MEDO E INSEGURANÇA: BRASILEIROS RICOS SE MUDAM PARA MIAMI

Blog Brasil Acima de Tudo - 13/02/2015
Brasileiros insatisfeitos com política e insegurança do país invadem Miami
Por Reed Johnson, Jeffrey Lewis e Luciana Magalhães , de Miami (*)
Pergunte a muitos brasileiros ricos por que eles estão se mudando para o sul da Flórida e eles citarão problemas com a segurança e a fraca economia do Brasil.
Mas há outra explicação que pode ser expressa numa única palavra e que Alyce M. Robertson, diretora executiva da Agência de Desenvolvimento do Centro de Miami, ouviu com frequência numa recente viagem de negócios ao Brasil: “Dilma”.
“Depois da última eleição, conversamos com muita gente preocupada em tirar seu capital do Brasil”, disse Robertson recentemente em Miami. O que preocupa essas pessoas, tanto no Rio de Janeiro quanto em São Paulo, “é principalmente a [situação] política”.
Já faz décadas que os ricos e poderosos do Brasil vêm adquirindo imóveis de luxo em Miami e comprando vorazmente nas lojas de Bal Harbour. Nos últimos meses, porém, um bom número de brasileiros reagiu à reeleição de Dilma Rousseff decidindo fincar raízes mais duradouras na região de Miami e, em menor grau, também em Orlando, Nova York e Boston.
Embora não haja dados exatos, profissionais de Miami, como corretores imobiliários, banqueiros, lojistas e advogados de imigração, dizem que um número crescente de brasileiros ricos está tentando se mudar para a região, abrir empresas lá ou procurando obter residência ou cidadania americana para si e suas famílias.
“Eles se preocupam principalmente com a instabilidade do ambiente político no Brasil. Eles não querem ser os últimos a sair”, diz Genilde Guerra, uma advogada do escritório Kravitz & Guerra, em Miami.
Guerra diz que o número de telefonemas que seu escritório recebe de brasileiros em busca de ajuda para obter um visto, comprar imóveis ou abrir firmas nos Estados Unidos aumentou dez vezes desde a eleição de Dilma. E os e-mails que ela recebe solicitando informações sobre como conseguir um visto de residência permanente nos EUA, o chamado “green card”, passaram de 3 ou 4 por dia antes da eleição para 25 ou 30 logo depois.
“Eles querem ter uma segunda nacionalidade, um segundo lugar para onde ir, e os EUA são o melhor lugar para isso”, diz Guerra.
Um exemplo típico desses exilados de classe alta é a dona de casa Regina Sposito Pires, que mora em São Paulo e recentemente fez uma viagem de exploração com sua família para comprar um imóvel em Miami. Depois de pensar no assunto por algum tempo, Pires, que tem 45 anos, tomou uma decisão em 26 de outubro, quando Dilma conquistou seu segundo mandato numa eleição apertada.“Foi como se alguém tivesse morrido”, diz Pires, mencionando sua frustração com a alta taxa de criminalidade do Brasil e a corrupção no governo. “Eu disse ao meu marido que a pouca vontade que eu tinha de ficar no Brasil tinha acabado.”José Antônio Parada também aderiu ao êxodo. No dia seguinte à reeleição de Dilma, ele decidiu cumprir sua antiga promessa de se mudar com a família para a Flórida, onde já possui vários imóveis de investimento, devido, diz ele, à questão política e a falta de segurança.“Estou muito preocupado com a proximidade entre o governo [brasileiro] e outros como Venezuela e Cuba”, diz Parada, um corretor de câmbio de 48 anos, acrescentando que sua residência em São Paulo foi arrombada duas vezes, uma delas quando ele estava em casa.
Dos 200 milhões de habitantes do Brasil, quase 3 milhões vivem hoje fora do país, segundo dados do Ministério das Relações Exteriores relativos a 2013. Cerca de um terço desses emigrados estão nos EUA. Firmas que monitoram brasileiros que fazem negócios na Flórida estimam que haja, hoje, entre 250 mil e 300 mil brasileiros morando no Estado.
Os brasileiros também representam a maioria dos turistas de Miami, tendo chegado em 2013 a uma proporção de 51% do total.
Essa nova leva de imigrantes brasileiros, porém, tende a se diferenciar das anteriores. Nos anos 80 e 90, o desemprego e a inflação alta impeliram milhares de brasileiros a mudar-se para os EUA. Muitos conseguiram empregos não qualificados e enviavam para o Brasil o máximo de dinheiro possível.
Hoje, os novos imigrantes brasileiros são mais inclinados a levar sua riqueza com eles. À semelhança de outros latino-americanos, incluindo cubanos, colombianos e venezuelanos, os brasileiros há muito consideram Miami um lugar seguro para guardar seu dinheiro durante períodos de turbulência política e econômica em casa.
De fato, os brasileiros estão entre as três nacionalidades estrangeiras que mais compram imóveis caros em Miami, juntamente com argentinos e venezuelanos, cujas economias também estão com problemas. Isso acontece apesar — ou, dizem alguns, por causa — da desaceleração drástica da economia brasileira.
No ano passado, o real perdeu cerca de 20% do seu valor em relação ao dólar. A inflação do país está se aproximando da meta-limite do governo, de 6,5% ao ano, e economistas projetam um crescimento quase nulo do PIB em 2015.
É uma grande reviravolta ante a década passada, quando o boom das commodities alimentou um crescimento vigoroso e o Brasil virou uma estrela entre as economias emergentes.
O brasileiro Cristiano Piquet, que agora vende imóveis de luxo na Flórida, diz que em 2014 “não conseguimos acompanhar a demanda” dos clientes brasileiros, que vêm aumentando seus investimentos nos EUA. “Eles ganharam muito dinheiro nos últimos 12 anos e estão com os bolsos cheios”, diz.
Piquet diz que há mais brasileiros comprando e alugando imóveis residenciais e comerciais hoje em dia.
“Edifícios de escritórios, armazéns, hospitais — acabamos de vender uma [academia de ginástica] LA Fitness [em Miami] para um brasileiro”, diz Piquet. “Outro brasileiro comprou uma concessionária de automóveis. Também estão comprando terrenos e planejando construir.”
Os brasileiros que se mudam para Miami encontram, cada vez mais, os aspectos positivos da vida que deixaram para trás: não só praias e um clima tropical, mas também muitos restaurantes, boates e lojas voltadas para brasileiros.
“Não sinto tanta falta”, diz o corretor de imóveis Marco Fonseca, de 47 anos. Fonseca, que é carioca e se tornou cidadão americano em 2001, estima que 65% dos seus clientes sejam brasileiros. “Temos tudo o que precisamos aqui: filmes, canais brasileiros, supermercados brasileiros. Você pode comprar uma picanha,” diz. “Miami é a maior cidade brasileira fora do Brasil no momento.”
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Alicia Cervera Lamadrid, cuja família cubano-americana é dona de uma imobiliária em Miami, disse que os empresários brasileiros começaram a comprar apartamentos de luxo numa torre residencial nos arredores da Brickell Avenue, em Miami, no início dos anos 80, uma época de alta inflação e estagnação no Brasil.
“As pessoas que se mudaram para lá eram tão poderosas que começaram a se referir a esse edifício como o ‘Congresso brasileiro’”, disse Cervera.


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