-SERÃO MÉDIUNS OS ANIMAIS?-

Por Estênio Negreiros


Na questão 597, no “O Livro dos Espíritos”, Allan Kardec indaga às Entidades Superiores do Mundo Espiritual: “Pois que os animais possuem uma inteligência que lhes faculta certa liberdade de ação, haverá neles algum princípio inteligente da matéria?” A resposta: “Há e que sobrevive ao corpo.” Na mesma pergunta, no item “a”, ele averigua: “Será esse princípio uma alma semelhante à do homem?” Os Espíritos replicam: “É também uma alma, se quiserdes, dependendo isto do sentido que se der a esta palavra. É, porém, inferior à do homem. Há entre a alma dos animais e a do homem distância equivalente à que medeia entre a alma do homem e Deus.” O assunto é amplamente abordado também em outras obras kardequianas, não se deixando à parte outros trabalhos literários psicografados por incontáveis médiuns.

Quanto à probabilidade de os animais serem possuidores ou não de faculdades mediúnicas, o assunto é objeto do Capítulo XXII-234-Da Mediunidade Entre Os Animais, da obra “O Livro dos Médiuns”, publicada em 1861, também de Kardec.

Essa questão tomou corpo na França de forma mais acentuada entre os anos de 1855 e 1861, principalmente em Paris, onde adestradores de pássaros, verdadeiros prestidigitadores enganavam os incautos fazendo-os crer que determinados voadores possuíam o dom de se comunicar telepaticamente com os seus treinadores, adivinhando os seus pensamentos ao serem capazes de retirar de um maço de cartas de baralho aquelas que poderiam dar uma resposta precisa a determinadas perguntas formuladas. Esse tema foi objeto de artigos veiculados na “Revista Espírita”, publicação periódica também de autoria do Codificador e que veio a público a partir de janeiro de 1858.

Mas é no “O Livro dos Médiuns” que são aclaradas as dúvidas a respeito da possibilidade ou não de os animais, tais quais os homens, serem capazes de servir de intermediário aos Espíritos para as suas comunicações inteligentes, uma vez que seria muito lógico supor-se que um ente vivo, possuidor de certo grau de inteligência – como alguns pássaros, os cães, os gatos, os cavalos, os elefantes, por exemplo – tenha conformações orgânicas para tal, diferentemente dos corpos inanimados.

Conforme Allan Kardec, essa discussão se encerra de vez pela explicação dada pelo Espírito Erasto, por intermédio do médium Senhor D’Ambel, durante uma reunião ocorrida na Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas e que se acha registrada na “Revista Espírita” de agosto de 1861.

Diz aquele notável Espírito que a questão foi levantada e sustentada por um dos mais fervorosos adeptos do Espiritismo daqueles tempos que, valendo-se da premissa “quem pode o mais pode o menos”, entendia que os Espíritos poderiam muito bem medianimizar pássaros e animais para lhes servir de veículo de comunicação com a espécie humana já que eles, os Espíritos, animavam a matéria inerte como mesas, cadeiras, etc., fazendo-as mover-se e produzir ruídos e pancadas. Enfaticamente, Erasto diz: “Pois bem! No estado normal do Espiritismo, isso não é assim, isso não pode existir.” Conforme ele, sem o médium não pode haver, entre encarnados e desencarnados, nenhum tipo de comunicação quer tangíveis, mentais, descritivas, físicas, nem de qualquer outra forma. Os semelhantes agem com os seus semelhantes e como os seus semelhantes. O perispírito [do latim peri= em redor + spiritus= espírito] – (invólucro semimaterial do Espírito depois de sua separação do corpo) dos encarnados e o dos Espíritos são de natureza igual e hauridos no mesmo ambiente, possuindo propriedades de assimilação mais ou menos desenvolvidas que lhes permite pôr-se em relação entre si. Quanto ao sopro que dá ânimo aos animais fazendo-os agir, mover-se e expressar-se em sua misteriosa linguagem, não lhes torna capaz de se confundir com a alma etérea do homem, esse ser essencialmente perfectível e superior às outras espécies vivas da Terra. Assim - prossegue Erasto -, é que o cão não faz o cão progredir, a lontra edifica a sua habitação sobre as águas de maneira invariável, da mesma forma que os passarinhos nunca construíram os seus ninhos de modo diverso como o fizeram os seus ancestrais. O modo de proceder dos animais tem um padrão único desde sua mais remota existência. Contrariamente, temos a marcha progressiva da Humanidade. Basta compararmos as cabanas feitas de folhas e as tendas construídas pelo homem nas primeiras idades da Terra, às construções da civilização moderna, ou as suas vestimentas de peles brutas aos tecidos de ouro e de seda. Muito embora haja Deus posto os animais passíveis de domesticação a conviver com o homem para servir-lhe de auxiliares, para nutri-lo e fornecer-lhe a pele que lhe serve de vestimenta, além de ter-lhes concedido certo grau de intelecto, não quis o Arquiteto Universal submetê-los à mesma lei do progresso, pois da forma como foram criados permanecerão até a extinção de suas espécies. “Isso estabelecido - continua Erasto - reconheço perfeitamente que, entre os animais, existem aptidões diversas; que certos sentimentos, que certas paixões idênticas às paixões e aos sentimentos humanos se desenvolvem neles; que são sensíveis e reconhecidos, vingativos e odiosos, segundo se proceda bem ou mal com eles. É que Deus, que não faz nada incompleto, deu aos animais, companheiros ou servidores do homem, qualidades de sociabilidade que faltam inteiramente aos animais selvagens, que habitam as solidões”. Por outro lado, ressalta Erasto que os Espíritos podem se tornar visíveis e tangíveis aos animais. Segundo ele, aquele medo súbito que comumente assalta certos animais, como o cavalo, por exemplo, quando estaca e nem avança nem recua, é causado pela presença de um Espírito ou de um grupo de Espíritos que se divertem em a eles aparecendo. Cita o caso da burra de Balaão, referido no Velho Testamento, que vendo um anjo à sua frente com sua espada flamante, pára de repente, negando-se a sair do lugar onde empacara.

A propósito da ocorrência com a asna de Balaão, tomei parte num episódio um tanto intrigante e inexplicável, do ponto de vista material. Certa vez, na fazenda de meu pai onde morei durante a minha infância e boa parte da minha longínqua adolescência, vinha eu montado num cavalo e conduzindo na “lua” da sela uma trouxa de roupas servidas que levava à casa de uma das moradoras, nossa lavadeira. Ao passar próximo a uma cerca do tipo faxina que fechava uma grande área de pastagem, a montaria espantou-se e saltou de lado, jogando-me ao chão. Caí confortavelmente sobre o fardo de roupas. Levantei-me. Verifiquei minuciosamente por entre as frestas da cerca procurando identificar a causa do susto do animal. Nenhuma cobra, nenhum preá, nenhuma ave ou outro animálculo qualquer havia nas proximidades que pudesse provocar aquele medo repentino na cavalgadura, a qual  permaneceu um bom tempo de orelhas acesas, trêmula, olhos esbugalhados, narinas dilatadas, ofegante e olhando fixamente para dentro do cercado como a ver algo medonho. Hoje, conhecedor da influência do mundo espiritual sobre o material, posso muito bem deduzir que um espírito ou espíritos se tornara (m) visível (eis) àquele cavalo, e somente a ele, uma vez que eu não possuo faculdade mediúnica manifesta.

Ernesto Bozzano, em seu livro “Animaux et Manifestations Metaphychiques”, publicado em 1926, opina que determinados animais percebem a presença de espíritos antes mesmo dos sensitivos e que certas espécies dão mostras de que possuem algum grau de faculdades psíquicas, como por exemplo, a telepatia.

Oportuno aqui referirmos uma citação de Herculano Pires na sua obra “Mediunidade, Vida e Comunicação”, no capítulo “Mediunidade Zoológica”, perfeitamente de acordo com o que ensina o Espírito Erasto: “(...) o animal só terá condições para a mediunidade ao atingir a síntese dos poderes dispersos nas espécies de seu reino para elevar-se ao plano humano. Mas, então, não será animal, será homem”.

Parece-nos prudente, pois, ficarmos com os ensinamentos da Doutrina Espírita que asseveram não serem os animais dotados das condições psíquicas necessárias para tomarem parte nos fenômenos mediúnicos de efeitos intelectuais ou inteligentes na condição de médiuns.

Finalizamos, reproduzindo mais uma vez o Espírito Erasto por intermédio da seguinte assertiva por ocasião da sua manifestação na Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas: “Para resumir: os fatos medianímicos não podem se manifestar sem o concurso consciente ou inconsciente do médium; e não é senão entre os encarnados, Espíritos como nós, que podemos encontrar aqueles que podem nos servir de médiuns. Quanto a adestrar os cães, os pássaros ou outros animais, para fazer tais ou tais exercícios, é vosso assunto e não nosso”.


Fontes consultadas:
O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec.
O Livro dos Médiuns, idem.
A Revista Espírita, agosto de 1861, idem.
A Questão Espiritual dos Animais, de Irvênia Prado.


Fortaleza, CE, 15 de janeiro de 2013.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

NOTÍCIAS EM DESTAQUE - 1ª EDIÇÃO DE 10/12/2023 - DOMINGO

NOTÍCIAS EM DESTAQUE - 1ª EDIÇÃO DE 05/8/2023 - SÁBADO

NOTÍCIAS EM DESTAQUE - 2ª EDIÇÃO DE 08/4/2024 - SEGUNDA-FEIRA