UMAS E OUTRAS DO HELIO FERNANDES - 04-6-2013

Aécio acuado, Serra tranquilizado. Arraes não recebeu salvo-conduto da ditadura. Mas viajou autorizado, para a Argélia, dominada por comunistas. Decepção, frustração, desilusão com Felipão e a seleção. Bautista Vidal (e Millôr), tristeza e saudade.

Helio Fernandes
Defensores, enrustidos ou escondidos, representantes do regime militar, garantem: “Arraes teve salvo-conduto em 1964, para viajar para onde quisesse”. Quase perto, mas longe do que aconteceu. Arraes estava em Fernando de Noronha (com o também governador Seixas Dória) quando chegou um general de três estrelas para conversar com ele.
O governo militar que se instalava tinha um problema difícil. Podia soltá-lo e certamente ele se transformaria num mártir, numa liderança popular antiditadura. Impensável. Seria mantido preso, a ala mais insensata dos golpistas poderia tentar assassiná-lo. O torturador amador, o que preocupava os golpistas mais sensatos. Impensável.
O general fez uma proposta que Arraes, lógico, aceitou na hora. Os termos: “O senhor está inteiramente livre, tem uma semana para viajar para onde quiser, no exterior”. Despedida até amigável, Arraes viajou para a Argélia, que acabava de se libertar da França (golpe de mestre de De Gaulle), dominada por uma ditadura comunista, chefiada por Boumediene.
Isso durou três ou quatro meses, Arraes mandando de verdade. Boumediene foi derrubado, mas o regime comunista continuou, e Arraes também. (A queda de Boumediene, que morreu em Argel de uma estranha doença sanguínea, com suspeitas de envenenamento, resultou num excelente filme, com Jean Louis Trintignant fazendo o papel do ex-ditador).
 RENAN E A TRANSPETRO
Durante as horas de tramitação da MP dos Portos pelo Senado, em alta velocidade, Renan tinha fixação nessa importantísima diretoria da Petrobras. É que há anos Sergio Machado (ex-senador pelo Ceará) é presidente, indicado por ele. Que chegou a admitir que a Transpetro teria outro titular.
Eram três amigos inseparáveis, que combinaram: os três seriam governadores do Ceará. Tasso Jereissati foi o primeiro. Depois, Ciro Gomes, mocíssimo. Quando chegaria a vez de Sergio Machado, não chegou. E dois anos depois não se reelegeu senador.
A salvação foi mesmo a Transpetro. Pelo visto, vai se aposentar lá. Ceará? Nunca mais. Confirmando a importância da empresa: mandou construir 14 navios, nem precisou consultar Dona Graça. E esta foi transformada pela Forbes na mulher mais poderosa do Brasil, acima de Dona Dilma.
Há!Ha!Ha! Dona Dilma pode demitir Dona Graça quando quiser, Dona Graça nem pode ir ao Planalto quando quer, tem que ser chamada. A Forbes não sabe de nada, vejam as classificações que sistema dava para o Eike Batista.
A IMPOPULARIDADE BATE À PORTA
Arrogante, voltada para ela mesma, ocupando quase que diariamente a televisão, com discursos chatíssimos, quer evitar pesquisas. No país, Lula está junto com ela. No PT (que é imprescindível), Lula está disparado na preferência. Dona Dilma não sabe o que fazer. E coletivamente não tem ninguém com autoridade e intimidade para uma análise. Isenta, mesmo que contrária.
PREFEITURA DE NOVA IORQUE
O já bilionário Michael Bloomberg, em 2000, resolveu se candidatar a prefeito da cidade, na eleição do ano seguinte. Formou um grupo especializado, pediu: “Quero que façam um plano para minha campanha e quanto vai custar”. Seis meses depois estava pronto, apresentaram a ele.
Examinou, o custo era de 170 milhões de dólares, fez um cheque, anunciou a candidatura pelo Partido Republicano. Contestaram, foi “acusado de corrupção”. O tribunal responsável decidiu: “Como pode ser corrupção, se o dinheiro é dele?”. Na frente nas pesquisas, precisaram de mais 50 milhões, deu outro cheque.
Ficou 12 anos, agora com 71 anos, já longe dos republicanos, não quer mais. Sucedendo ao grande prefeito Giuliani (que saiu para ser presidente, não conseguiu), é exaltado e aplaudido em praça pública.
Curiosidade; antes de assumir, tinha 13 bilhões de dólares na lista da Forbes. Sai com os mesmo 13 bilhões, na mesma lista que faz o levantamento. Quase todos podem ser corruptos. Mas quem tem 13 bilhões e financia a própria campanha, não serve a si mesmo nem a ninguém.
BAUTISTA VIDAL, QUE TRISTEZA
Não queria escrever sobre ele, como não escrevi quando o Millôr foi embora. É muita emoção e admiração que não se continha ou se resumia em palavras. Eu e ele tivemos conversas demoradas e maravilhosas. Quase toda semana me surpreendia com um artigo ainda mais profundo do que o anterior.
Não era o cientista, o engenheiro, o professor, era a inspiração permanente, a inspiração inflamada, principalmente contra a omissão e a submissão. Não entendia a vida sem combate. Talvez por isso combatesse por tantos.
Bautista e Millôr, duas saudades de agora, mais que ficarão para sempre.
ELEIÇÃO NO ESTADO DO RIO:
NEM MISTÉRIO NEM MALABARISMO

São vários os supostos ou pseudos candidatos a governador. Mas só existe um verdadeiro: Lindbergh Farias, do PT. Garotinho, que já foi potência eleitoral, caiu muito no debate (?) da MP dos Portos.
Foi o primeiro a denunciar a participação e as facilidades para Daniel Dantas. Excelente, mas precisava votar contra. Apoiando o governo, se perdeu. Os outros candidatos jamais existiram.
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PS – Conforme era previsto, nenhuma restrição ao Felipão, até elogios pelo empate difícil com a insuficiente Inglaterra. Esta já ganhou uma Copa do Mundo, em 1966, em casa. E com o gol da vitória, na final, contestado até hoje. Eu estava lá, em Wembley, 47 anos depois ainda não posso garantir se foi gol ou não.

PS2 – O filho de Adilio está fazendo um documentário sobre o Flamengo, campeão do mundo de 1981. Pode ser excelente. Três desses campeões do mundo (Zico, Júnior e o próprio Adilio) estavam anteontem na Arena da Barra, junto com mais 16 mil pessoas, vendo o Fla ser bicampeão de basquete nacional.
PS3 – Magnífica a apresentação de Neymar ao Barcelona. Foram horas e horas de exibição, carinho de centenas de crianças, aplausos de estádio praticamente lotado.
PS4 – E a entrevista, de alto nível. Nunca torci para alguém dar certo como fiz com o grande jogador. 21 anos, incrível personalidade, não se deslumbrou nem se intimidou. E no último ano, não era ele quem decidia, eram os brasileiros que bradavam: “Neymar tem que ir para a Europa”. Foi.
Da Tribuna da Imprensa de 04-6-2013.

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