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O ESCÂNDALO NO BNB


BNB 13/06/2012
"Quero proteger o banco"
Gerente pediu auditoria interna no BNB, mas foi ignorado por dois meses

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O gerente de Negócios que denunciou o suposto esquema de desvio de verba no Banco do Nordeste do Brasil (BNB), Fred Elias de Sousa, 45, afirma que o fez por encarar a instituição como“um filho”. Para ele, que está no banco desde os 15 anos, a corrupção sempre existiu. No entanto, a maior parte dos servidores - de uns tempos pra cá - perdeu a “comoção” pelo banco e se deixou aliciar por cargos.

Em entrevista ao O POVO, ele revela como teve acesso a documentos comprometedores, que determinaram a queda de um chefe de gabinete da Presidência do banco e de três gerentes: “Por ironia do destino”. E acrescenta, “ainda tem mais gente pra cair”. Leia a entrevista.

O POVO - Como se deu a descoberta das irregularidades que o senhor denunciou?
Fred Elias - Há uma ironia do destino. Quem me deu uma oportunidade de cargo comissionado foi o Manoel Neto (gerente geral da Agência Centro e que foi exonerado após as denúncias). Trabalhava de atendente da agência Centro, apesar de ter sido gerente de Central. Em 2001, chefiei 180 funcionários na primeira Central do banco. Aí Manoel me deu uma oportunidade de gerência depois de 10 anos sem comissão. E, infelizmente, o Manoel Neto foi afastado. Não podia me calar. Disse pra ele que não tinha como me calar diante das irregularidades. Ele me colocou para ser gerente de Negócio da Carteira de Pessoa Física. E disse a ele que, se não fosse ele, não teria descoberto.

OP - Antes de ir ao Ministério Público, o senhor fez denúncia formal no banco?
Fred Elias - Denunciei 45 empresas que estavam fraudando o BNB. Fraudes de diversas formas. Desde a covalidação de um imóvel supervalorizado, gerentes que recebiam notas fiscais falsas, aceitação de empresas laranjas, etc. Daí, informei as irregularidades. O gerente, baseado no código e ética das instituições financeiras, tem a obrigação de informar qualquer operação que você ache duvidosa.

OP - O senhor foi tirar as férias de outro gerente?
Fred Elias - Sim. O Gean Carlos estava com duas férias vencidas e a CLT não permite. Estava também com férias marcadas. O Manoel Neto cancelou minhas férias e eu disse que tinha de acompanhar o Gean para entender a função. Ele era gerente de Negócios da Carteira de Pessoa Jurídica. Passei três dias com ele.

OP - O que motivou a denúncia?
Fred Elias - O que chamou atenção foi um determinado cliente, que tem seis empresas e fraudou o banco em R$ 150 milhões. O FNE (Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste) tem um bônus de adimplência, que se você pagar no dia você tem um desconto de 25%. E o Gean, mesmo com título atrasado todo mês desta empresa, dava o bônus. A partir daí, passei a observar os procedimentos dele e pedi que ele me mandasse os emails para eu me familiarizar com as empresas que ele cuidava. Descobri que ele também indicava os mesmos técnicos da Central de Operações (que analisa a documentação do empréstimo, inclusive a validação das garantias) para avaliar os financiamentos que ele tinha interesse. O esquema envolvia o cliente, um gerente de negócio, um gerente geral, alguns diretores do banco e, em muitos casos, políticos. Olhe a Polícia Federal está investigando um escritório chamado Prospecto, que era de propriedade de funcionário do BNB e trabalhava na avaliação dos empréstimos.

OP - As denúncias feitas porque o senhor queria se vingar de algum desafeto?
Fred Elias - Não me vingar. Mas estou, estava e estarei pronto para pegar qualquer servidor do banco que use do seu cargo para se locupletar ou favorecer outra pessoa. Em nenhum momento eu barganhei cargo, nada. O meu objetivo é proteger o banco. Tenho tratado essa questão como um filho, com cuidado. Chequei muitas informações antes de denunciar.

O POVO – O senhor tem medo de morrer?
Fred Elias de Sousa – Honestamente não, nem um pouco.
Estou tomando alguns cuidados ao sair de casa, ao chegar e nos locais que fico. Eu procuro minimizar os riscos na medida do possível.

OP – Chegou a pedir segurança ao banco?
Fred Elias – Na verdade o Ministério Público Estadual, através do promotor Ricardo Rocha, desde as primeiras denúncias para proteger o banco desses aproveitadores de ocasião, em setembro de 2011, viu o potencial de risco que eu estava correndo. Ele pediu oficialmente que eu entrasse no Programa de Proteção às Testemunhas (Provita). Mas não aceitei por causa da mudança drástica de vida que teria de me submeter juntamente com minha família. Não vou embora do Estado por conta de medo.

OP – O senhor diz que sofreu dois atentados?
Fred Elias – Eu ando de motocicleta há muitos anos. Há uns três meses e meio, vinha pela avenida Desembargador Moreira e no sinal tinha alguns motoqueiros. Sempre procuro arrancar quando o sinal abre. Lá na frente, tive de frear por causa de uma lombada e a dois metros vinha outro motoqueiro e deu dois tiros. Pou, pou! Foi um estrondo. O motoqueiro que estava no meu lado, subiu a calçada do susto. O atirador foi embora. Por esse tempo eu já havia feito a denúncia e já havia sido ameaçado por colegas através de email. E recebi recado que teria de arcar com o que havia dito.

OP – Esse email foi levado à Polícia Federal?
Fred Elias – Nunca fiz Boletim de Ocorrência. Houve também três perseguições de moto. Uma delas foi no Centro de Fortaleza, em frente agência Central do BNB. Quando parei em frente à praça dois motoqueiros pararam – um na frente e outro atrás. Foi muito rápido. E o único cuidado que tenho é tentar ser o mais rápido possível para qualquer reação. Nisso a minha moto subiu, cai e o guidom veio em cima do meu dedo, esfacelando-o. Gerou uma multidão e os caras se retiraram. E outra vez, eu saindo do banco, dois caras em duas motos subiram na moto e ficaram atrás de mim. Aí, no meio do trânsito e subindo calçadas, consegui fugir.


OP – Mas deveria ter feito BO?
Fred Elias – Pra quê? Ninguém ia acreditar mesmo.

OP – E o banco?
Fred Elias – Rapaz, comunicar, eu comuniquei. Mas não houve sensibilidade. Quando o promotor (Ricardo Rocha) mandou o documento, o chefe de Gabinete do BNB, Robério Gress (que foi exonerado na última segunda-feira), três meses depois me chamaram. Uma gerente de Ambiente da Auditoria do banco, Célia Rufino, me chamou para saber do que eu estava precisando. Disse que não estava pedindo nada, mas se o banco quisesse me ajudar seria interessante que disponibilizasse um veículo blindado para que eu evitasse de andar de moto. O banco tem vários carros. Além disso, pedi uma arma legalizada e com porte. No dia seguinte, ela disse que havia falado com o diretor Estélio e que as instruções normativas não preveem essa situação.  

OP – Por que o senhor fez as denúncias?
Fred Elias - Fiz porque desde o início da administração de Roberto Smith (ex-presidente do BNB), desde que o PT se apoderou do banco, é sabido que havia irregularidades em todos os níveis funcionais. Desde o processo da Cobra (investigação que envolve o nome do executivo Kennedy Moura). Nesse episódio, os funcionários se uniram numa comoção para tirar o Kennedy. Mas depois, várias pessoas foram aliciadas em troca de cargos e nunca mais houve essa união para proteger o banco.


OP – Para o senhor não havia corrupção na administração do Byron Queiroz?
Fred Elias - Tinha, mas não tinha essa corrupção vergonhosa em todos os níveis. Que envolvesse funcionário de pequeno, médio e grande escalão.

OP – O senhor nunca teve acesso a documentos na época?
Fred Elias - Passei dez anos afastado do banco, brigando com o BNB que na época vivia uma ditadura. Tive uma discussão séria com Antônio Cruz, um gerente da agência onde trabalhava na época. Atualmente ele é superintendente do Sebrae. Ele e um filho dele também estão entre os que denunciei ao Ministério Público. Na época, processei o banco e respondi um processo administrativo. Depois disso, fui suspendo 30 dias sem direito a salário e transferido para o Maranhão. Fui proibido de ascender no banco profissionalmente e fazer empréstimo. Fui isolado durante sete anos. Consegui uma liminar para voltar. Em 2007, fiz um acordo com o banco, abri mão do processo que havia ganhado para ficar em paz. Não queria dinheiro do banco. Eram R$ 400 mil. Nunca quis. Fiquei até 2010 sem comissão. Nesse período, tudo que tinha foi embora com agiota. Até joias da minha mulher eu empenhei e nunca recuperei. Ganho hoje, bruto, R$ 5 mil. Mas não sou vítima.

Demitri Túlio demitri@opovo.com.br

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