A palavra alada

Sebastião Nery na Tribuna da Internet de 11-10-12
“No princípio era o Verbo”. No princípio, havia a palavra. Assim começa a Bíblia. E assim começa a história da humanidade. O homem é a palavra. A História é a palavra. A história do homem é a história da palavra. É a crônica de sua linguagem. É o cotidiano do seu dizer.
O que é a Bíblia senão mil fábulas, as “Páginas da Vida” do povo judeu tiranizado sob os salgueiros da Babilônia, hoje Iraque? E a tragédia grega? Era a metáfora do amor e da dor, da servidão e da liberdade, da vida e da morte.
Na Roma tirana dos Césares, a resistência da Judéia oprimida de Cristo era a parábola, a palavra. Na Idade Média torturada de Galileu, o discurso era o silêncio. Mas bastaram duas palavras (“Epure, si muove”, “apesar de tudo, a terra se move”) e o homem descobriu os caminhos da terra, dos mares, dos ares.
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INTERNET
E vieram a imprensa, o rádio, o telefone, a televisão, a radiofoto, o fax, a palavra voadora, a palavra alada, o homem volátil satélite do infinito. E a Internet?
A Internet já é o homem metido à besta, metido a Deus. Por muito menos do que essa luxuriosa maçã do orgulho humano, Adão e Eva foram expulsos do paraíso. A Internet é a mesa posta nas estrelas, a sala de aula nos astros, a biblioteca nas galáxias, uma reunião nos jardins de Deus.
A Internet é a palavra globalizada, democratizada, socializada. A palavra sem dono e sem patrão, sem registro e sem cartório. A palavra tiradentezada, liberta, “quae sera tamen”, “ainda que tardia”.
Como todos os passos do homem, os primeiros sempre são devagar. Na infância é assim. A chegada à lua foi também assim. Devagar. Bem devagar.
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JORNALISMO
A Internet evoluiu no Brasil, continua evoluindo, no mesmo ritmo de sempre do desenvolvimento nacional, da educação, da informação, do conhecimento e da tecnologia. No começo, o acesso à Internet, ao computador, ao Lap-top, era caro. E, por ser caro, inacessível a quase todos.
De repente, foi barateando, popularizando-se, disparou. O Brasil tem hoje, pouco mais de duas décadas e meia depois, milhões e milhões de computadores. E, sobretudo, de internautas e neuro-internéticos. Acabou o mistério.
Para um jornalista, um professor, para todos os profissionais da palavra e da escrita, a Internet é a Enciclopédia na ponta do dedo. Você não precisa mais abrir todas as pesadas Enciclopédias e Dicionários, os velhos “pais dos burros”. A Internet lhe dá a resposta na hora.
Está ali, disponível, acessível, catalogada, sem censuras, sem barreiras e sem fronteiras.
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LIBERDADE
Mas, como não é nos livros, a informação na Internet também não é a verdade provada, um dogma a ser recebido sem discussão e sem crítica. A informação foi posta ali, na Internet, por alguém que pensa assim, acredita naquilo, defende aqueles conceitos. O que não significa a verdade indiscutível.
Se o primeiro dever de quem escreve é a exatidão, não basta buscar dados na Internet. É preciso racionalizá-los, interpretá-los, para transmitir com fidelidade e transparência. Se o segundo dever é a clareza, não se pode engolir como definitiva a informação falsa, dados distorcidos, gato por lebre.
A Internet é o universo trazido à mesa, livre, para o banquete de cada um.

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