blindado por Lula das emboscadas palacianas. Saneadas as contas, Lula atravessou o mensalão, reelegeu-se e enfiou o pé na jaca para fezer a sucessora.
Levy era diretor do Bradesco quando Dilma, eleita pela primeira vez, decidiu acumular as funções de presidente e de titular da Fazenda, convertendo o companheiro Guido Mantega em ministro-fantoche. Deu em ruínas e na vitória magra de 2014, contra o voto de Levy, um eleitor de Aécio Neves.
Incomodado, Levy parece tentar esclarecer que não tem vocação para Mantega. Dilma governa com a ilusão de que tem um ministro da Fazenda. Se Levy der no pé, a onda de desconfiança será tão avassaladora, que a presidente logo descobrirá que teria sido melhor e mais barato que o ministro a tivesse.

Josias de Souza - 25/05/2015 05:55
Brasília é uma cidade dada a esquisitices. Mas poucas vezes esteve tão surrealista como agora. Nesta semana, prefeitos e manifestantes pró-impeachment encherão os espaços públicos da Capital de protestos contra o governo. Enquanto isso, nos gabinetes, PT e PMDB discutirão, como fazem há semanas, sobre quem é o responsável pela paralisia que produz a atmosfera de permanente insurreição. Um partido acusa o outro. E o ministro Joaquim Levy (Fazenda) acha que ambos estão cobertos de razão.
O PT diz que os caciques peemedebistas Renan Calheiros e Eduardo Cunha conspiram em dobradinha para fatiar as medidas fiscais enviadas por Dilma ao Legislativo. O PMDB reage, indignado, afirmando que quem tem Lindbergh Farias e Paulo Paim como filiados não precisa de traidores.
Lula aponta deficiências na articulação política de Michel Temer. E Temer queixa-se da desarticulação que Dilma provoca na política ao reunir-se com Lula e o concílio de sábios petistas pelas suas costas. O PT reclama de perda de espaços no rateio de cargos. O PMDB revolta-se com a demora na entrega das poltronas prometidas.
Diante de um cenário tão inusitado, a oposição perdeu a serventia. Não resta ao PSDB e aos seus satélites senão a alternativa de se dissolver como partidos do contra e aderir ao bloco governista. Na oposição, não conseguem ter metade do poder de destruição dos aliados.
Aderindo ao governo, os oposicionistas não precisariam mais se esgoelar da tribuna para atazanar Dilma. Passariam a combinar, em longos almoços nos melhores restaurantes de Brasília, as emboscadas contra as correções de rumo idealizadas pelo ex-colaborador tucano Joaquim Levy.



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