PRIMEIRA EDIÇÃO DE 02-6-2018

NA COLUNA DO CLÁUDIO HUMBERTO
SÁBADO, 02 DE JUNHO DE 2018
Após adotar a política de reajustes quase diários dos combustíveis que provocaria um “tsunami” na economia, o ex-presidente da Petrobras, Pedro Parente, deixou o cargo fazendo mal às finanças da estatal. Ao anunciar sua saída, ali pelas 11h da manhã desta sexta-feira (1º), em vez de esperar o fim da tarde, com o mercado financeiro já encerrado, ele saiu em grande estilo, espalhafatosamente, derrubando o valor das ações, até da Petrobras, só ontem desvalorizadas em R$ 46 bilhões.

Está na conta da gestão de Pedro Parente o custo de R$10 bilhões do governo para atender as demandas dos caminhoneiros.

Os setores da indústria e serviços estimam perdas de R$27,7 bilhões durante a greve. Em cinco dias, a agricultura perdeu R$6,6 bilhões.

O mercado estima que a Petrobras desvalorizou-se R$80 bilhões, durante a greve dos caminhoneiros, provocada pela política de Pedro Parente.

No total, o governo teve 128 bilhões de motivos para Temer demitir Pedro Parente. Mas o presidente preferiu esperar que se demitisse.

Ao contrário de outras ocasiões, a Diretoria de Marketing do Banco do Brasil não discutiu em audiência pública a minuta do edital de licitação para contratar “até quatro” agências de publicidade, que vão aplicar a verba de propaganda de meio bilhão de reais. O teor do edital somente foi conhecido após publicação e provocou suspeita de direcionamento. É que no mercado apenas quatro agências, todas ligadas a grupos internacionais, teriam condições de atender às exigências do edital.

Entre as agências que teriam condições de atender as exigências do edital do BB está Talent (Grupo WPP) e JW Thompson.

Também as agência Olgilvy, Mccann e LewLara/TBWA, todas ligadas a grupos internacionais, poderiam se habilitar à licitação.

Na licitação de 2016, o BB escolheu uma agência minúscula. Agora exige das interessadas lucro mínimo de R$12,5 milhões.

O site Diário do Poder antecipou a escolha de Ivan Monteiro para presidir a Petrobras, nesta sexta (1º). Monteiro foi levado à estatal por Aldemir Bendine, o seu presidente do governo Dilma, que está preso.

Além de pagarmos a redução de R$ 0,46 no diesel para caminhoneiros, bancaremos também as diárias e horas extras dos fiscais do governo que vão checar neste sábado se os postos estão honrando o acordo.

A CUT viaja na maionese, em seu próprio mundo: atribuiu a saída de Pedro Parente da Petrobras à greve de 24h dos petroleiros, que aliás não teve importância alguma e não produziu qualquer impacto.

A venda direta por produtores aos postos criará um “círculo virtuoso”, segundo Fernando Safatle, autor de 'A economia política do etanol'. “Haverá queda significativa do preço do combustível, que onera em até 40% o preço dos produtos brasileiros por causa do frete”, explica.

Enquanto brasileiros perdiam horas preciosas em filas quilométricas para abastecer, carros oficiais enchiam o tanque usando grana pública e ainda furavam ou criavam filas exclusivas de atendimento prioritário.

Além dos caminhoneiros, que obrigaram o governo a editar três Medidas Provisórias num só dia, apenas a indústria automobilística conseguiu ganhar do governo tantas MPs num único dia. Mas aí custou uma grana preta no balcão de negócios do governo do PT.

O governo federal faturou mais de R$1,15 trilhão entre janeiro e maio e R$987 bilhões foram impostos, segundo o Impostômetro. O valor seria maior se entrassem na conta R$ 237 bilhões aferidos no Sonegômetro.

… na Petrobras, de Parente, só a família.

NO O ANTAGONISTA
Fux quer que STF barre registro de criminosos como Lula
Brasil Sábado, 02.06.18 06:10
Luiz Fux quer resolver de uma vez por todas a impostura da candidatura de Lula (e não só dele).
Leia o que diz O Globo:
“Luiz Fux defende que o STF ratifique, em plenário, que um condenado em Segunda Instância não pode ter sua candidatura registrada pela Justiça Eleitoral, nem mesmo de forma provisória.
A Lei da Ficha Limpa já determina que essas pessoas são inelegíveis, mas existem dúvidas sobre o momento de aplicação da regra. Fux entende que candidatos nessa condição não devem sequer ser registrados e, portanto, não poderiam fazer campanha (…).
Nos bastidores, os ministros do TSE concordam que Lula não pode receber registro nem provisório, nem definitivo. A preocupação de Fux é quanto a outras instâncias da Justiça Eleitoral, que podem aplicar entendimento diverso para situações semelhantes. Daí a necessidade de unificar a tese no STF. Para Fux, o Supremo precisa esclarecer dúvidas sobre essa interpretação antes de 15 de agosto, fim do prazo de registro na Justiça Eleitoral (…)
O Supremo tinha que decidir isso antes das eleições, quem pode concorrer ou não, porque evita o registro de quem está impedido. É preciso dar interpretação conforme ao artigo, porque não é razoável, com base nesse subterfúgio, que um candidato inelegível se coloque como se fosse sub judice’, argumentou Fux. ‘Se, no momento do registro, a pessoa é inelegível, não é candidatura sub judice’, concluiu.”

A fraude no contrato de Lula com a OAS
Brasil 02.06.18 06:09
Lula mandou favorecer a OAS em obra de 353 milhões de reais para a Prefeitura de São Bernardo do Campo, comandada por Luiz Marinho.
Foi o que delatou Léo Pinheiro, presidente da empreiteira e um dos maiores pagadores de propinas para Lula.
Diz O Globo:
“A história que envolve Luiz Marinho está contada em um dos primeiros anexos apresentados por Pinheiro à Lava Jato, que tratam de sua relação com o ex-presidente Lula. Segundo o empreiteiro, a entrada da OAS no negócio foi acertada em duas reuniões no Instituto Lula, durante o segundo semestre de 2012 (…).
O ex-presidente Lula me convocou para uma reunião no Instituto Lula para pedir que a OAS estudasse uma solução para o problema de inundação no Centro de São Bernardo do Campo, praça e arredores do Paço Municipal. Realizados os estudos, mantive um novo encontro com Lula na mesma data em que ocorria uma sessão televisionada do julgamento da AP 470 no Supremo Tribunal Federal. Nessa reunião, o ex-presidente, que estava assistindo ao julgamento pela televisão, desligou o aparelho para conversar comigo. Apresentei alternativas para a solução do problema. Lula se mostrou satisfeito e solicitou que entrasse em contato com Luiz Marinho, prefeito de São Bernardo do Campo, para resolver o assunto’, relata Léo Pinheiro.
Na sequência do seu relato, o empreiteiro esclarece o que seria ‘resolver o assunto’.
‘Atendendo à orientação (de Lula), determinei que um diretor da OAS procurasse Luiz Marinho. Nesse contato, se acertou a elaboração de um edital especificamente para que a OAS ganhasse a licitação e realizasse as obras em São Bernardo do Campo. A OAS sagrou-se vencedora do certame num consórcio com a Serveng’, conta Léo Pinheiro.”

“Personagens notórios por escândalos continuam prestigiados no Planalto”
Brasil 02.06.18 05:50
O Estadão, em editorial, pela primeira vez atacou as escolhas de Michel Temer:
“Enquanto o governo perde quadros de imenso valor como Pedro Parente – e, antes dele, Maria Silvia Bastos Marques, que deixou o BNDES depois que o governo lhe sonegou apoio contra os que sabotavam sua política de reorganização do banco –, personagens notórios mais por escândalos que por capacidade administrativa continuam prestigiados no Palácio do Planalto. Nada disso augura um bom futuro nem para o governo nem para o País.”

O que resta da credibilidade de Temer
Brasil 02.06.18 05:15
A ORCRIM quer retomar a Petrobras.
A Folha de S. Paulo, em editorial, denunciou o ataque:
“Pelos motivos e pelo momento, a saída de Pedro Parente do comando da Petrobras gera efeito inicial desastroso para a imagem da empresa e o que resta da credibilidade do governo Michel Temer.
Não se trata de endeusar a figura do executivo, nem de imaginar que sua gestão fosse imune a falhas ou excessos. Fato é que, voluntária ou forçada, sua demissão revela a estatal novamente vulnerável a injunções de Brasília.”

“Privatizar não só a Petrobras, mas outras estatais”
Brasil 02.06.18 05:08
Roberto Castello Branco, que foi conselheiro da Petrobras, disse na Folha de S. Paulo:
“Precisamos de várias empresas privadas competindo nos mercados de combustíveis (…).
Uma das lições que se tira desta crise é a urgente necessidade de privatizar não só a Petrobras, mas outras estatais.
É inaceitável manter centenas de bilhões de dólares alocados a empresas estatais em atividades que podem ser desempenhadas pela iniciativa privada, enquanto o Estado não tem dinheiro para cumprir obrigações básicas, como Saúde, Educação e Segurança Pública, que até mesmo tiveram recursos cortados para financiar o subsídio ao diesel.”

PGR pede envio de inquérito sobre Serra para a Primeira Instância
Brasil Sexta-feira, 01.06.18 21:19
Raquel Dodge pediu ao STF que envie para a Justiça de São Paulo o inquérito que apura pagamento de propina da Odebrecht ao senador José Serra.
Libertado por Gilmar Mendes na quarta-feira, Paulo Preto é apontado com o operador do caixa dois do tucano.
Em delação premiada, o ex-executivo da Odebrecht, Pedro Novis, afirmou que aproximadamente R$ 21 milhões foram repassados a Serra nas campanhas de 2002, 2004 e 2006.

URGENTE: VALLISNEY CONDENA EDUARDO CUNHA A 24 ANOS DE PRISÃO
Brasil 01.06.18 20:16
O juiz Vallisney de Oliveira, da 10ª Vara Federal em Brasília, acaba de condenar o ex-deputado Eduardo Cunha a 24 anos e 10 meses de cadeia pelos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro.
Ele também foi sentenciado a pagar multa de R$ 7 milhões.
Trata-se da conclusão da ação penal que apurou esquema de propinas montado pelo ex-presidente da Câmara no FI-FGTS, da Caixa Econômica Federal.
Também foram condenados o ex-ministro Henrique Alves (oito anos e oito meses, mais R$ 1 milhão de multa), além do ex-VP da Caixa, Fabio Cleto e dos operadores Lúcio Funaro e Alexandre Margotto, sendo que os três foram beneficiados por acordos de colaboração premiada.

Alvo da PF, número 2 do Ministério do Trabalho é demitido
Brasil 01.06.18 18:53
Leonardo Arantes, sobrinho de Jovair Arantes e alvo da Operação Registro Espúrio, teve sua exoneração confirmada há pouco do cargo de secretário-executivo do Ministério do Trabalho.
Leonardo é suspeito de cobrar até 4 milhões de reais para liberar cartas sindicais.

Gilmar, o insuspeito
Brasil 01.06.18 17:12
Ao soltar Orlando Diniz, Gilmar Mendes manteve a conduta recente de não se declarar suspeito para atuar em casos que possam sugerir algum conflito de interesses.
Como a Crusoé mostrou, a Fecomércio patrocinou evento do IDP em Lisboa. O valor de R$ 50 mil aparece também em relatório sigiloso da Receita, obtido por O Antagonista, no âmbito da Operação Jabuti.
O curioso dessa história é que o ministro já se declarou suspeito em processo de interesse da Fecomércio, mas isso foi antes de Diniz ser colhido pela Lava Jato.
Na ocasião, o conflito era duplo: o advogado da Fecomércio na ação era Sérgio Bermudes, que tem como sócia no escritório a mulher do próprio Gilmar.
(...)

NO BLOG DO JOSIAS
Prioridade do Brasil é revogar a ‘Lei de Murphy’
Por Josias de Souza
Sábado, 02/06/2018 04:37
O Brasil enfrenta a crise dos ‘Três Dês’. Faltam ao País decência, direção e desenvolvimento. No dia 1º de janeiro de 2019, Michel Temer será apenas matéria-prima para a Polícia Federal. Haverá outro inquilino na Presidência da República. Nem por isso a corrupção desaparecerá, nem a luz surgirá no fim do túnel e nem 13 milhões de carteiras de trabalho serão assinadas. O Brasil ainda será um país por fazer.
O derretimento do atual governo tornou a satanização de Temer um passatempo inútil. A essa altura, os presidenciáveis deveriam demonstrar ao eleitorado que são capazes de inaugurar um espetáculo novo. Mas a maioria desperdiça a sua hora oferecendo raiva e indefinições. O vácuo conceitual é tão dramático que um pedaço da sociedade começa a considerar a própria democracia desnecessária. É como se o Brasil estivesse condenado a viver sob o domínio da Lei de Murphy.
Abre parêntese: o capitão Edward Murphy, da Força Aérea dos Estados Unidos, enxergou o DNA da urucubaca ao acompanhar os experimentos de seu chefe, o major John Paul Stapp. Cobaia de testes de resistência a grandes acelerações, Stapp desafiava a velocidade num trenó-foguete. Em 1949, bateu o recorde de aceleração. Mas não conseguiu celebrar o feito. Os acelerômetros do veículo não funcionaram.
Engenheiro, Murphy foi investigar o que havia ocorrido. Descobriu que um técnico ligara os circuitos dos aparelhos ao contrário. E concluiu: ''Se há mais de uma forma de fazer um trabalho e uma dessas formas redundará em desastre, então alguém fará o trabalho desta forma''. Em entrevista, Stapp se referiu à frase como ''Lei de Murphy''. Resumiu-a assim: ''Se alguma coisa pode dar errado, dará''. Fecha parêntese.
Quando FHC passou pelo poder, consolidou o Plano Real, um feito econômico notável. Na política, porém, entregou-se a realpolitik que o tornou aliado do rebotalho parlamentar. O PSDB desfigurou-se. Nunca mais retornou ao Planalto. Quando Lula chegou à presidência, preservou os pilares da economia e distribuiu renda. Mas comprou com moeda sonante o apoio da mesma banda arcaica que se aninhara sob FHC. Deu em mensalão e petrolão. A certa altura, a verba da arca eleitoral clandestina se confundia com o dinheiro que bancou os conforto$. Deu em cadeia.
Tomados pelo espírito da Lei de Murphy, tucanos e petistas jamais conseguiram se unir. Preferiram se juntar ao atraso. Deu no que está dando. Ao deixar a presidência, Lula poderia ter levado seus 83% de popularidade para a câmara de descompressão de São Bernardo. Optou por continuar mandando por meio de Dilma Rousseff. E ainda enfiou Michel Temer na vice. Murphy em dose dupla.
Temer talvez não se reelegesse deputado. Mas foi convertido em presidente pelo destino e pelos traidores do petismo. Poderia ter compreendido seu papel histórico, compondo um ministério de notáveis. Preferiu entregar a maioria das pastas a dois tipos de aliados: os capazes de tudo e os incapazes de todo. Chega ao ocaso do seu mandato cercado de auxiliares fora da lei e com quatro fardos sobre os ombros: duas denúncias e dois inquéritos por corrupção. Murphy elevado à última potência.
A Lava Jato dividiu os políticos em dois grupos: os culpados e os cúmplices. Como não consegue enxergar inocentes, o eleitorado também se dividiu em duas alas: a dos pessimistas e dos desesperados. A primeira banda engrossa o bloco dos sem-candidato; a segunda, em vez de aproveitar os escândalos e a ladroagem para qualificar o próprio voto, sonha em resolver a bagunça com ditadura. É a Lei de Murphy em sua versão ''manu militari''.
O descrédito no sistema político é tão devastador que a liberdade democrática produz a fúria dos imbecis — gente que compreende a democracia como um regime em que o sujeito tem ampla e irrestrita liberdade para exercitar sua capacidade de fazer besteiras por conta própria — como trocar ofensas, defender corruptos e pregar a volta dos militares nas redes sociais. É a tecnologia a serviço do efeito Murphy.
A paralisação dos caminhoneiros, uma espécie de junho de 2013 com boleia, expôs o tamanho da indignação dos brasileiros: 87% dos entrevistados do Datafolha disseram apoiar um movimento que impôs à sociedade o desabastecimento de combustíveis e mantimentos, que reteve medicamentos e retardou cirurgias, que apavorou pacientes dependentes de hemodiálise. É como se as pessoas quisessem produzir o caos que transformará o Brasil num lugar perfeito para a construção de algo inteiramente novo.
O problema é que a fome do “novo” esbarra numa legislação que privilegia a eleição de um Congresso Nacional velho. Muitos se perguntam quem será o próximo presidente da República. Convém formular uma segunda questão: como será governado o País a partir de 2019? Juntando-se o salvacionismo de certos presidenciáveis com o arcaísmo de sempre, perpetua-se o desastre. Ou o Brasil revoga a Lei de Murphy ou ficará mais próximo da Idade Média do que da Renascença.

Administração Temer entra em sua fase Titanic
Por Josias de Souza
Sexta-feira, 01/06/2018 20:11
Até poucos dias atrás, todas as avaliações negativas sobre o governo eram acompanhadas de uma conjunção linguística: “entretanto”. Admitia-se que o governo é corrupto e politicamente desastroso. Mas acrescentava-se: entretanto, a gestão Temer avançou na economia. O caminhonaço e suas consequências, entre elas a saída de Pedro Parente da presidência da Petrobras, eliminou do enredo o “entretanto”. Generalizou-se o naufrágio. A água invade a área econômica.
A subvenção que fabricou uma redução do preço do óleo diesel aumentou o déficit público e desfigurou a gestão ortodoxa de Temer, agora de viés populista. Ao efetivar Ivan Monteiro como substituto de Parente, o presidente declarou que a política de preços da Petrobras não sofrerá mudanças. Mas já mudou no diesel. E pouca gente se anima a dar crédito irrestrito a Temer.
Os dez dias sem caminhão e com desabastecimento resultaram num baque com reflexos na economia, que já seguia uma curva descendente. Já não é improvável um PIB abaixo de 2%.
Se o governo de Michel Temer fosse um filme, seria fácil resumir o enredo. Bastaria dizer que o filme é sobre uma embarcação temerária, uma tripulação alienada e uma imensa pedra de gelo. Tudo muito parecido com Titanic. Enquanto o transatlântico afunda, Temer ordena à orquestra que continue tocando.
Serão sete meses a caminho do fundo. Sofrem mais os mais de 13 milhões de passageiros desempregados, que viajam no porão, perto da casa de máquinas. Quem observa os candidatos à sucessão presidencial fica com a incômoda impressão de que faltam ao Brasil principalmente botes salva-vidas.

Gilmar expediu 15 alvarás de soltura em 15 dias
Por Josias de Souza
01/06/2018 19:41
O ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, passou a deferir pedidos de habeas corpus em ritmo industrial. Num intervalo de 15 dias, Gilmar expediu 15 alvarás de soltura. O penúltimo foi rubricado nesta sexta-feira. Ganhou o meio-fio Orlando Diniz, ex-presidente da Federação do Comércio do Rio de Janeiro. Estava atrás da grades desde fevereiro. É acusado de se apropriar de R$ 10 milhões em verbas públicas.
Paulo Vieira de Souza, o Paulo Preto, apontado como operador de propinas do PSDB paulista, foi contemplado com dois dos 15 habeas corpus de Gilmar. Solto uma vez, voltou a ser preso na última quarta-feira. Gilmar mandou soltá-lo novamente horas depois. Estendeu a ordem à filha dele, Tatiana Cremonini.
Dois dias antes, na segunda-feira, foram liberados por Gilmar o ex-secretário estadual de Administração Penitenciária do Rio de Janeiro, Cesar Rubens Monteiro de Carvalho e o doleiro Sérgio Roberto Pinto da Silva.
O rol de liberados por Gilmar na segunda quinzena de maio inclui Hudson Braga, secretário de Obras do multicondenado Sergio Cabral, ex-governador do Rio; Carlos Miranda, principal operador de Cabral. Também foi para casa Milton Lyra, um lobista ligado a caciques do MDB do Senado —investigado em inquérito sobre desvios no Postalis, o Fundo de Pensão dos Correios.
Nas pegadas de Milton, deixaram o xilindró por ordem de Gilmar outros quatro presos enrolados no mesmo inquérito sobre Fundos de Pensão: Marcelo Sereno, ex-secretário nacional de comunicação do PT; Adeilson Ribeiro Telles, do Postalis; Carlos Alberto Valadares Pereira, ex-membro do Conselho de Administração do Serpros, fundo de pensão do Serpro; e Ricardo Siqueira Rodrigues, operador financeiro.
De resto, o ministro do Supremo mandou abrir as celas do empresário Sandro Alex Lahmann e do delegado Marcelo Luiz Santos Martins, ambos envolvidos em inquérito que apura irregularidades no sistema prisional do Rio de Janeiro.
Há seis dias, outro ministro do Supremo, Luís Roberto Barroso, declarou, numa palestra para juízes: “Existe uma minoria muito bem protegida no Brasil, atualmente: são os corruptos. Pessoas que desviaram milhões e mantêm suas contas no exterior e são libertadas a granel.”
Sem mencionar o nome de Gilmar Mendes, Barroso acrescentou que as liberações em série “expõem e desprestigiam os juízes do Primeiro Grau, que enfrentam essa cultura de desigualdade que sempre protegeu os mais riscos, essa cultura de compadrio. E as pessoas que ousam corajosamente romper com esse círculo vicioso da História brasileira são frequentemente desautorizadas, quando não humilhadas, por decisões judiciais de tribunais mais elevados.”

Parente saiu após farejar ‘interferência política’
Por Josias de Souza
01/06/2018 14:54
Michel Temer não tinha a intenção de alterar o comando da Petrobras. Mas ajudou decisivamente a empurrar Pedro Parente para fora da presidência da estatal. Parente enxergou na movimentação do ministro Moreira Franco (Minas e Energia) um indício de que a blindagem contra interferências políticas na administração da Petrobras poderia ter chegado ao fim. Uma frase enviesada de Temer converteu o indício numa evidência. Ao constatar uma rachadura no escudo que recebera de Temer há dois anos, Parente decidiu bater em retirada.
O desfecho começou a ser esboçado na última terça-feira. A paralisação dos caminhoneiros puxava para baixo as ações da Petrobras. Em videoconferência, Pedro Parente acalmou os investidores. Garantiu-lhes que a política preços da estatal seria preservada. Horas depois, alheio ao esforço de Parente, Temer puxou-lhe o tapete. Fez isso numa entrevista à emissora estatal TV Brasil.
Durante a conversa, Temer declarou o seguinte: “A Petrobras se recuperou ao longo desses dois anos, estava numa situação, digamos, economicamente desastrosa há muito tempo, então nós não queríamos, digamos, alterar a política da Petrobras, nós podemos reexaminá-la, mas com muito cuidado, tanto que, você veja que, nós estabelecemos um prazo de 60 dias para que não haja nenhum aumento inicial e depois os aumentos serão formulados e formatados a cada 30 dias.”
As palavras de Temer soaram como um desejo de modificar a política de preços da Petrobras. O miolo da encrenca estava no trecho “nós podemos reexaminá-la.” A coisa soou tão esquisita que os repórteres chegaram a imaginar que o presidente pudesse ter dito “não podemos reexaminá-la.” Mas a assessoria do Planalto, acionada, esclareceu que Temer dissera “nós” em vez de “não”. Seguiu-se uma intensa confusão nos bastidores. Parente colocou o cargo à disposição. Temer desconversou.
Na manhã seguinte, as ações preferenciais da Petrobras chegaram a cair 6%. Todo o esforço que Parente fizera na véspera para jogar água na fervura perdera-se num vocábulo de três letras: “nós”. Para complicar, Parente não se sentia incluído no plural majestático de Temer. Por isso, começou a matutar sobre o caminho singular da demissão. Tomou esse rumo porque já havia farejado num vaivém de Moreira Franco a intenção de alterar a forma como a Petrobras maneja os preços dos combustíveis.
Numa tentativa de consertar o estrago, o Planalto chegou a divulgar uma nota. Nela, escreveu que as medidas adotadas pelo governo para garantir a previsibilidade do preço do diesel preservaram — e continuarão a preservar — a política de preços da Petrobras. As ações da estatal fechariam o dia em queda. Além de Parente, o mercado também pressentiu que o governo fazia a plateia de boba, negando um debate interno que tornara-se inegável.
Em conversas com parlamentares e declarações à imprensa, Moreira falava em estender para a gasolina o acerto firmado com os caminhoneiros em relação ao diesel. O acordo estabeleceu uma periodicidade mensal para os reajustes do diesel. Em nome da “previsibilidade”, Moreira passou a defender que a novidade do diesel fosse convertida numa política para todos os combustíveis. Não havia clareza sobre como a Petrobras seria compensada pelas variações da cotação do dólar e do petróleo ao longo dos 30 dias de preços fixos.
Parente não se deu por achado. Quando ainda havia caminhoneiros atravessados nas estradas, autorizou a elevação da gasolina vendida às distribuidoras, mantendo-se fiel à tática de grudar os preços internos à cotação internacional. Estava claro que o administrador da Petrobras, guindado ao posto há dois anos como solução para a ruína produzida nas gestões petistas, transformara-se num problema para o governo.
Pedro Parante iluminou a encrenca num trecho de sua carta de demissão: ''Tenho refletido muito sobre tudo o que aconteceu. Está claro, senhor presidente, que novas discussões serão necessárias. E, diante deste quadro fica claro que a minha permanência na presidência da Petrobras deixou de ser positiva e de contribuir para a construção das alternativas que o governo tem pela frente. Sempre procurei demonstrar, em minha trajetória na vida pública que, acima de tudo, meu compromisso é com o bem público. Não tenho qualquer apego a cargos ou posições e não serei um empecilho para que essas alternativas sejam discutidas.''
Há dois anos, ao ser convidado por Temer para presidir a Petrobras, Parente condicionara a aceitação do convite à concessão de uma carta branca. Topou depois que recebeu do presidente a garantia de que poderia administrar a maior estatal do país “livre de interferências políticas.” A crise do caminhonaço derreteu o compromisso de Temer. Súbito, passaram a pedir o escalpo do presidente da Petrobras dos petroleiros à bancada do MDB no Congresso. E Parente passou a enxergar na porta de saída o elemento mais atraente da sala da presidência da Petrobras.

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