DA MÍDIA SEM MORDAÇA - 23-4-2014

NA COLUNA DO CLÁUDIO HUMBERTO
Autoridades do Executivo e do Legislativo terão de aumentar a dose de tranquilizantes: após forte pressão da família e apesar da discordância de um dos seus advogados, o megadoleiro Alberto Youssef começou a prestar depoimentos para se habilitar a acordo de delação premiada com a Justiça Federal do Paraná, semelhante a Paulo Roberto Costa, ex-diretor da Petrobras. Ele delata pessoas e fornece provas.
Além dos deputados André Vargas (ex-PT) e Luiz Argôlo (SD), o megadoleiro aponta cúmplices e outros políticos que subornou.
Youssef terá de conquistar confiança para um novo acordo, após a Justiça cancelar o anterior no caso do Banestado, por descumprimento.
O tesoureiro nacional do PT, João Vaccari, delatado pelo ex-diretor corrupto da Petrobras Paulo Roberto Costa, deixou na mão a maioria dos candidatos do PT à reeleição, na Câmara, apesar de o partido ser campeão na arrecadação. Discreto, Vaccari não conta, mas é Lula, como sempre, quem decide o destino de cada centavo. E, para Lula, a prioridade é tentar eleger Alexandre Padilha governador paulista.
A campanha de Dilma arrecada facilmente doações de fornecedores do governo, mas, sem o dinheiro do PT, a de Padilha morreria de inanição.
Padilha tem desempenho modesto nas pesquisas, situando-se muito aquém dos primeiros colocados, afugentando os financiadores.
Como esta coluna antecipou, o juiz federal Sergio Moro negou acesso à delação premiada – sob segredo de Justiça – de Paulo Roberto Costa, solicitado por Dilma e outros. Eles só queriam mostrar que não temem o que de fato temem: as revelações do ex-diretor da Petrobras.
A presidenta Dilma se meteu em saia justa diante da recordação, em entrevista ao “Bom Dia, Brasil”, que na campanha de 2010 ela defendia a autonomia do Banco Central, que hoje demoniza.
Lula recebeu apelos dramáticos de Armando Monteiro (PTB), candidato a governador, e do candidato ao Senado João Paulo (PT), para ir a Pernambuco tentar salvá-los. Eles se sentem em pleno naufrágio.
Clientes de operadoras de celular têm recebido um torpedo ameaçador: “Até o momento não identificamos o seu contato com a Claro”. E ainda indica números para os quais as vítimas devem ligar: 0800 8821136, 400 3116 e (51) 3123-1052. Se não for crime, é pura picaretagem.
Um leitor se surpreendeu com a notícia de que um ministro conseguiu recuperar um livro retido nos Correios por 40 dias: pediu pela internet um boné, e, após 50 dias, ainda está preso na alfândega.


NO BLOG DO REINALDO AZEVEDO
Na entrevista concedida ao “Bom Dia Brasil”, que foi ao ar nesta segunda, Dilma Rousseff era o retrato do fim da era da mistificação petista. Essa era contou, sim, com o endosso de setores importantes da imprensa, que não entenderam o que ia nos subterrâneos daquele “modelo” — se é que se pode chamar assim —, que usou um período especialmente favorável da economia internacional, marcado pela alta demanda da China e pela elevação das commodities, para distribuir alguns parcos benefícios, ensaiar uma política pífia de distribuição de prebendas e trombetear o fim da miséria.
A fortuna sorriu aos governos petistas, e os companheiros, afoitos, sob a condução do ogro amoroso e bonachão, a transformaram em consumo, deixando para as calendas reformas essenciais que nos conduzissem a um ciclo de crescimento longo e sustentado. Não só essas reformas não foram feitas como foram demonizadas pelos companheiros. O PT começou a articular o discurso no medo — o partido que chegou falando em “esperança”… — já na eleição de 2006, quando se lançou o espantalho da privatização das estatais. O tema foi retomado em 2010 e, ainda que com novo conteúdo, chega ao paroxismo agora, quando acusa os adversários de querer roubar a comida da mesa dos brasileiros.
Nesta segunda (22), o boletim Focus previu uma expansão de apenas 0,3% do PIB neste ano, com juros de 11% e inflação bem perto do teto da meta: 6,3%. Para o ano que vem, as perspectivas não são muito animadoras: crescimento de 1,01%, Selic de 11,25% e inflação em 6,28%. Atenção! O quadriênio de Dilma tem tudo para ser o pior da história “no que se refere” (como diz a governanta) ao crescimento: média de 1,55% — contra 2,58% no primeiro mandato de FHC, 2,1% no segundo; 2,55% no Lula I e 4,48% no Lula II. Nota à margem: parte das dificuldades da presidente deriva de irresponsabilidades cometidas no segundo mandato de seu antecessor. Mas não vou entrar nesse particular agora.
Dilma foi questionada a respeito na entrevista concedida ao “Bom Dia Brasil”. A íntegra, com o link para o vídeo, está aqui. De fato, ela não tem a mais remota ideia do que aconteceu e do que está em curso. A presidente insiste em culpar o cenário internacional, mas não consegue explicar por que outros países, nesse mesmo cenário, estão em situação muito melhor. Restou-lhe ensaiar uma glossolalia sobre a economia mundial e foi atropelando tudo: fatos e lógica. Apontou uma inexistente deflação nos EUA, errou a taxa de crescimento da Alemanha, foi dizendo o que lhe dava na telha.
Até o que faz sentido em sua fala — de fato, o Banco Central nos EUA (Fed) não se limita a arbitrar taxa de juros; também leva em consideração a expansão da economia e o emprego — se perdeu num discurso desordenado e defensivo. Afinal, ela destacava essa tríplice preocupação do Fed, suponho, para enfatizar que uma independência absoluta do BC, descolada de outras preocupações, tornaria um país refém de uma única variável. Uma conversa madura e sensata a respeito, pois, passaria por um debate sobre as atribuições do Banco Central e o alcance da autonomia ou independência.
Mas aí seria uma conversa séria, fora da estúpida rinha eleitoral. Como Dilma está em pânico, e interessa colar nos adversários, especialmente em Marina, a pecha de “candidata dos banqueiros”, restou-lhe o constrangimento adicional de ter de defender a campanha eleitoral terrorista que seu partido vem fazendo.
Comecei este post afirmando que a entrevista foi a expressão do fim de uma era. O PT hoje quer o poder para que possa… continuar no poder. É compreensível que os mercados fiquem desarvorados quando se avalia que crescem as possibilidades de reeleição de Dilma. Nessa hipótese, ninguém vê motivos para prever quatro anos futuros muito distintos desses últimos quatro.
Entrevistas como a concedida ao “Bom Dia Brasil” sempre oferecem a chance de se vislumbrarem alguma luz, algum rasgo de clareza, algum caminho. E o que se viu foi um discurso envolvo numa névoa de anacolutos e irresoluções.
Se Dilma for reeleita, dá-se como certo que não haverá bons dias, Brasil!

Governos trabalham com orçamentos, com previsões de receitas e de despesas, como todos nós. Se têm dívida, precisam fazer uma reserva para amortizar parte dela ou pagar os juros, segundo uma programação. A sua credibilidade — como a nossa — depende do cumprimento de metas e compromissos. A presidente Dilma afirmou, dia desses, que era “ridículo” — ela empregou essa palavra — os mercados despencarem quando se avalia que crescem as suas chances de se reeleger. Será mesmo?
Nesta segunda (22), o governo cortou em 50% — nada menos — a sua previsão de crescimento da economia: de 1,8% para 0,9%. Mesmo assim, a sua taxa é 200% maior do que prevê o mercado: apenas 0,3%. Evidência de leitura errada da realidade. Ora, economia crescendo menos implica queda de arrecadação tributária. O governo contava, por exemplo, com um amento de 3,5% na receita dos principais impostos e contribuições obrigatórias. Em vez disso, o que se viu no primeiro semestre foi um encolhimento de 0,2%.
E o que se anunciou nesta segunda? Para evitar um rombo no caixa, o Tesouro decidiu sacar do Fundo Soberano do Brasil R$ 3,5 bilhões como se eles fossem parte do dinheiro economizado para pagamentos dos juros da dívida, o chamado superávit primário. Já tinha recorrido a esse expediente em 2012, quando fez um resgate de R$ 8,847 bilhões do Fundo Fiscal de Investimentos e Estabilização (FFIE) – caixa onde estão aplicados os recursos do Fundo Soberano. O nome disso é truque. A manobra caracteriza o que tem sido chamado de “contabilidade criativa”. Como confiar num governo assim?
O governo agiu como aquele consumidor que, incapaz de economizar, apelou a uma poupança sagrada que estava no banco para pagar as contas, fingindo que tudo vai bem com o orçamento doméstico.
O Fundo Soberano do Brasil é uma espécie de poupança fiscal criada em 2008 para socorrer o país em momentos de extrema dificuldade. O governo praticamente limpou o dito cujo com essas duas manobras.
Assim, o governo vai cumprir o chamado superávit primário só no papel. De verdade, não fez a economia que disse faria. Cabe a pergunta óbvia: era possível saber que a meta não seria cumprida? Claro que sim! Afinal, avalia-se a arrecadação mês a mês. Quando percebeu uma queda constante, deveria ter feito o que fazemos todos: reduzido as despesas. Em vez disso, anunciou supostas receitas extraordinárias que compensariam a baixa arrecadação. Como se nota, elas não foram suficientes.
Mas, como sabemos, tudo está bem, e o país, segundo Dilma, está pronto para um novo ciclo de desenvolvimento. Então tá.

Por Robson Bonin, na VEJA.com:
O esquema milionário montado pelo Partido dos Trabalhadores para desviar recursos de programas sociais para campanhas eleitorais de petistas na Bahia vai ser investigado por uma força tarefa do Ministério Público. Procuradores e promotores vão reabrir o caso que tem como alvo o Instituto Brasil, uma ONG criada por petistas para camuflar a atuação do grupo criminoso. Na edição de VEJA desta semana, a presidente do instituto, Dalva Sele Paiva, revela que a entidade foi usada para fazer caixa dois para o partido por quase uma década.
O instituto chegou a movimentar, segundo Dalva Sele, 50 milhões de reais desde 2004. O caso mais emblemático, investigado pelo Ministério Púbico há quatro anos, ocorreu nas eleições municipais de 2008, quando a entidade foi escolhida pelo governo do Estado para construir 1.120 casas populares destinadas a famílias de baixa renda. Os recursos – 17,9 milhões de reais – saíram do Fundo de Combate à Pobreza. Desse total, 6 milhões de reais foram desviados para campanhas do PT. “Quem definia os que receberiam dinheiro era a cúpula do PT. A gente distribuía como todo mundo faz: sacava na boca do caixa e entregava para os candidatos ou gastava diretamente na infraestrutura das campanhas, como aluguel de carros de som e combustível”, diz Dalva Sele.
Entre os principais beneficiários desse banco citados por Dalva Sele, estão o senador Walter Pinheiro, vice-lider do PT no Senado, o atual candidato do PT ao governo da Bahia, Rui Costa, e os deputados federais Nelson Pellegrino, Zezéu Ribeiro e Afonso Florence, este último ex-ministro do Desenvolvimento Agrário de Dilma Rousseff. Mas há outros como o atual presidente da Embratur, José Vicente Lima Neto, deputados estaduais, secretários e ex-secretários do governo de Jaques Wagner, como Jorge Solla (Saúde), o ex-superintendente de Educação Clóvis Caribé, a deputada estadual Maria Del Carmen, militantes e dirigentes do PT na Bahia.
Militante histórica do PT, Dalva Sele deixou o país pouco depois de conceder entrevista. Ela afirma temer retaliações do partido e decidiu pedir proteção policial do Ministério Público tão logo comece a colaborar com as investigações. “Tenho receio daquilo que eles podem fazer comigo e com a minha família. Por isso, já estou em contato com os meus advogados para pedir proteção às autoridades”, diz Dalva.
Depois de colher informações e documentos com a operadora do caixa dois do PT baiano, a promotora Rita Tourinho irá ouvir as pessoas citadas por Dalva Sele.

NO BLOG DO JOSIAS
A 12 dias do encontro com as urnas, o eleitor brasileiro permanece no escuro em relação ao essencial. Admita-se que há duas crises sobre a mesa: a econômica e a ética. Quanto à primeira, os candidatos revelam-se capazes de quase tudo, menos de esmiuçar seus planos. Quanto à segunda, sabe-se que nem o petróleo é mais nosso. Um delator esclareceu que já não existem coisas nossas. Só existe Cosa Nostra. Mas o manto diáfano do segredo processual ainda protege a máfia.
À medida que o PIB cai e a inflação sobe, os receituários econômicos dos candidatos vão se tornando mais aguados, seus discursos mais evasivos. Todos sabem o que terá de ser feito. Nesta segunda-feira, o ex-presidente do BC Armínio Fraga, guru econômico de Aécio Neves, disse que a economia brasileira foi acometida de infecção generalizada.
“É uma septicemia, não é uma verruga que você precisa tirar. É grave mesmo”, disse Armínio. Com maior ou menor ênfase, a gravidade do quadro é admitida também atrás das cortinas nos comitês de Marina Silva e até no de Dilma Rousseff.
Considerando-se que ninguém combate septicemia com aspirina, vêm aí providências mais duras. Por exemplo: corte pesado de despesas, realinhamento dos preços da luz e da gasolina, reformulação do seguro-desemprego, reforma da Previdência e um imenso etcétera. Os presidenciáveis não falam sério com o eleitor porque a política virou apenas um ramo da publicidade.
Na semana passada, na sessão da CPI da Petrobras, o deputado Sandro Mabel (PMDB-GO) suplicou ao delator Paulo Roberto Costa que confirmasse ou desmentisse a lista que corre o noticiário com os nomes dos supostos beneficiários de petropropinas — gente graúda do Executivo e do Legislativo, incluindo o número 3 e o número 4 da linha sucessória.
“O senhor sabe que, hoje, o nome que o senhor acusar está morto”, enfatizou Mabel. E o delator: “Me permito ficar calado.” Nem todo político é bandido. Mas o silêncio de Paulinho, como o delator costumava ser chamado por Lula, deixa todos os gatunos um pouco mais pardos, desafiando a falta de discernimento do eleitor.
Se a sucessão de 2010 fosse um parque de diversões, poder-se-ia dizer que começou no carrossel, encontra-se na montanha russa e vai terminar no trem-fantasma.




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