DA MÍDIA SEM MORDAÇA - 27-11-12

NA COLUNA DO CLÁUDIO HUMBERTO


Rose ganhou passaporte diplomático
e viajou com Lula para trinta países

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ROSEMARY VISITOU 23 PAÍSES COM O ENTÃO PRESIDENTE LULA
As relações da ex-chefe de gabinete Rosemary Nóvoa de Noronha com o ex-presidente Lula eram tão íntimas que ela ganhou passaporte diplomático, privativo para a primeira-dama e demais familiares do presidente, e integrou a comitiva presidencial em pelo menos trinta viagens internacionais, entre 2007 e 2010. Foram viagens para 23 países, em eventos como posses de presidentes e encontros de chefes de Estado. A informação é de reportagem de Matheus Leitão para o jornal Folha de S. Paulo. Rose, ex-chefe do escritório regional da Presidência em São Paulo, foi indiciada na Operação Porto Seguro da Polícia Federal, acusada de corrupção e tráfico de influência.

Pensando bem...

...dizendo-se sempre “apunhalado pelas costas”, Lula deveria demitir imediatamente seus guarda-costas.



Exoneração de
Rose, amiga de
Lula, foi ‘a pedido’

Foi “a pedido” a exoneração de Rosemary Nóvoa de Noronha, ex-chefe de gabinete da Presidência da República em São Paulo, o que revela sua influência. Sábado (24), o Palácio do Planalto divulgou que a presidenta Dilma decidira “demitir” servidores envolvidos no escândalo revelado pela Operação Porto Seguro, da Polícia Federal. Mas “Rose”, amiga do ex-presidente Lula, oficialmente, deixou o cargo porque quis.

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Alguém gosta dela

Fonte do Planalto admitiu que a exoneração “a pedido” da ex-chefe de gabinete foi uma solicitação de Lula, a quem “Rose” é muito ligada.

Saída voluntária

Para o servidor público, demissão representa desonra e punição, enquanto a “exoneração a pedido” caracteriza saída voluntária.

Fina estampa

Os aparentemente modestos “brindes” que “madame Rose” recebia em suposta troca de favores compõem seu perfil “discreto”. Ela gostava mesmo era do poder de uma “primeira-dama” nos bastidores.

Alguém gosta dele

Braço direito do ministro Luiz Adams (AGU) José Weber Holanda ainda está preso, mas sua exoneração também foi concedida “a pedido”.

Tia Dilma

Durante as freqüentes conversas com o amigo Lula ao telefone, Rosemary Noronha, a “Rose”, sempre se referia a Dilma por “Tia”.

Governo Lula
vetou convocação
de Rose a CPI

A oposição há muito está de olho em Rosemary Nóvoa de Noronha e acompanha sua influência. Por ordem do então presidente Lula, a base governista impediu a aprovação de requerimento que a convocava a depor, na CPI dos Cartões Corporativos. Com isso, o governo passou a considerar “secretos” os gastos dos cartões sob sua responsabilidade, como chefe de gabinete da Presidência da República em São Paulo.




Gastos exorbitantes

O senador Álvaro Dias (PR), lider do PSDB, lembra bem que os gastos dos cartões corporativo de Rose Noronha eram mesmo “exorbitantes”.

Os sub do sub

A PF caça um motoboy que entregaria documentos da “dra” Rose (Noronha) a José Dirceu. Lembra o caseiro do escândalo Palocci.

Terra arrasada

Quem viu a extensa documentação da PF na Operação Porto Seguro garante: vem aí o mensalão do B. Muito mais explosivo que o original.

Como disse?

Ninguém entendeu por que petistas acusaram a imprensa de “atingir Lula como aconteceu com Al Capone”. O FBI dos EUA trancafiou o célebre gângster americano através do Imposto de Renda. Hum...

Carestia

Demitida da Agência Nacional de Aviação Civil, a filha de Rose, Mirelle Noronha, ganhou quase R$ 170 mil em diárias em dois anos, para o aluguel de apê no Rio, cerca de R$ 2,1 mil mensais. Achava pouco.

De mulher pra mulher

Tem sabor de vingança para Marta Suplicy a queda da influente chefe de gabinete. “Rose” se empenhou – ao pé de ouvido de Lula – contra ela e por Haddad, na escolha do candidato do PT a prefeito paulistano.

Vidente

Nunca é demais lembrar a profecia do magnífico escritor João Ubaldo Ribeiro, em novembro de 2010: “no máximo em dois anos Lula e Dilma estarão brigados”, enfatizando que “quem viver, verá”.

A vez e a hora do Legislativo

Não encerra o episódio a  pronta reação da presidente Dilma ao demitir  altos funcionários federais apontados como corruptos pela Polícia Federal. É preciso que a Justiça se pronuncie. E que a primeira instância siga o exemplo do Supremo Tribunal Federal e comece a distribuir penas de  cadeia para os vigaristas, claro que dando-lhes todo o direito de defesa. Mais cedo do que se imaginava, com a Operação Porto Seguro, surgiu o contraponto da atuação da mais alta corte nacional. O exemplo tem que ser seguido. Leia mais no artigo de Carlos Chagas.

Dilma perde paciência com resultados pífios, e isso pode ser bom para o País

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As engrenagens que deveriam movimentar a máquina do Governo Federal estão emperradas. Fazer barulho, fazem; sacolejar, sacolejam, mas lograr que o trem avance, ah, isso não conseguem. Fumaça aos rolos –  rósea, produzida pelos milhões de reais diariamente incinerados pela propaganda oficial –, mas energia cinética, das boas, para frente, muito pouco. Dilma Roussef, maquinista deste trem que nos carrega a todos nós, brasileiros e brasileiras, tem toda a razão de estar insatisfeita com as dificuldades com que tem de lidar no dia-a-dia, responsáveis pelos resultados tacanhos até agora obtidos em sua gestão. A Presidente está cansada de ministros que tremem em sua presença, que  ficam balbuciando, cheio de dedos, não tendo coragem de dizer não, ou sim, conforme o caso. Não suporta, tambem os perplexos, que a ficam admirando com um sorriso , incapazes de discordar, de argumentar...ou mesmo de pedir a demissão  na hora certa. Dilma demorou, mas afinal cansou. Parece definitivamente convencida de que uma retífica é indispensável para que o setor público passe a funcionar com o padrão de eficiência que merece o Brasil. Leia a análise do jornalista e embaixador Pedro Luiz Rodrigues.

NO BLOG DO NOBLAT
Ilimar Franco, O Globo
O clima no Planalto é de forte apreensão com os desdobramentos da Operação Porto Seguro. As atividades da ex-chefe de gabinete da Presidência em São Paulo, Rosemary Noronha, não são conhecidas. Além disso, ela é considerada uma “despreparada” e não se sabe o que fará se for muito pressionada. A tendência no governo ontem era impedir sua convocação para depor no Congresso.
Os funcionários do Planalto descrevem Rosemary Noronha como “arrogante” e que usava bordão de madame em reuniões com servidores para preparar idas da presidente Dilma a São Paulo: “Aqui, tudo é chique”.
Para tentar agradar à equipe da presidente Dilma, ela organizava ida às compras em shoppings e na Rua 25 de Março.
Na posse da atual presidente, ela provocou um incidente ao tentar separar os ministros nomeados dos que estavam de partida.
A ex-primeira-dama Marisa Letícia não a tolerava. Por isso, quando a lista da comitiva das viagens do ex-presidente Lula passou para as suas mãos, Rose nunca mais subiu a bordo do AeroLula.

Para o PT a história sempre se repete, por Marco Antonio Villa

Marco Antonio Villa, O Globo
Uma nova operação da Polícia Federal atingiu o Partido dos Trabalhadores. Não é a primeira vez. Mesmo com todo o estardalhaço causado pelo julgamento do mensalão, parece que nada detém a ânsia de saquear o Erário. Agora, uma das acusadas é a chefe do escritório da Presidência da República em São Paulo, Rosemary Nóvoa de Noronha, que teria negociado pareceres técnicos fraudulentos.
Os agentes da PF foram ao escritório chefiado por Rosemary para a devida busca e apreensão de documentos. Indignada, a funcionária não fez o que seria considerado plausível: entrar em contato com seu advogado. Não. Buscou algo superior: o sentenciado José Dirceu. Isto mesmo, leitor.
E veja como o Brasil continua de ponta-cabeça. A funcionária petista ligou para Dirceu, com quem tinha trabalhado durante 12 anos, em busca de proteção. O amigo, que, como é sabido, está condenado a dez anos e dez meses de prisão, nada pode fazer.
Em seguida, ela tentou falar com o ex-presidente Lula, de quem é amiga. Mas o antigo mandatário está fora do país. Restou Gilberto Carvalho, o onipresente para assuntos deste jaez, mas que também não pode ajudá-la.
A sequência dos contatos e a naturalidade são indicativas de como os petistas pouco estão se importando com o clamor popular em defesa da moralização. Continuam se considerando acima do bem e do mal. E, principalmente, acima da lei.
Para piorar — e reafirmar o desprezo pela ética na política e na administração pública — o segundo homem na hierarquia da Advocacia Geral da União, José Weber Holanda, está sendo acusado de fazer parte deste grupo (a expressão correta, claro, deveria ser outra). Fica a impressão de que na administração petista tudo pode, que o governo está à venda.
Frente às denúncias, a presidente Dilma Rousseff vai agir da forma já sabida: exonera o acusado da função, diz que não admite malfeitos e nada vai apurar. Foi este o figurino nestes quase dois anos de governo.


Ô seu Cabral! Diz quanto custou a passeata

Onde se lê:
"Questionado sobre as despesas com a organização e divulgação da passeata "Veta, Dilma", que ocorreu nesta segunda-feira (26), no centro do Rio de Janeiro, o governador Sérgio Cabral (PMDB) afirmou não poder divulgar o valor gasto pelo governo do Estado com o objetivo de, por meio do ato público, pressionar a presidente da República, Dilma Rousseff (PT), a vetar o projeto de redistribuição dos royalties do petróleo, já aprovado pelo Congresso. "Não posso divulgar isso", afirmou Cabral.
Na sexta-feira, procurada pela reportagem do UOL, a assessoria do governo informou que os investimentos feitos com dinheiro público para realizar a manifestação seriam divulgados na coletiva de imprensa, depois da passeata. Cabral, no entanto, optou por desconversar. Segundo o jurista especializado em direito público Fábio Medina Osório, autor do livro "Teoria da Improbidade Administrativa", embora a manifestação não tenha "interesse privado", o governo do Rio é obrigado a "prestar contas" quanto ao dinheiro público investido."

Foto: O Globo

Leia-se:
De duas, uma. Pode ter custado caro, muito caro, o ato público promovido por Cabral. As repartições públicas fecharam ontem à tarde para que os servidores atendessem à convocação do governador. Transporte público rolou de graça, de ônibus a barcas, para facilitar a chegada e a saída da multidão do centro do Rio. Foi montada uma gigantesca infraestrutura de serviços para atender a toda essa gente - algo como 190 mil pessoas. Cabral teme que a cifra possa causar espanto.
Ou então: Cabral se nega a revelar quanto gastou simplesmente porque não gosta de prestar contas ao distinto público. Presta o necessário, o obrigatório por lei. E é só. Bobagem essa história de transparência. De mais a mais, a imprensa tem a mania esquisita de desconfiar a princípio de informações oferecidas por autoridades. Quando pode ou quer ou tem algum motivo anterior para isso, tenta conferir para ver se elas procedem. Se de fato são verdadeiras. Quando não são o mundo cai.
Sabe-se, por exemplo, que Cabral fez dezenas de viagens ao exterior desde o primeiro ano do seu primeiro governo. Quantas viagens ele fez? Quantas foram oficiais? Quantas particulares? Destino, duração e objetivos de cada uma? Custos de cada uma? Fonte pagadora de cada uma? Quem acompanhou Cabral em cada uma das viagens? Quem pagou as contas dos acompanhantes? Em quantas viagens Cabral usou jatinhos cedidos por amigos? Quantos desses amigos são fornecedores do governo?
Jamais Cabral respondeu perguntas como essas de forma satisfatória, definitiva.

Situação delicada, por Merval Pereira

Merval Pereira, O Globo
A presidente Dilma fica em situação muito delicada toda vez que acontece um caso de corrupção no seu governo. Toma a decisão de demitir os envolvidos, passa a ideia ao grande público, por informações de anônimos assessores, de que não tem nada a ver com aquilo, que as pessoas foram nomeadas a pedido de Lula, a quem não poderia deixar de atender, mas que não tolera corrupção e, quando descobre, coloca fora do governo o acusado.
Isso dá a ela uma boa margem de manobra, especialmente diante da classe média que está conquistando com decisões aparentemente independentes. E creio mesmo que o próprio ex-presidente Lula aceita essa situação avaliando os ganhos políticos que ela traz para a presidente.
A questão é até quando ela conseguirá permanecer nessa posição, tirando todo o proveito da proximidade de Lula e, ao mesmo tempo, vendendo imagem de autonomia em relação a ele.
Já não está sendo possível aceitar que tudo de ruim que acontece seja culpa do antecessor, mesmo que ela não explicite essa acusação, apenas a insinue.
E negue oficialmente quando, a exemplo do ex-presidente Fernando Henrique, tentam explicar os fracassos de seu governo com suposta “herança maldita”.
Afinal, Dilma já está na segunda metade de seu governo, foi a responsável pela nomeação de todos os ministros que já demitiu por suspeita de corrupção — e, por sinal, nada aconteceu a nenhum deles em termos concretos — e até mesmo essa chefe do gabinete da Presidência em SP, Rosemary Noronha, foi nomeada por Dilma quando era chefe da Casa Civil, e mantida no cargo a pedido de Lula.
Sabe-se agora que o gabinete da Presidência em SP era um segundo escritório de Lula, fora do Instituto Cidadania, e por isso mesmo ele teve inusitada agitação este ano, com inúmeras reuniões de Dilma e Lula.
Leia a íntegra em Situação delicada 

PSDB quer ter acesso a supostas conversas de Lula com Rosemary Noronha

Maria Lima e Isabel Braga, O Globo
O líder do PSDB no Senado, Álvaro Dias (PR, foto abaixo) protocolou nesta segunda-feira na secretaria da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), requerimento de convocação do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, e do delegado da Polícia Federal (PF), Roberto Troncon, para que sejam ouvidos sobre a Operação Porto Seguro.
O PSDB também vai apresentar à mesa diretora da Casa pedido para que seja compartilhado com o Senado o inquérito da PF, o resultado das investigações, e principalmente o teor de 122 conversas telefônicas que Rosemary Nóvoa Noronha, ex-chefe de gabinete do escritório da Presidência da República em São Paulo, teria mantido com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. 



Indiciado pela PF foi nomeado para o MEC por Dirceu

Júlia Duailib, Estadão
O diretor afastado da ANA (Agência Nacional de Águas) Paulo Rodrigues Vieira, indiciado na Operação Porto Seguro, foi nomeado assessor especial de Controle Interno do Ministério da Educação em fevereiro de 2005 pelo então ministro da Casa Civil José Dirceu (foto abaixo).
Além da proximidade com Rosemary Nóvoa de Noronha, então chefe do escritório da Presidência da República em São Paulo e ex-secretária de Dirceu no PT, Vieira tinha relação direta com o petista.




NO BLOG DO REINALDO AZEVEDO

A fábula do partido que criou a “Carteirinha Corrupção” num país chamado Banânia. Querem ler um texto estranho? Então lá vai!

Os meus leitores sabem do apreço que tenho por Robert Musil e por “O Homem Sem Qualidades”. Os eventos — ou não eventos — que ele narra se passam num país chamado Kakânia.
Kakânia é um lugar imaginário em que a corrupção, quando há, se dá na esfera das vontades; as covardias, nunca grandes demais, se revelam na área do intelecto; a decadência, inexorável, é a da inteligência. As pusilanimidades são quase existenciais, traduzidas por suspiros, nunca por estrondos (esse contraste já é um clichê, mas não resisti).
Falta a Kakânia a exuberância tropical. Não socorrem aquele país os pistoleiros do sangue quente que estão abaixo da linha do Equador, onde só há perdão, nunca pecado. Kakânia não conhece as graças bonachonas e incivilizadas do “homem cordial”. Kakânia não tem nem mesmo o hábito de punir os santos, como se faz, dizem, em certo país ignoto, de que falarei. E é punição preventiva, com características de chantagem e tortura! Põe-se, por exemplo, a imagem do santinho de ponta-cabeça, às vezes mergulhado num copo d’água. Se ele quiser sair daquela situação difícil, que trate de realizar o desejo do esperançoso e doce torturador. É a forma que a crença tomou, dizem, em tal terra estranha.
Chamemos aquelas paragens exuberantes, em homenagem a Musil, de Banânia. Pronto! Em Banânia, os amores e os ódios estão sempre à flor da pele. Banânia não tem ascetas e monges para inspirar uma filosofia da contemplação e da medida; para exaltar as ideias “magras e severas”. Em Banânia, os que pensam a economia do espírito são os sátiros e os beberrões. O direito do outro e o direito dos outros são vistos como censura à liberdade individual e incapacidade para o gozo. Qualquer um, em Banânia, pode ser ruim da cabeça; a única coisa indesculpável é ser doente do pé. Os bananienses são, à sua maneira, fatalistas e acham que não há homem na Terra que resista a certas paixões, como caipirinha (bebida local) e bundalelê (bundalelê local).
A carteirinhaEste país singular, conta-me um nativo, deu à luz uma nova forma de gestão do Estado que é a “Carteirinha Corrupção”. É isto mesmo. Ela é fornecida por um partido político para evitar que os amorosos achacadores, olê, olê, olê, olá, exagerem na cobrança de propina. Eu explico.
Deu-se em Banânia algo realmente notável. Empresas das mais diversas áreas, prestadoras de serviço ou fornecedoras, têm duas tabelas: uma para seus parceiros da própria iniciativa privada e outra para o governo. O Poder Público, em Banânia, costuma contratar serviços por um preço que pode corresponder a cinco vezes o valor de mercado. É que vai embutida, entre outras delicadezas da civilização da cordialidade, a propina que tem de ser paga ao partido (em Banânia, quem dá as cartas é o PTT), ao chefe da área, ao chefão do chefão…
Conta-me um nativo de Banânia que, num desses acertos de conta mensais, o representante do “Sistema” afirmou que o valor que estava na maleta já não era mais suficiente; doravante, teria de ser o dobro. O pagador se espantou e resolveu subir a escala hierárquica para reclamar: “Como pode? Assim o negócio fica inviável!”.
Recebeu, então, uma “carteirinha” — a “Carteirinha Propina”. Foi informado de que o documento o protegia de achacadores fora do controle, entenderam? Aquele documento deixaria claro que ele já era um “colaborador” e que nada de extra lhe poderia ser, então, exigido.
Banânia, vejam vocês, é, então, este país encantador, notório por sua aversão à institucionalização de procedimentos; conhecido por sua hostilidade a um estado impessoal, que fosse gerido por um burocracia regular, estatutária, avessa a arranjos e jeitinhos. Ao contrário: esse país gosta da informalidade e considera que a rigidez legal é coisa de povos tristes, que ainda não se deixaram amolecer pelos trópicos. E é justamente essa Banânia a ter esses caprichos, não é?, que resultam na formalização da corrupção e da propina. É, assim, como se fosse um passe-livre fornecido por um comando militar em tempos de guerra, que dá ao portador o direito de ir e vir sem ser importunado pela soldadesca de mais baixa estirpe.
Isso acontece em Banânia, conta-me o nativo da terra. Ele me disse que o tal PTT sempre considerou que faltava à economia de mercado a devida dimensão ética, que consiste, ele entende agora, não na criação de uma ética do mercado, mas de um mercado da ética.
Eu fiquei espantadíssimo com os sucessos de Banânia. E mais espantado fiquei quando ele me contou que se descobriu que uma quadrilha operava no coração do próprio governo. “Mas a imprensa no seu país, ao menos, é livre, né?”, indaguei. Ele me disse que sim. “Que bom! Ao menos isso!” Mas aí ele emendou: “É livre, sim! E boa parte dela está aplaudindo o governo que nomeou a quadrilha por sua suposta coragem de demiti-la”.
Olhei com tristeza e até com compaixão meu amigo de Banânia.

Veja como os pistoleiros do dinheiro público atuavam no Ministério da Educação

A ousadia da quadrilha que operava no coração do Planalto era mesmo impressionante, Vejam o que relatam Márcio Cesar Carvalho, José Ernesto Credendio e Paulo Gama, na Folha. Notem, a propósito, que se trata justamente de uma tramoia envolvendo uma instituição particular de ensino superior. Talvez um dia o país se interesse em abrir essa caixa-preta, quando os adoradores de mitos pararem de fazer poesia ruim e se interessarem pelos fatos. Segue trecho da reportagem.
*
Paulo Rodrigues Vieira, o diretor da ANA (Agência Nacional de Águas) preso desde a última sexta sob acusação de tráfico de influência em órgãos do governo federal, obteve uma senha privativa de um funcionário do Ministério da Educação para alterar dados financeiros de uma faculdade de sua família. A manipulação de parâmetros financeiros pode servir, em tese, para a faculdade conseguir mais recursos do governo em programas como o Prouni, de bolsas para estudantes pobres, e o Fies, de financiamento.
A conversa foi gravada pela Polícia Federal em 24 de março deste ano, quando Aloizio Mercadante já assumira o ministério — Fernando Haddad saiu em janeiro. O interlocutor de Vieira no MEC é Márcio Alexandre Barbosa Lima, da Secretaria Especial de Regulação do Ensino Superior. É a ele que Vieira pede: “Eu tô querendo entrar aqui no MEC (…) com sua senha. Me fala seu CPF”. Lima entrega todos os dados. A família de Vieira é dona da Faculdade de Ciências Humanas de Cruzeiro, cidade de 77 mil habitantes no Vale do Paraíba, interior paulista.
Numa conversa entre Vieira e uma funcionária da faculdade chamada Patrícia, ela conta que já alterara os dados de 2009 para 2010. “Você pediu para eu alterar em 15% todos os números que aparecessem”, diz ela, sobre o passado. “Aumenta agora 20%”, ordena Vieira. Um outro funcionário do MEC foi apanhando pela Operação Porto Seguro da PF. Trata-se de Esmeraldo Malheiros dos Santos, que era consultor jurídico, um cargo de confiança do ministro. Ambos foram afastados ontem.
Santos, que trabalha no ministério desde 1983, ajudava o grupo de Vieira a obter pareceres internos da pasta que seriam usados por faculdades que corriam o risco de ter cursos descredenciados. O MEC descredencia cursos quando a faculdade é reprovada em avaliações.
No caso de Santos, a PF interceptou um e-mail de dezembro de 2010 no qual Paulo Vieira escreve: “Peça para a sua amiga fazer um bom relatório e logo (…)”, referindo-se a um parecer do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais), órgão que coordena a avaliação de instituições de ensino.
Ele conclui o e-mail de maneira enigmática: “Há 20 exemplares da obra à sua disposição na minha casa na próxima semana. É para a suas leituras de férias”. “Exemplares da obra”, segundo a PF, era a maneira cifrada de o grupo falar de dinheiro. Vinte exemplares seriam R$ 20 mil.

“Mulher de Lula” na Presidência acertou indicação da filha durante viagem com o então presidente. Atenção! Ela não estava na lista oficial de passageiros, o que é ilegal! Eis que surge nos e-mails o “JD”! Quem será?

Por Carolina Freitas, na VEJA.com:Em novembro de 2010, o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva visitou Moçambique e Coreia do Sul. Entre os dias 8 e 10, cumpriu agenda oficial em Maputo, capital do país africano. Deu aula magna em uma universidade, encontrou empresários brasileiros e foi recebido pelo colega Armando Guebuza. No dia 11, desembarcou em Seul, para, ao lado da sucessora recém-eleita Dilma Rousseff, participar da reunião do G-20. Durante o giro internacional, Lula teve em sua comitiva uma ajudante próxima, Rosemary Nóvoa de Noronha, a Rose, que até este fim de semana ocupou o cargo de chefe de Gabinete da Presidência em São Paulo. Embora seja um requisito legal que funcionários em viagem internacional tenham seu nome registrado no Diário Oficial, Rose embarcou sem que essa formalidade fosse cumprida. Ela também aproveitou para tratar de um assunto de interesse próprio com o chefe: a nomeação de uma de suas filhas, Mirelle, para um cargo na Agência Nacional de Aviação Civil (Anac).
Tanto a viagem não oficializada quanto a negociação do cargo para a filha estão registrados em e-mails interceptados pela Polícia Federal na Operação Porto Seguro, deflagrada na sexta-feira. A operação derrubou Rosemary e Mirelle de seus cargos na administração pública. A filha pediu exoneração nesta segunda-feira. Rosemary foi demitida no sábado, depois de ser indiciada pelo seu envolvimento com os irmãos Paulo e Rubens Vieira, presos provisoriamente e indiciados por utilizar seus cargos de hierarquia elevada em agências reguladoras para fraudar procedimentos e promover negócios escusos.  
Foi em troca de mensagens com Paulo Vieira que Rosemary tratou da nomeação da filha. “A Mirelle já te enviou os documentos? Peço a gentileza de só nomeá-la depois de eu confirmar com o PR. Estou em Maputo. Embarco para Seul na 4ª-feira com ele, aí após conversar te aviso.” Nesse e em outros e-mails da dupla, Lula é tratado como PR, abreviação para presidente da República.
Paulo respondeu ao e-mail dizendo que Mirelle tinha esquecido de assinar o currículo, sem o que não seria possível dar sequência à nomeação. Rosemary dá um puxão de orelha na filha, com cópia para Paulo: “Mi, te avisei 1.000 vezes que o currículo necessitava de assinatura. Entre em contato com o Paulo urgente para resolver esta questão. Mamy.”
Embora o interlocutor fosse Paulo – o mais assíduo nos contatos com Rosemary  – a contratação seria feita na seara do outro irmão Vieira, Rubens, que desempenhava as funções de corregedor da Anac e mais tarde seria alçado à diretoria da entidade. E assim foi, pouco depois da viagem de Lula pela Ásia e pela África. Em 1º de dezembro, a portaria de nomeação de Mirelle saiu no Diário Oficial. De acordo com o Portal da Transparência do governo federal, sua remuneração mensal bruta em setembro de 2012, no cargo de assessora técnica na Diretoria de Infraestrutura Aeroportuária,  foi de 8.625,61 reais.
Troca de favores e de afagosA negociação para nomeação da filha de Rosemary para o bem-remunerado cargo de confiança aconteceu em meio a um acerto ainda mais delicado entre a chefe de gabinete da Presidência e os irmãos Vieira. Desde o começo de 2009 os dois buscavam o apadrinhamento de Rosemary (bem sucedido, como se veria depois). Paulo almejava um cargo de direção na Agência Nacional de Águas (ANA), e Rubens, um posto equivalente na Anac. Já nesse momento inicial, Rosemary parecia acalentar a ideia de beneficiar a filha juntamente com os irmãos Vieira. Num dos primeiros e-mails desse lote, ela diz a Rubens que havia acionado Lula, o PR. “Disse a ele que Mirelle precisa começar a trabalhar logo”, escreve.
Em março de 2009, Paulo escreve para Rosemary pedindo ajuda para conseguir o cargo na ANA, com a colaboração de JD, que parece ser José Dirceu. Ele explica que quem nomeia para a vaga é o presidente da República. “Surgirão agora em meados de abril duas vagas. Pelo que consegui observar, quem vai definir mais a questão é a Dilma”, diz Paulo. “A pessoa que acho que consegue fazer esse pedido a ela, de forma eficaz, é o JD. Um pedido pessoal seu ao JD, tratando a questão como de interesse pessoal seu, ganha muito mais força.” Rosemary foi secretária pessoal de Dirceu por mais de uma década.
Em abril, Rosemary se irritou com as cobranças de Paulo por celeridade e enviou a ele um correio eletrônico que tinha como assunto “Cobranças sem fundamento!”. “Não gostei nem um pouco de suas cobranças. O que não está andando, além da Anac?”, diz a então chefe de gabinete da Presidência.“Eu sim estou aguardando questões sem solução. Meus pedidos são em número maior, mas muito pequenos em relação aos seus! Tenha paciência.”
Paulo responde ao e-mail em menos de 40 minutos, prestando conta sobre os pedidos de Rosemary que estariam em atraso, ponto a ponto. E tenta contemporizar: “A minha simpatia e carinho por você passa à margem de quaisquer troca de favores. É de natureza pessoal. Trata-se de amiga muito querida.” Dois dias antes, em troca de mensagens com seu irmão, Paulo alertou Rubens sobre o apetite de Rosemary. Segundo ele, seria preciso “abafar a pedição de dinheiro”, pois a amiga seria “uma máquina de gastar.”
Em junho, Paulo presta explicações a Rosemary sobre a demora em atender, mais uma vez, um pedido dela. “Suas solicitações – são determinações – em face da amizade e da gratidão que tenho por você.” Entre os presentes oferecidos por Paulo a Rosemary estão um cruzeiro marítimo com show dos sertanejos Bruno e Marrone e o pagamento de uma cirurgia.


Polícia Federal investiga vice-presidente dos Correios, que havia sido acusado de formação de quadrilha em… 2008!

Abaixo, mais uma história do balacobaco. Vocês vão ver que Paulo Rodrigues Vieira, apontado como chefe da quadrilha pela Polícia Federal, assediou o vice-presidente jurídico dos Correios, Jefferson Carlos Carús Guedes. Não está claro se fizeram negócios. Mas isso, confesso, chamou menos a minha atenção do que outra coisa. Guedes chegou a ser procurador-geral da União em 2008, quando José Antonio Dias Toffoli, hoje no Supremo, era o advogado-geral. Muito bem. Teve de deixar o cargo porque acusado de formação de quadrilha pela Polícia Federal e pelo Ministério Público Federal. Quatro anos depois, onde ele está? Ora, na vice-presidência jurídica dos Correios. Faz sentido ou não? Aí me pedem para aplaudir o governo e sua determinação de combater a corrupção? Posso não, ué!
Leiam trecho de reportagem de Tatiana Farah, no Globo:
O vice-presidente jurídico dos Correios, Jefferson Carlos Carús Guedes, foi investigado pela Polícia Federal (PF) na operação Porto Seguro. Segundo o relatório da PF, o então diretor da Agência Nacional de Águas (ANA) Paulo Rodrigues Vieira teria tentado subornar Guedes para beneficiar em licitações a empresa LM Negócios Inteligentes. Ainda de acordo com o relatório, Guedes chegou a receber o dono da empresa, Lucas Henrique Batista.
Guedes chegou a ser, em 2008, procurador-geral da União, na gestão do hoje ministro do Supremo Tribunal Federal José Antonio Dias Tofolli. Depois de dez meses no cargo, pediu demissão ao ser acusado de formação de quadrilha pela PF e pelo Ministério Público Federal em outra operação, a Perseu, que desbaratou uma rede de corrupção e fraudes ligando funcionários do Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS). Guedes se desligou da Advocacia Geral da União (AGU) para, segundo ele, evitar danos à imagem da instituição. Em 2011, ingressou no comando dos Correios.
Em ofício à Justiça Federal, a PF pede a “condução coercitiva” de Guedes para prestar depoimento. No documento, ele é listado como “investigado”. A PF fez busca e apreensão na sala do vice-presidente para levar documentos e computador. Segundo o relatório policial, “há indicativo2s de que Paulo Vieira, juntamente com Lucas Henrique Batista, participou de licitações de agências de correio em São Paulo por meio da empresa LM Negócios Inteligentes. Há indicativos de que, para favorecer a empresa, ofereceu ‘livros’ ao vice-presidente Jefferson Carlos Carús Guedes.” “Livros” é o código usado pelo esquema de Vieira para identificar propina.

Em gravação, homem apontado como chefe da quadrilha diz ter marcado reunião com Pimentel fora da agenda oficial

Na Folha:O empresário Paulo Vieira disse, em gravação obtida com autorização judicial, que reunião intermediada por ele com o ministro Fernando Pimentel (Desenvolvimento) foi marcada diretamente e fora da agenda do ministro. A encontro seria com Alípio Gusmão, da Bracelpa (Associação Brasileira de Papel e Celulose). Em um diálogo de 23 de maio deste ano, Vieira avisa a secretária de Alípio que a reunião foi marcada diretamente com Pimental para o dia 6 de junho. No site do Ministério do Desenvolvimento, há o registro de uma reunião com a Brascelpa, mas em 6 de agosto.
Pimentel informou, por meio de sua assessoria, que recebeu representante da Bracelpa apenas em 6 de agosto. O ministro afirmou que nunca recebeu um pedido direto para agendar reunião com a associação. No diálogo captado pela PF, a secretária da Bracelpa estava preocupada, pois o ministério não confirmava a reunião de junho oficialmente.
“O pessoal da Bracelpa ligou lá para a assistente do ministro, a Chica, e ela falou que não tem nada agendado”, disse a secretária para Vieira. “Quem agendou isso foi o próprio ministro. Fala para moça que ficasse tranquilo (sic)”, responde ele. “Não falei seu nome, que sei que é confidencial”, respondeu a secretária. “Não fala que foi eu. Fala que o amigo do Dr. Alípio marcou direto com o ministro”, ordenou. O decreto que disciplina audiências com autoridades para tratar de interesses privados obriga a “manter registro específico das audiências, com a relação das pessoas presentes e os assuntos”.















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