DA MÍDIA SEM MORDAÇA

NA COLUNA DO CLÁUDIO HUMBERTO
22 DE MARÇO DE 2015
Com a popularidade em queda livre, Dilma precisará enfrentar os próprios deputados governistas, que afirmam não suportar a ideia de vê-la no comando pelos próximos anos, e já falam em desencavar projetos para mudar o Presidencialismo para sistema Parlamentarista. A ideia é recuperar qualquer das propostas de emenda à Constituição (PEC) em tramitação na Câmara e colocá-la na pauta de votações.
Enquanto governistas sonham com o parlamentarismo, a oposição continua construindo a fundamentação do projeto de impeachment.
A proposta de parlamentarismo tem sido discutida em reuniões do chamado “blocão”, em locais fora do alcance do governo.
Deputados do “blocão”, formado basicamente por governistas, querem fazer de Dilma uma “rainha da Inglaterra”, meramente decorativa.
Para aprovação de uma PEC são necessários 308 votos de deputados. Somando-se à oposição, o blocão calcula que teria número de sobra.
Apenas nos dois primeiros meses do ano, o governo Dilma conseguiu gastar R$ 6,27 milhões com cartões corporativos. Tudo na conta do contribuinte, claro. A Secretaria de Administração da Presidência da República, encarregada de abastecer os carros e fazer compras diversas para a presidenta, é o órgão que mais usou os cartões: R$ 887 mil, mas 98% da conta é “sigilosa” por “motivos de segurança”.
No total, a Presidência da República é a líder de gastos com cartões corporativos: R$ 1,8 milhão nos dois primeiros meses do ano.
Servidores do Ministério da Pesca denunciaram à Comissão de Ética Pública da Presidência da República a chefe de gabinete Claudia Gama: ela teria recebido do então ministro Eduardo Lopes um presente de despedida do cargo: viagem ao exterior por conta do contribuinte.
O juiz que usou carrões confiscados de Eike Batista era conhecido em Colatina (ES), onde atuou, como “rei do atestado médico”. Mesmo sob licença médica, dava aulas em cursinhos, principalmente em Vitória.
O deputado Mendonça Filho (DEM-PE) atribui ao tesoureiro do PT João Vaccari Neto parte da rejeição a Dilma. A permanência de Vaccari no partido, para ele, “afunda ainda mais” a madame.
Como Luiz XIV (“O Estado sou eu”), Dilma chamou os brasileiros vestidos de verde e amarelo, que foram às ruas contra ela, de “minoria que se opõe ao Brasil”.

NO O ANTAGONISTA
O homem ou a mulher
Brasil 22.03.15 02:42
"Lula e Dilma sabiam de tudo".
Alberto Youssef vai explicar o sentido de sua frase no próximo depoimento ao juiz Sérgio Moro, no dia 30.
Seu advogado Antonio Figueiredo Basto, entrevistado por Mônica Bergamo, na Folha de S. Paulo, deu a entender que a estratégia do doleiro é poupar Dilma Rousseff:
"Não vejo resquício de corrupção nessa mulher".
Ao mesmo tempo, ele está pronto para detonar Lula como o verdadeiro mandante do Petrolão:
"Essa é uma organização criminosa ligada a um projeto de poder... Alguém aqui garantiu isso tudo. Se eu cortar o homem que tá em cima, ou a mulher, se eu cortar essa cabeça, o resto embaixo some".
Lula é o homem.

Brasil 21.03.15 23:20 
O Brasil está fora de controle: o desmatamento na Amazônia aumentou 282% em fevereiro, na comparação com o mesmo mês do ano passado.

Não há explicação na Veja sobre José Roberto Guzzo
Sociedade 21.03.15 20:04
Entre os brasileiros que mantinham conta no HSBC de Genebra, figura o nome do jornalista José Roberto Guzzo, colunista da Veja, revista que dirigiu durante quinze anos. Era de esperar que houvesse uma explicação na edição que chegou hoje às bancas e aos assinantes. Não há.
Imagine um colunista do New York Times que constasse da lista de um banco que ajudava os clientes a fraudar o fisco dos seus respectivos países. O jornal certamente daria uma satisfação aos seus leitores. O colunista poderia justificar a origem do dinheiro e mostrar que a conta sempre esteve devidamente declarada no seu imposto de renda. Poderia, ainda, dizer que se trata de um engano e que ele nunca teve conta em banco na Suíça. Uma terceira hipótese é que o colunista não conseguisse justificar a origem do dinheiro e tivesse sonegado a existência da conta. Nesse caso, é improvável que continuasse a integrar os quadros do New York Times.
Felizmente, para José Roberto Guzzo, ele não trabalha no New York Times. Felizmente, para José Roberto Guzzo, Roberto Civita morreu.

Cid Gomes tem a mesma chance de El Cid
Brasil 21.03.15 19:46
De acordo com o jornalista Fernando Rodrigues, o ex-ministro da Educação Cid Gomes ficou tão entusiasmado com a repercussão do seu espetáculo na Câmara, na semana passada, que cogita disputar a Presidência da República em 2018 -- substituindo, assim, o irmão Ciro Gomes como primeira figura do clã.
Cid Gomes não se acha. Ele se tem certeza, como dizem no Rio de Janeiro. É, nesse aspecto, igual ao irmão.
O Antagonista acha a maior graça na autoimagem ampliada dos irmãos Gomes. Na nossa avaliação, a chance de Cid Gomes chegar vivo ao final de um embate presidencial é a mesma do herói El Cid. Só que atrás do seu cadáver político não haverá ninguém.
Fiquei bem na armadura, Ciro?

A Odebrecht nunca desistiu de Eduardo Campos
Brasil 21.03.15 18:12
O governo pernambucano pagará à empreiteira Odebrecht -- aquela -- um extra de 1,76 bilhão de reais pela construção e operação da Arena Pernambuco por um período de 30 anos.
Pois é, não bastasse tudo o que ganhou na Petrobras, a Odebrecht ainda vai levar um trocadão a mais do estado de Pernambuco
O dinheiro suplementar está previsto no contrato original assinado pelo então governador Eduardo Campos.
Eduardo Campos nunca desistiu do Brasil. A Odebrecht nunca desistiu de Eduardo Campos.

NO DIÁRIO DO PODER
OPERAÇÃO LAVA JATO
AÇÃO CONTRA PETROBRAS TEM 15 BANCOS ENTRE OS RÉUS
PODEM SURGIR NOVOS PROCESSOS DE INVESTIDORES QUE TIVERAM PERDAS
Publicado: 21 de março de 2015 às 09:12
NESTA FASE INICIAL DO PROCESSO, OS INVESTIDORES EVITAM FALAR EM UM VALOR DE INDENIZAÇÃO PARA OS PREJUÍZOS
Os 15 bancos que estruturaram e distribuíram US$ 98 bilhões em emissões de títulos de dívida no exterior (bonds) da Petrobras nos últimos cinco anos preparam sua defesa de uma ação coletiva aberta contra a empresa brasileira na Justiça dos Estados Unidos. No dia 3 de abril, as partes citadas no processo vão apresentar suas versões ao juiz federal Jed Rakoff. O grupo de bancos, entre os quais estão os brasileiros Bradesco BBI, Itaú BBA e BB Investimentos, contratou o escritório Skadden, Arps, Slate, Meagher & Flom para uma defesa conjunta.
Este é até agora o único processo em que os bancos que cuidaram de emissões de títulos da Petrobras aparecem como réus nos EUA. Advogados ouvidos pelo Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado, falam que, dependendo do desenrolar da Operação Lava Jato, que investiga as denúncias de corrupção na empresa, podem surgir novos processos de investidores ao redor do mundo que tiveram perdas e podem querer culpar os bancos, sobretudo se a petroleira deixar de honrar algum pagamento.
A estratégia dos bancos foi fazer uma defesa conjunta. Os argumentos serão apresentados ao juiz em Nova York no dia 3. Em algumas instituições, o assunto tem sido tratado diretamente pelo alto escalão. Em um dos bancos brasileiros citados no processo, o próprio diretor jurídico tem participado das reuniões com os advogados.
A ação alega que o valor dos títulos da Petrobras reflete ativos financeiros inflados pela empresa para encobrir as propinas de empreiteiras e outras prestadoras de serviços. Além disso, a ação alega que no material distribuído aos investidores durante as ofertas dos papéis há informações enganosas, que omitem, por exemplo, as práticas de corrupção na petroleira.
Os bancos aparecem na ação como réus ao lado da Petrobras. Nesta fase inicial do processo, os investidores evitam falar em um valor de indenização para os prejuízos. Mas a ação pode envolver o pagamento de "centenas de milhões de dólares", segundo o advogado do escritório Labaton Sucharow, Michael Stocker, que representa o município de Providence, capital do Estado de Rhode Island. Caso o juiz considere os bancos culpados, as instituições também teriam que desembolsar os recursos, não apenas a Petrobras.
Advogados consultados pelo Broadcast explicam que, apesar da responsabilidade que as instituições financeiras estruturadoras têm sobre as informações prestadas em tais prospectos, práticas de corrupção são impossíveis de serem comprovadas nos documentos e nas diligencias nos quais se baseiam. O Broadcast procurou os bancos citados no processo, que preferiram não comentar.
"Os bancos são responsáveis perante aos investidores em garantir a veracidade, a suficiência e a consistência das informações do prospecto, apresentadas com base em due diligence, na opinião legal de advogados e na carta de conforto dos auditores, por eles contratados", disse um advogado que preferiu não se identificar. O mesmo advogado comenta ainda que todas as informações nos prospectos são respaldadas por documentos e aquelas relacionadas à posição da empresa no mercado são baseadas em pesquisas feitas por empresas especializadas.
"Se há alguma informação relevante que o estruturador considera que possa estar sendo omitida, o que tem a fazer é forçar a empresa até o limite a esclarecer, mas nenhuma das informações presentes no prospecto pode estar baseada em suspeitas." Ele explica que, para se resguardar de contestações, são realizadas conferências gravadas nas quais o emissor declara não haver nenhuma informação relevante que tenha deixado de ser fornecida. (AE)


NO BLOG DO CORONEL
DOMINGO, 22 DE MARÇO DE 2015
(Folha) De cada 10 brasileiros, 8 acreditam que a presidente Dilma Rousseff sabia da corrupção que acontecia na Petrobras, investigada pela força-tarefa da Operação Lava Jato. É o que mostra pesquisa Datafolha feita nos dias 16 e 17 em todo o País. Também é majoritária a parcela dos que acreditam que a petista, além de ter conhecimento do esquema, deixava que ele operasse livremente. Do total de entrevistados, 61% acham que ela "deixou" que ocorressem os crimes. Outros 23% dizem que, apesar de saber, Dilma "não poderia fazer nada" para impedir. 
Os resultados são parecidos entre os entrevistados de todas as divisões socioeconômica, faixas etárias e preferências partidárias, inclusive entre eleitores da petista. No grupo dos que declararam voto em Dilma no segundo turno da eleição do ano passado, 74% acham que ela sabia do esquema -- outros 19% acreditam que ela não tinha conhecimento e 8% não souberam responder. 
Dos que votaram no senador tucano Aécio Neves (MG) para a Presidência, 94% têm convicção de que Dilma sabia da corrupção na Petrobras; 3% acham que ela não sabia; outros 3% não souberam responder à pergunta. 
PETROBRAS
O Datafolha também investigou se os brasileiros acreditam que o esquema desbaratado pela Operação Lava Jato irá prejudicar a Petrobras, a maior empresa do país. A maioria, 51%, acredita que a Petrobras será prejudicada "por muito tempo", e isso "coloca o futuro da empresa em risco", Os que acreditam, em menor ou maior grau, que a petroleira foi prejudicada pelo escândalo somam 88%. Apenas 6% acreditam que a Petrobras não será prejudicada pela Operação Lava Jato. Outros 7% não souberam ou não opinaram sobre a pergunta.
A pesquisa do Datafolha foi realizada com 2.842 entrevistas em 172 municípios, logo após as manifestações anti-Dilma do dia 15. A margem de erro é de dois pontos percentuais, para mais ou menos.
POSTADO POR O EDITOR ÀS 08:18:00

Corrupção companheira na Petrobras: Zé Dirceu cobrava propina maquiada como consultoria e Vaccari descontava do valor a receber das empreiteiras.
(Folha) Um dos empreiteiros acusados de participar do esquema de corrupção descoberto na Petrobras afirmou a investigadores da Operação Lava Jato que pagamentos feitos à consultoria do ex-ministro José Dirceu eram parte da propina cobrada pelo esquema. Atualmente preso em Curitiba, o presidente da UTC Engenharia, Ricardo Pessoa, disse que os pagamentos a Dirceu eram descontados das comissões que sua empresa devia ao esquema, que correspondiam a 2% do valor de seus contratos na Petrobras. 
Um representante de outra empreiteira sob suspeita, a Camargo Corrêa, afirmou aos investigadores que a empresa decidiu contratar os serviços de Dirceu por temer que uma recusa prejudicasse seus negócios com a Petrobras. Os relatos dos empreiteiros, feitos durante reuniões com investigadores da Operação Lava Jato e não em depoimentos formais, chamaram atenção por revelar detalhes sobre a maneira como o ex-ministro se aproximou dos fornecedores da Petrobras. 
Homem forte do início do governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Dirceu caiu em meio ao escândalo do mensalão e foi condenado a dez anos de prisão no julgamento do caso. Ele hoje cumpre pena de prisão domiciliar, em Brasília. Detalhes sobre os negócios do ex-ministro como consultor foram revelados na semana passada, quando o juiz Sergio Moro, que conduz os processos da Lava Jato na Justiça Federal, divulgou um relatório da Receita Federal sobre a consultoria de Dirceu. 
O ex-ministro ganhou como consultor R$ 29,2 milhões entre 2006 e 2013. Cerca de um terço do dinheiro entrou na sua conta no período em que ele estava sendo julgado pelo Supremo Tribunal Federal por seu envolvimento com o mensalão, entre 2012 e 2013. Empresas investigadas pela Lava Jato pagaram R$ 9,5 milhões pelos serviços da consultoria de Dirceu, num período em que o diretor de Serviços da Petrobras era Renato Duque, apontado como afilhado político de Dirceu -- o que ele nega -- e preso em Curitiba há uma semana. 
Os empreiteiros ouvidos pelos investigadores da Lava Jato disseram que Dirceu procurava empresas que tinham contratos na Petrobras para oferecer seus serviços sem fazer menção explícita às comissões do esquema na estatal. Segundo detalhou Pessoa, após a contratação de Dirceu, o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, autorizava que os valores pagos à consultoria do ex-ministro fossem descontados da propina derivada dos negócios com a diretoria de Serviços. 
Os executivos contaram que Dirceu chegou a fazer alguns contatos em favor das empreiteiras, mas disseram considerar supervalorizados os serviços pelos quais pagaram. O ex-ministro afirma que sua consultoria prestou serviços legalmente e nega que tivesse conhecimento do esquema de corrupção na Petrobras.
Ricardo Pessoa, o presidente da UTC, negociou com os procuradores da Lava Jato um acordo para colaborar com as investigações em troca de redução da sua pena, mas não conseguiu chegar a um entendimento com eles. Dois executivos da Camargo Corrêa presos em Curitiba, o presidente da empreiteira, Dalton Avancini, e o vice-presidente da área de finanças, Eduardo Leite, conseguiram um acordo com os procuradores e já prestaram vários depoimentos formalmente. 
Os investigadores da Lava Jato acreditam ter localizado um vínculo entre Dirceu e o esquema de corrupção ao encontrar entre os clientes do ex-ministro a Jamp Engenharia, do consultor Milton Pascowitch, apontado como um dos operadores que teria distribuído propina para o PT.
POSTADO POR O EDITOR ÀS 08:07:00

SÁBADO, 21 DE MARÇO DE 2015
Estava na cara. Os empréstimos do BNDES para obras das empreiteiras no exterior também faziam parte do propinoduto do PT. Youssef também atuava em países da América Latina e da África, entre eles Cuba, Uruguai e Angola - regiões onde o ex-ministro José Dirceu prestava consultoria internacional para empreiteiras do cartel investigado pela Operação Lava Jato. É o que mostra a lista de cerca de 750 contratos apreendida em seu escritório, em São Paulo, em abril do ano passado. É o que informa o jornal Estado de São Paulo, na matéria abaixo.
Em Cuba, a lista de Youssef registra negócio nas obras do Porto de Mariel com a Olex Odebrecht Logística e Exportações, braço administrativo no exterior da Construtora Norberto Odebrecht - responsável pela obra e alvo das investigações da Lava Jato por cartel e corrupção. O valor do contrato negociado pelo doleiro, segundo o registro, foi de R$ 3,6 milhões, referente a cotação de tubos. O contrato data de 2010. A construtora nega irregularidades e relação com Youssef. Há ainda referências a negócios no Uruguai, Costa Rica, Argentina, Equador e Angola.
A força-tarefa da Lava Jato considera a lista o mapa dos negócios feitos por Youssef, entre 2009 e 2012, em nome da empresa de tubo Sanko Sider - alvo de ação penal -, por meio da qual o doleiro ocultava dinheiro de propina. A Sanko serviu para desvios nas obras da Refinaria Abreu e Lima, via empresas de fachada de Youssef.
O doleiro pode ter recebido, no total, R$ 11 bilhões em comissões. Na planilha, para cada projeto destacado há um cliente vinculado, geralmente uma grande construtora, e para cada cliente há um cliente final, quase sempre empresas públicas, como a Petrobrás e algumas empresas privadas. O juiz federal Sérgio Moro considerou a lista prova de que os crimes do doleiro transcenderam a estatal petrolífera.
Cruzamento 
Investigadores da Lava Jato cruzam agora os negócios de Youssef nesses países da América Latina e África com os serviços de consultoria prestados pela empresa JD Assessoria, do ex-ministro José Dirceu, que passou a ser investigada no final do ano passado por suspeita de ter prestado falsas consultorias para ocultar o pagamento de propina.
A JD trabalhou para empresas do cartel que atuava na Petrobrás em países onde Youssef também buscou negócios. Cuba é um deles. A função de Dirceu seria “abrir portas”, o que incluiria a intermediação de encontros entre autoridades estrangeiras e empresas brasileiras que pretendiam fazer negócio no exterior. A JD foi contratada pela Engevix Engenharia, uma das investigadas pela Lava Jato, por exemplo, para abertura de negócios em Cuba e no Peru. 
POSTADO POR O EDITOR ÀS 18:50:00

NA COLUNA DO AUGUSTO NUNES
22/03/2015 às 7:41 \ Opinião
CARLOS BRICKMANN
Na campanha presidencial de 1960, Jânio Quadros repetiu o mesmo discurso, palavra por palavra, no país inteiro. E prometeu instalar umas quinze fábricas de automóveis, cada uma localizada exatamente no local em que fazia o discurso. Não havia problema: as comunicações eram precárias, ninguém sabia num lugar o que ele havia prometido em outro. O discurso repetido sempre parecia novo.
Jânio se elegeu há 55 anos. A tecnologia já é outra, não dá mais para disfarçar. E o Pacote Anticorrupção de hoje da presidente Dilma pode ser achado no Google. Em julho de 2005, quando o Mensalão quase afundou o Governo, o presidente Lula, ao lado da chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, lançou um Pacote Anticorrupção igualzinho ao de agora (veja no Google: “Lula”, “Pacote Anticorrupção”, “2005″). Em 2011, no início do seu mandato, Dilma teve de se livrar de sete ministros habituados a botar o dedo no pudim. Em setembro, houve protestos de rua contra a ladroeira. E a presidente anunciou de novo o mesmo Pacote Anticorrupção de 2005 – que, diga-se, é exatamente o de hoje. Se repetir a lei resolvesse, a corrupção no país seria abolida pela terceira vez em dez anos.
Mas será que o Governo quer mesmo pagar o preço político da luta contra a corrupção? A Casa Civil da Presidência da República há um ano e meio está sentada em cima da Lei Anticorrupção, e não há quem a convença a regulamentá-la para que entre imediatamente em vigor. Dilma poderia dar ordens à Casa Civil para que faça seu trabalho. Como se explica que, tão mandona, Dilma se cale?


NO BLOG DO JOSIAS
Josias de Souza - 22/03/2015 03:59
Cena captada pelo repórter-fotográfico Paulo Pinto no 'asfaltaço' de 15 de março, na Av. Paulista
Uma das visões mais partilhadas no Brasil em relação aos políticos é a de que são todos uns a cara esculpida e escarrada dos outros. Na linguagem do asfalto: farinha do mesmo saco. Em campanha, declaram-se capazes de tudo para melhorar a vida da coletividade. Eleitos, revelam-se incapazes de todo. Ao menor sinal de escândalo, recorrem a um mesmo e invariável axioma: “Eu não sabia!”
Trata-se de uma desculpa multiuso. Serve para o Lula posar de inocente no mensalão do PT. Serve para o Azeredo se fingir de morto no mensalão do PSDB mineiro. Serve para Dilma reivindicar o papel de cega no petrolão. E passou a servir para que o Alckmin tente desembarcar do escândalo do cartel dos trens e do metrô de São Paulo.
Há dois dias, ganhou as manchetes a notícia de que a Justiça de São Paulo aceitou uma denúncia do Ministério Público sobre o cartel que operava sob as plumas do tucanato paulista. A encrenca envolve 11 empresas. São acusadas de se juntar num conluio para fraudar licitações e obter contratos da CPTM, a Companhia Paulista de Trens Metropolitanos.
A promotoria pede que sejam devolvidos aos cofres públicos R$ 481 milhões — a cifra, ainda sujeita a correção monetária, corresponde ao valor dos contratos e a uma indenização por danos morais. As fraudes citadas no processo ocorreram entre 2000 e 2007. Na maior parte desse período, o governador era Alckmin. Só deixou o cargo em 2006, para ser derrotado por Lula numa peleja presidencial.
Alckmin, você sabe, já declarou que “não sabia” da tramóia. Se houve cartel, costuma dizer o governador tucano, o Estado é “vítima”. E vai buscar o ressarcimento. Levando-se em conta tudo o que já havia sido noticiado em 2008, o lero-lero do governador perde substância.
Naquele ano de 2008, autoridades francesas e suíças invadiram os porões da Alstom, outra empresa do cartel. Recolheram sólidos indícios de pagamentos de propinas pelo mundo, algumas delas no Brasil – parte em São Paulo, parte na esfera federal. Em 2009, Alckmin ocupou o cargo de secretário de Desenvolvimento de São Paulo, no governo do correligionário José Serra. Em 2010, reelegeu-se governador. E nada de varejar os contratos.
Além de ser uma impossibilidade genética, a tese segundo a qual todos os políticos são iguais é uma armadilha perigosa. Na prática, desobriga o eleitor. Se são todos iguais, para que votar? Numa democracia ideal, a chave do sucesso está na capacidade de distinguir as diferenças.
A democracia brasileira talvez comece a ser construída no dia em que a plateia se der conta do seguinte: governantes que nunca sabem de nada são tolos ou cúmplices. Em qualquer hipótese, comprar um carro usado na mão deles ou dar-lhes o voto são coisas muitos arriscadas.




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