DA MÍDIA SEM MORDAÇA - 20-01-14
NA FOLHA DE SÃO PAULO
Na Copa, aeroporto do Ceará poderá ter terminal de lona
RICARDO GALLO
DE SÃO PAULO
Por causa dos atrasos nas obras de ampliação do aeroporto de Fortaleza, o governo federal trabalha com a possibilidade de fazer um terminal provisório de passageiros para a Copa do Mundo no local.
Com apenas 25,9% das obras concluídas até dezembro, o caso cearense é o mais grave para o governo.
A Copa começa no dia 12 de junho. Salvador e Cuiabá também têm atrasos que estão preocupando Brasília.
Editoria de Arte/Folhapress
Segundo o ministro Moreira Franco, da Secretaria de Aviação Civil da Presidência da República, o consórcio responsável pelas obras no aeroporto de Fortaleza "visivelmente não tem condições" de entregá-las no prazo.
"Constatei um atraso excessivo. A opção agora é construir alternativas." O status das obras, diz, é "crítico".
O plano B em estudo é erguer um terminal provisório, chamado pela Infraero de MOP (Módulo Operacional), estrutura pré-fabricada, com forro de lona e climatizado, para dar conta da demanda. eles ja foram construídos em Guarulhos (terminal 4) e Florianópolis, entre outros.
As outras opções, consideradas menos prováveis pelo governo, são dar continuidade às obras com outra empresa ou pressionar o consórcio atual a cumprir os prazos.
"Se fico satisfeito? Claro que não", disse Moreira Franco, sobre o constrangimento causado pelos atrasos às vésperas da Copa do Mundo.
O martelo será batido hoje, em visita de Moreira Franco ao Ceará. Representantes da Anac e da Infraero também estarão no local.
O aeroporto de Fortaleza tem capacidade para 6,2 milhões de passageiros por ano. A demanda prevista para este ano é de 6,8 milhões de passageiros/ano, segundo a Infraero, que gere o terminal.
As obras para a Copa pretendiam elevar a capacidade do terminal para 8,6 milhões por ano, o que atenderia à demanda. Segundo o Portal da Transparência do governo, a obra custará R$ 383,8 milhões -dos quais apenas 10% haviam sido executados.
ATRASOS
Mas o projeto atrasou ao menos oito meses: o plano inicial da Infraero era começar as obras em outubro de 2011; o início só ocorreu em junho do ano seguinte.
O último prazo de entrega, segundo a estatal, era março deste ano.
Os problemas com a execução fizeram a Infraero aplicar duas multas ao consórcio CPM Novo Fortaleza, formado pelas empresas Consbem, Paulo Octávio e MPE, no valor total de R$ 1,140 milhão.
A estatal disse estar adotando "as medidas legais cabíveis em contrato" e que está monitorando o consórcio para cumprir o cronograma.
A Folha conseguiu contato com a MPE, uma das integrantes do consórcio de Fortaleza. Segundo a empresa, a responsável pelas obras é a Consbem. A reportagem não encontrou o diretor da Consbem responsável pelas obras.
Ao ser questionado sobre as construções em curso no aeroporto de Cuiabá, onde também cogitou-se os terminais de lona, o ministro Moreira Franco descartou, em princípio, a construção de terminais provisórios na capital de Mato Grosso.
"A hipótese [do terminal provisório] é Fortaleza." Em Cuiabá, 40% das obras estavam prontas em 30 de novembro, segundo a Infraero.
NA COLUNA DIÁRIO DO PODER
Para mostrar prestígio em Brasília, anualmente senadores e deputados trombeteiam a destinação de emendas ao Orçamento da União para sua base eleitoral, dinheiro “carimbado” para obras de pequeno vulto, como escola, ponte, uma pequena estrada, desde que não ultrapasse o limite de R$ 15 milhões. Mas é tudo jogo de cena: a maioria das emendas jamais é executada, como cheque pré-datado sem cobertura.
Nesse faz-de-conta, políticos fingem nos palanques que têm a ver com recursos previstos no orçamento e liberados sem a intervenção deles.
Os branquelos da Noruega, da Dinamarca e da Inglaterra devem estar pensando em se pintar de preto para vir à Copa, com o atual esforço de ministros oportunistas para abrir uma perigosa guerra racial.
NA COLUNA DO AUGUSTO NUNES
Publicado na edição impressa de VEJA
J. R. GUZZO
Velhos marinheiros dos sete mares contam até hoje, geralmente em voz baixa, a história do Flying Dutchman. Não é uma história confortável. O Flying Dutchman, ou Holandês Voador, levantou âncora das docas de Amsterdã em 1751, rumo a Java, e depois de uma tormenta no Cabo da Boa Esperança nunca mais foi visto; naufrágio com perda total da carga e da tripulação, publicou-se nos boletins marítimos da época. O grande problema é que, alguns anos depois, o navio holandês foi visto outra vez, velejando a todo o pano, o leme firme, como se estivesse rumando para um lugar preciso, e com a mais perfeita ordem no tombadilho; não era, de jeito nenhum, um barco que tinha afundado e depois, por algum fenômeno natural, voltado à tona. Outro problema, já bem maior, é que não havia nenhum ser vivo (ou morto) ali dentro. Os tripulantes do barco que tinha feito a descoberta subiram a bordo e minutos depois, aterrorizados, chisparam de volta a seu navio e sumiram no horizonte. Desde então a lenda insiste que o Flying Dutchman continua aparecendo nos oceanos, sempre em noites de tempestade; é a famosa “nau sem rumo”. Foi cometida a bordo, explicam os velhos marujos, alguma abominação prodigiosa, tão horrível que nem o demônio tem coragem de tocar no assunto. Tudo o que se sabe é que o navio foi amaldiçoado ─ e a alma de seus tripulantes condenada a navegar eternamente pelo mar sem fim.
E se em lugar de Flying Dutchman falassem de “um país chamado Brasil”? Em 1º de janeiro de 2003, sob o comando do almirante de esquadra Lula da Silva, ele levantou ferros do Lago Paranoá falando em vencer mares nunca dantes navegados e em edificar um novo reino social. Hoje, onze anos após a partida e já sob o comando da imediata Dilma Rousseff, a nau continua a procurar o reino que tinha prometido. Ao contrário do barco holandês, o navio brasiliense está abarrotado de gente; só de ministros são quase quarenta, e contando os subs, mais os subs dos subs, a coisa vai para a faixa dos milhares de tripulantes. Mas está na cara que os fantasmas do Flying Dutchman levam o seu barco muito melhor que os humanos de Dilma; pelo menos sabem o que estão fazendo.
Já o nosso navio ─ bem, é certo que algo deu fabulosamente errado com ele. Não navega para lugar nenhum. A tripulação não sabe distinguir proa de popa, e acha que o contrário de bombordo é mau bordo. A nau não perdeu o rumo ─ na verdade, nunca chegou a saber que rumo era esse. Como poderia saber alguma coisa, se a esta altura da viagem o presidente do Senado, Renan Calheiros, ainda requisita um avião militar para levá-lo de Brasília ao Recife, onde foi implantar 10 000 fios de cabelo numa clínica para carecas? O problema, é óbvio, não está com Renan; ele é assim mesmo. O problema é de quem manda nos aviões ─ a cadeia de comando da Aeronáutica, que só em 2013 já deixou o senador lhe passar a perna duas vezes.
Nesta última, foi ao extremo de soltar uma nota oficial dizendo que não iria avaliar “o mérito” da viagem, e que sua função se limita a fornecer “a aeronave” solicitada. Como assim? Se os senhores brigadeiros não avaliam o mérito ─ e a legalidade ─ de seus próprios atos, que raio estão fazendo nos seus postos? Estamos falando da Força Aérea Brasileira, santo Deus. A lei diz que os aviões da FAB só podem ser utilizados por autoridades em atos de serviço, questões de segurança e emergência médica. Em qual caso se encaixariam, aí, os 10 000 fios de cabelo do senador?
A lei diz também que desrespeitar essa norma é “infração administrativa grave”, passível de punições “civis e penais”. O comandante da FAB que serviu de piloto particular para Renan poderia perfeitamente ter pedido ao senador, com toda a educação, que lhe fizesse uma curta descrição por escrito, assinada embaixo, contando que serviço iria fazer no Recife ─ “mera formalidade, doutor, só isso””. Por que não agiu assim? Porque tem certeza, como toda a tripulação, de que está numa nau sem rumo onde cumprir a regra só dá confusão.
O navio Brasil está precisando de muita coisa. Uma delas é um oficial macho, que tenha entre os seus valores a decência comum, e que um belo dia diga algo assim: “Sinto muito, Excelência, mas a lei me impede de atender à sua solicitação”. Iríamos ver, aí, quem entre os seus superiores hierárquicos teria a coragem de prendê-lo por “insubordinação”, enquanto Sua Excelência ficaria livre, contando vantagem do tipo “comigo ninguém brinca”. Nesse dia abrirá falência o Táxi Aéreo FAB ─ e nosso navio, talvez, comece a encontrar seu rumo.
NO BLOG DO CORONEL
O governo federal acumulou e mantém em caixa R$ 1,065 bilhão que, por lei, deveria ser empregado para construir e modernizar o sistema penitenciário nacional. Este é o saldo atual do Fundo Penitenciário Nacional (Funpen), constituído pelo repasse de parte dos recursos arrecadados pelas loterias da Caixa Econômica Federal. De acordo com dados do Departamento Penitenciário Nacional (Depen), este fundo incorpora R$ 300 milhões por ano, em média. Mas a maior parte de todo esse dinheiro não é investida nas prisões, como é previsto na Lei Complementar n.º 70: esta determina que ele deveria "financiar e apoiar as atividades e programas de aprimoramento" do sistema penitenciário. No ano passado, o Funpen foi autorizado a investir R$ 384,2 milhões na construção e na reforma de presídios em obras administradas pelos governos estaduais. Mas apenas R$ 40,7 milhões, 10,6% desse total, foram efetivamente aplicados. Leia mais no Estadão.
Os Estados Unidos fecharam 2013 com uma taxa de 7% de desemprego, o equivalente a 10,9 milhões de desempregados, um indicativo forte de que o pior da crise já passou. Enquanto isso, o Brasil do PT e da Dilma abre 2013 com uma taxa de desemprego de 7,4%, comprovando o que todos já sabiam, mas que as mentiras oficiais escondiam. Temos, no Brasil, 61 milhões de pessoas em idade de trabalhar que não conseguem emprego. Abaixo, artigo de Gustavo Patu, publicado na Folha de São Paulo.
Adeus ao pleno emprego
No começo de seu segundo mandato, Lula foi abençoado por uma mudança na metodologia utilizada pelo IBGE para medir o crescimento da economia do país, com revisão dos resultados apurados nos anos anteriores.
De um dia para o outro, o Brasil estava melhor do que se imaginava. Anos tidos como fracos se tornaram razoáveis, e os medíocres passaram a bons; o presente, que de fato mostrava progressos, já estava ótimo. Era apenas, obviamente, uma nova métrica --ninguém havia ficado mais rico ou mais pobre. Mas imagem não é pouca coisa: os indicadores mais favoráveis facilitaram a obtenção do ambicionado grau de investimento, atestado de solidez concedido por agências especializadas. A retomada econômica ficou mais evidente e virou trunfo político.
Passados os anos de bonança, com Dilma Rousseff a caminho de sua campanha reeleitoral, o IBGE inaugurou uma nova e mais completa medição dos índices de desemprego. Desde a manhã da última sexta-feira, o mercado de trabalho não é mais tão favorável como parecia.
Apurado em todo o país, o percentual de desocupados não está mais abaixo dos 6%, patamar que encorajou especialistas e propagandistas a falar em pleno emprego --e tratado por Dilma, nos momentos de maior entusiasmo, como a menor taxa do mundo (uma das menores, ao menos) ou de nossa história.
O índice divulgado foi de 7,4%, numa diferença grande o bastante para levar o desemprego nacional a superar, por exemplo, o dos Estados Unidos, que mal e mal se recuperam de uma crise de raras proporções.
A fotografia mais ampla mostra ainda o que o Brasil tem de precário e desigual: 61 milhões em idade de trabalhar estão fora do mercado; no Nordeste, um em cada dez busca uma vaga sem conseguir. De novo, apenas uma nova métrica. Mas imagem não é pouca coisa, ainda mais perto da eleição.
NO BLOG DO REINALDO AZEVEDO
NO BLOG DO JOSIAS
Na política, a hipocrisia é o outro nome da virtude. Nos partidos e nos governos, nenhuma outra característica é tão comum. Mas alguns tropeçam. Quando o PSDB se declarou chocado com o lero-lero de que Lula não sabia do mensalão, jamais imaginou que mais tarde iria sustentar a tese segundo a qual nenhum dos seus três governadores de São Paulo sabia do propinódromo Siemens-Alstom. Pode-se acreditar em muita coisa, mas é bem mais fácil duvidar dos dois lados.
Na penúltima novidade sobre as traficâncias paulistas, os repórteres Mario Cesar Carvalho e Flávio Ferreira dão notícia de um documento apreendido na sede da Alstom, na França. A peça carrega novos indícios de pagamento de propinas num negócio de US$ 45,7 milhões. Coisa fechada em 1998, sob Mario Covas. Aqui, os detalhes. Aqui, o outro lado. Abaixo, uma ilustração útil.
Considerando-se que nas últimas eleições os escândalos não impediram o petismo de prevalecer no plano federal e nem desbancaram o tucanato na cena estadual, pode-se intuir o seguinte: a hipocrisia funciona porque o eleitor brasileiro cumpre o seu papel… de otário. Poucos são otários por ingenuidade. A maioria sabe que recebe uma política para otários. Mas só de raro em raro sucede um surto de revolta como o ronco de junho de 2013. É como se no Brasil a hipocrisia tivesse virado uma forma de patriotismo.
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