Quanto vale o show eleitoral?
Dora Kramer, O Estado de S.Paulo
Na
geleia geral vigente no cenário político sobram pouquíssimas vozes
moralmente abalizadas para condenar a aliança do PT com Paulo Maluf na
eleição municipal de São Paulo.
Dizer o quê, se apoios são pagos
com cargos de maneira explícita, variando apenas se a quitação ocorre à
vista e com pronta entrega de cargos - como no caso de uma secretaria no
Ministério das Cidades entregue ao PP de Maluf - ou a prazo na forma de
promessa de ocupação de espaços na máquina pública?
Espantar-se
com mais o quê, se não há resquício de preocupação com identidades, nem
falemos ideológicas, mas minimamente programáticas, e se a referência
única é o tempo de televisão a ser acumulado pelo carro-chefe da
coalizão e beneficiário principal da negociata?
Criticar quem poderá, se todos agem segundo a mesma ausência de critério?
O
principal adversário do PT em São Paulo, o PSDB, é que não haverá de
ser, pois até outro dia estava negociando apoio com o mesmo personagem.
Inimigo tradicional dos petistas no plano regional, mas há quase dez anos aliado deles em âmbito federal.
Questão
resolvida e do ponto de vista da coerência superada lá atrás, quando
Lula atraiu a legenda para a base do governo da qual nunca mais saiu.
Portanto,
não há razão para tanto espanto, para tão efusivos ataques à
"incoerência" do PT. Ou mesmo para o "desconforto" expresso pela
deputada Luiza Erundina indicada para vice de Fernando Haddad em
composição com o PSB nem para o "pesadelo" apontado pela senadora Marta
Suplicy.
Maluf é diferente, um emblema, nome que já virou verbo e destaque na lista de procurados pela Interpol?
Pois
nesses tempos em que réus acusados de integrar organização criminosa
ocupam postos de direção partidária, ganham cargos na estrutura federal,
presidem comissões importantes no Congresso, apresentam-se como
candidatos ao eleitorado que gentilmente lhes dão votos para
representação legislativa e executiva, francamente, Paulo Maluf é mera
peça de composição do ambiente.
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