Quem leu o meu Esquerda Caviar sabe que um dos fatores que levam alguém a se tornar um ícone do fenômeno é justamente o sentimento de culpa da elite. O sujeito nasce ou fica rico, e se sente culpado por ter tanto em um país muito pobre e desigual, que ainda por cima condena a riqueza alheia.
Pois bem: Caetano Veloso ofende a classe média quando diz que não ficou rico, e que ainda é classe média. É o que ele afirma em sua coluna de hoje no GLOBO:
"Eu sou da classe média (não adianta os malucos da internet dizerem que sou rico: minha cabeça é classe média e, na real, não fiquei rico), tendo a reagir como pessoas da classe média. Sim, sou rebelde, na verdade um medalhão transviado, mas sou classe média (como a maior parte dos que precisam se manifestar de alguma forma nessa vida)."
Malucos da internet? Estaria ele se referindo à minha pessoa? Não saberia dizer. O que posso dizer, com mais convicção, é que classe média Caetano não é, nem aqui, nem na China! Um sujeito que faz um único show pelo cachê de R$ 600 mil pode ser qualquer coisa, menos classe média.
Ou então vejamos o valor do apartamento que ele dividia com a ex-mulher Paula Lavigne: R$ 37 milhões! É esse o montante que Paula estaria pedindo pelo imóvel, e quem diz não é um maluco qualquer da internet, e sim o jornal que publica suas colunas (e as minhas, diga-se de passagem).
O que podemos perceber, portanto, é que Caetano é rico, muito rico, faz parte da minúscula elite financeira brasileira. Eu não vejo problema algum nisso. Se o dinheiro foi obtido honestamente, com seu próprio trabalho, valorizado pelo público consumidor, que mal há nisso? O que eu critico é a simbiose com o governo, não a riqueza legítima.
Mas Caetano tem dificuldade em aceitar seu próprio sucesso financeiro. Acha que, com isso, distancia-se do público, que aplaude seu sensacionalismo de esquerda. Ele precisa ser “um de nós”, precisa ser “do povo”, da “classe média”, mesmo com uma fortuna que nem nos sonhos a classe média verdadeira poderá juntar.
Por isso mente, ao falar que, “na real”, não ficou rico. Para que padrão, Caetano? O de Michael Bloomberg? Bill Gates? Porque para qualquer outro padrão, principalmente o nosso, você é rico, bem rico, podre de rico! Isso não deveria ser uma questão tão importante. Você deveria ter até orgulho dessa conquista. Mas se tivesse, e falasse abertamente do assunto, não seria da esquerda caviar, não é mesmo?
Da Coluna do Rodrigo Constantino de 12-01-14
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