O BRASIL NA LIDERANÇA DO TRÁFICO INTERNACIONAL DE DROGAS

‘Estado fraco’ põe Brasil na liderança da rota internacional de drogas
Por Victória Brotto (*)
A região do Magreb, no norte da África, é a nova rota do tráfico internacional de cocaína. Lá, a droga, saída da América Latina, é transportada até a Europa pelo grupo terrorista islâmico Al-Qaeda, que no norte africano toma a denominação de Grupo Salafista para a Pregação e o Combate.
A fim de lucrar com o mercado bilionário de cocaína, os terroristas cobram dos traficantes latino-americanos uma espécie de tributo para que o entorpecente chegue aos europeus. Mas antes de cair nas mãos da Al-Qaeda, a cocaína é escoada pelo Brasil, “líder na rota do tráfico”.
É o que revela um relatório sigiloso, de março deste ano, intitulado “Vínculos do islamismo com o narcotráfico e com o crime organizado na América Latina”, elaborado por alguns dos principais serviços secretos do mundo. O Diário do Comércio teve acesso ao documento, sob condição de que não revelasse as fontes, também checadas.
Diversas guerrilhas, grupos criminosos, movimentos libaneses e grupos terroristas africanos estão envolvidos no esquema.
Além das Farc e da Al Qaeda, aparecem citados no documento os guerrilheiros mulçumanos sunitas do Mali e da Nigéria, os tuaregs, o Movimento Nigeriano pela Justiça, as Forças Revolucionárias do Saara, as Bandas emergentes en Colombia (BACRIM), organização mafiosa colombiana e o grupo guerrilheiro também colombiano, Exército de Libertação Nacional (ELN).
Tudo para fatiar um bolo que, segundo o relatório da ONU, “Mercado Transatlântico de Cocaína”, datado de 2011, rendeu aos traficantes da América Latina US$ 18 bilhões, em 2009. Para as regiões norte e centro da África, onde está localizado o Magreb e uma parte do Saara, o lucro é menor, mas ainda expressivo: US$ 900 milhões por ano.
Segundo investigações conjuntas dos Ministérios da Defesa da Espanha e da Argélia, 86% da cocaína que entra na Europa vieram diretamente da América Latina e 13% passaram pela África”.
O BRASIL NA ROTA
Segundo o relatório, a droga sai de avião de países como a Venezuela, Peru, Bolívia e Colômbia, com a participação das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) e, no Brasil, grupos nigerianos colocam a droga em contêineres, em navios, ou utilizam as chamadas “mulas”, pessoas comuns que transportam ilegalmente a droga dentro de aviões.
E, de acordo com o relatório, o solo brasileiro é território-chave para os traficantes. “Em um Relatório da Situação do Narcotráfico publicado em 2013 pela Ameripol, afirma-se que o Brasil é o líder da rota do narcotráfico à África”, diz o documento.
“Grupos nigerianos controlam 30% da cocaína que se exporta, via marítima, desde o Brasil, e cerca de 90% das ‘mulas’ ou ‘correios’ que vão por rotas aéreas são enviadas por nigerianos que moram em São Paulo.”
Os motivos pelos quais o Brasil parece atrair o tráfico internacional de drogas afunilam-se no que o relatório chama de “Estado fraco”.
“Na América Latina, alguns estados não têm controle pleno de seu território”, afirma o texto. “Em zonas de floresta e fronteiriças, inclusive centros urbanos como a tríplice fronteira entre Argentina, Paraguai e Brasil, o controle estatal é deficitário ou até inexistente.”
A AL-QAEDA E AS FARC
Em março de 2013, a polícia da Argélia prendeu dois colombianos por tráfico de cocaína, um deles, segundo informa o relatório, era integrante das Farc. Ambos entregariam a droga para terroristas da Al Qaeda, que a levariam até a Turquia, na Europa.
“Em troca de garantir o transporte de cocaína, os terroristas recebiam dinheiro e armas, muitas delas compradas na Líbia depois da queda de Muamar Gadafi”.
“Apesar de muitos serviços secretos terem se passado por integrantes da Farc para tentar flagrar situações de tráfico com a rede terrorista de Bin Laden, esta é a primeira vez que se comprova a relação entre a Al-Qaeda e a guerrilha colombiana”, acrescenta o texto.
Segundo o relatório, a associação entre terroristas e traficantes latinos não segue nenhum protocolo religioso ou ideológico. “Os casos mostram a complexidade do fenômeno. Vários países, povos católicos e mulçumanos, estão envolvidos. Razões ideológicas nem religiosas importam, o que importa é combinar interesses e forças para garantir o lucro de cada parte.”
Este envolvimento de terrorismo com narcotráfico aconteceu, segundo o texto, porque desde 2001, com a guerra ao terror, os grupos terroristas perderam território e o financiamento de muitos governos. “As normas expedidas pelo Conselho de Segurança da ONU dificultaram severamente a possibilidade de financiamento estatal de grupos terroristas”, afirma.
Assim, estes grupos buscam outros braços de financiamentos, um deles, os narcotraficantes que encontram solo fértil em países mais pobres, com dificuldades de monitoramento de fronteiras, como o Brasil, e no que o relatório chama de “locais onde existe o fator bolivariano”.
O FATOR BOLIVARIANO
Dentre as acusações mais graves do relatório está a endereçada ao governo póstumo de Hugo Chávez, na Venezuela, e do sucessor, o atual presidente, Nicolás Maduro. Segundo o documento, ambos defenderam em público acordos de paz com as Farc em prol do fim do narcotráfico e da guerrilha armada, mas, por trás, foram os maiores financiadores da rede em questões criminosas, como o próprio tráfico internacional de cocaína.
“Hugo Chávez, e agora Nicolás Maduro, usaram o governo colombiano e seus interesses para chegar a um acordo com as Farc e com a ELN em prol de uma guerra contra o narcotráfico; quando, na verdade, a sua política é de validar e garantir o plantio, a produção, a distribuição e a comercialização de drogas”, diz o texto. E acrescenta que o governo Venezuelano é formado por mafiosos. “O regime chavista se nega a cooperar porque parte de suas autoridades fazem parte da máfia”.
Nos seis parágrafos seguintes, o relatório cita casos de ex-militares venezuelanos envolvidos com transporte de até 52 toneladas de cocaína colombiana para os Estados Unidos, além de ministros e funcionários do “círculo íntimo” do ex-presidente Chávez que estariam financiando as Farc. Entre os nomes, estão Ramón Rodríguez Chacín, ex-ministro do Interior – amigo pessoal de membros do secretariado das Farc – e Adam J. Szubin, diretor do Setor de Controle de Ativos Estrangeiros (OFAC).
“A extrema ideologização da chamada ‘Revolução Bolivariana’ converteu todos os inimigos dos Estados Unidos e de Israel em aliados, dentre os quais estreitou relações com o Irã e fortaleceu laços com o Hezbollah”, explica o texto.
E, nas últimas páginas, o relatório acrescenta que, no Líbano, o Hezbollah, estaria treinando jovens venezuelanos para lutar em uma possível intervenção americana. “As informações que temos indicam que o grupo terrorista pode estar treinando jovens venezuelanos para enfrentar uma guerra em caso de uma hipotética intervenção norte-americana.”

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