O saldo da Rio+20

Carlos Chagas
Sobrou o quê, da Rio+20? Respondem os ranzinzas que não sobrou nada, já que o multilateralismo saiu pelo ralo, desprezado pelas nações mais ricas e até pela China, Rússia e Índia. O documento final e básico da conferência foi lamentável, destacando-se mais pelas omissões e pelo que não enfrentou.
Vale atentar para o reverso da medalha. Se ficou claro que os países mais desenvolvidos dão de ombros para as preocupações da maioria, negando-se até a examinar o financiamento de atividades ecologicamente corretas, também parece óbvio estarem isolados do resto do mundo. Não demora muito para que percam força nas próprias Nações Unidas, ou seja, implodirá o gargalo do Conselho de Segurança, tal como estabelecido desde 1945.
Numa palavra, virou o jogo. Quem estava na defensiva passa agora ao ataque. Os participantes do desenvolvimento sustentável poderão criar empecilhos cada vez maiores à dominação política dos poderosos, primeiro passo para quebrar a dominação econômica. Sonho de noite de verão? Pode ser que não.
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REFORÇO CONSIDERÁVEL
A CNBB saiu da casca com a posição adotada ontem contra a corrupção e a impunidade. Adotou uma atitude explícita que reforçará a sociedade civil e setores do Congresso já empenhados na luta. Não foi de graça que os bispos do Brasil tornaram claro seu engajamento na campanha às vésperas do julgamento do mensalão, pelo Supremo Tribunal Federal.
Foram expedidas instruções para que em cada igreja e em todos os cultos católicos, sacerdotes e leigos protestem contra a impunidade e a corrupção. Esclareçam os fieis sobre a necessidade de ser dado um basta nos malfeitos que assolam o país. Também por coincidência, quando faltam poucos meses para as eleições municipais.
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SHIBATA SEM CHIBATA
Não poderia ter sido diferente o depoimento prestado pelo dr. Harry Chibata à Comissão da Verdade. Com desfaçatez e do alto de seus mais de 80 anos, negou que tivesse participado do horror dos tempos da tortura oficial. Disse até que não assinava atestados de óbito onde deixava em branco o nome do defunto e a causa de sua morte. Mas era isso o que ficava com os torturadores nos finais de semana, quando trocava São Paulo pelo sossego de um sítio no interior. Nos outros dias, “cumpria ordens”.
Todo mundo já sabia das práticas desse médico travestido de monstro, mas foi uma bom começo para os sete integrantes da Comissão da Verdade lembrar-lhe as razões de porque teve suas atividades profissionais suspensas pelo Conselho Regional de Medicina de São Paulo. Suas negativas não limparam sua ficha. Nem limparão.
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FIM DO VOTO ENRUSTIDO
No que depender do presidente José Sarney, antes do recesso previsto para 15 de julho o Senado votará a PEC que extingue o voto secreto em decisões sobre a cassação de mandatos no Congresso e nas Assembléias Legislativas. Assiste-se, agora, uma corrida às avessas, meio singular. O senador Demóstenes Torres e seus advogados querem apressar o processo de perda de mandato por quebra de decoro parlamentar. Segunda-feira ele será julgado e possivelmente condenado no Conselho de Ética, onde, aliás, o voto é aberto. Mas se o caso for apreciado no plenário antes da aprovação da PEC, o representante por Goiás poderá contar com o anonimato de muitos de seus colegas para absolvê-lo. Se for depois, estará cassado.

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