Do Paraguai ao pibinho, Dilma e seus maus conselheiros

A presidente Dilma Rousseff, com alguma frequência, parece ser mais ponderada e, atenção para esta palavra, “pudorosa” do que seu antecessor. Pudor, no poder, é uma coisa importante. Mas não quer dizer que não tenha uma natureza política. E esta também se revela. No caso do Paraguai, mal instruída pelo Itamaraty e sofrendo, certamente, banzo de outros carnavais, tomou decisões estupidamente erradas, fazendo do Brasil mero caudatário da “diplomacia” de Cristina Kirchner. O Planalto trata o Paraguai como a 28ª unidade da federação, que tivesse decidido se rebelar. Além de sua natureza e de sua memória, Dilma também é assombrada por maus conselheiros — na política externa, ainda Celso Amorim e Marco Aurélio Garcia; puro descalabro. E na economia?
Nesta quarta, Dilma lançou mais um pacote para tentar levantar o pibinho. O real já se desvalorizou, os juros caíram, houve certa elevação do crédito, o governo desonerou alguns setores da produção, mas o crescimento patina… O mentor da economia, por óbvio, é o ministro da Fazenda, Guido Mantega. Reconhecendo algumas dificuldades, mas comemorado o que considera conquistas, afirmou:“Tudo isso significa que a crise internacional é conhecida pela população apenas por meio dos jornais e do noticiário. Na prática, a população não está se defrontando com ela”.
Quem falou? O economista ou o marqueteiro João Santana? Uma coisa é a crise ainda não estar sendo percebida por boa parte da população, o que é verdade; outra, distinta, é sustentar que ela só existe na tal “mídia”. Isso é coisa de mau conselheiro também.
É evidente que não cabe a Dilma ou a Mantega fazer declarações alarmistas. Mas não dá para aceitar cretinismos dessa natureza. Uma das características da crise mundial em curso, depois da grande explosão, é sua lenta e contínua espiral negativa — que chegou ao Brasil por vários caminhos: baixo crescimento dos EUA, barafunda na Europa, desaceleração da China… Parece que a capacidade de o mercado interno fazer frente às dificuldades se esgotou. Os brasileiros estão perigosamente endividados.
O debate sobre as responsabilidades corre o risco de ser interminável. Uma coisa é certa: quem dá a notícia não tem nada com isso. A imprensa brasileira, especialmente a área que cobre a economia, costuma é ser muito generosa com as versões oficiais. Atenção! Guido Mantega dizia, no começo do ano, que a economia cresceria 4,5% em 2012 - já que o Brasil, em razão da genialidade do governo, estaria imune à crise. Procurem no Google. Vocês vão achar: no dia 22 de maio — há míseros 35 dias — o ministro ainda anunciava 4%!!! E todo mundo lhe dava crédito.
Não, não! O jornalismo não tem, com a área econômica (e com os economistas de maneira geral, é bom deixar claro), metade do rigor que tem com os políticos. Costuma triunfar aquela máxima de que, em economia, realismo é igual a pessimismo, e cumpre à gente torcer para ver se as palavras se transformam em fatos.

Por Reinaldo Azevedo

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