SEGUNDA COMUNICAÇÃO DE JOÃO, O EVANGELISTA (*)



"Ao restabelecer-se a visão, já não eram só os vegetais os seres viventes que povoavam a superfície da Terra e os abismos do oceano. As aves se aninhavam agitadas por suaves brisas e cantavam nas ramagens; os animais corriam, cada um segundo seus instintos e necessidades, pelos montes e vales, por desertos e selvas, pelos bosques e margens dos rios; os peixes desfilavam pelo seio das águas, e, sobre todos esses seres, dotados de vida e de movimento, destacava-se outro mais nobre e privilegiado, o rei de todos - o homem.
Tinha mediado um parêntesis, talvez de muitos milhares de séculos. Este parêntesis não pertence à criatura; é do domínio da Sabedoria Infinita.
Donde saíram os peixes, as aves e os animais terrestres? Qual foi o princípio de sua formação e desenvolvimento? Vieram do Alto ou surgiram do pó?
Meu espírito não o tinha visto, porém minha alma parecia ter algo adivinhado, mais puro que o impulso vivificante, nos primeiros e mais elevados elos da cadeia vegetal.
Livrai-vos de firmar juízos sobre minhas palavras, quanto ao misterioso nascimento dos animais. Meu espírito estava cego; e que confiança merece a vista de um pobre cego?
Ascendendo, pelo estudo, à escala ascendente do reino animal, em seus inumeráveis tipos, vi com surpresa, nos mais perfeitos, algo que não podia explicar, algo que parecia escapar e parecia estranho à natureza animal.
Meu Deus! quão pequenos somos a teus pés!
Donde havia saído o homem? Qual tinha sido o princípio de sua formação e de seu desenvolvimento? Veio diretamente do pensamento de Deus ou levantou-se do pó por uma série de transformações sucessivas?
Meu espírito não o tinha visto, porém minha alma não podia esquecer aquele algo indefinível, que tinha como que adivinhado nos animais superiores.
Luz - luz - muita luz - muitíssima luz! porém a luz reside em Deus.
Eu tinha visto, e via vegetais como minerais e minerais como vegetais, animais como vegetais e vegetais como animais, homens que participavam muito do animal e animais que participavam alguma coisa do homem.
Livrai-vos de assentar juízos sobre minhas palavras quanto ao misterioso nascimento do homem. Meu espírito estava cego; e que confiança merece a vista de um pobre cego?
Eu via o homem, e via nele o sentimento, a vontade e a luz; via o animal, e via nele a sensação, o impulso e o instinto; via o vegetal, e via nele a tendência para a conservação. E perguntava a mim mesmo:
O sentimento, a vontade e a luz são criações independentes e primitivas ou são uma criação única, já modificada ou transformada?
E, ao pensar que os três caracteres distintivos da natureza humana poderiam confundir-se em sua raiz, acudiu fugitivamente à minha alma a idéia de que podia ser a unidade, a identidade, o limite de sua depuração.
E perguntava a mim mesmo:
São, porventura, o sentimento, a sensação depurada e transformada - a vontade, o impulso depurado e transformado? Serão, porventura, o sentimento e a sensação, a vontade e o impulso, a luz e o instinto - depurações e transformações daquela tendência para a conservação iniciada no organismo vegetal?
Ignoro; não sei; não quero; não posso; não me atrevo a sabê-lo; porque Deus pôs um véu entre o seu segredo e os olhos de meu espírito. Minha alma nada sabe acerca do princípio e do nascimento do homem!"


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(*) Segunda comunicação mediúnica do Evangelista João (Espírito), feita em março de 1874 a um grupo de sacerdotes católicos em Lérida, Espanha.

Extraído do livro <Roma e o Evangelho> (capítulo XI, 28, II), de D. José Amigó y Pellícer, publicado no Brasil pela Federação Espírita Brasileira.

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