História: em 2006, Silvinho soava premonitório 
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Perdida nos desvãos do túnel do tempo, uma entrevista de Silvinho Pereira ganha atualidade no plenário do STF. Secretário-geral do PT na época do mensalão, o ex-amigo de José Dirceu falou à repórter Soraya Aggege em maio de 2006.
A repórter fora ao encontro de Silvinho com propósitos específicos. Queria produzir uma notícia sobre o cotidiano do ex-integrante do politburo do PT um ano depois da delação de Roberto Jefferson. Conversaram por oito horas.
Lero vai, lero vem Silvinho pôs-se a desabafar. Contou que a parceria do PT com Marcos Valério visava arrecadar R$ 1 bilhão. Disse que quatro pessoas davam as cartas no PT: “Mandavam o Lula, Genoino, Mercadante e Zé Dirceu.”
Mapeou os caminhos do butim: “Não tem essa história de propaganda, isso é bobagem. O plano era faturar R$ 1 bilhão nestas quatro áreas: Banco Econômico, Banco Mercantil de Pernambuco e Opportunity. O quarto eu não sei bem, eram uns passivos na área de agropecuária”.
A máquina coletora da Delúbio-Valério envolvia muitas outras empresas. “Mas não vou falar nomes”, esquivou-se Silvinho. “As empresas fraudam as coisas entre si (…). Elas se associam em consórcios, combinam como vencer [as licitações]”.
Ao perceber que falara demais, Silvinho apelou para que nada fosse publicado. A repórter disse não. O entrevistado descontrolou-se. Disse estava sob pressão para manter o silêncio. Achava que corria “risco de vida”.
Nas pegadas da entrevista, Silvinho foi dado por louco. Emissários do PT desceram aos subterrâneos para acalmá-lo. Intimado a depor na CPI dos Bingos, a comissão do ‘Fim do Mundo’, o pseudomaluco fechou o arquivo.
Inquirido pelos congressistas  Silvinho não negou a conversa com a repórter. Mas de tudo o que falara só se lembrava dos trechos que convinham a si próprio e ao petismo. Quanto ao resto, comportou-se como se houvesse acabado de acordar de um pileque.
“Sobre essa entrevista, não sei mais onde está verdade”, disse Silvinho na CPI. “O que eu falei ali, o que era verdadeiro, não sei mais. Não sei de onde eu tirei isso, se foi de imprensa, se foi da minha cabeça. Não estou dizendo que eu não disse. De onde eu tirei, não sei mais.”
Relator da CPI, Garibaldi Alves, hoje ministro da Previdência de Dilma Rousseff, indagou: “O senhor sofre de amnésia?” E Silvinho: “Eu me recuso a responder esse tipo de pergunta”.
No ano seguinte, 2007, a denúncia da Procuradoria da República virou ação penal no Supremo. Incluído no banco dos réus, Silvinho cuidou de bater em retirada. Celebrou um acordo que resultou na prestação de serviços comunitários.
Com o julgamento pela metade, o STF já deixou assentadas duas premissas: 1) o mensalão foi besuntado com verbas públicas. 2) a desconversa do caixa dois de campanha é balela. O que houve foi corrupção em estado bruto.
O procurador-geral Roberto Gurgel já informou que, encerrado o processo do STF, dará sequência às investigações. Fica boiando na atmosfera a impressão de que o maluco do ex-PT deveria ser chamado a depor. Talvez já tenha recobrado a memória.

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