DILMA DESCOLA DE LULA


Dilma enfim descola de Lula e luta desesperadamente para que ele não atrapalhe sua reeleição

Carlos Newton
Demorou, mas aconteceu. Enfim, a presidente Dilma Rousseff resolveu descolar de vez de seu mentor Lula, assumiu a plenitude do governo e passou a jogar todas as suas fichas na reeleição em 2014.
A mudança de comportamento está cada vez mais clara e já surte efeitos no governo ainda supostamente petista. Pela primeira vez, Dilma está escolhendo ministros e nem dá satisfações a Lula, que até agora vinha reinando onipotente, como um Rasputin de Garanhuns, que dava as cartas e indicava e vetava quem bem entendesse, e a presidente obedecia.
Livre, leve (embora não tão leve assim) e solta, Dilma já mudou quatro ministros sem aprovação prévia ou tardia de Lula. Nessas negociações, fez acordo com dois partidos importantes em seu governo – o PMDB e o PDT, atendeu as reivindicações diretas de Michel Temer e a Carlos Lupi, colocando fermento na coalizão para 2014.  Em seguida, refez os laços estremecidos com o PR de Alfredo Nascimento e Anthony Garotinho. E Lula nao deu um pio.
Ao mesmo tempo, a presidente mantém frequentes conversas sobre a sucessão com o governador pernambucano Eduardo Campos, seu suposto adversário pelo PSB, estabelecendo com ele um estranho relacionamento político. Portanto, agora só falta Dilma chamar também Paulo Maluf para um entendimento referente à sucessão.
LULA ESTÁ ATÔNITO
O ex-presidente Lula está perplexo com o descolamento da presidente e ainda não se recuperou do golpe. Sabe que está sendo envolvido habilmente por Dilma, que vem tecendo uma teia de aranha em torno dele, para evitar que tenha uma recaída e se lance novamente candidato à presidência, o que faria com que ela fosse jogada para escanteio no PT e ficasse sem legenda, impedida de disputar a própria reeleição, repetindo o que o partido lulista fez com o então prefeito de Recife, João da Costa, no ano passado.
Como se sabe, inexplicavelmente o PT negou a legenda ao prefeito João da Costa, que era o favorito, colocou na disputa o senador Humberto Costa e acabou dando vexame: o partido ficou em terceiro lugar, com apenas 17% dos votos, atrás do PSB e do PSDB.
Como dizia o ex-governador Magalhães Pinto (frase erradamente atribuída a Tancredo Neves), “a política é com uma nuvem”. Você olha, está de um jeito; daqui a pouco, olha de novo, está de outro jeito.
É justamente o que está acontecendo com a sucessão presidencial, que Dilma abriu com quase dois anos de antecedência, porque sabia que tem de se definir um ano antes da eleição, prazo fatal para troca-troca de legendas.
ATÉ O FINAL DE SETEMBRO…
Se até o final de setembro Dilma não mudar de partido, ficará nas mãos de Lula, não terá direito ao livre-arbítrio político e fará o que ele bem entender. Dilma tem bons motivos para duvidar se Lula vai cumprir a palavra e esperar para ser candidato em 2018. Afinal, Dilma foi testemunha do golpe que Lula aplicou em Ciro Gomes, em 2008.
Ciro tinha sido ministro no primeiro governo Lula e era muito ligado a Lula, que o convenceu a trocar o domicílio eleitoral para São Paulo, sair candidato a governador em 2010 com apoio do PT. Pois Ciro acreditou, levou uma volta tão grande que ficou alijado da política, não conseguiu se candidatar a presidente e até hoje ainda está tonto. Dilma tem consciência dessa realidade. Sabe que Lula não é confiável, muito pelo contrário. Sabe também que jamais o derrotará, na convenção do PT.
E o tempo passa, o prazo fatal para mudar de partido se aproxima velozmente. Dilma não sabe o que fazer. Tem quatro opções: 1) fica no PT e reza ao Padre Cícero para que Lula cumpra a palavra; 2) entra num partido novo, como o PEN (Partido Ecológico Nacional) e busca acordos com outras legendas; 3) alega ao TSE que o PT não está cumprindo o programa partidário (e não está, mesmo) e pede filiação ao PDT (seu partido de origem), indo no rastro do ex-marido Carlos Araújo; 4)  ou filia ao PSB, num acordo com Eduardo Campos saindo para vice em 2014 e depois para presidente em 2018.
Como dizia Shakespeare, eis a questão, muito interessante e intrincada. O melhor é que só saberemos a resposta daqui a cinco meses.

Da Tribuna da Imprensa de 22-3-2013.

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