NOSSA BOLHA É DE SABÃO
TRIBUNA DA INTERNET
sábado, 16 de junho de 2012 | 17:29
Alexandre Garcia
Não sei se torço para que seja verdade ou para que seja engano… O
Rei Juan Carlos esteve com a presidente Dilma. Fico imaginando a chefe
de estado do Brasil a dizer ao chefe de estado da Espanha: “Eu sou você,
amanhã”, tal como na propaganda de vodka.
Não é difícil chegar a essa conclusão. A crise na Espanha começou
quando se decidiu que a expansão imobiliária seria uma solução
maravilhosa para o crescimento do país: criaria emprego na construção
civil ao mesmo tempo em que resolveria do problema da habitação.
Empregou-se muita gente e estrangeiros começaram a chegar aos
milhares para atender à demanda de mão-de-obra. Tijolo e concreto se
tornaram sinônimos de riqueza. Áreas verdes foram cobertas por
construções, assim como o cinturão verde de muitas cidades.
Em poucos anos, o preço do metro quadrado disparou e o boom da
construção atraiu especuladores. O metro quadrado da habitação subiu,
mas os salários não. Os bancos, para manter a roda circulando, baixaram
exigências para financiamentos, não se importando com a renda do
financiado nem com as garantias.
Imaginaram que se o imóvel estava se valorizando tanto, se o devedor
não pudesse pagar, venderia o imóvel por mais preço e ainda sobraria
dinheiro. E ofereceram crédito para comprar casa, carro, móveis,
eletrodomésticos, viagens… A dívida se tornou fator de crescimento.
Mas aí, estourou a bolha dos Estados Unidos. Os espanhóis se
retraíram, o consumo caiu, vieram as demissões e se descobriu que o país
se sustentava tirando do futuro; nunca houve realmente riqueza nem
subida na escala social.
Você que me lê, e percebe as semelhanças, bata na madeira para torcer
que por aqui não aconteça o mesmo. Os sinais são alarmantes: o PIB
brasileiro do primeiro trimestre deste ano, segundo o IBGE, aumentou
apenas dois décimos por cento(0,2%). A inflação vai crescer o dobro do
PIB neste ano.
Na Veja , a excelente Lya Luft chama de “ilusão” o que está
acontecendo no Brasil. Ela mostra como também estamos sacando do futuro.
“Palavras de ordem nos impelem a comprar, autoridades nos pedem para
consumir, somos convocados a adquirir o supérfluo, até danoso, como
botar mais carros em nossas ruas atravancadas ou em nossas péssimas
estradas…Estamos enforcados em dívidas impagáveis, mas nos convidam a
gastar ainda mais, de maneira impiedosa, até cruel.”- escreveu ela.
Nossa bolha está inchada.
E é de sabão.
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