PRIMEIRA EDIÇÃO DE 11-9-2016 DO 'DA MÍDIA SEM MORDAÇA'

NA COLUNA DO CLÁUDIO HUMBERTO
DOMINGO, 11 DE SETEMBRO DE 2016
Foi identificado o sumiço de ao menos 52 objetos do Palácio Alvorada desde quando a ex-presidente Dilma Rousseff o desocupou, partindo para Porto Alegre, segundo fontes próximas ao Planalto e Ministério da Transparência. Ela terá de devolver todos os objetos à União, sob pena de processo no Tribunal de Contas da União e até na Justiça comum. Dilma começou a mudança para o sul na madrugada de segunda (5).
Além do sumiço de itens que pertencem ao patrimônio público, a mudança de Dilma, em três caminhões, custou-nos R$ 75 mil.
A mudança de Dilma foi modesta para os padrões Lula, que usou 11 caminhões e levou 697 itens que não lhe pertencem, segundo o TCU.
Além de usar caminhões de mudança, Dilma também levou pertences certamente pessoais em jatinho da FAB.
Os pertences de Dilma, segundo sua assessoria, vão ser estocados na casa da petista e também num depósito alugado.
Apesar das dificuldades para recuperar a economia, as votações de interesse do governo Michel Temer tiveram apoio de 84% da Câmara. Em 74 votações, 436 deputados votaram em favor do governo em 50% das vezes ou mais; e 88 menos de 50%. No segundo governo Dilma, a o apoio foi de 66%. Em 246 votações, 391 deputados votaram com o governo em 50% das vezes ou mais; e 168 menos de 50%.
“Hoje temos um governo que sabe o que quer e não tem medo de dialogar”, diz o vice-líder Carlos Marun (PMDB-MS).
“O governo está no começo e não houve projetos polêmicos”, justifica Humberto Costa (PT-PE). Ele aposta na redução do apoio ao governo.
Nos dois governos Lula, índice de apoio parlamentar chegou a 77%, mais que Dilma e muito menos que os 84% de Michel Temer.
Bomba nas redes sociais a resposta dos apoiadores do impeachment (entre 67% e 75% dos brasileiros, segundo pesquisas mais recentes) aos gritos de “Fora, Temer”. A ordem é reagir com “Fora, ladrão!”
Nas redes sociais, muita gente tem se dado conta de que os protestos contra Temer são estimulados ou organizados por políticos que são investigados na Lava Jato por se beneficiarem do roubo à Petrobras.
A nomeação de Grace Maria Fernandes, escolhida pelo presidente Michel Temer para chefiar a Advocacia Geral da União (AGU), foi bem recebida até pelas entidades que representam servidores.
Após articular com Renan Calheiros e o PT a manutenção dos seus direitos políticos, Dilma usou essa incongruência para argumentar no STF que o “fatiamento” seria “prova da inexistência” dos seus crimes.
Randolfe Rodrigues (Rede-AP) pediu ressarcimento ao Senado de R$281 mil em “despesas”. É o 3º maior gastador. Perde para Paulo Rocha (PT-PA), R$ 285 mil, e Telmário Mota (PDT-RR), R$ 283 mil.
O constitucionalista Erick Wilson Pereira observa que o embate entre a defesa de Lula e o ministro Teori Zavascki mostrou que a Constituição só garante o amplo direito à defesa e não o direito à procrastinação.
Conhecido pela capacidade de articulação política, o senador Romero Jucá (PMDB-RR) ainda é o candidato preferido de alguns senadores, incluindo Renan Calheiros, para presidir o Senado a partir de fevereiro.
O deputado Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) define Lula e Eduardo Cunha como “arrogantes e prepotentes”. “Eles se parecem nas estratégias de defesa: usam e abusam das mentiras”, diz.
A brincadeira é de destacado ministro do TSE: “Na parada militar do dia 7, em matéria de primeira-dama, o Brasil saiu da artilharia [“canhão”] para a força aérea [“avião”].

NO DIÁRIO DO PODER
ENTREVISTA
GOVERNO VAI TOCAR PROCESSOS, DIZ NOVA CHEFE DA ADVOCACIA GERAL DA UNIÃO
AGU AFIRMA QUE PROVIDÊNCIAS SERÃO TOMADAS NO ÂMBITO DA LAVA JATO
Publicado: sábado,10 de setembro de 2016 às 16:24 - Atualizado às 22:19
A nova chefe advogada-geral da União, Grace Maria Fernandes Mendonça, assegura que o governo vai tomar as providências necessárias para processar políticos e servidores públicos investigados na Operação Lava Jato. Em entrevista por telefone ao Estado nesta sexta-feira, 09, horas depois de ser nomeada para o cargo, ela negou que o Palácio do Planalto tenha atuado para que a Advocacia-Geral da União (AGU) não buscasse no Supremo Tribunal Federal (STF) dados sobre o envolvimento de parlamentares em desvios na Petrobrás e outros órgãos. "As informações serão buscadas. Tão logo sejam analisadas pelo Departamento de Probidade Administrativa, as ações serão promovidas pela AGU."
Em 22 de agosto, o ministro Teori Zavascki, relator da Lava Jato na Corte, autorizou o compartilhamento de 12 inquéritos com a AGU para que o órgão avalie ajuizar ações de improbidade administrativa contra os investigados no STF. Até esta sexta-feira, 09, as cópias não haviam sido feitas. O ex-ministro Fábio Medina Osório, atribuiu sua exoneração a uma decisão política tomada pelo governo depois de ele pedir acesso às investigações sobre integrantes da base aliada do presidente Michel Temer.
Grace Mendonça é funcionária de carreira da AGU desde 2001 e chefiava a Secretária-Geral de Contencioso, responsável pelo acompanhamento das ações no STF. Na véspera da nomeação, ela e sua equipe se desentenderam com o ministro exonerado.
Por que a demora em buscar no Supremo inquéritos sobre políticos alvos da Lava Jato?
O ministro Teori (Zavascki) despachou, autorizando o acesso, mas nós recebemos a informação do próprio Supremo de que esse processo é físico e que essas informações demandariam algum tipo de transferência ou por sistema ou por algum tipo de mídia. O que estava se acertando, até esta semana, era a melhor forma de que esses dados fossem migrados sem nenhum prejuízo em relação à questão do sigilo. As informações serão buscadas. Não vai ter nenhum tipo de restrição. Tão logo sejam analisadas pelo Departamento de Probidade Administrativa, as ações serão promovidas pela AGU.
Contra políticos, servidores públicos envolvidos em desvios...
Pode ter absoluta certeza. O que se tem é a parte operacional, que está sendo trabalhada. É preciso que se tenha um trato institucional seguro até para que, se houver algum tipo de equívoco no trato, que se tenha a responsabilização.
O Planalto manifestou algum incômodo com o compartilhamento?
Nunca foi objeto de incômodo. Essa informação, posso te assegurar, não é verídica. Tanto que o nosso trabalho vai ser tocado o mais rápido possível.
Quais são suas prioridades e como a senhora tratará a Lava Jato?
Já temos uma força-tarefa que cuida da Lava Jato. É um trabalho ordinário. Agora, pelo fato de ser a Lava Jato, se despertou interesse. Mas a AGU já faz isso há muito tempo, e várias ações foram ajuizadas no combate à corrupção. A ideia é seguirmos nessa linha. Temos aí também toda a preocupação com a redução de litígios perante o Judiciário, vamos dar atenção à questão social.
A senhora conversou com o presidente Temer?
Foi um diálogo basicamente para um convite, que foi aceito com muita honra e muito ânimo. Nenhum pedido especial.
Houve ingerência da Casa Civil no caso dos inquéritos do Supremo?
Desconheço totalmente. Não houve nenhuma solicitação da Casa Civil. Se o próprio advogado-geral quisesse ter acesso (aos inquéritos), ele teria competência para isso, como chefe da instituição. Ele não tem nenhuma restrição legal, ao contrário. Não se trata de uma competência exclusiva da Secretaria-Geral de Contencioso.
Qual foi o assunto da reunião entre o ministro, a senhora e sua equipe horas antes da demissão?
Não teve um propósito específico. Ele só perguntou (sobre a demora no compartilhamento). A diretora responsável pela área retratou (sic) a ele as tratativas que estavam sendo feitas para que os dados fossem migrados de forma segura. Isso é rotina institucional. Talvez ele não conhecesse a rotina da instituição. Não teve nenhum trato diferenciado. O Supremo entrou em contato conosco coisa de uma semana depois (de autorizar o compartilhamento). Esse processo era físico e o Supremo teve de transformá-lo em eletrônico.
A senhora disse que entregaria o cargo?
Em nenhum momento coloquei meu cargo à disposição. Até porque, se fosse fazê-lo, colocaria a quem me nomeou, que foi o presidente da República. Foi uma reunião desrespeitosa com os integrantes da instituição. Ele acabou exonerando um dos integrantes da casa, sob alegações que não tinham qualquer fundamento, e aí toda a equipe falou: "se esse colega que está há 20 anos na instituição não puder ser respeitado, todos os demais com ele se alinham".
A senhora aceitaria pisar no freio em relação a essas medidas relacionadas à Lava Jato?
Não se trata de pisar no freio ou não aceitar pisar no freio. São medidas institucionais. É o fluxo ordinário de trabalho. Não tem nenhum obstáculo para que ele seja feito naturalmente, nenhum obstáculo da Casa Civil em relação a isso. (AE)

LAVA JATO
STF AUTORIZA COMPARTILHAR CELULAR DE LÉO PINHEIRO COM INQUÉRITO SOBRE AGRIPINO
SENADOR É INVESTIGADO POR SUPOSTA PROPINA NAS OBRAS DA ARENA DAS DUNAS
Publicado: sábado,10 de setembro de 2016 às 17:06
O ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal, autorizou o compartilhamento dos relatórios policiais de análise de telefones celulares de José Adelmário Pinheiro, o Léo Pinheiro, da OAS, com a Procuradoria da República do Rio Grande do Norte.
A decisão de Barroso foi tomada em inquérito que investiga o senador José Agripino (DEM-RN) e familiares, inclusive o filho, deputado Felipe Maia (DEM-RN), por suposta propina nas obras da Arena das Dunas, construída para a Copa do Mundo de 2014.
"Conforme requerido pelo Procurador-Geral da República, defiro o compartilhamento dos relatórios policiais de análise de telefones celulares de José Adelmário Pinheiro Maia (Léo Pinheiro), constantes destes autos, com a Procuradoria da República no Estado do Rio Grande do Norte para instruir inquérito civil tendente a apurar fatos conexos àqueles ora apurados, tendo em vista a jurisprudência deste Supremo Tribunal Federal, que admite que elementos informativos de investigação criminal ou que as provas colhidas no bojo de instrução penal, ainda que sigilosos, possam ser compartilhados para fins de instruir outro processo criminal, inquérito civil ou procedimento administrativo disciplinar", determinou Barroso.
A OAS Arenas, braço da empreiteira, administra a Arena das Dunas, em Natal. O estádio tem capacidade para 42 mil pessoas. Em julho deste ano, auditoria da equipe técnica da Comissão de Acompanhamento e Fiscalização da Copa de 2014, do Tribunal de Contas do Estado, apontou indícios de sobrepreço no contrato de concessão do estádio Arena das Dunas.
A concessão foi orçada em R$ 400 milhões, mas o custo a ser pago pelo Estado, segundo a auditoria, apenas com a construção, será de R$ 1,4 bilhão em 15 anos, em valores corrigidos. Com base no sobrepreço de 43,65%, chegou-se a um dano ao erário estimado em R$ 451 milhões durante o período de pagamento dos custos da construção do estádio. Até abril deste ano, foram pagos pelo Estado R$ 288 milhões, implicando num dano ao erário já efetivado de R$ 77 milhões.
Segundo o relatório de auditoria, o sobrepreço foi aferido ao se comparar os custos da Arena das Dunas com a Arena do Grêmio, em Porto Alegre, também construída pela OAS. O custo por assento na Arena das Dunas foi de R$ 12.749, enquanto na Arena do Grêmio foi de R$ 8.875, indicando um sobrepreço de 43,65%.
Em abril deste ano, o Supremo quebrou o sigilo bancário e fiscal de José Agripino. O pedido de afastamento do sigilo dos parlamentares foi feito pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot.
O chefe do Ministério Público Federal disse à época que as investigações "apontam para a efetiva solicitação e recebimento, pelo investigado (José Agripino), de forma oculta e disfarçada, de vantagens pecuniárias indevidas, oriundas de sua intervenção para solucionar entraves referentes a controles externos sofridos pela construção da denominada Arena Dunas, pelo grupo empresarial OAS, além da realização de operações financeiras que consubstanciariam indícios da prática de lavagem de dinheiro".
Quando teve o sigilo bancário quebrado, José Agripino informou que "as providências requeridas vão acelerar o processo de esclarecimento dos fatos investigados". "Tenho certeza que tornarão clara a improcedência da acusação que me é feita, de conduta irregular na construção da Arena das Dunas", disse o senador, na ocasião.
Defesa
"Isso é um seguimento normal de um processo de investigação e a única coisa que eu desejo é aquilo que meu advogado já recorreu, que é a oitiva das testemunhas, principalmente a do dr. José Adelmário Pinheiro (Léo Pinheiro, ex-presidente da OAS), que é a pessoa central, quem pode oferecer as informações reais sobre a acusação de que eu sou vítima", disse Agripino ao comentar o assunto. (AE)

NA COLUNA DO AUGUSTO NUNES
“A lei para os mais fracos” e outras seis notas de Carlos Brickmann
No Congresso, pensa-se numa lei que anistie os envolvidos nos crimes de caixa 2 cometidos até as eleições de 2014
Por: Augusto Nunes 
Domingo, 11/09/2016 às 6:32
A Operação Lava Jato comemora mais de dois anos de sucesso de público e êxitos no ataque a enormes focos de corrupção. Já condenou 74 réus a penas de mais de mil anos de prisão. Tem sido cautelosa ao botar gente na cadeia: políticos em atividade, por exemplo, são poucos; empresários de peso foram presos, foram condenados, mas só os de trato mais difícil estão na cadeia. Outros fizeram delação premiada e hoje vivem confortavelmente em suas mansões. Mesmo os políticos atingidos, como o ex-líder do Governo Dilma no Senado, Delcídio do Amaral, tiveram boas chances de livrar-se do pior. A casa de Delcídio, onde ele está recolhido, é ótima, e já abrigou festas com 700 convidados. Citando a excelente obra A Revolução dos Bichos, de George Orwell, em que os animais tomam conta de uma fazenda e acabam escravizados por outros animais, “todos os animais são iguais, mas alguns são mais iguais que os outros”.
Mas ser mais igual não parece suficiente aos que já são mais iguais: no Congresso, pensa-se numa lei que anistie os envolvidos nos crimes de Caixa 2 cometidos até as eleições de 2014 – as últimas que se realizaram. Abre-se caminho para discutir se pixulecos seriam propinas ou doações para o Caixa 2 de partidos e candidatos. Isso criaria tal novelo jurídico que multiplicaria o trabalho dos investigadores e daria muito mais tranquilidade a receptores e doadores. Enfim, aos corruptos, a paz que tanto desejam.
Lula na fritura
Este colunista não acredita que Lula seja preso, a não ser, eventualmente, por poucos dias. Mas este colunista não acreditava na prisão de empreiteiros, nem na de José Dirceu, e estava enganado.
Mas o fato é que corre risco, mais ainda depois que o ministro Teori Zavascki rejeitou o pedido de transferir seus inquéritos para o STF. Pior: ao recusar o pedido, Zavascki acusou a defesa de Lula de “embaraçar as investigações”. Está aberto o caminho para que Lula vá a Curitiba enfrentar Sérgio Moro.
Falam muito!
É fácil saber quais são as medidas mais importantes até agora adotadas pelo presidente Temer: são aquelas das quais desistiu, explicando (ele ou algum ministro) que não era bem assim, ou voltando atrás e desistindo daquilo que horas antes era imprescindível. Alguém precisa contar ao presidente que seus publicitários e marqueteiros podem criar slogans criativos, com ou sem a assistência do Michelzinho, mas que sua tarefa mais importante é comunicar à população aquilo que o Governo quer fazer.
Mais ainda, têm de manter em mente o princípio básico de sua profissão: comunicação não é o que se transmite, mas o que o público percebe.
É mas não é
Neste caso foi ainda pior: ao comunicar mudanças na legislação trabalhista, liberando e formalizando empregos por hora, tudo foi tão mal explicado que até grandes jornais, com equipes experientes, se confundiram, achando que o Governo queria autorizar o horário de trabalho de 12 horas por dia (contra os oito atuais).
Resultado: o ministro teve de se desmentir no dia seguinte. E quem acredita nele de agora em diante?
Cunha, enfim
O Supremo negou por 10×1 o pedido de Eduardo Cunha para que seu processo de cassação fosse suspenso. A votação da Câmara para decidir o processo está marcada para amanhã. O número de parlamentares que se declaram dispostos a votar contra Cunha é suficiente para cassá-lo.
Terminou? Não se sabe. Cunha é hábil, estudioso, capaz de encontrar novos caminhos para adiar a decisão do processo. Há dois caminhos óbvios (e Cunha deve conhecer outros): (a) falta de quórum e (b) questões de ordem para prolongar indefinidamente a sessão, até que seja adiada para sabe-se lá quando, já que não há datas disponíveis. Há um número fixo para cassá-lo, 257 (metade mais um dos deputados). Se aparecerem poucos deputados, alcançar 257 votos fica muito mais difícil.
É claro que, cedo ou tarde, Cunha será cassado. Isso faz com que seu apoio, antes maciço, se esvaia. O resultado depende do que for mais importante: favores passados ou falta de perspectivas de favores no futuro.
Trabalhar cansa
Feliz com as perspectivas de amanhã? Calma: ou se vota a cassação de Cunha amanhã ou não se sabe quando. Em seguida a Câmara entra em seu quinto recesso do ano, agora para que Suas Excelências participem da campanha eleitoral. Depois da eleição haverá segundo turno, comemorações, articulações em busca de boquinhas com quem ganhou.
Parabéns, ministra Carmen!
Nesta segunda-feira, 12, há outro evento que não depende de ninguém: a ministra Carmen Lúcia toma posse na Presidência do Supremo Tribunal Federal, no lugar do ministro Ricardo Lewandowski.
Duas boas notícias.

NO BLOG JOSIAS
Estreia aproxima o governo Temer do desastre
Josias de Souza
Domingo,11/09/2016 05:48
As coisas poderiam estar mais tranquilas para Michel Temer, pois Dilma Rousseff foi deposta, Lula enfrenta um surto de morofobia e o PT está tonto. No entanto, depois de usufruir de um ensaio que durou os 111 dias da interinidade, seu governo deu vexame na estreia. Se a gestão efetiva de Temer fosse um filme, as primeiras cenas indicariam que o enredo é sobre uma embarcação temerária, uma tripulação presunçosa e uma pedra de gelo. Tudo muito parecido com Titanic.
Nos dez dias inaugurais da administração seminova, viu-se um comandante deslumbrado, assessorado por contramestres despreparados. O novo elenco parece ter tomado gosto pela vingança, esquecendo-se que tem a obrigação de entregar aos passageiros, sobretudo aos que se encontram no porão, perto da casa de máquinas, três rimas pobres: temperança, segurança e esperança.
As relações com Dilma começaram a azedar quando Temer, preparando-se para desembarcar da função de coordenador político de um governo hemorrágico, declarou que “o país precisa de alguém que tenha a capacidade de reunificar a todos''. Interino, prometera a “pacificação nacional”. Efetivado, destilou raiva na primeira reunião ministerial.
“Quero contestar, a partir de agora, essa coisa de golpista. Golpista é você, que está contra a Constituição. Golpe é qualquer um que proponha ruptura constitucional. Não estamos propondo ruptura constitucional. Agora, nós não vamos levar ofensa para casa. Agora, as coisas se definiram. Golpista é quem derruba a Constituição.”
Dirigindo-se à sua base congressual, Temer passou uma carraspana, não coordenadas. Abespinhado com a adesão do PMDB ao impeachment meia-sola —com deposição, mas sem inabilitação—, engrossou a voz: “Se há gente que não quer governo dando certo, declare-se. Essa divisão na base é inadmissível. Se é governo tem que ser governo.”
Temer disse tudo isso e embarcou para a China, como se não houvesse um Brasil por refazer. Poderia ter incumbido o ministro Henrique Meirelles (Fazenda) de representá-lo na reunião do G-20. Mas trocou a emergência de um país em crise por uma beirada de foto na companhia de chefes de Estado que não estavam nem aí para sua presença.
Na China, Temer desfilou com Renan Calheiros a tiracolo. O mesmo Renan que, horas antes, discursara no Senado para pedir aos colegas que não fossem “maus e desumanos” com Dilma. Não seria razoável, ele dissera, que, além da “queda”, Dilma fosse submetida ao “coice” que a empurraria para fora da vida pública por oito anos. Foi a partir desse lero-lero que a maioria dos senadores escoiceou a Constituição.
Em três décadas de vida pública, Temer construiu uma imagem de sobriedade. Traz dentro da boca uma fita métrica, não uma língua. Mede cada palavra. Na China, porém, algo lhe subiu à cabeça. E não foi juízo. Instado a comentar o ronco do asfalto, referiu-se aos partidários do ‘Fora Temer’ como “as 40 pessoas que quebram carro?” Ecoando-o, o chanceler José Serra declarou que as manifestações eram “mini, mini, mini, mini…”
Foi como se o governo, contaminado pela atmosfera dos Jogos do Rio, resolvesse disputar consigo mesmo uma subolimpíada de modalidade única: o tiro ao pé. Cutucado, o asfalto rosnou um pouco mais alto. E o governo ensinou que é errando que se aprende… A errar.
No feriado de 7 de Setembro, os ministros Eliseu Padilha (Casa Civil) e Geddel Vieira Lima (Coordenação Política), dois diletos amigos do presidente, voltaram a menosprezar as vaias e os gritos de “Fora Temer”. Olharam para a arquibancada montada na Esplanada de Brasília sem se dar conta de que o alarido soava em 25 Estados. As vaias foram a trilha sonora de Temer também na cerimônia de abertura dos Jogos Paralímpicos.
Elsinho Mouco, marqueteiro do PMDB, criou um par de bordões. Contra o ‘Fora,Temer’, vieram à luz o ‘Bora,Temer’ e o ‘Fora,Ladrão’, uma alusão aos escândalos que tisnaram as administrações do PT. Simultaneamente, foi guindada às manchetes a notícia de que Lava Jato mapeia as propinas recebidas na Usina de Belo Monte por pajés do PMDB de Temer. Entre eles, por exemplo, Renan Calheiros, Romero Jucá e Jáder Barbalho. Quer dizer: tomado ao pé da letra, o marqueteiro do PMDB é um feliz adepto do ‘Fora PMDB’.
O governo flertou descaradamente com o desastre desde a aprovação do impeachment. Numa evidência de que foi correspondido, o ministro do Trabalho concedeu uma ruinosa entrevista sobre a reforma trabalhista, fornecendo matéria-prima para que petistas e sindicalistas denunciem a insensibilidade social de Temer. Como confusão pouca é bobagem, o chefão da Casa Civil, Eliseu Padilha, fritou o mandachuva da Advocacia-Geral da União, Fábio Medina Osório.
Bem passado, o doutor levou os lábios ao trombone para denunciar que o Planalto trabalha mesmo para abafar a Lava Jato. Ficou no ar a impressão de que o novo governo, se não mudar urgentemente suas práticas e seu rumo, acabará se autoconvertendo num cadáver da gestão anterior. Olhando-se ao redor, percebe-se que é difícil, muito difícil, enxergar inocentes no convés do neo-Titanic. Avistam-se apenas culpados e cúmplices. Percebe-se, de resto, que faltam botes salva-vidas.

NO O ANTAGONISTA
Brasil 11.09.16 09:55
A Odebrecht, diz Lauro Jardim, "está mostrando o caminho completo do dinheiro: quem recebeu, quem entregou e como foi entregue (dinheiro vivo, depósito em conta...). Tudo em planilhas detalhadas que abarcam todos os políticos que docemente se corromperam"...
Brasil 11.09.16 09:45
Michel Temer decidiu ser “mais presidente”.
Sua primeira iniciativa foi reunir os aliados e tentar combinar um cronograma para as medidas do governo...
Economia 11.09.16 09:34
Moreira Franco disse ao G1 que o governo não fará “nenhuma restrição” à participação de empresas estrangeiras nos próximos leilões.
E que não haverá necessidade de que elas se associem a grupos nacionais para a disputa...
Brasil 11.09.16 09:15
O Antagonista noticiou que Emílio Odebrecht foi entrevistado pela Lava Jato na última segunda-feira.
O acordo de sua empreiteira com o MPF não tem mais volta...
Brasil 11.09.16 08:37
Michel Temer não quer ser apenas um retrato na parede...
Brasil 11.09.16 08:03
O Globo perguntou a Michel Temer porque, durante a entrevista, ele não citou o nome de Dilma Rousseff...
Brasil 11.09.16 07:58
Michel Temer bateu na mesa quando O Globo perguntou-lhe sobre a mentira petista de que o impeachment foi um golpe:
“Acho que o golpe não pegou. Pegou como movimento político. Como movimento político é bem pensado até...
Brasil 11.09.16 07:15
Michel Temer disse a O Globo que, a partir de agora, vai ser mais presidente.
Ele deu uma amostra disso repudiando o aumento dos ministros do STF...
Brasil 11.09.16 07:07
Michel Temer sabe que perdeu a autoridade.
Em sua primeira entrevista como presidente da República, para O Globo, ele prometeu:
“Vou ser mais presidente”...
Brasil 11.09.16 06:53
A Lava Jato ganhou.
O procurador Carlos Fernando dos Santos Lima disse que só aceitaria fechar acordo com a Odebrecht ou com a OAS...
Brasil 11.09.16 06:39
O procurador Carlos Fernando dos Santos Lima, alguns semanas atrás, anunciou que a Lava Jato só aceitaria fechar acordo com uma empreiteira: Odebrecht ou OAS.
Agora ele já admite a possibilidade de fechar acordo com ambas, desde que revelem esquemas de rapina em outros ministérios ou estatais...
Brasil 11.09.16 06:23
A Lava Jato deve durar mais dois anos.
A previsão foi feita procurador Carlos Fernando dos Santos Lima...
Brasil 10.09.16 19:16
FHC aconselhou Aécio a conter as críticas a Temer e lhe dar um voto de confiança. Segundo o Radar On-line, da Veja, o senador concordou e o PSDB baixou o tom...

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