UMAS E OUTRAS DO HELIO FERNANDES

O gênio Chico Lopes, economista-matemático que salvou o Real. Os discursos de Dilma, Francisco e Lincoln. Foi o Papa que deu a ordem ao motorista: “Vá por onde tenha povo”. Por que teria medo da rua? Dilma despenca diariamente, o PT desunido. Mas o “Volta, Lula” vai uni-lo. O ex-presidente concorda.

Helio Fernandes
O PT está no auge, não pelo passado dito revolucionário, mas perdido. Também não por deter o Poder, que não está perdido. Mas pelo futuro, que pode até não perder, só que no momento é de completa incerteza. Até afirmaria, provocando surpresa e perplexidade como analista isento e independente: “O PT, não ostensiva mas oficialmente, está com 70% de certeza e 30% de incerteza”.
Surpresa? Isso é análise. E o que dizer do comportamento de Rui Falcão? Presidente do partido e precisando urgentemente da reeleição, sem a qual não existe, afirma e pergunta textualmente: “Ninguém sabe quem apoiará Dona Dilma em 2014”.
É uma declaração acintosa, mas decisivamente elucidativa. Rui Falcão jamais quis vir para o plano nacional, sempre soube que sendo do PT e de São Paulo, ninguém o definiria como estadual. Dessa forma chegou a presidente do partido. E agora, para conseguir a reeleição indispensável, não se aborrece, se contrange ou se incomoda em definir os caminhos do PT. Mesmo aparentemente controversos.
HOUAISS, URGENTE, AURÉLIO, RÁPIDO:
D. DILMA CONFUNDE COALIZÃO COM COLISÃO

Por causa disso, o ainda não reeleito Rui Falcão resolveu abrir o jogo. Uma coisa que ele aprendeu na presidência do PT é que, dentro do partido, o importante não é ser, mas se impor. Por isso, representando os 70% que têm certeza, que sabem que serão apoiados pelos outros 30% da incerteza, sem explicação maior, perguntou sobre o futuro do PT e de Dona Dilma.
Pela forma como vem agindo e se expressando, a própria Dona Dilma é que deveria fazer a pergunta, quem sabe diante do espelho: quem me apoiará em 2014? Ela hostiliza a todos, sem piedade, mas não tem correligionários, não surpreende nem assombra ninguém.
Pode ser dito que Dona Dilma já esteve em melhor situação? Seria arriscado e perigoso. Dona Dilma já tomou posse como era antes de 1998, sem reeleição. Pelo menos para ela. Logo no início do primeiro ano foi surpreendida pela “faxina”, fez o que prepararam para ele, que nem percebeu.
Se alguém não entender nada e perguntar o que vai acontecer ou está acontecendo, pode receber como resposta: “É a sucessão de 2014, estúpido”. E se a trajetória dessa sucessão não passa pelo Sírio-Libanês ou pelo Einstein, duas coisas serão irreversíveis. 1 – O PT não terá dificuldade com o candidato. 2 – O Planalto e o Alvorada terão que se readaptar a antigos hábitos.
COMPARANDO DISCURSOS
Num palavreado voltado para exaltação a ela mesma, Dona Dilma utilizou 1.134 palavras, não emocionou ninguém. Insistiu em se auto-elogiar, não ligou para as “caras amarradas” de “correligionários”, significando que gastava tempo demais. Nem se preocupava com o fato: depois dela falaria o Papa, o que a obrigaria, pelo menos por elegância e consideração, a ser mais rápida. Não ficou uma só afirmação da presidente, o vento desperdiçou todas as 1.134 palavras vazias.
Francisco já veio com o discurso preparado, não se envolveu em polêmicas internas, não entrou na armadilha de Dona Dilma, que pretendia marcar pontos, elogiando o povo nas ruas. (Desconsideração com o anfitrião, Sergio Cabral, que nem pode entrar ou sair de casa, por causa dos manifestantes.)
Em matéria de rua, Francisco não perde para ninguém. Sua afirmação, nos quatro meses em que é Papa, vem precisamente das ruas. E se consagra com sinceridade e humildade, quando acaba com a luxuosa liturgia da Igreja. Citou o futuro do mundo “com jovens e idosos”. Utilizou 902 palavras, nenhuma desperdiçada.
Voltando a um passado de 152 anos, reverteremos ao discurso de Lincoln na posse como presidente dos EUA. Lincoln usou apenas 132 palavras, o que o coloca, com essa antecedência, como precursor do twitter. Antes ou depois, Dona Dilma já estava ultrapassada, no tempo e no espaço.
CHICO LOPES: O GÊNIO
QUE SALVOU O REAL

Começando pelo princípio. Filho de Lucas Lopes, ministro da Fazenda de Juscelino. Economista-matemático-gênio, foi deixado de fora pelo grupo encarregado de criar e lançar o Plano Real. Presidente do Banco Central, fez uma desvalorização cambial que só mesmo um gênio poderia fazer.
Acusadíssimo de irregularidade, isso só poderia ser aceito por quem não conhece o economista-matemático.
Deixou o BC, foi processado e condenado a 15 anos de prisão, recorreu, a condenação foi reduzida para 8 anos, e será absolvido. Ele e o então presidente do BC, interino por 20 dias (outra notável e jovem figura). Não quer que o processo acabe, sabe que não tem culpa alguma.
O grupo de economistas do Plano Real (quase todos hoje muito ricos, nunca saiu tanto dinheiro do Brasil) entrou num “beco sem saída”, não sabia o que fazer para o Real ser entronizado. Admiradores do gênio de Chico Lopes, recorreram a ele.
Desprendido, socorreu-os. Apenas com um quadro-negro, a genialidade e debaixo de palmas, mostrou por que estavam engarrafados. E foi embora, como sempre, sem pensar em dinheiro. Ao contrário dos outros, que sem serem gênios, se “consagraram” financeiramente com o Real.
VACCAREZZA PERPLEXO
Jamais imaginou que fosse sofrer tanto. Escolhido e indicado pelo próprio Lula para coordenador da Reforma Política, vem apanhando impiedosamente. Surgiu então o brado retumbante: “Vaccarezza não representa o PT na Comissão”.
Foi se queixar a Lula, ouviu a resposta: “Não liga, o PT é assim mesmo”. Lula tinha razão, gritaram mais alto ainda: “Não queremos que Vaccarezza deixe a Comissão”. Lula conhece mesmo o partido que fundou, que governou e que não se desvinculou dele.
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PS – Destaque das televisões brasileiras ontem: “Chegada do Papa ao Brasil tem grande repercussão na Itália”. Só na Itália?

PS2 – Na própria segunda-feira, os sites dos grandes jornais da Europa utilizaram todo o espaço, até com perplexidade, para assinalar o sucesso da chegada de Francisco.
PS3 – Isso apesar do fuso da Europa, pois quando o Papa chegava ao Guanabara, já eram 10 horas nas capitais da Europa, com exceção de Londres, lá eram 9.
PS4 – Grande discussão a respeito do roteiro seguido pelo Papa, assim que deixou o Galeão. Culpavam o secretário municipal de Transportes, que teria jogado o carro do Papa num engarrafamento.
PS5 – Não conheço o secretário, mas o roteiro não foi traçado ou imposto por ele. Não teria coragem ou autonomia para fazer alteração.
PS6 – A ordem foi direta do Papa ao motorista, “vamos por onde tenha povo”. Essa determinação pegou de surpresa os próprios agentes de segurança do Vaticano, que deixaram visível seu desespero. (Como assinalei ontem).
PS7 – Acontece que Francisco sabia a ordem que dava. Nunca esteve a perigo, não fechou os vidros do carro, sempre com um sorriso nada forçado, estava à vontade.
PS8 – No Guanabara também não exibiu desconforto, embora quisesse ficar o menor tempo possível. Ali não estava seu público predileto. Bem antes das 8 se preparou para ir embora. E foi.
PS9 – Quase unanimidade, mesmo sem objetividade: o Papa aproveitaria a folga de ontem, terça-feira, para conhecer o Corcovado. A conclusão vinha de uma certeza: “Francisco vir ao Rio e não visitar o Corcovado, quase um sacrilégio”.
PS10 – Mas as horas foram passando, a noite aparecendo e Francisco descansava no Sumaré. Dom Orani Tempesta abria a JMJ em Copacabana, o Papa se resguardava para os cinco dias agitadíssimos e cansativos, de hoje até domingo à noite, quando deixará o Brasil.
PS11 – Sem dúvida alguma, foi viagem histórica e inesquecível, essa de Francisco ao Brasil, Repercussão muito maior do que a dois outros dois Papas que estiveram no Brasil.
PS12 – Outra certeza: Francisco terá passagem também marcada para sempre, fique quantos anos ficar no Vaticano. Em 4 meses, Francisco já deixou indelével a palavra que influenciará a Igreja, com ele e depois dele: r-e-v-o-l-u-c-i-o-n-á-r-i-a.
PS13 – Dione de Castro e Silva: perdão e obrigado. Confundir Castro Alves com Olavo Bilac não é crime, talvez seja a traição da admiração. Sem desculpa ou alternativa, a responsabilidade deve ser da longevidade.

Da Tribuna da Imprensa de 24-7-2013.

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