DA MÍDIA SEM MORDAÇA - 20-9-2014

NO DIÁRIO DO NORDESTE
Mulher abriga em sua casa detentos do semiaberto
Porto Alegre. Filha de um fazendeiro de Pelotas (RS), Maria Ribeiro da Silva Tavares deixou o pai de cabelo em pé quando decidiu gastar toda a herança de viúva para levar presos de alta periculosidade para viver em sua própria casa, ao lado do filho pequeno. Maria já trabalhava como voluntária no Presídio Central de Porto Alegre, quando perdeu o marido.
Em 1936, aos 24 anos de idade, conseguiu convencer a direção a dar abrigo a 36 presos em sua casa na capital gaúcha. No primeiro dia fora do presídio, antes de iniciarem o trabalho que ela conseguiu para todos em obras da Prefeitura, Maria concedeu a eles um privilégio: eles poderiam visitar a família, desde que voltassem à tarde. Nenhum deles fugiu.
O Patronato Lima Drumond, que hoje funciona em parceria com o Estado, foi fundado por Maria seis anos mais tarde, com recursos próprios e a ajuda dos detentos. Hoje, 78 anos depois, a assistente social de 102 anos continua morando no local em que 63 homens cumprem pena do regime semiaberto.

NA COLUNA DO AUGUSTO NUNES
Num mundo cada vez mais apressado, num começo de século em que a novidade tecnológica de ontem é aposentada em poucos meses por outro avanço ainda mais audacioso, não são poucos os relógios de rua que sobrevivem sem rugas à passagem do anos. Eles não envelhecem porque governam o tempo.
Neste sábado, a coluna recomenda aos leitores que suspendam a correria para suspender a correria e demorar-se na contemplação de alguns soberbos monumentos ao arrojo, à elegância, ao refinamento estético. Acertem os ponteiros, amigos. E boa viagem.
Wiesbaden, Alemanha


NA COLUNA DO CLÁUDIO HUMBERTO
A presidenta Dilma pediu acesso à delação premiada do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, e até recorre ao Supremo Tribunal Federal, mesmo sabendo que o processo está sob segredo de Justiça e não pode ser compartilhado. O “jogo de cena” é igual ao das demais autoridades que pretendem a mesma coisa: todos fingem que não temem o que deveras temem, que seus nomes tenham sido citados.
Além de Dilma, outros órgãos federais solicitaram acesso à delação premiada, como Ministério da Justiça e Petrobras. Foram indeferidos.
A Controladoria-Geral da União, que nada controla e sempre age após a “porteira arrombada”, também pediu e teve negado acesso à delação.
Alguns líderes da oposição, que também temem o teor da delação, queriam saber o que foi revelado por Paulo Roberto Costa. Negado.
Só na primeira fase de depoimentos da delação premiada, o ex-diretor citou 49 deputados federais, senadores e ministros. Há mais.
Além da conhecida repulsa por diplomatas brasileiros e pelo Ministério das Relações Exteriores, a presidenta Dilma Rousseff também não dá a menor pelota para diplomatas de outros países, negligenciando um dos seus papéis institucionais mais importantes: receber credenciais de embaixadores designados para atuar no Brasil. Até agora, 22 embaixadores estrangeiros aguardam que Dilma agende a cerimônia.
O embaixador do Paraguai, Manuel Cáceres, chegou ao Brasil em novembro de 2013. Até hoje não conseguiu entregar as credenciais.
Para Dilma, todos os diplomatas são como o ex-ministro Antônio Patriota. Ignora que o Itamaraty é um centro de excelência do serviço público.
O mundo jurídico em Brasília sabe que, reeleita, Dilma deve indicar em novembro o ministro José Eduardo Cardozo (Justiça) para a vaga de Joaquim Barbosa no Supremo Tribunal Federal. É uma das razões de crítica do ex-presidente Lula à sucessora. Ele não gosta de Cardozo.
Está marcado para quarta (24) o julgamento no Tribunal de Contas da União do presidente da Fecomércio do Ceará, Luiz Gastão. O processo pede o ressarcimento de mais de R$ 4 milhões ao erário, por contratos e pagamentos irregulares durante a gestão de Gastão no Sesc-CE.
Nada como uma campanha eleitoral no meio para explicar por que a pesquisa do IBGE mostrando que aumentaram as desigualdades mudou de repente para “caíram as desigualdades”.

NO BLOG DO NOBLAT
O “abraço à Petrobras”, empreendido no início da semana pelo PT, na sede da empresa, no Rio, faz lembrar o clássico ditado policial de que “o criminoso sempre volta ao local do crime”.
Desta vez, não para avaliar os danos, como observador oculto, mas para testar às escâncaras sua capacidade de virar o jogo. Em meio às mais cabeludas denúncias, produzidas pelo ex-diretor de Abastecimento e Refino, Paulo Roberto Costa – que pontificou nos dois governos de Lula e na metade do de Dilma -, o PT testou a tese de que a melhor defesa é o ataque. Falhou.
Em sua campanha, Dilma quer transformar as denúncias de assalto à empresa – e a respectiva cobrança por investigações - em tentativa de sabotagem, imputando, de quebra, a Marina Silva o sórdido objetivo de liquidar o pré-sal. É o “pega ladrão!”, mas gritado pelo próprio ladrão. Já funcionou antes.
O mais significativo no ato, porém, não foi ele em si, mas a escassa presença de manifestantes. Lá estava a militância de sempre, acrescida do MST, que dela sempre fez parte. Povo mesmo não se viu. A Polícia Militar registrou cerca de 600 pessoas.
No passado recente, seriam milhares e milhares. Onde estão? Terá o PT perdido musculatura onde há muito reinava? Aparentemente, sim. A candidatura de Marina dividiu a esquerda e os chamados movimentos sociais. Não se sabe ainda em que escala, mas não há dúvida de que houve quebra de unidade.
Leia a íntegra em A guerra dos companheiro

Claudio Dantas Sequeira e Izabelle Torres, ISTOÉ
ISTOÉ revelou na semana passada que o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa incluiu o governador do Ceará, Cid Gomes (PROS), na lista de políticos beneficiados pelo esquema de corrupção na estatal. Ao ser confrontado com a informação, Cid Gomes começou a se encalacrar nas próprias versões.
Primeiro disse que não sabia quem era Paulo Roberto Costa. Depois, alegou nunca haver estado com ele na vida. Suas explicações iniciais, porém, foram desmontadas em pouquíssimas horas. No mesmo dia da publicação da reportagem de ISTOÉ, pipocaram nas redes sociais fotografias de encontros e eventos em que Paulo Roberto Costa e Cid Gomes aparecem lado a lado. Numa das imagens, o delator e o político cearense demonstram intimidade.
Leia mais em Unidos pelo petróleo
Paulo Roberto e Cid Gomes aparecem juntos - Foto: Divulgação


NO BLOG DO REINALDO AZEVEDO
Pois é… Reportagem da Folha deste sábado informa que Paulo Roberto Costa envolveu mais duas diretorias no esquema corrupto que vigorava na empresa: a Internacional, que era comandada pelo notório Nestor Cerveró, e a de Serviços e Engenharia, cujo titular era o petista Renato Duque. O PT está preocupado com os cadáveres que podem sair do armário. Faltam duas semanas para o primeiro turno das eleições, mas o segundo ainda está longe, só no dia 26 de outubro. Entre as irregularidades que atingem as duas diretorias, estão a construção da refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, e a compra da refinaria de Pasadena, nos EUA. Segundo o Jornal Nacional, Costa admitiu ter recebido R$ 1,5 milhão de propina só nessa operação.
Duque, note-se, já aparece citado em outro inquérito da Polícia Federal para apurar irregularidades nos negócios da Petrobras. A polícia investiga sua relação com outros funcionários da estatal suspeitos de evasão de divisas.
Em abril, outra reportagem Folha informava que Rosane França, viúva do engenheiro da Petrobras, Gésio França, que morreu há dois anos, acusou a empresa de ter colocado o marido na “geladeira” porque este se opusera ao superfaturamento do gasoduto Urucu-Manaus, na Amazônia. Para a sua informação, leitor amigo: esse gasoduto foi orçado pela Petrobras em R$ 1,2 bilhão e acabou saindo por R$ 4,48 bilhões.
A viúva de Gésio não citou nomes, mas em e-mails que vieram a público, ele reclamava justamente da diretoria de Serviços e Engenharia, que era comandada pelo petista Renato Duque, que negociava com as empreiteiras. Duque, aliás, é amigo de João Vaccari Neto, tesoureiro do PT, um dos nomes citados por Costa como parte do esquema corrupto, que recorria aos préstimos do doleiro Alberto Youssef.
Além de amigo de Vaccari, Duque sempre teve um padrinho forte no PT: ninguém menos do que José Dirceu. Quando Graça Foster assumiu a presidência da estatal, em 2012, ela o substituiu por Richard Olm. Mas isso não significa, é evidente, que a Petrobras está livre da politicagem. Lá está, por exemplo, José Eduardo Dutra, ex-presidente do PT e outro peixinho de Dirceu: é diretor Corporativo e de Serviços. Não só ele. Também é da cota do ainda presidiário Dirceu o gerente executivo da Comunicação Institucional, Wilson Santarosa.
A estatal, diga-se, tornou-se um retrato dos desmandos do PT e da forma como o partido entende o exercício do poder. Como esquecer uma frase já antológica do então presidente da Câmara, Severino Cavalcanti, em 2005, em reunião com uma certa ministra das Minas e Energia chamada Dilma Rousseff? Ele cobrou uma promessa que lhe fizera Lula: “O que o presidente me ofereceu foi aquela diretoria que fura poço e acha petróleo”.
Era assim que Lula exercia o poder. E foi assim que a Petrobras passou a furar poço e a achar escândalos.

Por Fábio Fabrini e Andreza Matais, no Estadão:
No Ministério Público junto ao Tribunal de Contas da União (TCU) pediu que a corte abra uma inspeção nos Correios para apurar o envio de santinhos da presidente Dilma Rousseff a eleitores sem chancela ou comprovante de postagem. A estampa oficial serve para comprovar que o material foi pago e enviado de forma regular e nas quantidades contratadas. Na representação, baseada em reportagem do jornal O Estado de S. Paulo publicada nesta sexta-feira, o procurador Júlio Marcelo de Oliveira diz que a situação, se comprovada, “afronta o processo democrático” e impõe duras penas aos responsáveis.
“A má utilização de empresas públicas por agentes do Estado para finalidades político-partidárias é fato atentatório à res pública. No período eleitoral, a utilização dos Correios nos moldes citados constitui afronta ao processo democrático e impõe severa apenação dos responsáveis e pronta recomposição do erário”, justifica o procurador. Segundo ele, o TCU, com a expertise de sua área técnica, tem condições de esclarecer o episódio rapidamente e, caso necessário, adotar as medidas corretivas e sanções cabíveis.
O pedido foi enviado ao ministro Benjamin Zymler, que relata processos relacionados aos Correios. Caberá ao TCU decidir, com base em análise de sua área técnica e nos elementos trazidos pelo representante do Ministério Público, se há elementos para a abertura da inspeção.
Na peça, Júlio Marcelo pede a investigação de indícios de postagem sem chancela ou comprovante de que houve postagem oficial da propaganda eleitoral de Dilma. Além disso, requer que seja apurado se a quantidade de material distribuído corresponde ao que foi contratado pelo PT e se os fatos narrados pela reportagem estão de acordo com as normas dos Correios. Também solicita que se quantifique, em caso de comprovação de irregularidade, o dano aos cofres públicos.
(…)

Ai, ai… Vamos lá.
O IBGE mobiliza uma tropa de técnicos para processar as informações colhidas pela Pnad. Se a rotina não mudou, há todo um processo de conferência de dados. Mais: há procedimentos justamente para capturar eventuais erros antes da divulgação. Fazer de conta que estamos diante de uma narrativa corriqueira corresponde a tapar o Sol com a peneira. Não estamos.
Então, depois de uma demora que também não teve a devida explicação, os dados são divulgados, constata-se a estagnação da redução da desigualdade, o tema ganha óbvia tradução política — e nem poderia ser diferente —, e, com rapidez espantosa, corrige-se o “erro” e se obtém o resultado desejado? “Ah, a desigualdade continua em queda”. Que bom, né? A oposição já não poderá mais usar esse argumento.
Estou acusando o IBGE de ceder à pressão oficial? Não exatamente. Se achasse, diria. Mas que devemos estranhar o procedimento, ah, isso devemos, sim.
Reitero: o que me espanta é o fato de checagens periódicas, que fazem parte do método de processamento de dados, não terem identificado, durante meses, um erro tão sério, depois identificado num único dia.
O que se passa no IBGE? Não sei. Nenhuma possibilidade é boa.

NO BLOG DO JOSIAS
Dilma Rousseff tem orgulho de dizer: “Ao longo da minha vida tive sempre tolerância zero com corrupção.” Mas o destino — essa fração de segundo em que o sinal muda de verde para amarelo e a pessoa é intimada a decidir se para ou avança— pregou-lhe uma peça. Na hora em que ela reivindica um segundo mandato, as gavetas da República começaram a explodir ao seu redor. São explosões incontroláveis.
A inevitabilidade dos estrondos é proporcional à quantidade de bombas estocada nas gavetas. Há nitroglicerina demais. Tanta nitroglicerina que já não é possível negociar o que será insinuado e o que permanecerá escondido. Até agora, Dilma não demonstrou desejo de parar. Diante do sinal amarelo, ela aperta o botão do ‘eu não sabia’ e pisa no acelerador. Pena, mas nada impede que enxergue o freio.
A plateia ainda não sabe o tamanho do estrago produzido pela autoimplosão de Paulo Roberto Costa. Sabe-se que a delação do ex-diretor da Petrobras balançará o coreto de autoridades, estilhaçando-lhes as coligações. Mas não ficou claro, por ora, o grau de comprometimento dos alicerces do Planalto. Infelizmente, a visitação aos escombros não deve ser liberada antes das eleições.
Enquanto tenta desviar sua candidatura do óleo derramado na pista da sucessão pelo delator Paulinho, como o chamava Lula, Dilma é surpreendida por outra bomba —dessa vez uma bomba de efeito retardado. Foi armada por Renan Calheiros. Deveria ter ido pelos ares em 2007. Mas, com a ajuda de Lula, o artefato desceu à gaveta. Que a Procuradoria da República acaba de abrir.
Seis procuradores da República protocolaram na 14ª Vara Federal do Distrito Federal uma ação por improbidade administrativa contra o presidente do Senado. Nela, Renan é acusado de pagar com propinas recebidas da empreiteira Mendes Júnior a pensão de uma filha que teve em relacionamento extraconjugal. Em troca, acusam os procuradores, o senador pendurou no Orçamento da União emendas que bancaram obras da firma corruptora.
Quando o caso veio à luz, em 2007, Renan já presidia o Senado. E Lula, solidário com seu drama, ajudou-o a mobilizar o consórcio governista para enterrar o escândalo vivo. Combinou-se na ocasião que o Conselho de Ética encamparia a tese de que o dinheiro repassado à ex-amante de Renan viera da venda do gado. E os brasileiros seriam convidados a se fingir de bobos. Pelo bem da República.
Produziram-se dois relatórios atestando a falta de provas para a cassação do mandato de Renan —um foi subscrito por Romeu Tuma, já morto. Outro, por Epitácio Cafeteira, ainda muito vivo. Sabia-se que fechar os olhos piorava a palhaçada. Mas dizia-se que não convinha arriscar a estabilidade do Legislativo e a própria governabilidade em nome de algo tão relativo e politicamente supérfluo como a verdade.
Todos se encaminhavam para aceitar a combinação de que nada ocorrera. Mas, de repente, a imprensa golpista demonstrou que a boiada que Renan apresentara para justificar suas despesas era feita de notas frias. Um rebanho de dúvidas passou a transitar pelos salões do Senado. De novo, combinou-se que as reses não estavam ali. Num grande acordo, Renan renunciou à Presidência do Senado e seus pares abstiveram-se de passar o mandato dele na lâmina.
Em fevereiro do ano passado, como se nada houvesse sucedido, Renan foi devolvido ao comando do Senado. Dias antes da aprovação do nome dele em plenário, o então procurador-geral da República Roberto Gurgel denunciou-o ao STF. Servindo-se do mesmo caso que mistura lençois, verbas orçamentárias e propinas, Gurgel acusou Renan de peculato, falsidade ideológica e uso de documento falso.
A despeito de tudo, Renan obteve de volta, já sob Dilma, a poltrona de presidente do Senado. Amealhou votos de governistas e de oposicionistas. O PSDB entregou-lhe oito decisivos votos. Decorridos dezenove meses, ouve-se a explosão da nova ação judicial. O barulho chega na hora em que Renan emerge da lista de supostos recebedores de propinas cavadas na Petrobras. Uma bomba se interconecta com a outra.
Noutros tempos, as explosões eram resolvidas mais facilmente. As autoridades faziam cara de nojo em público, cobravam a cumplicidade dos aliados em privado e confiavam na pré-disposição da plateia para engolir histórias mal contadas. As prisões do mensalão geraram uma dúvida: de que tamanho precisa ficar o embaraço para que o brasileiro, já tão habituado ao papel de tolo, possa considerá-lo aceitável? A paciência parece ter diminuído. Além das gavetas, a desfaçatez encheu o saco.

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