DA MÍDIA SEM MORDAÇA

NA COLUNA DO CLÁUDIO HUMBERTO
Ministros e ex-ministros de Dilma estão impressionados com os efeitos da reeleição: nas conversas reservadas, nada lembra na presidenta o tom “conciliador” do discurso público. Ela parece ainda mais intolerante. “Está com sangue na boca”, diz um amigo vitorioso nas urnas, aliviado por agora ser ex-ministro. E a montanha de votos subiu-lhe à cabeça: ao contrário de 2010, ela não se sente devedora do ex-presidente Lula.
Interlocutores percebem uma recaída tardia: a irritadiça Dilma recorre agora a expressões esquerdopatas, radicais, em desuso há anos.
Ainda com certa ascendência, Lula insiste com Dilma em soluções políticas na formação do ministério, mas ela resiste.
Para agradar Lula, Dilma faz acenos públicos a aliados do PMDB, PSD e PP, mas em particular capricha no xingamento a todos eles.
Inconstante, Dilma anunciou o bolivariano “plebiscito”, para mudar de ideia 24 horas depois, adotando o “referendo” proposto pelo PMDB.
Os depoimentos explosivos do empresário Julio Camargo, e ainda não tornados públicos, podem desencadear enxurrada de novas propostas de delação premiada à Justiça Federal. Camargo é considerado pelos investigadores o “coração” do Petrolão. Entre as delações mais aguardadas está a de Fernando Soares, o Fernando Baiano, que teria operado o esquema para o PMDB na Petrobras, e ameaça abrir o bico.
Segundo fontes ligadas ao processo, Fernando Baiano se movimenta para negociar delação premiada em troca de redução de pena.
O lobista Fernando Baiano, que atuava em nome do PMDB, pode incriminar senadores e deputados, além de empreiteiras.
Só o “rabo preso” explica o desavergonhado “acordo” governista, na CPMI, de não convocar para depor políticos apontados como destinatários de dinheiro roubado da Petrobras.
No Brasil, o PT sempre dá um jeito, mas o que apavora mesmo o “alto cumpanherato” é investigação da Comissão de Valores Mobiliários dos EUA, a SEC. Lá, dá cadeia. A Petrobras está sujeita a investigação desde a venda de bilhões de ações na bolsa de Nova York, em 2010.
Dilma mata o Itamaraty na unha, e sobrou para os servidores de 226 representações diplomáticas no exterior, há três meses sem auxílio moradia e sob risco de despejo. Haverá protesto na semana que vem.
Provoca furor nas redes sociais o documento do Foro de São Paulo, na Guatemala, saudando a vitória de Dilma e do PT “com mais de 3 milhões de votos”. É datado de 22 de outubro, quatro dias antes da eleição.
O Polo de Manaus ignorou o persistente PIBinho de Mantega e faturou R$ 62,7 bilhões até setembro deste ano. Cresceu 5,7% em relação a 2013, quando faturou R$ 59,3 bilhões. Os números são da Suframa.
Houve correria de servidores, ontem, na Câmara dos Deputados, para bater o ponto tão logo se encerrou a sessão, às 19h01. É que a partir das 19h eles ganham o “direito” a registrar a hora-extra “trabalhada”.
O Itamaraty pediu tímidas explicações a Nicolás Maduro sobre “aulas” clandestinas do seu ministro Elias Jaua a porraloucas do MST, aqui no País. Para “compensar” a nova intromissão em assuntos internos do Brasil, o tiranete substituiu o embaixador. Agora será María Urbaneja.
Está difícil para o Ministério da Defesa conter a evasão nas Forças Armadas. Nem quem fez voto de pobreza aguenta a pindaíba. Nesta quinta (06), o capelão do Exército, Vinícius Gonçalves pediu demissão.
Deve estar na margem de erro o risco-limite de 5% de apagão que o secretário-executivo de energia, Márcio Zimmermann, desdenhou.


NA COLUNA DO AUGUSTO NUNES
ATUALIZADO ÀS 4h06
Bigodão de ditador cucaracha realçado pela deserção do topete, condecorações imaginárias transformando em farda o terno cinza-Brasília, o companheiro Aloizio Mercadante tem caprichado na pose de general do miúdo exército leal à presidente reeleita. Neste começo de novembro, entrincheirado no gabinete do 4° andar reservado ao chefe da Casa Civil, o comandante concentrou-se na etapa inicial da guerra, planejada para despejar do Palácio do Planalto (ou impedir que ali consigam alojar-se) os infiéis assumidos, os fariseus dissimulados e os suspeitos de sempre.
Empunhando o trabuco que dispara intrigas, o combatente que não sabe a diferença entre um gatilho e uma bala anda se gabando das duas baixas resultantes do tiroteio. Guido Mantega, fabricante de previsões cretinas e especialista na ocultação de provas do fiasco da política econômica, vai perder em janeiro o emprego de ex-ministro em exercício. Gilberto Carvalho, a caixa preta de Santo André acampada no Planalto há 12 anos, conformou-se em servir ao PT em outras freguesias. Deverá ser incorporado ao mobiliário do Instituto Lula, mais seguro e mais rentável.
Se sobreviver sem ferimentos a essa etapa inicial, Mercadante talvez consiga anexar o posto de primeiro-ministro de araque ao considerável acervo de títulos honoríficos que mereceu, façanhas de chanchada que protagonizou e monumentos ao ridículo que ergueu. Ele foi promovido a Herói da Rendição por esta coluna graças aos incontáveis recuos, mudanças de rumo, retiradas e capitulações que liderou em poucos anos. Em abril de 2010, por exemplo, como recorda o post reproduzido na seção Vale Reprise, nosso herói precisou de poucas horas para revogar o irrevogável e renunciar à renúncia que o afastara da liderança da bancada do PT no Senado.
Em 13 de junho de 2010, Mercadante reivindicou a paternidade de um prodígio capaz de matar de inveja o mais milagreiro dos santos: para atender ao pedido do autor de “Brasil, a construção retomada’, Lula não só havia lido o livro de ponta a ponta como escrevera o prefácio. Até os bebês de colo e os índios das tribos isoladas sabem que o ex-presidente não fez mais que garatujar a assinatura embaixo do palavrório encomendado a algum companheiro alfabetizado. Mercadante continua jurando que aquilo foi redigido pelo chefe incapaz de desenhar um O com o fundo da garrafa.
A mistura de currículo com prontuário informa que Mercadante merece uma vaga na comissão de frente do bloco que agrupa os incapazes capazes de tudo. Candidato a governador de São Paulo em 2006, enrascou-se na história da compra de um dossiê forjado para prejudicar o adversário José Serra. Foi socorrido por Lula, que rebaixou a “bando de aloprados” uma quadrilha a serviço do PT e transformou em coisa de louco um escandaloso caso de polícia.
Sempre por ordem do chefe, em 2010 Mercadante disputou de novo o Palácio dos Bandeirantes em 2010. De novo, naufragou no primeiro turno. Não é pouca coisa. Mas quem conhece a figura sabe que o ex-senador, ex-ministro de Ciência e Tecnologia, ex-ministro da Educação e agora chefe da Casa Civil trocaria tudo ─ honrarias, galardões, sacos de dinheiro, prefácios e todas as demais proezas ─ por uma temporada no cargo que persegue desde o dia do parto.
O menino ainda não sabia falar quando revelou aos pais que queria ser ministro da Fazenda. Nem Lula topou ir tão longe: preferiu nomear o médico Antonio Palocci a instalar no ministério um economista como Aloizio Mercadante. Mas ele está bem no retrato que Dilma leva na bolsa. E ela talvez acredite que ninguém no mundo é pior do que Guido Mantega. Aos 60 anos, o Herói da Rendição continua de olho no trono de imperador da economia. Enquanto não for anunciado o escolhido, a ameaça estará apavorando o Brasil que pensa, presta e trabalha.
Antes que tivesse nascido nas urnas a frente antipetista formada por 51 milhões de brasileiros, o fecho deste texto repetiria a sugestão de praxe: oremos. Mas o resultado da disputa eleitoral informa que rezar já não é a única opção. Que tal mostrar nas ruas que o país já não é propriedade dos farsantes, gatunos e ineptos que ainda infestam o coração do poder?

NO BLOG DO CORONEL

Comprovado o estelionato eleitoral: reeleita, Dilma sobe gasolina em 3% e diesel em 5%, alimentando a inflação.

No dia em que Dilma Rousseff, a estelionatária eleitoral diz para jornalistas que "vamos ter de apertar o controle da inflação" porque "nós temos problema interno com a inflação", fato que negou durante toda a campanha, a Petrobras acaba de anunciar aumento no preços dos combustíveis. 

Alckmin vira modelo de oposição que o PT quer para eternizar seu projeto de poder.

Novamente, no dia de ontem, o PT rasgou elogios ao governador tucano Geraldo Alckmin. Desta vez a própria Dilma elogiou o "aliado". Além de ter sido o primeiro da fila a reverenciar Dilma pela vitória, com palavras que foram além do protocolo para resvalar pelo puxa-saquismo e  além de ser o primeiro a criticar as manifestações de rua, Alckmin já mandou diversos recados de que vai fazer aquela velha oposição do "farinha pouca, meu pirão primeiro", em nome da "governabilidade". Sua candura recebeu elogios até mesmo do pitbull petista no Senado, Humberto Costa. Ontem Dilma Rousseff  afirmou: "não estou propondo nenhum diálogo metafísico. Quero discutir propostas", disse, apontando como exemplo a discussão sobre a crise da água com Geraldo Alckmin, que deverá incluir verbas do BNDES, Banco do Brasil e Caixa. Alckmin, ontem, em entrevista para Miriam Leitão relativizou a importância de Aécio Neves, deixando claro que pretende disputar a indicação tucana para 2018. O que significa que vai fazer de tudo para esvaziar a liderança que o mineiro conquistou nas urnas por mostrar o que está faltando ao paulista: altivez para enfrentar o PT, preferindo mirar o colega de partido.

Esse é o Aécio Neves escolhido por 51 milhões de brasileiros. Não há acordão contra as investigações do Petrolão.

Sobre a tentativa do PT de envolver o PSDB em acordos espúrios na investigação da roubalheira da Petrobras, Aécio Neves, presidente da sigla, emitiu a seguinte Nota Oficial: 
"O PSDB não pactua com qualquer tipo de acordo que impeça o avanço das investigações da CPMI da Petrobrás.
Lutamos pela instalação da CPMI. Temos de ir a fundo na apuração do chamado 'Petrolão' e na responsabilização de todos que cometeram eventuais crimes, independentemente da filiação partidária.
Essa é a posição inarredável do PSDB.
Brasília, 06 de novembro de 2014
Senador Aécio Neves
Presidente Nacional do PSDB"
Ontem, de forma capciosa e mentirosa, o petista Marco Maia deu entrevista ao Jornal Nacional e à mídia dizendo que havia um acordo para livrar políticos de depoimento na CPMI da Petrobras. Que a oposição tinha concordado em não chamar políticos como Gleisi Hoffmann, além do tesoureiro do PT. Causou estranheza à militância que tal fato ocorresse justamente no dia em que Aécio voltava triunfalmente ao Senado, pregando exatamente o contrário. Como era de se esperar de um partido sujo como o PT, a história é outra.
Vejam o posicionamento do deputado Carlos Sampaio,  publicado pela Folha de São Paulo hoje à tarde:
Em entrevista nesta quinta, Sampaio negou que a reunião tenha provocado mal-estar no PSDB. O deputado disse que não houve acordo para poupar políticos, apenas a construção de um "roteiro de procedimentos" diante do curto prazo para a conclusão das investigações, que terminam em dezembro. 
Segundo o deputado, o roteiro prioriza as apurações relacionadas às empreiteiras e aos diretores da Petrobras suspeitos de envolvimento no esquema de corrupção. O consenso, segundo o tucano, é que seria difícil avançar nas investigações envolvendo deputados e senadores sem o acesso à delação premiada. 
Sampaio também disse que houve "má fé" de petistas que anunciaram o acordão porque não há "lógica" no PSDB querer poupar congressistas –j á que o único citado do partido, o ex-senador Sérgio Guerra, morreu este ano. 
"O que eles querem é colocar todos numa vala comum, dizer que o PSDB está com medo, mas não há a menor lógica nisso. O PSDB foi quem criou a CPI. Quem roubou a Petrobras, seja político, diretor, empreiteira, tudo e bandido de quinta categoria", disse. 
Segundo Sampaio, os pedidos de convocação e de quebras de sigilos que não forem deliberados em 10 dias pela CPI serão aprovados automaticamente. 
O PSDB precisa redobrar os cuidados em relação à Imprensa. O PT jamais pode ser porta-voz de qualquer decisão tomada no dia a dia da política, que envolvam o PSDB. Existe uma Nova Oposição no país. É preciso que não só Aécio Neves seja o seu portador. É preciso que esta consciência se espalhe por todo o partido para não frustrar os sonhos de mudança de 51 milhões de brasileiros.

NO BLOG DO REINALDO AZEVEDO

Como Dilma quer censurar a imprensa. Ou: A conversa mole de monopólios e oligopólios. Ou ainda: A ameaça nada velada, e estúpida, ao grupo Globo

Dilma concedeu uma entrevista a oito jornalistas de veículos impressos, inclusive a Folha. Aprendi, lendo o jornal que, “no que se refere”, como ela mesma diria, à mídia, ela não quer controle de conteúdo. Seus alvos seriam o monopólio e o oligopólio. Ah, bom!
Sempre que se diz algo assim, eu pergunto: mas quem tem o monopólio ou o oligopólio de quê? O PT quer, sim, a censura — chama a isso de “controle social” —, mas a represidenta diz se contentar com a “regulação econômica”. O que é isso? Ela não diz. Não dizendo, tanto melhor! Ganha a simpatia de grupos que têm a esperança de entrar no setor e espera contar com a mansidão daqueles que podem vir a ser prejudicados. Em certo sentido, a melhor coisa que o PT pode fazer para “controlar a mídia” é manter a permanente ameaça de… controle da mídia, entenderam?
Aí leio o seguinte trecho na Folha:
“Perguntada sobre o conceito de monopólio incluir a chamada propriedade cruzada, quando um mesmo grupo econômico possui rádios, TVs e jornais, a presidente disse: ‘Não só a propriedade cruzada. Tem inclusive um desafio, que é saber como fica a questão na área das mídias eletrônicas. O que é livre mercado total? Tenderá a ser a rede social, eu acho’”.
É claro que o primeiro nome que vem à cabeça é o grupo Globo: TV aberta, TV por assinatura, rádio, revista, jornal, portal eletrônico… Muito bem! O grupo enfrenta concorrência em todas essas áreas. Tem a liderança na TV aberta? Tem. Mas perde para o UOL nos portais, para a Folha nos jornais, para a VEJA nas revistas e para um monte de emissoras, inclusive Jovem Pan, nas rádios. Nas TVs, inclusive a cabo, está muito longe de exercer o monopólio.
No caso, que mal a dita “propriedade cruzada” causa à liberdade de expressão ou à concorrência? Resposta: nenhum! Com o advento da Internet, que trouxe as redes sociais, as TVs nos portais — que se multiplicam —, os sites, os blogs, falar em “monopólio ou oligopólio” é má-fé ou burrice. E eu aprendi a não tratar essa gente como burra.
Que mudança Dilma quer fazer? Vai posar de Cristina Kirchner? Exigirá, por exemplo, que as rádios do grupo Globo sejam repassadas a algum empresário amigo do petismo? Forçará as emissoras a escolher a TV aberta ou por assinatura? Ela já tem em mente a lista de nababos para entrar em negócios já consolidados? Mais: não fossem as outras fontes de renda na área de comunicação, que grupo hoje manteria jornal impresso?
Esse não é um reclamo do povo, mas de grupelhos a soldo, que hoje vivem da propaganda oficial de estatais e da administração direta.
Isso é conversa para boi dormir. Das duas uma: ou o governo quer manter a eterna ameaça no ar para contar com a bonomia dos que pretendem se preservar do ataque oficial, ou Dilma quer, sim, o controle de conteúdo, forçando a divisão de empresas para entregar aos amigos do poder — esse mesmo poder que, hoje, já financia os amigos.
Insisto: quero saber o que Dilma considera “monopólio e oligopólio”. Sem que ela explique, afirmo que suas considerações não passam de trapaça intelectual.

Dilma recebe jornalistas e tenta se desvincular de resolução antidemocrática e violenta do PT. Mas não consegue. Leu este blog, mas não fez a coisa certa! Ou: Como o PT e o diabo gostam!

Já tinham me falado que a presidente Dilma lê meu blog. Não acreditei. Pode ser… Será? Na quarta-feira à noite, publiquei aqui um texto em que se lia o seguinte:
“Se a presidente Dilma quer realmente dar uma demonstração de que está disposta a se comportar como chefe de Estado — daqui para a frente ao menos —, não como chefe de facção, comece por repudiar a resolução aprovada pela Executiva Nacional do PT, que é virulenta, rancorosa e autoritária. Se Dilma quer realmente uma conversa maiúscula, comece por censurar o seu partido, que associa a pauta de reformas, de forma confessa, à tentativa de criar a hegemonia política.” Segue imagem.
Dilma repúdio resolução
Eis que, no dia seguinte, ela diz o que segue a oito jornalistas de veículos impressos, segundo leio na Folha.
“Dilma foi questionada pela Folha sobre a beligerante resolução petista quando falava sobre suas promessas de diálogo com a oposição. “Eu não represento o PT. Represento a Presidência. A opinião do PT é a opinião do partido, não me influencia. Represento o país, não sou presidente do PT, sou presidente dos brasileiros.”
A resolução, aprovada pela Executiva Nacional do partido na segunda-feira (3), associou Aécio a “forças neoliberais” com nostalgia da ditadura militar, ao racismo e ao machismo. Para a presidente, é uma “queixa partidária”.
Ah, não, represidenta, assim não! É muito pouco! Até porque o partido que associa os adversários ao mal — e que insinua, por óbvio, que não são oponentes políticos, mas inimigos do Brasil — vai constituir, obviamente, o núcleo duro do governo.
Há mais a dizer: o que vai na resolução do PT é, na prática, uma síntese da campanha petista, de que Dilma foi protagonista. Ou ela não afirmou que o oponente era adversário do salário mínimo e defensor de medidas amargas? Ou ela não insinuou mais de uma vez que o oponente desrespeitava as mulheres? De resto, não entendi a expressão “queixa partidária”. Queixa de quem? O PT, o vencedor, se queixa do vencido agredindo-o, é isso?
De resto, essas barbaridades nem são o elemento mais grave da resolução. O principal está em outro lugar — e, tudo indica, não se tratou do assunto na entrevista. No texto, o partido afirma que a reforma política é a oportunidade de uma “revolução cultural” para a construção da hegemonia política. Para quem conhece a teoria em que se ancora tal pretensão, o que se confessa ali é a tentação de eliminar os adversários ou cooptar as forças políticas, subordinando-os todos ao mesmo ente de razão.
O “não tenho nada com isso” de Dilma não tem lugar na política. Até porque, para governar, ela irá buscar os quadros do PT, não é?, com tudo o que ele representa: suas convicções, suas crenças, sua militância, seus horizontes. Se o partido emite uma resolução que agride os fundamentos da democracia e confessa tentações totalitárias, ou ela a repudia com clareza ou se torna sua procuradora.
Eu sou aborrecidamente lógico, e o discurso de Dilma é logicamente aborrecido. Uma chefe de Estado nas suas condições precisa de muito mais do que isso.
Não me convence, não me mobiliza, nem sequer me estimula. Dilma está pedindo que esqueçam a sua atuação na campanha. E ela atuou como o PT e o diabo gostam.
Não dá para esquecer.

IBGE resiste a assédio de Mercadante e não vai rever dados sobre miséria. Ou: Instituto dá uma aula básica, elementar, ao doutor em economia… Chega a ser um vexame!

O governo Dilma chegou àquela fase em que decide brigar com a régua porque não gosta do que ela aponta. Acha que o mal está no metro, não na coisa medida. O IBGE passou a ser alvo do assédio explícito de dois ministros do governo Dilma: Aloizio Mercadante, da Casa Civil, e Tereza Campello, do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Muito a seu estilo — gosta de falar antes e ponderar depois —, Mercadante anunciou, tudo indica que por conta própria, que o IBGE iria rever os dados da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio), que orientaram a síntese feita pelo Ipea, que levaram à conclusão de que houve um aumento da miséria de 2012 para 2013.
Pois é… Informa João Carlos Magalhães, na Folha Online, que o instituto não vai rever dado nenhum. O ministro não aceita, por exemplo, que tenha subido o número de miseráveis, que passaram de 10,08 milhões, em 2012, para 10,45 milhões em 2013. Esses dados foram represados durante as eleições.
Mercadante acredita que parte das pessoas que estão entre os sem-renda simplesmente deixou de declará-la. Segundo ele, essa informação é incongruente com dados sobre patrimônio. Disse o ministro: “Nós queremos que o IBGE analise com mais profundidade a amostra. Porque todos os outros índices mostram que a pobreza caiu, e esse indicador de renda zero pode ter algum problema metodológico. [...] Estamos fazendo essa advertência”.
Em nota, o IBGE deu uma pequena aula sobre amostra e estatística para o economista Mercadante — um pouco humilhante, eu diria, mas ele merece:
“Por [a Pnad] ser amostral, o total de indivíduos sem declaração de rendimentos tem flutuação anual diferenciada. Além disso, uma parcela também anualmente distinta dos informantes se recusa a prestar informação sobre a renda. Os métodos para os cálculos com a variável renda e as demais variáveis devem, portanto, considerar as possíveis flutuações existentes nas variáveis utilizadas. A Pnad 2013 seguiu a sua metodologia de coleta das informações como planejada e seus resultados não serão revisados pelo IBGE”.
Chego a ficar com um pouco de pena de Mercadante. O IBGE, em síntese, está dizendo quatro coisas óbvias ao doutor em economia:
1: o método já leva em conta os que decidem omitir a sua renda;
2: se omissões dessa natureza aconteceram em 2013, dado que o método é o mesmo, também aconteceram em 2012;
3: só se podem confrontar grandezas dessa natureza empregando-se o mesmo método;
4: quer dizer que Mercadante aprova o método de 2012 (que chegou a menos miseráveis) — e o de anos anteriores, mas não o de 2013 (que chegou a mais)? Ocorre que o método é o mesmo;
5: estaria sugerindo o ministro que o método serve quando serve ao proselitismo do governo e não serve quando ele não sai bem na fita?
Ainda bem que o IBGE decidiu resistir ao assédio. A qualidade da contestação é rasteira.

Dilma aplica “medidas amargas”, pessoal, mas com dor no coração!

Ê Dilma Rousseff!!! Vamos ver: eu sempre achei, já escrevi aqui, podem procurar, que o governo precisava cortar gastos. Quem dizia que isso é coisa de neoliberal malvado era a então candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff. Nesta quinta (06), no entanto, a presidente, já reeleita, Dilma afirmou que será, sim, preciso fazer o que chamou de “lição de casa”. Ou seja: ela está dizendo que vai ter de cortar gastos, intenção que atribuía a seu adversário na disputa presidencial, o tucano Aécio Neves.
Raramente se viu tamanha coleção de estelionatos em tão pouco tempo. Dilma foi reeleita no dia 26. Depois disso, já houve elevação de juros, elevação das tarifas de energia elétrica, elevação do preço dos combustíveis e, agora, anúncio no corte de gastos. Mais: na conversa com os jornalistas, a represidenta admitiu: “Vamos ter de apertar o controle da inflação. Nós temos problema interno com a inflação”.
É mesmo? Ao longo da campanha, ao contrário do que disse agora, Dilma assegurou que a inflação não era um problema. Também negava que houvesse gordura para cortar no governo. O que a Dilma-candidata dizia, em suma, não pode ser endossado pela Dilma reeleita.
Pois é… Como esquecer que, a cada entrevista coletiva de Aécio Neves, então candidato do PSDB à Presidência, sempre havia um jornalista para perguntar: “Candidato, quais serão as medidas amargas que o senhor pretende adotar?”.
Mais do que isso: na pena de alguns colunistas “isentos como um táxi” (by Millôr), as tais “medidas amargas” constituíam o divisor de águas das duas candidaturas. Uma seria a popular — a de Dilma, que jamais jogaria sobre as costas dos trabalhadores a conta do ajuste —, e a outra, a impopular: a de Aécio, claro!, que, segundo Dilma e os colunistas do nariz marrom, se eleito, elevaria o preço dos combustíveis, a tarifa de energia e a taxa de juros, além, claro!, de cortar gastos.
Como é que os pilantras intelectuais explicam o que está em curso? Ora, pilantras intelectuais dispensam-se de dar explicações. De resto, a gente sabe, “medidas amargas” aplicadas por petistas são doces, não é mesmo? Esquerdistas têm o caráter mais ou menos deformado em qualquer lugar. Uma vez perguntaram a Jacques Delors, ministro das Finanças do socialista Mitterrand, que deu um choque de capitalismo com “medidas amargas”, qual era, afinal, a diferença entre direita e esquerda. Ele respondeu: “A diferença é que nós fazemos o mesmo, mas com dor no coração”. Ah, bom!
Entenderam? Se, uma vez vitorioso, Aécio tivesse de aumentar a gasolina, a energia e os juros, além de cortar gastos, ele certamente o faria porque não tem coração. Já a companheira Dilma faz tudo isso porque nos ama e, saibam, ela sofre por nós.
A cada dia tenho mais claro que é impossível ser um esquerdista sem uma dose fundamental de vigarice intelectual.

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