Pular para o conteúdo principal

Executivos estão doentes

Pesquisa aponta os males que acometem o profissional de alta gerência


RIO - Dizem que com grandes poderes vêm grandes responsabilidades. Mas também podem vir dores de cabeça, crises de ansiedade, ganho de peso, alergias de pele, insônia, rinite e outros males. É o que indica pesquisa feita junto a 15 mil executivos, que revela quais os principais problemas de saúde enfrentados por profissionais de média e alta gerência. O estudo, da empresa de plano de saúde Omint, mostra, ainda, que 95,5% dos líderes brasileiros não conseguem manter uma alimentação equilibrada, que 44% são sedentários e que 31,7% têm índice elevado de estresse.
O estresse, aliás, seria o grande responsável pelo desencadeamento de várias doenças que estão na lista.
— As pessoas, quando estão sob estresse intenso, têm a capacidade de resposta imunológica diminuída, o que pode provocar o surgimento de vários problemas — diz Caio Soares, diretor médico da empresa e coordenador do estudo.
E isso, é claro, pode afetar profissionais da base da pirâmide hierárquica também. Mas executivos, por sofrerem com um nível de cobrança maior, acabam mais suscetíveis aos problemas, segundo a avaliação dos especialistas.
— Principalmente nas empresas privadas, nas quais a pressão por resultados e cumprimento de metas costuma ser muito alta — analisa Cláudia Garritano, coordenadora dos cursos corporativos da Fundação Arte de Viver, especializada em respiração e meditação.
Cláudia mesmo passou por isso. Executiva de uma grande empresa, precisou enfrentar duas crises de labirintite para constatar que seus níveis de estresse estavam acima do normal.
— Fiz todos os exames e foi diagnosticado que era o estresse que estava causando o problema — conta a profissional, que encontrou nos cursos da ONG, da qual hoje é também professora, uma maneira de equilibrar as demandas profissionais com as de seu corpo.
É o que acaba acontecendo com a maioria dos gestores: apenas atentam para a saúde quando acontece o chamado “evento-gatilho”.
— Muitos acabam só se sensibilizando e passando a se cuidar quando ocorre algo sério com um colega, parente ou amigo — nota Soares.
Entre as doenças mais comuns nos executivos aparecem, também, as dores no pescoço e nos ombros, a asma/bronquite, o colesterol alto e as dores crônicas nas costas. Todas reflexo da má alimentação, falta de exercícios físicos e alto índice de estresse.
Rinite, Um mal que é comum a todos
— É interessante observar que não existe uma grande variação no surgimento dos problemas nos profissionais de 30 a 45 anos, que foram os principais respondentes da pesquisa. — pondera Soares. — Com exceção do sobrepeso, que, naturalmente, acontece mais nas pessoas mais velhas.
Se a idade interfere pouco, a localização do profissional pode fazer diferença na sua saúde. O que ajuda a explicar o fato de a rinite ser o mal de que os líderes mais se queixam, segundo a pesquisa, que consultou executivos de todo o país, mas, principalmente, dos que trabalham no Rio e em São Paulo.
— Escritórios com ar-condicionado forte, inversão térmica e a poluição dos centros urbanos, aliados ao estresse, favorecem a rinite — conclui Soares.
Não é raro que os executivos padeçam com vários problemas simultâneos. Denise Porcaro, depois de seis anos trabalhando na Embratel, começou a sofrer com enxaquecas, a ter arritmia cardíaca e pressão alta, além de dificuldade para dormir. Diagnóstico médico: crise de ansiedade forte motivada por estresse.
Decidida a procurar ajuda, encontrou nas massagens e na acupuntura a terapia de que precisava para conseguir combater o estresse. Continuou na empresa por mais quatro anos, até que decidiu que queria trabalhar com aquilo que a havia ajudado. Assim, em 2010, Denise abriu o W Spa, no Rio Design Barra, onde hoje atende muitos gestores com queixas semelhantes às suas.
Abrindo espaço para a saúde
— Observo que, quanto mais alto o cargo, mais o executivo tende a sofrer com doenças. Além da questão da pressão e da competição, o líder costuma ter um trabalho bastante solitário e acaba convivendo menos com pessoas, o que também acaba interferindo na sua saúde — acredita Denise.
A nutricionista Andréa Santa Rosa Garcia também costuma receber, em seu consultório, executivos que reclamam, principalmente, de enxaqueca, problemas estomacais, aumento de peso, cansaço, ansiedade, insônia, alergias, queda de cabelo e unhas frágeis.
— Todas as queixas envolvem o fator estresse, má alimentação, poucas horas de sono e baixa imunidade — avalia Andréa, lembrando que, geralmente, funcionários sem cargo de liderança têm hora de entrada e saída, e pausa para o almoço. — E nem sempre isso consegue ser mantido no universo dos executivos. A carga horária aumentada e na maioria das vezes de frente para o computador exigem um gasto de energia menor, favorecendo o ganho de gordura principalmente abdominal.
A diretora de Vendas e Marketing do Hotel Sheraton Barra, Ana Nery, precisou recorrer a um otorrino para investigar o entupimento nos ouvidos, que pensava ser em função de uma gripe mal curada. Descobriu, na verdade, que estava perdendo a audição e com problemas de equilíbrio, com uma Síndrome de Menière, que afeta o labirinto. A causa? O estresse.
— Tive, então, que parar e repensar minhas prioridades. Reavaliei tanto meus hábitos alimentares, passando a me alimentar de três em três horas e fazendo exercícios físicos, como os de trabalho, aprendendo a delegar e a trabalhar mais em equipe — conta Ana.
Como é comum, apenas depois do “evento-gatilho” é que a executiva entendeu que precisava mudar seu estilo de vida, até mesmo para conseguir dar conta das demandas do dia a dia:
— Eu amo o meu trabalho, mas tenho que estar bem de saúde para poder desempenhá-lo bem e dar as respostas rápidas que o mundo dos negócios hoje exige. Dessa forma, busco o equilíbrio.
João Miguel Estephanio, diretor executivo da Brasil Serviços, sofre com dores nas costas e apneia do sono há cerca de oito anos, para os quais busca tratamento com treinamento funcional.
— Atribuo o aparecimento dos problemas à carga de trabalho que imprimo na busca por melhores resultados.
— O executivo precisa encontrar espaço e priorizar a sua saúde — conclui Caio Soares, médico da Omint.

© 1996 - 2012. Todos direitos reservados a Infoglobo Comunicação e Participações S.A. Este material não pode ser publicado, transmitido por broadcast, reescrito ou redistribuído sem autorização. 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Notícias em Destaque

Brasil tem menor média de casos de covid do ano(Ler mais)   Mourão nega renúncia e diz que segue no governo ‘até o fim’ Relação entre o vice e Jair Bolsonaro (sem partido) voltou a ser alvo de especulações após o presidente dizer que o general ‘por vezes atrapalha(Ler mais) A economia a gente vê depois: Governadores e Prefeitos ainda não se pronunciaram em como vão ajudar a população: “o depois chegou, e agora?”(Ler mais) Com ódio: Governo Doria multa o presidente Bolsonaro e sua comitiva: “pode chegar a 290 mil reais”(Ler mais) Ministros do STF querem resposta imediata de Luiz Fux sobre declarações do presidente alegando fraude nas urnas eletrônicas(Ler mais) Renan Calheiros e Humberto Costa querem sigilos bancários de Jornalismo independente “disseminadores de fake”(Ler mais) Justiça prorroga prisão de autor do vandalismo em estátua de Borba Gato(Ler mais)

Notícias em Destaque

  Bolsonaro entrega moradias populares no Cariri nesta sexta (13); veja agenda da visita (Ler mais) Relator conta que PT e PSOL queriam alterar cassação de Flordelis para ‘suspensão’ Manobra foi abortada após ter sido percebida pelos demais parlamentares (Ler mais) Presidente sugere que estados não cobrem ICMS sobre bandeiras tarifárias Proibido ICMS sobre bandeiras tarifárias, valor da conta de luz cairia (Ler mais) Diretor da Vitamedic diz que não vendeu Ivermectina ao governo Diretor da Vitamedic foi mais um depoimento inócuo na CPI no Senado (Ler mais) Lobby bilionário tentará barrar MP dos combustíveis (Ler mais) Câmara rejeita ‘distritão’ e aprova coligações na PEC da Reforma Eleitoral (Ler mais) Pacheco: “Voto impresso não será debatido no Senado e o assunto está encerrado” (Ler mais) Doria pede desculpas por fake news contra Bolsonaro no Twitter (Ler mais)