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SALGUEIRO E CHE GUEVARA

Revista O Consolador, Ano 6 - N° 299 - 17 de Fevereiro de 2013
MILTON SIMON PIRES  
cardiopires@gmail.com

Porto Alegre, RS (Brasil)
 

Salgueiro e Che Guevara: quando a Ignorância
encontra o Mal

Toda vez que um jornalista independente consegue escrever algo que chegue à chamada “grande imprensa brasileira” criticando o carnaval, a ignorância do povo e sua avidez eterna por mitos, a resposta é a execração pública. Criticar a maior festa popular brasileira argumentando que o país tem problemas urgentes de educação, segurança e saúde tornou-se um clichê tão batido que desde a ala das baianas até o Departamento de Filosofia da USP sabem que se trata de coisa que “não dá em nada”.
Trazida para o país pelos portugueses, a celebração que hoje é sinônimo de jogo do bicho, tráfico de drogas e turismo sexual confunde-se com a própria história do Brasil. Do meio intelectual partem os mais variados discursos em sua defesa. Todos eles fazem a apoteose do relativismo moral, do multiculturalismo e do respeito pelas chamadas “manifestações populares”. Sua fundamentação filosófica é rasa, pueril, patética e, antes de tudo, desonesta porque confunde verdade com consenso e vê – sempre – na manifestação das massas o caminho da beleza e da justiça.  Os professores deste grande centro acadêmico petista – a Universidade brasileira – apelam preferencialmente para Freud e Foucault quando em suas teses buscam justificativas para a histeria coletiva que toma conta do maior país católico do mundo, segunda pátria do Espiritismo e nação de todas as raças.
Bobalhões sustentados pelo CNPq acreditam na folia dos loucos como discurso dos marginalizados, fala dos oprimidos, e razão dos descamisados capazes de se opor à “fala” dominante – é a arma de guerra contra a “Ordem do Discurso”.
Segundo país em extensão da América Latina, na Argentina (para sorte deles) não existe carnaval, mas na terra de Borges, do tango e de Maradona nasceu aquele que mais tarde enfeitaria as paredes dos quartos de pelo menos quatro gerações. Foi lá que, em 1928, veio ao mundo um futuro colega meu de profissão – o médico Ernesto Rafael Guevara de la Serna. Crescendo em bairros da classe média alta de Buenos Aires como Palermo, San Isidro e Recoleta, esse futuro assassino jamais realizou-se no trabalho nem no amor. Partiu em uma viagem de motocicleta – hoje celebrada por Hollywood – em que os delírios de gente como Fanon e Regis Debray substituíram o LSD da geração hippie.
Por Guevara, não é só a elite da Universidade brasileira que chora até hoje. Choram os parentes e familiares daqueles que ele fuzilou em Guanahacabibes, por aqueles que ele matou no Congo, em Serra Maestra e na Bolívia, e lamentam-se neste momento em Havana os familiares de pacientes com AIDS, homossexuais e doentes psiquiátricos  internados por Fidel nos campos que o “doutor” criou em Cuba.
Falar mal do “Tchê” (apelido que me faz lembrar que sou gaúcho ... rss) é quase pecado no Brasil de 2013, mas não um pecado qualquer. Trata-se de violar aquilo que a ralé da intelectualidade tupiniquim chama de “bom senso” e cerrar fileira com os que ofendem as focas do Alasca, a “religião” do aquecimento global e a apologia do casamento gay... Consiste em fazer oposição à apoteose do aborto e da eutanásia no país das emergências com pacientes sujos de fezes e urina, deitados às vezes entre ratos e baratas, e é quase como defender a volta do DOPS e do DOI-CODI.
Ontem eu estava de plantão. Sempre dormindo e comendo mal, assistia numa lancheria próxima do hospital ao desfile da escola de samba “Salgueiro” quando uma ala (é esse o nome?) inteira apareceu literalmente vestida com roupas homenageando o ex-guerrilheiro. Imediatamente me lembrei da Alemanha na década de 1920 apresentada por Ingmar Bergman em o “Ovo da Serpente”, filme em que David Carradine vagava numa Berlim empobrecida, histérica e inflacionada. Caminhava numa cidade de cabarés, de prostitutas, de uso de heroína e de pessoas sendo espancadas em becos escuros em nome de uma “Nova Alemanha”. Mal sabia o mundo, assim como mal sabe o Brasil, aquilo que estava por vir; não imaginava aquilo pode acontecer quando a ignorância encontra o mal.      

O autor é médico em Porto Alegre, RS.

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