DA MÍDIA SEM MORDAÇA - 20-6-2013
NA FOLHA DE SÃO PAULO
BERNARDO ITRI
ENVIADO ESPECIAL AO RECIFE
NO BLOG DO REINALDO AZEVEDO
Por Reinaldo Azevedo
NO BLOG DO CORONEL
Ontem, em entrevista acelerada, a líder do Movimento do Passe Livre, Mayara Vivian, afirmou que agora a luta é pelo fim do latifúndio urbano e rural, bem como pela reforma agrária e que nenhum manifestante sofra processo criminal. Ou seja: a luta do MPL passa a ser contra o Estado de Direito, atingindo não mais só o direito de ir e vir, mas também o direito de propriedade. Que o país fique de olho. Em vez de invadir as ruas, vão começar a invadir casas e apartamentos. Nada que o campo brasileiro, que sustenta o país, não conheça pelas mãos do MST e do CIMI.
NO BLOG DO JOSIAS
Protestos pelo Brasil abrem brecha para que Copa custe mais do que os R$ 33 bi estimados
BERNARDO ITRI
ENVIADO ESPECIAL AO RECIFE
A onda de protestos no Brasil, principalmente nas sedes da Copa das Confederações, abre brecha para que a União tenha que desembolsar bem mais do que os R$ 33 bilhões estimados como gastos com os eventos da Fifa.
Isso porque a Lei Geral da Copa prevê que o governo federal deve assumir, perante a Fifa e seus parceiros, os efeitos da responsabilidade por todo e qualquer dano causado por qualquer incidente ou acidente de segurança relacionado às competições.
Portanto, se a Fifa, seus parceiros comerciais, funcionários ou qualquer torcedor se sentir lesado pela onda de protestos, a União terá que assumir a responsabilidade sobre o fato e, consequentemente, bancar a indenização.
As possibilidades de essas punições aconteceram são inúmeras. Por exemplo: se algum torcedor entrar com ação contra a Fifa reclamando que não conseguiu ir ontem ao Castelão --alvo de protestos-- alegando falta de segurança, será a União que terá que ressarci-lo por esse dano.
Sexto protesto contra o aumento das tarifas























Eduardo Knapp/FolhapressAnteriorPróxima
Manifestantes ateiam fogo em mural da Copa, na esquina da Paulista com a Consolação, centro de SP
Obras no Maracanã





















Ricardo Moraes - 07.jun.2013/Reuters
Entorno do Maracanã com obras às vésperas de receber a partida entre México e Itália, pela Copa das Confederações
Eduardo Knapp/FolhapressAnteriorPróxima
Manifestantes ateiam fogo em mural da Copa, na esquina da Paulista com a Consolação, centro de SP
Mais: se por algum motivo de insegurança uma partida tenha que ser atrasada, adiada ou até mesmo cancelada, a União terá que indenizar os detentores dos direitos de transmissão da competição e a Fifa --a venda de direitos de TV é uma das maiores receitas que a entidade tem com a Copa.
"Eu temo que a Copa tenha que ser paga mais uma vez", aponta Wladimyr Camargos, ex-consultor jurídico do Ministério do Esporte e um dos elaboradores da Lei Geral.
"A questão dos direitos televisivos geraria uma multa multimilionária", completa.
Outro fato que abre brecha para que o governo federal seja acionado é ligado à Coca-Cola, patrocinadora da Copa das Confederações. Um painel da empresa que fazia alusão ao torneio foi destruído em São Paulo. A empresa tem direito legal de acionar a União pelo dano sofrido.
Os valores das indenizações não são pré-estabelecidos. Fifa e União deverão entrar em acordo sobre as quantias que deverão ser pagas pelos eventuais danos.
Até anteontem, de acordo com a Advocacia-Geral da União, não havia nenhuma ação relacionada à Copa das Confederações pedindo indenização do governo federal.
Para reforçar a segurança na competição e, assim, evitar que precise pagar indenizações, o Ministério da Justiça vai enviar tropas da Força Nacional às cinco sedes mais preocupantes do torneio --todas, menos Recife.
Oficialmente, a Fifa diz que respeita "os direitos de as pessoas se expressarem e que tem plena confiança no trabalho de segurança das autoridade locais" para o torneio.
O artigo 23 da Lei Geral, que trata da responsabilidade da União sobre a segurança, aliás, é alvo de ação da Procuradoria-Geral da União. O órgão foi ao STF alegando inconstitucionalidade da lei.
Obras no Maracanã
Ricardo Moraes - 07.jun.2013/Reuters
Entorno do Maracanã com obras às vésperas de receber a partida entre México e Itália, pela Copa das Confederações
NA COLUNA DO CLÁUDIO HUMBERTO
Dilma cria
‘parlamentarismo’
com LulaApós as vaias no estádio, a presidenta Dilma prova de novo que não tem assessoria ou independência: a reunião com Lula em São Paulo para aconselhar-se na grave crise que enfrenta, subverte o regime de governo, uma democracia representada por ministros e líderes da Câmara e do Senado. Com eles deveria reunir-se em “regime de urgência”, não interpor o “primeiro-ministro” a quem recorre nas crises.
Conselho há
Há um Conselho da República, previsto na Constituição, cuja função é aconselhar o presidente em casos de instabilidade política.
Catorze membros
O Conselho da presidenta Dilma é composto por 14 autoridades, entre elas os presidentes e líderes do Congresso e outras autoridades.
O grupo de hackers ‘Anonymous’ divulgou nas entranhas da internet um documento que contém informações como CPF, endereço e declaração de renda de mais de 600 autoridades brasileiras, entre elas a presidenta Dilma Rousseff, o ex-presidente Lula, diversos governadores, senadores, deputados federais e estaduais, prefeitos e vereadores. A lista foi compilada e postada por diversos grupos de hackers, entre eles grupos do Líbano, Indonésia e Filipinas. Segundo os dados divulgados pelo Anonymous, é possível rastrear os últimos endereços da presidenta Dilma e até de sua família. Já sobre o ex-presidente Lula, por exemplo, há três apartamentos em São Bernardo do Campo (SP) e outro em Natal (RN) declarados à Receita Federal. Outro alvo dos hackers, o senador Blario Maggi (PR-MT) é um dos mais ricos da lista divulgada pelo grupo de hackers. Seu patrimônio pessoal ultrapassa os R$ 140 milhões. Outros políticos que tiveram os dados divulgados foram: o presidente do Senado, Renan Calheiros, e o líder do governo na Casa, Eduardo Braga, os ministros Celso Amorim (Defesa), Guido Mantega (Fazenda), Paulo Bernardo (Comunicações) e Jorge Hage (CGU), o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, o falecido ex vice-presidente da República, José Alencar, os ex governadores, Paulo Souto (Bahia), Ronaldo Lessa (Alagoas), Waldez Góes (Amapá), Jorge Viana (Acre), Reinaldo Tavares (Maranhão), além dos ex-ministros, Marina Silva, Márcio Thomaz Bastos, Patrus Ananias, Walfrido dos Mares Guia, Luiz Marinho, Silas Rondeau, Luiz Furlan, Waldir Pires e Gilberto Gil.
Lula Ltda.
A declaração de bens mostra que Lula não é proprietário de apenas um, mas de três apartamentos em São Bernardo do Campo (SP).
Ficha completa
Entre os dados divulgados pelos hackers “Anonymous” estão sete telefones do ex-presidente Lula e dois celulares: final 4845 e 1758.
Pegos de surpresa
Em reunião na terça, os líderes da base e da oposição passaram mais de meia hora discutindo sobre os protestos que tomaram conta do país.
Base abalada
Experiente, o vice Michel Temer (PMDB) cancelou a viagem a Israel, mas o presidente da Câmara, Henrique Alves, continua na Rússia.
Exploração
Uma Coca-Cola custava R$ 8 no restaurante da Fifa durante o jogo no estádio Castelão, em Fortaleza (CE). E sem nota fiscal.
O preço da estupidez
Multinacional de telecomunicações queria investir em Brasília mais de R$ 1 bilhão em empresa ligada ao setor decall center, contratando 4 mil pessoas, mas desistiu após decisões do Tribunal Superior do Trabalho contra terceirização nas teles. Agora vai investir no Chile.
Tensão
Além da PEC37, que limita poder de investigação do Ministério Público, promotores e procuradores temem aprovação de proposta que inclui as polícias civil e federal na composição do Conselho Nacional do órgão.
Barbas de molho
Ressabiada com protestos que “tomaram” sua pauta, a oposição está tão surpresa quanto o governo com o recado das ruas de que não é bem-vinda. Mas seus líderes agem como se não fosse com eles.
NO BLOG DO NOBLAT
FRASE DO DIA
"Em vez de assumir seu papel de presidente, Dilma pega um avião para se aconselhar com Lula. Fica claro quem é que está no comando." (Deputado Sérgio Guerra (PSDB-PE) sobre a reunião de Dilma Rousseff com o ex-presidente Lula para discutir os protestos no país)
Inflação derruba popularidade de Dilma
Estadão
A deterioração da popularidade da presidente Dilma Rousseff, detectada pela pesquisa da Confederação Brasileira da Indústria (CNI)/Ibope, revelou que o script adotado pela oposição de bater na tecla da inflação surtiu efeito e deixou o governo derrotado na “batalha do tomate”. A expressão foi usada pelos próprios petistas numa referência à fruta vilã da alta dos preços, cujo aumento no acumulado do ano foi de 51,6% segundo o IBGE.
Com margem de erro de dois pontos percentuais, para mais e para menos, a pesquisa foi realizada entre os dias 8 e 11 de junho, período anterior ao auge das manifestações de rua que tomaram conta de diversas cidades, originadas por um protesto contra o aumento das tarifas de ônibus. Não detectou o grau de aderência na imagem dos políticos, incluindo a da presidente, das manifestações e protestos dos últimos dias. Foram entrevistadas 2002 pessoas em 143 municípios.
De acordo com o levantamento divulgado nesta quarta-feira, a proporção dos que consideram o governo ótimo ou bom caiu de 63% para 55% em relação à última pesquisa, de março. Já os que consideram o governo ruim ou péssimo cresceu de 7% para 13% – o que, segundo a CNI, é o maior porcentual desde o início do governo Dilma. Outros 32% consideram o governo regular.
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Dilma e Lula pressionam e Haddad cede
Vera Rosa e Adriana Ferraz, Estadão
O prefeito Fernando Haddad (PT, foto abaixo) resistiu até o último minuto a bancar com recursos municipais a redução da tarifa de ônibus para R$ 3 porque queria que o governo Dilma Rousseff promovesse nova desoneração fiscal. A presidente, porém, não concordou com a nova ajuda, forçando Haddad a reduzir o preço da passagem com dinheiro da Prefeitura.
As declarações do prefeito, de dirigentes do PT e de ministros, ao longo do dia, expuseram as divergências entre Haddad e o governo federal. Dilma e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pressionaram o prefeito, em conversa na terça-feira à noite, a recuar no preço da tarifa do transporte coletivo, na tentativa de conter a forte onda de protestos nas ruas. A preocupação do Palácio do Planalto é com o impacto das manifestações na imagem de Dilma, candidata à reeleição, e de governantes do PT, num momento de escalada da inflação, juros altos e baixo crescimento.
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Direção do PT recomenda a seus governos que reduzam tarifas
Fernanda Krakovics, O Globo
Momentos depois de o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), e do Rio, Eduardo Paes (PMDB), anunciarem a redução das tarifas de transportes públicos, a direção nacional do PT divulgou nota na noite desta quarta-feira recomendando que as administrações petistas reduzam o preço das passagens do transporte coletivo e, no médio prazo, discutam soluções para um novo financiamento do setor.
“Diante das demandas por transporte de melhor qualidade e barato, o Diretório Nacional do PT recomenda aos nossos governos que encontrem uma resposta necessária, que, no curto prazo, reduza as tarifas de transporte e, num médio prazo, em conjunto com os governos estadual e federal e com ampla participação popular, discuta soluções para um novo financiamento público da mobilidade urbana”, afirma o texto assinado pelo presidente do PT, Rui Falcão (foto abaixo)
Rio e SP anunciam redução de tarifa, mas protestos continuam
G1
As administrações de São Paulo e Rio de Janeiro anunciaram a redução dos preços das tarifas do transporte público, após mais de uma semana de grandes protestos nas ruas, que persistiam nesta quarta-feira. Porto Alegre, Cuiabá, Recife e João Pessoa já haviam decretado a redução das tarifas dos transportes públicos.
Grandes manifestações estão programadas para esta quinta-feira nas principais cidades do país, especialmente no Rio de Janeiro, onde um enorme protesto na segunda-feira reuniu mais de 100 mil pessoas e terminou em violência na zona da Assembleia Legislativa (Alerj), com vários feridos.
Com 30 mil, protesto no Castelão tem feridos
Lauriberto Braga, Estadão
Antes de irem embora os manifestantes do movimento "Mais Pão, Menos Circo" deixaram um rastro de destruição no entorno da Arena Castelão. Foram destruídas placas de boas vindas para a Copa das Confederações, placas de obras de mobilidade urbana e vasos colocados nos canteiros dos acessos ao estádio, onde o Brasil ganhou por 2 a 0 do México.
Calculado em 30 mil manifestantes pela organização do movimento, o protesto que começou às nove da manhã durou momentos depois do início da partida às 16 horas. O momento mais tenso aconteceu por volta do meio dia quando os manifestantes resolveram marchar para Arena Castelão em enfrentaram um cordão de isolamento feito pelo Batalhão de Choque da Polícia Militar.
Padilha diz que vai 'analisar' texto do Ato Médico
Lígia Formenti, Agência Estado
O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, afirmou nesta quarta-feira que o governo vai "analisar com muito detalhe" o texto do projeto de lei do Ato Médico, aprovado nesta terça-feira, 19, no Senado. Ele argumentou que a proposta sofreu uma série de mudanças ao longo da tramitação. "É importante valorizar a profissão médica, é importante garantir a proteção para pacientes, mas é muito importante manter o conceito de equipes multiprofissionais", completou.
O texto, aprovado depois de 11 anos de tramitação, reserva aos médicos a atribuição para diagnóstico e prescrição de terapias, regra que pode trazer uma série de problemas para o atendimento na rede pública de saúde, sobretudo nos casos das doenças negligenciadas. Um dos alicerces da assistência é o atendimento por equipes. "Todos nós, inclusive nós médicos aprendemos sobre a importância de uma equipe", completou o ministro. O texto agora terá de ser submetido à sanção da presidente Dilma Rousseff.
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OAB pede regulamentação do direito do consumidor de serviços públicos
O Globo
A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) afirma que parte de uma emenda à Constituição não está sendo cumprida: a que define que deve ter uma regulamentação para a defesa dos usuários de serviços públicos. O presidente do órgão, Marcus Vinicius Furtado, entrará na quinta-feira, no Supremo Tribunal Federal (STF), com uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (Adin) por omissão, para obrigar o Congresso a fixar um prazo que essa regulamentação seja feita.
Furtado afirma que a falta dessas regras de proteção ao consumidor de serviços públicos é um grave problema do Brasil. A entrada com o pedido acontece no momento em que manifestações em todo o país protestam contra o aumento do preço dos transportes e por mais qualidade nesses serviços. “Queremos a aplicação do código de processo do consumidor enquanto não for aprovada a lei de proteção ao usuário dos serviços públicos", disse Furtado em nota da entidade.
Leia mais em OAB pede que STF obrigue Congresso a regulamentar direito do consumidor de serviços públicos
Associações sul-americanas condenam lei de imprensa do Equador
O Globo
Associações de meios de comunicação de seis países da América do Sul - entre eles o Brasil - condenaram nesta quarta-feira a lei que aumenta o controle sobre a imprensa no Equador e que foi aprovada no dia 14 pela Assembleia Nacional. Num comunicado, as entidades manifestam preocupação e advertem sobre os efeitos que a chamada Lei Orgânica de Comunicação pode ter sobre a liberdade de expressão, o trabalho dos jornalistas e o controle das informações divulgadas no Equador.
Chamada de “lei da mordaça” por opositores e comemorada pelo governo equatoriano, a legislação polêmica cria órgãos de fiscalização e punição de jornalistas e meios de comunicação. Por um lado, o chamado Conselho de Regulação e Desenvolvimento da Informação e Comunicação, formado por cinco integrantes do poder público, controlará o conteúdo dos meios de comunicação relacionado à violência ou considerado discriminatório.
NO BLOG DO REINALDO AZEVEDO
Pelos menos 600 protestam contra a corrupção em frente ao prédio de Lula
Em São Bernardo, também houve protestos contra a tarifa de ônibus. À noite, um grupo de pelo menos 600 manifestantes se dirigiu para um prédio da avenida Francisco Prestes Maia para gritar palavras de ordem contra a corrupção. A cobertura abriga uma celebridade e tanto: Luiz Inácio Lula da Silva.
Por Reinaldo Azevedo
Os liberais do miolo mole coloquem o burro na sombra: movimento que está nas ruas provocará uma reciclagem do PT pela esquerda, poderá tornar o resultado das urnas ainda mais inóspito para a democracia e a racionalidade e tentará deixar o país à mercê de grupelhos organizados. E a nota asquerosa do PT
Alguns dos ataques mais duros e irrefletidos que sofri nesses dias partem de pessoas que se dizem “libertárias”. Também elas não têm simpatia pelo petismo, dizem-se liberais em economia e, de tal sorte detestam o estado que, no limite, flertam com o fim das Forças Armadas e até da polícia. Execram-me por vários motivos, mas particularmente por conta do meu “conservadorismo”, especialmente no que concerne ao aborto (são favoráveis) e à legalização das drogas — favorabilíssimos. Alguns, tomados de uma cegueira verdadeiramente missionária, acham que eu não deveria nem mesmo ter o direito de escrever. Acreditam que a causa do libertarismo estaria melhor se eu fosse censurado. É um jeito de ver o mundo. Essas pessoas se encantaram, a exemplo de muitas outras que não gostam do PT, com esse movimento em favor da redução das tarifas de ônibus e também tomam a causa como metonímia, a parte pelo todo. Como é mesmo aquele cartaz? “Não é por 20 centavos, é por direitos”. Então tá.
Políticos de oposição forçam um pouco a mão para tentar ver nos protestos uma rejeição ao governo Dilma e a alguns de seus insucessos. O Financial Times também fez isso (ver post). Junto com a luta pela redução da passagem, passamos a ouvir protestos contra a corrupção e a gastança de dinheiro com a Copa do Mundo. Criou-se até uma falsa oposição — essencialmente desinformada (falarei mais a respeito em outro post), entre “hospitais” e “estádios”, entre “saúde e educação” e Copa. Garotas e garotos de classe média, parte deles insuflada por seus professores papo-cabeça de escolas caras, também foram às ruas por mais cidadania. Aquela gente saudável, de pele boa (vitaminas balanceadas na infância), neófita em protestos, acabou conduzindo muitos observadores a severos, severíssimos enganos. Já volto a este ponto. Preciso abrir aqui um parêntese longo.
Parêntese de cinco parágrafos
O Movimento Passe Livre se fortaleceu em São Paulo em 2011, embora seja mais antigo, com o apoio entusiasmado do PT. Foi o partido que ajudou a lhe dar visibilidade nas redes sociais. Petistas que agora estão lastimando a difícil situação em que acabou ficando o prefeito Fernando Haddad discursaram, então, em defesa do movimento e contra Gilberto Kassab por conta do reajuste da passagem naquele ano. Escrevi muitos textos então, procurem em arquivo, apontando que vários de seus militantes eram jovens que estudavam nas mais caras escolas privadas de São Paulo. Num post do dia 25 de janeiro de 2011, depois de essa gente promover uma bagunça danada na reabertura da Biblioteca Mário de Andrade, destaquei num texto o ideário do Passe Livre, que está na página do movimento. Muita gente se esqueceu dele, mas eu lembro:
O Movimento Passe Livre se fortaleceu em São Paulo em 2011, embora seja mais antigo, com o apoio entusiasmado do PT. Foi o partido que ajudou a lhe dar visibilidade nas redes sociais. Petistas que agora estão lastimando a difícil situação em que acabou ficando o prefeito Fernando Haddad discursaram, então, em defesa do movimento e contra Gilberto Kassab por conta do reajuste da passagem naquele ano. Escrevi muitos textos então, procurem em arquivo, apontando que vários de seus militantes eram jovens que estudavam nas mais caras escolas privadas de São Paulo. Num post do dia 25 de janeiro de 2011, depois de essa gente promover uma bagunça danada na reabertura da Biblioteca Mário de Andrade, destaquei num texto o ideário do Passe Livre, que está na página do movimento. Muita gente se esqueceu dele, mas eu lembro:
“O MPL deve ter como perspectiva a mobilização dos jovens e trabalhadores pela expropriação do transporte coletivo, retirando-o da iniciativa privada, sem indenização, colocando-o sob o controle dos trabalhadores e da população. Assim, deve-se construir o MPL com reivindicações que ultrapassem os limites do capitalismo, vindo a se somar a movimentos revolucionários que contestam a ordem vigente.”
Assim, a suposição de que o Movimento Passe Livre pudesse ou possa ser, de algum modo, útil a causa da alternância de poder no país é uma bobagem. Sua visão de mundo, já escrevi aqui algumas vezes, é o do petismo primitivo. “E por que tantos jovens?” Porque o movimento é mais organizado do que parece. Trata-se de uma piada tosca essa história de que não passam de idealistas movidos pela espontaneidade e pelo espontaneísmo. O grupo tem “representantes” em várias escolas particulares do ensino médio de São Paulo — curiosamente (ou nem tanto), praticamente inexiste nas públicas. Na campanha de 2012, a turma do Passe Livre e outros movimentos de esquerda organizados nas redes sociais apoiaram, claro!, Fernando Haddad, que só conhecia, até estes últimos dias, a mobilização das redes a favor. Agora experimentou o que é estar do outro lado do linchamento virtual.
Essa causa, é bom notar, não “pegou” só agora. O Passe Livre já mobilizava algumas centenas naquele 2011. Inovou, desta feita, na ousadia. Não mais intervenções para submeter autoridades a constrangimentos. Nada disso! O negócio era paralisar a cidade, criar transtornos, provocar a polícia. Até aquela quinta-feira, dia 13 de junho, do grande confronto em São Paulo, a turma não vinha mobilizando mais do que 5 ou 6 mil pessoas. Os vândalos, à diferença do que se tem tentado firmar como verdade, já eram parte da equação. Ônibus eram pichados, chutados, a cidade era empurrada para o caos.
A repressão policial — e gente que sai por aí depredando tem mesmo de ser reprimida — acabou ferindo alguns jornalistas, o que mexeu com o espírito de corpo. Os coleguinhas aceitavam de bom grado ser hostilizados pelos manifestantes — porque isso já vinha acontecendo —, mas pela polícia? Isso não! Entendo que as duas coisas são inaceitáveis. Eventuais excessos (que precisam ser apurados e, se comprovados, punidos) foram tomados como exemplares da ação da Polícia Militar, que já é, em regra, odiada pelo jornalismo. Por quê? Fica para outro texto. Fez-se um escarcéu dos diabos. Os autoritários, que não reconhecem o direito de ir e vir, que se negam a negociar com o Poder Público, foram convertidos em arautos de um novo mundo. A partir de então, a peleja passou a ter dois lados: o poder público e sua polícia repressora e o movimento “pacífico”, eventualmente perturbado por uma minoria de radicais. A imprensa se encarregou também de inventar uma pauta mais ampla para o Passe Livre, emprestando-lhe até certa coloração antipetista, o que — E LAMENTO DIZER ISTO — é falso.
Foi a cobertura jornalística, especialmente a das TVs, que transformou o Passe Livre num movimento benigno, que só quer um mundo melhor. Em certa medida, houve uma tentativa de aparelhamento ideológico. A turma soube usar muito bem a adesão da imprensa, mas sem jamais abrir mão de hostilizá-la. Jornalistas desenvolveram uma espécie de síndrome de Estocolmo com os ditos movimentos sociais: quanto mais são achincalhados, mais se apaixonam e mais lhes prestam serviços. Houve gente que chegou a tomar petelecos dos bacanas, mas não abriu mão se fazer suas mesuras. É deprimente!
Com a imprensa a favor das manifestações — quem estudar o caso verá que houve convocação mesmo —, e a Polícia Militar demonizada e moralmente proibida de atuar (em São Paulo, houve o anúncio prévio de que a tropa de choque não iria para as ruas, decisão em si absurda, já que não se sabia de antemão o que poderia acontecer), o resultado não poderia ter sido outro: assistiu-se à nacionalização da mobilização. Mais: na sexta-feira, 14, o PT achou que se tinha aberto uma janela para transformar a manifestação marcada para segunda, dia 17, num ato anti-Alckmin e anti-PM e liberou a sua turma: deu ordem para engrossar o movimento. Ocorre que ele já tinha se nacionalizado, e o tiro saiu pela culatra. O Rio acabou reunindo bem mais gente do que São Paulo. Fecho o parêntese.
Volto ao ponto
Como escrevi ontem, o resultado das violentas manifestações lideradas pelo Passe Livre — É MENTIRA QUE SEJA UMA MAIORIA DE GENTE PACÍFICA INFILTRADA POR VÂNDALOS — premia um método de ação política: a truculência. As passagens de ônibus, podem escrever aí, estarão congeladas em todo o país até 2015 ao menos. Ou alguém se atreverá a corrigi-las em ano eleitoral (2014), correndo o risco de ter de enfrentar a Mayara Vivian, convertida em nova pensadora de políticas públicas e musa da imprensa que não ousa mais desafiar a “massa” das minorais barulhentas? É claro que esse dinheiro sai de algum lugar — e sairá dos investimentos. Sem contar o risco evidente de sucateamento do setor!
Como escrevi ontem, o resultado das violentas manifestações lideradas pelo Passe Livre — É MENTIRA QUE SEJA UMA MAIORIA DE GENTE PACÍFICA INFILTRADA POR VÂNDALOS — premia um método de ação política: a truculência. As passagens de ônibus, podem escrever aí, estarão congeladas em todo o país até 2015 ao menos. Ou alguém se atreverá a corrigi-las em ano eleitoral (2014), correndo o risco de ter de enfrentar a Mayara Vivian, convertida em nova pensadora de políticas públicas e musa da imprensa que não ousa mais desafiar a “massa” das minorais barulhentas? É claro que esse dinheiro sai de algum lugar — e sairá dos investimentos. Sem contar o risco evidente de sucateamento do setor!
O método premiado, a depender de como caminhem as coisas, pode ser também consagrado. E autoridades eleitas, doravante, estarão simplesmente impedidas de articular políticas públicas sem a aprovação de movimentos que outorgam a si mesmos o papel de representantes do povo — ou é isso, ou param as cidades. E, como sabemos e como quer a imprensa, a polícia não poderá mover uma palha. A sociedade fica, assim, refém daqueles que se dizem dispostos “a mudar o mundo”, entendendo, claro, que o seu receituário é de tal sorte superior que pode ser imposto aos outros.
Sim, existe uma penca de motivos que explicam a adesão de milhares de brasileiros da classe média a uma causa que, de imediato, nem lhes diz respeito. Compreendo e respeito os motivos dessas pessoas. E ainda escreverei a respeito. Mas não posso e não vou endossar a truculência ou supostos mecanismos de democracia direta, potencialmente perigosos, tendentes, a depender dos desdobramentos, a comprometer seriamente o regime democrático. E agora chego ao ponto crucial deste artigo, anunciado lá no título.
Única força
O lulo-petismo é a única força de massa — ou, se quiserem, no jargão característico, “movimento de massa” — verdadeiramente organizada no país. Por “organização”, entenda-se uma vinculação orgânica com aparelhos sindicais, no campo e nas cidades, capazes de mobilizar recursos e pessoas para atuar em várias frentes. O método do Movimento Passe Livre, ora premiado com a decisão da redução das tarifas — e não restava às autoridades alternativa, a não ser a demonização diária nas TVs —, força uma reciclagem do petismo pela esquerda; convida o partido a uma espécie de volta às origens; introduz um suposto viés de frescor que vem das ruas (que, na verdade, é bolor), do qual o partido andava um tanto distante, agora que se tornou também uma gigantesca burocracia de ocupação do estado.
O lulo-petismo é a única força de massa — ou, se quiserem, no jargão característico, “movimento de massa” — verdadeiramente organizada no país. Por “organização”, entenda-se uma vinculação orgânica com aparelhos sindicais, no campo e nas cidades, capazes de mobilizar recursos e pessoas para atuar em várias frentes. O método do Movimento Passe Livre, ora premiado com a decisão da redução das tarifas — e não restava às autoridades alternativa, a não ser a demonização diária nas TVs —, força uma reciclagem do petismo pela esquerda; convida o partido a uma espécie de volta às origens; introduz um suposto viés de frescor que vem das ruas (que, na verdade, é bolor), do qual o partido andava um tanto distante, agora que se tornou também uma gigantesca burocracia de ocupação do estado.
Aos petistas, não custa muita coisa mudar a chave, não!, da atual posição, vamos dizer assim, mais à direita (em relação a seus marcos anteriores), próxima da social-democracia, para outra mais próxima de seu passado. O Diretório Nacional do PT divulgou ontem uma nota oficial, assinada pelo presidente do partido, Rui Falcão, com aspectos verdadeiramente asquerosos. Transcrevo trechos em vermelho. Leiam atentamente. Analiso depois.
As manifestações realizadas em todo o País comprovam os avanços democráticos conquistados pela população. São manifestações legítimas e as reivindicações e os métodos para expressá-las integram o sistema democrático. É papel dos partidos, do Congresso e dos Governos em todos os níveis dialogar com estas aspirações.
(…)
O PT saúda, pois, as manifestações da juventude e de outros setores sociais que ocupam as ruas em defesa de um transporte público de qualidade e barato.
(…)
O PT saúda, pois, as manifestações da juventude e de outros setores sociais que ocupam as ruas em defesa de um transporte público de qualidade e barato.
Estamos certos de que o movimento saberá lidar com atos isolados de vandalismo e violência, de modo que não sirvam de pretexto para tentativas de criminalização por parte da direita. Nesse sentido, repudiamos a violência policial que marcou a repressão aos movimentos em várias praças do País, sobretudo em São Paulo, onde cenas de truculência, inclusive contra jornalistas no exercício da profissão, chocaram o País.
A presença de filiados do PT, com nossas cores e bandeiras neste e em todos os movimentos sociais, tem sido um fator positivo não só para o fortalecimento, mas, inclusive, para impedir que a mídia conservadora e a direita possam influenciar, com suas pautas, as manifestações legítimas.
A insatisfação de parcelas da juventude em relação às instituições e aos partidos políticos revela a necessidade de uma ampla reforma do sistema político e eleitoral em defesa do que vêm se batendo o PT e outras organizações da sociedade. Do mesmo modo, as manifestações têm mobilizado sua inconformidade contra o tratamento dado pelo mídia conservadora aos movimentos, inclusive pelo fato de, num primeiro momento, ter criticado a passividade da polícia.
Diante das demandas por transporte de melhor qualidade e barato, o Diretório Nacional do PT recomenda aos nossos governos que encontrem uma resposta necessária, que, no curto prazo, reduza as tarifas de transporte e, num médio prazo, em conjunto com os governos estadual e federal e com ampla participação popular, discuta soluções para um novo financiamento público da mobilidade urbana.
A direção do PT conclama a militância a continuar presente e atuante nas manifestações lado a lado com outros partidos e movimentos do campo democrático e popular.
Voltei
Uma leitura ingênua poderia indicar que o partido só está tentando pegar carona no sucesso do Passe Livre. Lamento! Pode ser isso, mas certamente é muito mais do que isso. Vejam ali as referências a vandalismo como atos isolados e, claro, não poderia faltar, as críticas à “mídia conservadora” e ao governo de São Paulo — e todos sabemos qual foi o papel da tal “mídia” nessa história. Percebam o petismo endossando as críticas aos partidos e às instituições, aproveitando, mais uma vez, para defender a reforma do sistema político e eleitoral — e nós já sabemos o que quer a legenda: regras para se eternizar no poder. O partido foi colhido de surpresa pelo tamanho das manifestações? Foi, sim. Isso é um sinal de que envelheceu? É. Mas nada que não possa ser corrigido para muito pior…
Uma leitura ingênua poderia indicar que o partido só está tentando pegar carona no sucesso do Passe Livre. Lamento! Pode ser isso, mas certamente é muito mais do que isso. Vejam ali as referências a vandalismo como atos isolados e, claro, não poderia faltar, as críticas à “mídia conservadora” e ao governo de São Paulo — e todos sabemos qual foi o papel da tal “mídia” nessa história. Percebam o petismo endossando as críticas aos partidos e às instituições, aproveitando, mais uma vez, para defender a reforma do sistema político e eleitoral — e nós já sabemos o que quer a legenda: regras para se eternizar no poder. O partido foi colhido de surpresa pelo tamanho das manifestações? Foi, sim. Isso é um sinal de que envelheceu? É. Mas nada que não possa ser corrigido para muito pior…
Entendam, minhas caras, meus caros: eu sei que gente que não tolera mais a corrupção, a impunidade, a bandalheira e a incompetência engrossou as passeatas do Movimento Passe Livre. E o fez por bons motivos. Há entre os manifestantes até mesmo aqueles que foram protestar em frente ao prédio de Lula. Nada disso, no entanto, muda o caráter do que se viu nas ruas ou anula o fato de que o método premiado é danoso para o regime democrático. O que queremos? Uma democracia tutelada por supostos “conselhos populares”? O Movimento Passe Livre já disse qual é a sua agenda. E ela não é boa.
O país que acaba de amanhecer não está mais democrático do que aquele que amanheceu ontem, mas menos. Não está mais racional, mas menos. Não está mais justo, mas menos. Ainda que muitas pessoas de boa-fé possam ter aproveitado para expressar a sua indignação com tudo o que há de errado no país — da inflação à impunidade —, é preciso ver que método, que pauta e que visão de mundo foram premiados ontem. E eu lhes asseguro: nenhum deles presta para uma sociedade democrática e de direito.
De resto, os petistas têm, sim, como trocar material genético com essa gente porque as proteínas se combinam. Aguardem para ver.
NO BLOG DO CORONEL
Agora o Movimento do Passe Livre quer se livrar do Estado de Direito.
Ontem, em entrevista acelerada, a líder do Movimento do Passe Livre, Mayara Vivian, afirmou que agora a luta é pelo fim do latifúndio urbano e rural, bem como pela reforma agrária e que nenhum manifestante sofra processo criminal. Ou seja: a luta do MPL passa a ser contra o Estado de Direito, atingindo não mais só o direito de ir e vir, mas também o direito de propriedade. Que o país fique de olho. Em vez de invadir as ruas, vão começar a invadir casas e apartamentos. Nada que o campo brasileiro, que sustenta o país, não conheça pelas mãos do MST e do CIMI.
NO BLOG DO JOSIAS
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