UMAS E OUTRAS DO HELIO FERNANDES - 08-6-2013

Guantánamo: em nome do ‘patriotismo’, uns poucos torturam quase 200 prisioneiros. Em 10 anos, ninguém morreu. O objetivo não é matar e sim aterrorizar e vandalizar.

Helio Fernandes
Identificação unânime entre todos os analistas ou comentaristas: “O presidente dos EUA é o homem mais importante do mundo inteiro”. Não deve ser verdade ou não passa de exagero. Outra unanimidade: Obama, pessoal e individualmente, não é adepto da tortura, não tem nada a ver com isso. Então, porque não acaba com esse horror inacreditável e indefensável das prisões em Guantánamo?
Já prometeu várias vezes, “vou dar um fim a essas torturas”. Não deu. Se é poderoso e repudia esse naufrágio da dignidade humana, então é porque alguma força maior se coloca no caminho. Qual seria? Políticos não têm importância para isso, então deve ser um grupo militar que manda mais de tudo e de todos.
Nem na “guerra fria” se torturou tanto. Só que torturavam dos dois lados, tanto americanos quanto soviéticos. Mas era a “tortura por informação”, havia esse objetivo, nada defensável, mas era a guerra. Gastaram bilhões e bilhões, de lado a lado, não obtinham informações importantes.
Os agentes dos EUA e da União Soviética “delatavam” e forneciam tudo que sabiam, ninguém resiste à tortura. E a pior forma de tortura, a mais cruel, sanguinária e mortal, é quando o torturado nada tem a dizer, e o torturador acredita que ele saiba muito. Então, insiste até o torturado não resistir mais, desfalecer ou mesmo morrer.
No desenrolar da “guerra fria”, americanos e soviéticos criticavam e acusavam seus próprios representantes de “traidores”, por entregarem o pouco ou tudo que sabiam. Finalmente compreenderam a realidade, fizeram um acordo: não haveria mais tortura de um lado ou do outro.
A MUDANÇA DE TÁTICA
O acordo da não–tortura era para valer e tinha que ser cumprido. Se não fosse, voltaria a violência física, mortes desnecessárias. Assim, passaram a investir em espiões duplos, procuravam obter informações de outra maneira. Custavam caríssimo, mas soviéticos e americanos pagavam sem regatear, dinheiro era o que não faltava.
Levantamentos de especialistas chegaram à conclusão: nos 30 anos da guerra fria, 1960 (quando chegou ao auge) até 1991 (o fim da guerra fria e da União Soviética) foram gastos 5 ou 6 vezes mais do que na Segunda Guerra Mundial.
Os americanos jogaram todo o dinheiro possível e imaginável no fim da União Soviética. Conseguiram. Tinham dinheiro fácil, desde o Plano Marshall, que começou logo em 1946, com  o fim da guerra.
A União Soviética arruinou o presente e o futuro, explodindo mais de 70 por cento do orçamento nos gastos com a guerra fria e na fabricação de equipamentos caríssimos.
A União Soviética não conseguia produzir bons liquidificadores, o carro feito por eles, o Lada, não saia do lugar. Mas construía submarinos atômicos que surpreendiam e assustavam os adversários. Foram ao espaço antes dos americanos (com Gagarin, que imortalizou a constatação “a Terra é azul”), não foram à Lua, precisamente por causa da loucura dos gastos militares.
A GUERRA IRÃ-IRAQUE
Destruída a União Soviética (que deveria ter durado mais do que de 1917 a 1991), os aproveitadores ficaram bilionários, explorando o que sobrou. Muitos já sabiam do fim, roubaram tudo que podiam. Meses depois do fim da União Soviética, na lista dos 100 mais ricos da Forbes, estavam 12 russos, já não eram mais soviéticos. Alguns estão pela Europa, donos de times de futebol, asilados em países como a Inglaterra.
A guerra Irã-Iraque, que durou anos, foi toda combatida com armamentos da antiga União Soviética. Tudo vendido por mercenários, que se diziam “ex-soviéticos”. Não eram nada. Mas sem o equipamento militar da antiga União Soviética, não teria havido essa guerra, seria travada “com paus e pedras”, como disse Einstein sobre o que acontecerá depois de uma guerra nuclear.
GUANTÁNAMO: A CRUELDADE PELA
CRUELDADE, A TORTURA PELO PRAZER
DA TORTURA, NENHUMA INFORMAÇÃO

“Guerra é guerra”, dizem todos, defendendo os métodos usados, incluindo a tortura. É de uma certa maneira deplorável, mas temos que concordar, todos estamos sem razão. Como justificar a morte de 60 milhões de pessoas na Segunda Guerra Mundial, a não ser pela necessidade de vitória? Mas em Guantánamo não existe nada disso.
Prisioneiros numa fortaleza construída em 1903 para defender Cuba da invasão da Espanha. E hoje serve de esconderijo para prisioneiros, que pela Constituição do EUA, não podem ficar presos no país. Nem presos nem torturados, a não ser em Guantánamo, que não é território americano.
O “ATO PATRIÓTICO” PERMITE TUDO,
TORNA COMPREENSÍVEL QUALQUER
TORTURA, VIOLÊNCIA, VANDALISMO

O 11/09 transformou a tortura, seja ela qual for, em “defesa contra o terrorismo”. Numa das raras vezes em que o Congresso (Câmara dos Representantes) votou de forma unânime, o presidente era George W. Bush. Os Democratas não queriam votar a FAVOR dele, mas não admitiam, de forma alguma, votar CONTRA a opinião pública.
A partir daí, vale tudo. Bush não tinha nenhum caráter, representava a falta de convicções, se refugiava num patriotismo rombudo, decadente e inexplicável. Só que Obama, qualquer que seja a posição em relação a ele, não tem nada a ver com o que se passa em Guantánamo. Podem fazer o que quiserem, não haverá repercussão, a não ser mutilada ou escondida.
Ao que se sabe, até agora ainda não morreu ninguém, o objetivo não é matar, e sim torturar. São quase 200 prisioneiros, alguns estão lá há mais de 10 anos. Respondem a “crimes não especificados”, e as autoridades não estão interessadas em elucidar e sim em aterrorizar.
Por causa do que poderia ser divulgado como “crime bárbaro”, o poderoso Donald Runsfeld determinou duas formas de comportamento: 1 – Métodos especiais de interrogatório”. 2 – Nesses “métodos de interrogatório”, a “simulação” ganhou prioridade sobre a morte. Essa “simulação” é mais cruel do que qualquer tortura verdadeira. A tortura pode acabar ou até ser desejada pela morte, a “simulação” é uma diversão para os “torturadores-interrogadores”.
(Há quem diga que em Guantánamo repetem o que foi feito há mais ou menos 150 anos com o escritor russo Dostoievski. Condenado à morte por fuzilamento, sofreu barbaramente (o que nunca foi surpreendente na Rússia (antes e depois de 1917), com o que já chamavam de simulação. Depois de muito sofrimento, a morte por fuzilamento foi transformada em 4 anos de prisão, que ele cumpriu).
PS – O que se comenta sobre essas simulações é assustador. Dias e dias sem alimentação, depois comida de meia em meia hora, tinham certeza de que os presos haviam perdido toda a noção de tempo.
PS2 – Tortura com música tão alta que os presos gritavam de desespero, eram “levados à loucura”. Isso foi “inventado” na Inglaterra e utilizado aqui, no famigerado DOI-CODI.
PS3 – Especialistas em opinião pública explicam: “Obama quer acabar com essa selvageria e fechar Gantánamo, já foi alertado que nenhum desses prisioneiros pode ser levado a um tribunal americano.
PS4 – Obama estaria tentando ganhar tempo, até chegar perto do fim de seu mandato. Seria o medo de enfrentar a opinião pública. Ou um julgamento insensato sobre o que pensa e deseja o cidadão americano.

Da Tribuna da Imprensa de 08-6-2013.

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