DA MÍDIA SEM MORDAÇA - 03-02-13

NA COLUNA DO CLÁUDIO HUMBERTO


Acórdão da ação penal do mensalão
será publicado ainda em fevereiro

FotoMIN. GILMAR MENDES
O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, afirmou que o acórdão da ação penal do mensalão deve ser publicado ainda neste mês, quando termina o recesso do Judiciário. A divulgação do documento, segundo Mendes, marca o começo da contagem de prazo dos recursos. Além disso, o ministro afirmou que a publicação será um relatório detalhado sobre as discussões e decisões do colegiado em relação a cada um dos 37 réus julgados. “Desde o ano passado todos os gabinetes já estavam providenciando, ultimando os votos. Acredito que agora neste mês de fevereiro nós devemos cuidar da publicação do acórdão”, afirmou Mendes.

Parlamentares reagem à imprensa

Há uma leitura especial para a maioria do Senado ter votado em Renan Calheiros, sexta-feira, bem como para a mais do que certa eleição de Henrique Eduardo Alves a presidente da Câmara, amanhã. Deputados e senadores estão se vingando. Dão o troco, reagem à imprensa, no caso a opinião publicada, assim como reagem à opinião pública. Há décadas que o Legislativo ocupa o último lugar em qualquer pesquisa destinada a avaliar o respeito da sociedade às suas instituições. A revanche, assim, veio na escolha dos candidatos que, justa ou injustamente, são os que mais exprimem os conceitos negativos da população diante do Congresso. Leia mais no artigo de Carlos Chagas.



Nem seguranças
aguentam o
humor de Dilma

Conhecida por seus acessos de fúria, a presidenta Dilma não deixa apenas os ministros à beira de um ataque de nervos. Segundo fontes palacianas, o Gabinete de Segurança Institucional tem dificuldades de encontrar oficiais do Exército que aceitem chefiar o serviço de segurança presidencial. Entre os mais estressados estaria o coronel Artur José Solon Neto, que por breve período cobriu as férias do titular.

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Humilhação pública

Habituada ao perfil discreto do general Amaro, seu chefe de segurança, Dilma não poupou puxões de orelha públicos em quem o substitua.

Chutando o balde

Em junho de 2011, a capitã de fragata E.H., oficial brilhante, cansou dos esculachos presidenciais e foi embora. Quase deixou a Marinha.

Inclua-me fora dessa

O Palácio do Planalto também demorou a encontrar quem aceitasse substituir a capitã E.H. como ajudante de ordens.

Deixa pra lá

Ministros ironizam que a fórmula para conviver com a presidenta Dilma é baixar a cabeça e saber que nem sempre a briga é pessoal.

Relaxa e goza

O Detran-DF surpreendeu um leitor de Brasília acessando as multas do carro dele usando o código de segurança “vagina”.

O dono da noite

O vice-prefeito de Águas de Lindóia, João Eduardo de Morais (PSD-SP), que teria usado carro oficial no Encontro de Prefeitos em Brasília para visitar boates de strip, deve seu apelido à sua rede de choperias.

Já cansou

O prefeito de Cáceres (MT), Francis Cruz, pagou suas despesas para chegar ao Encontro de Prefeitos, em Brasília, onde tomou banho de chuva, sem conseguir táxi para o hotel. Ele doa o salário à cidade, que é pobre, e não tentará reeleição: “Não quero mais nada de política”.

NO BLOG DO NOBLAT

Frase do dia

"O Renan é um quadro político que já há muitos anos tem demonstrado sua capacidade. O PT fez certo em apoiá-lo." (Deputado João Paulo Cunha (PT-SP), condenado no julgamento do mensalão, ao defender Renan Calheiros, novo presidente do Senado)

Aprendiz de Sarney, por Mary Zaidan

Olhos mareados, voz embargada, choro. Não fosse um rol de deslavadas mentiras, o discurso de José Sarney na última sessão em que presidiu o Senado seria de fazer orgulho. A ele, ao Parlamento, ao País.

Mas qual o quê. Nele, deu como obra feita o que não fez. Mais ainda, encheu de elogios o novo presidente da Casa Renan Calheiros, antes mesmo de ele ser eleito. Desrespeitou seus pares, que, por sua vez, desrespeitaram o Legislativo e os eleitores que representam ao ungir alguém que já renunciara ao mesmo cargo para não ser cassado, e que acaba de ser denunciado pelo Ministério Público por três crimes: peculato, falsidade ideológica e uso de documento falso.
Não se sabe quanto tempo Renan ficará no posto. Mas, mesmo sendo hábil, dificilmente conseguirá bater o imbatível Sarney.
Com quase 83 anos de idade, 58 de vida pública, Sarney, com senso de autoproteção apuradíssimo, sempre conseguiu estar do lado certo: o seu.
Chegou à Câmara dos Deputados em 1955 pelo PSD. Mudou-se rapidamente para a UDN, agremiação arquirrival.
Foi da Arena, partido de apoio dos governos militares, e integrou a Frente Liberal que formou com o PMDB a Aliança Democrática que elegeu Tancredo Neves no último Colégio Eleitoral parlamentar, realizado após a derrota da emenda das Diretas-já. Virou vice de Tancredo, subiu ao Planalto. Passou a mandar no PMDB.
Sempre no lugar certo na hora certa. Para ele e os seus. Nem aos maranhenses foi fiel. Em 1990, trocou seu estado natal pelo Amapá para garantir o governo do Maranhão à filha, ampliando os poderes do clã.
Aliou-se a Fernando Collor e desaliou-se. Firmou lealdades diversas, de FHC a Lula, esse último um ex-crítico mordaz que, rapidamente, passou a lhe fazer mesuras. Dilma Rousseff completa a lista dos Sarney-dependentes. 
Intocável, vai assombrar para sempre.

Talvez se imagine primeiro-ministro e, por isso, tenha feito uma extemporânea defesa do parlamentarismo. Logo ele, que, há 25 anos, se opunha aos constituintes que no primeiro projeto da Carta optaram por esse sistema de governo.
Rejeitado no plebiscito de 1993, o parlamentarismo é adotado nas democracias mais avançadas do mundo. Mas é inviável quando se tem um Congresso que não se dá ao respeito. Que não perde uma só oportunidade para se desmoralizar.
Renan e a maioria absoluta que nele votou que o digam.


O faro para odores mais convenientes Renan também tem. Foi fundador do PSDB, homem de confiança de Collor, ministro de FHC, presidente do Senado na era Lula e, agora, de Dilma. Mas, perto de Sarney, impune e imune, é um aprendiz.
E é isso o que mais assusta.

Mary Zaidan é jornalista, trabalhou nos jornais O Globo e O Estado de S. Paulo, em Brasília. Foi assessora de imprensa do governador Mario Covas em duas campanhas e ao longo de todo o seu período no Palácio dos Bandeirantes. Há cinco anos coordena o atendimento da área pública da agência 'Lu Fernandes Comunicação e Imprensa, @maryzaidan.

Caravanas da discórdia, por Ilimar Franco

Ilimar Franco, O Globo
Tem gente no PT que está exultante, mas há outros começando a ficar preocupados. O drama envolve as caravanas que o ex-presidente Lula fará a partir de março. Petistas acham que a base social do partido pode começar a pressionar e pedir sua volta, em 2014. Há quem diga que a presidente Dilma estaria insegura com os desdobramentos das viagens do ex pelo Brasil.

Ditos populares, por Luis Fernando Veríssimo

Dos ditos populares, o mais irônico — pra não dizer cínico — é “Pra baixo todo santo ajuda”. O dito não discute a existência de santos e sua influência em nossas vidas, mas os divide em duas categorias, os poucos que nos ajudam nos momentos difíceis, de grande esforço, como subir uma ladeira, e a maioria que só se apresenta na hora da descida, quando nem precisaríamos de ajuda. Seriam os santos oportunistas, atrás de uma glória que não merecem.

Outro dito sábio e irônico, que está sendo muito citado depois da tragédia em Santa Maria, é “Porta arrombada, tranca de ferro”. Este trata das reincidentes providências tomadas para que um fato não aconteça, depois do fato acontecido. Foi preciso que quase 250 pessoas morressem para que coisas como revestimento inflamável, alvarás vencidos, falta de saídas de emergência e sinalização interna, etc. passassem a fazer parte das nossas conversas cotidianas, numa súbita descoberta do mundo de riscos iminentes e desconhecidos habitado por boa parte da população, principalmente a população jovem.
O Ivan Lessa disse que de quinze em quinze anos o Brasil esquece a sua história. Ou mais ou menos isso. Lessa foi otimista. A memória brasileira é bem mais curta. Não faz quinze anos que o Renan Calheiros teve que renunciar ao seu mandato para não ser expulso do Congresso. Hoje é candidato à presidência do Senado (estou escrevendo antes da eleição, mas Calheiros era tido como barbada).
Na época da sua renúncia houve grande indignação, mas a indignação brasileira — como a memória — dura pouco. É fácil indignar-se. Para nos indignarmos não falta a ajuda de todos os santos. Para que a indignação dure e tenha consequência precisamos de um empurrãozinho dos santos mais constantes. Que andam muito relapsos.
No caso dos crimes em Santa Maria, só nos resta esperar que a indignação dure o bastante para ter consequência. Que as providências que evitarão outra tragédia parecida sejam tomadas antes que a indignação seja engolida pela memória curta e desapareça.
E “quem esquece a história está condenado a repeti-la”. Disse não me lembro quem.






Collor ganha força com eleição de Calheiros no Senado

Brasil247
O ex-presidente Fernando Collor, goste-se dele ou não, é o maior vencedor na espuma da vitória de Renan Calheiros para a presidência do Senado. Amigo pessoal do senador, que foi seu ministro de Articulação Política, Collor chegou a firmar com Renan, nos seus tempos de presidente, um pacto para permanecer por 20 anos no poder.
Os planos não fluíram como ele esperava – e por um longo momento histórico ambos foram dados como proscritos do meio político. Collor, pelo impeachment, em 1992. Renan, com a renúncia ao mandato de senador, em 2007. Hoje, eles sorriem do destino.
Vinte e dois anos após o início da governo Collor, além estarem em pleno exercício de seus mandatos de senadores por Alagoas, Collor e Renan formam a principal parceria da Casa. De estilo mais calmo e reflexivo, Renan terá em Collor o complemento de quem fala alto, gesticula e usa as palavras como um sabre. Dos 81 senadores, sem dúvida o ex-presidente é o que empurra aos limites mais distantes os benefícios da imunidade parlamentar.



RS: número de mortos em incêndio em boate sobe para 237

Terra
A Secretaria Estadual da Saúde do Rio Grande do Sul confirmou na noite deste sábado a morte de mais uma vítima do incêndio na Boate Kiss, em Santa Maria. Bruno Portella Fricks estava internado do Hospital de Clínicas, em Porto Alegre. O número de mortes chega, assim, a 237. O jovem é a terceira vítima que estava hospitalizada a perder a vida ao longo da semana. Morreram no momento do incidente 234 pessoas.
Fricks se formou em 2012 em Administração na Universidade Federal de Santa Maria e trabalhava na América Latina Logística (ALL). Ele comemoraria neste sábado cinco anos de namoro com Jéssica Duarte.  Quase uma semana depois do incêndio em Santa Maria, no domingo passado, 113 feridos continuam hospitalizados. Deste total, 58 estão internados na cidade e 53 na região metropolitana de Porto Alegre.

Homenagem em Universidade em Santa Maria Foto: O Globo


No papel, Brasil é dois Estados de SP maior do que o oficial

Roldão Arruda, Estadão
Do Oiapoque ao Chuí, o território brasileiro tem cerca de 8,5 milhões de km². Oficialmente, segundo o IBGE, essa é a superfície do País. No papel, porém, o território brasileiro é maior. Quando se faz a soma da área de todos os imóveis rurais cadastrados no Instituto Nacional de Colonização e Reforma (Incra), o resultado final chega a 9,1 milhões de km².
É uma diferença notável: a área que sobra equivale a duas vezes o território do Estado de São Paulo. Ou, para quem se sente melhor com grandezas imperialistas, à soma dos territórios da Alemanha e Inglaterra.
O esticamento do território nacional foi verificado pelo Sindicato Nacional dos Peritos Federais Agrários, após obter no Incra, por meio da Lei de Acesso à Informação, dados detalhados do Serviço Nacional de Cadastro Rural - que tem a tarefa de recolher informações de todos os imóveis rurais registrados no País. O mapeamento reúne informações de 2011. As de 2012 ainda não foram compiladas pelo Incra.


NO BLOG DO REINALDO AZEVEDO

MP de São Paulo recebe amanhã acusações que Marcos Valério faz a Lula. Ou: O dia em que Marilena Chaui comparou o Apedeuta a uma deusa grega

O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, encaminha amanhã à seção paulista do Ministério Público Federal as acusações que o empresário Marcos Valério, principal operador do mensalão, faz a Lula. Não é pouca coisa. Valério não só diz que o Apedeuta sabia de tudo e sempre esteve no controle do mensalão como sustenta que foi um dos seus beneficiários. O dinheiro para seu uso pessoal teria sido depositado na conta do faz-tudo Freud Godoy. Com efeito, a CPI dos Correios encontrou repasse da agência de Valério para  o carregados de malas.
Muito bem! O procurador que receber o papelório vai decidir se abre investigação ou se pede o arquivamento do caso. Os petistas tratam como um atentado à democracia a possibilidade de Lula vir a ser investigado e se tornar réu numa ação criminal.
Há nisso muito de politicagem vulgar, mas também há uma espécie de crença, em vários setores do PT, na infalibilidade de Lula, quem sabe na sua divindade. E ele não faz por menos, como é sabido: expõe-se à adoração. Tivesse atravessado o Mar Vermelho com Moisés, não duvidem: teria liderado a turba contestadora, impaciente com a demora do Patriarca, e seria o primeiro a propor um de ídolo de ouro: em vez do bezerro, ofereceria a si mesmo como modelo. Se não conseguisse destituir Deus, daria um jeito de, quando menos, tirar Moisés da história…
Não pensem que isso começou com o, como chamarei?, “petismo popular”. De jeito nenhum! O povo é muito menos mistificador do que aqueles que se dizem “intelectuais petistas”, essa contradição dada pelos termos. Contradição? Não pode haver petista culto? Claro que sim! Eu me refiro a “intelectuais” como pessoas comprometidas com a ciência e com o pensamento. Ou bem se busca servir à verdade ou bem se busca servir a um partido.
Muito bem! Em julho de 2003, Marilena Chaui — uma das inventoras da tese vigarista de que a denúncia do mensalão era uma tentativa de golpe — concedeu uma entrevista à revista Primeira Leitura, que eu dirigia. Conversou com o jornalista Fernando Eichenberg, em Paris. Ele lhe dirigiu, então a seguinte pergunta:
A sra. não acha que Lula despolitiza talvez em demasia sua própria trajetória, repisando o mito do homem milagreiro, do político milagreiro, do evento milagreiro, mais ou menos nos termos pela sra. apontados no livro “Brasil, Mito Fundador e Sociedade Autoritária”?
A resposta de Marilena, aquela que já afirmou que, quando Lula fala, o mundo se ilumina, foi fabulosa. Ela comparou seu líder à deusa grega Métis (vocês saberão detalhes). Vale a pena ler a íntegra da resposta. Volto depois.
*
Há no Lula um traço que é a marca ocidental do homem político. Há um trabalho feito nos anos 80, pelo Jean Pierre Vernant, sobre um aspecto da cultura grega clássica, segundo o qual os gregos consideravam a prática, contraposta à inteligência teórica. Essa inteligência prática ficava sob a proteção de uma deusa chamada Métis. As características da pessoa dotada de Métis, ou dessa inteligência prática, eram as seguintes: golpe de vista certeiro, ou seja, ela era capaz de, num único golpe de vista, perceber o todo; tinha o senso da oportunidade, ou o sentimento do kairós, do momento oportuno, em que momento intervir, em que a ação seria eficaz; tinha a capacidade de encontrar ou de criar um caminho onde não havia caminho: diante da aporia, do aporós, abre um caminho; e era dotada da capacidade da espreita, de saber observar de longe, de espreitar e de produzir uma estratégia para intervir.
Os gregos consideravam que havia alguns tipos sociais que eram dotados de Métis: os capitães de navio, os médicos, os caçadores e os estrategistas militares. Mas a figura que reunia todos os traços da Métis, que era a Métis praticamente encarnada, era o político. O homem político grego era dotado dessas características da Métis. Eu considero o Lula um animal político. Na medida em que ele é dotado dessas características que são constitutivas da figura ocidental do político, ele não pode despolitizar, mesmo que ele queira, porque o modo de ver o mundo é um modo político. É vê-lo como totalidade, como tempo aberto, como conjunto de dificuldades e de aporias, como aquilo que se tem de observar e sobre o que se tem de intervir.
Em relação ao discurso do Lula, alguns dizem que é um discurso populista. Ora, o líder populista é aquele que pertence ou à classe dominante ou ao setor aliado da classe dominante. E é aquele que se apresenta para o povo como o protetor, o guardião, como se esse povo fosse imaturo, vivesse na minoridade, incapaz de se conduzir a si mesmo. Isso é o populismo. Nenhuma dessas características se pode atribuir ao Lula. Ele não vem da classe dominante; ele não se dirige a um povo imaturo e incapaz de se dirigir; ele não se propõe a ensinar a esse povo esse bom caminho, porque, se ele tivesse de fazer isso, não teria sido eleito presidente, na medida em que ele é a expressão desse povo. Então, há uma impossibilidade lógica, para usar uma expressão do Paulo Arantes, de que ele seja um líder populista. É dito também que ele é um líder messiânico. O messianismo possui duas grandes características no Brasil. Primeiro, é milenarista, coisa ausente do discurso ou da ação do Lula. A segunda característica é a componente teológico-política, ou seja, de que o governante é um representante de Deus, que ele transcende a sociedade e a controla por mandato divino, o que Lula também não diz.
O fato de que, no discurso, Lula invoque Deus, é porque ele é um homem religioso. Nem é uma invocação ao reino de mil anos de felicidade, produzido pela ação justiceira dos santos, nem é ele representante de Deus na Terra. É má-fé dizer que ele é messiânico, sobretudo porque é chamado de messiânico por quem faz ciências sociais e que, portanto, sabe o que é o messianismo. O Lula tem uma estrutura discursiva que vi sendo empregada por ele desde 1978. É a maneira que tem de se exprimir. Sobretudo, quando se diz que ele improvisa, não lê, vai falando qualquer coisa. Uma vez, conversei com ele, e ele me disse que, para poder realmente se dirigir a um interlocutor, precisa perceber o que o está pensando, sentindo, precisa do olhar do interlocutor. A escrita rompe a relação. Isso é uma das coisas mais definidoras do discurso político, porque é aquele que se dirige diretamente ao outro; não é à toa que a política nasceu na assembleia democrática. O Lula fala a interlocutores determinados, estabelece o vínculo típico de quem fez aprendizado na assembleia, porque é assim que ela funciona. Isso é uma característica muito marcante dele.
Outra coisa é o fato de ele usar metáforas e provérbios. Qualquer um de nós que tenha nascido e vivido no interior do país sabe que o homem do interior, seja o sertanejo ou o caipira paulista, por exemplo, fala por provérbios. A minha bisavó, que era baiana, falava por provérbios e metáforas. O [Monteiro] Lobato, falando do caipira paulista, fala por provérbios. Peguem-se as grandes personagens do Guimarães Rosa, elas falam por sentenças, máximas e provérbios. Isso é constitutivo da cultura popular brasileira. Quando eu era ainda adolescente, li, em algum lugar, o [Jean-Paul] Sartre dizendo que sempre ficou muito impressionado com os provérbios e as máximas populares porque exprimem uma sabedoria pessimista sobre o ser humano. Não necessariamente, mas, de um modo geral, sim. Vou usar um provérbio. O provérbio “é confiar desconfiando”. Há uma maneira popular de se exprimir, universal, e é por provérbios e por máximas. Depois, essa é uma maneira pela qual a cultura popular no Brasil se exprime. Então, tem-se um nordestino, do interior do país, que é formado nessa cultura e exprime por meio dessa cultura. Portanto, dizer que é um discurso imbecilizante, paralisante, estúpido, ignorante, é repetir o preconceito, a exclusão e a divisão levada ao seu extremo. O que se exige dele é que se desfaça do direito de se exprimir a partir de onde se formou. Penso que, das críticas preconceituosas feitas ao Lula, essa tem sido para mim a mais chocante, porque ignora de onde ele veio. Como ele não produz uma frase em francês, um conceito em inglês ouboutade em alemão, diz-se que é um inculto que diz coisas imbecis, quando, na verdade, é uma maneira de organizar o mundo.
É interessantíssimo, porque Guimarães Rosa é valorizadíssimo por ter sabido operar com isso. Aquele mesmo que se desvanece diante do trabalho que Guimarães fez sobre esse modo de falar fica horrorizado quando encontra alguém que fala como o Riobaldo. Acho isso inacreditável. Uma pesquisadora portuguesa fez um estudo sobre as discriminações sociais no Brasil pelo uso dos provérbios, das sentenças e das máximas. Ela diz que a classe dominante se dá o direito de produzir máximas, mas não admite a produção nem de máximas nem de sentenças pelos dominados e repudia os provérbios. Quando se ouve intelectuais de esquerda a dizer isso, dói. Dói no estômago.
VolteiMarilena, a douta professora de filosofia, como se vê, transforma, literalmente, Lula numa divindade, dotado de um saber natural, que ele extrai das pessoas. Não tendo como negar os aspectos obscurantistas da fala do seu líder, ela os atribui, então, ao “povo”. Tem-se, pois, como corolário, e isto está mais do que sugerido na resposta, que criticar Lula corresponde a rejeitar o próprio povo.
Escrevi, à época, um textinho na revista explicando quem era, afinal, a tal Métis. Reproduzo em azul:
Há algo de curioso, até engraçado, na associação que a professora Marilena Chaui faz entre a deusa Métis e Lula. Talvez seja preciso cavoucar um pouco os simbolismos. Métis é o nome grego de Prudência, a versão latina da deusa que foi a primeira mulher de Zeus (Júpiter). Foi ela quem deu uma poção a Cronos (Saturno), que o fez vomitar, junto com uma pedra, todos os filhos que houvera engolido. Zeus a seduziu. Ao saber que estava grávida e que estava destinada a ter um filho que seria rei dos deuses e dos homens, ele não teve dúvida: engoliu a mulher grávida. Passou mal, com uma terrível dor de cabeça. Pediu a Hefestos (Vulcano) que lhe abrisse o cérebro, e, de dentro, brotou Palas Atena (Minerva), deusa da sabedoria, da guerra, da ciência e das artes, que tomou assento no conselho dos deuses e passou a ser a principal conselheira do pai. O pássaro predileto de Palas Atena é a coruja. Assim como a inteligência ilumina os problemas, os olhos da ave atravessam a escuridão. Se Lula é mesmo Métis, tomara que se deixe “engolir”, no melhor sentido possível, pelas instituições e que seja a democracia o resultado dessa fusão. Por enquanto, o risco de que se torne mero petisco dos antigos vícios políticos parece grande. Por enquanto, como Cronos, Lula só engole os próprios filhos — no pior sentido possível.
ConcluindoEra julho de 2003. Lula estava no poder havia apenas sete meses, e a maquinaria ideológica que tentaria transformá-lo num ente acima da política e das paixões humanas já estava em curso — Primeira Leitura estava atenta a ela. Naquele primeiro ano de governo, o Apedeuta enfrentava mesmo era a oposição do petismo, e os principais esteios de Antonio Palocci no Congresso, acreditem!, eram o PSDB e o PFL… Não sem certa razão: os dois partidos resistiam ao PT mais rombudo, que queria fazer bobagem na economia. A oposição fazia bem em dar apoio ao que, afinal, era o mais racional em economia, mas já errava brutalmente ao não politizar as promessas que Lula, felizmente, ia quebrando.
Mas volto a Marilena e ao mito. Aquele que a petista vê como uma divindade está associado ao que há de pior na política brasileira e é, em último caso, o arquiteto da chegada de Renan Calheiros à Presidência do Senado. Vamos ver se o Ministério Público e a Justiça lhe devolvem a humanidade e o confrontam, finalmente, com parte de sua obra.
Por Reinaldo Azevedo

Caso de Polícia – A Petrobras, a compra escandalosa de uma refinaria e um prejuízo bilionário para a estatal: Ministério Público decidiu investigar a lambança

Vocês se lembram de um post publicado no dia 15 de dezembro intitulado “ESCÂNDALO BILIONÁRIO NA PETROBRAS – Resta, agora, saber se, ao fim da apuração, alguém vai para a cadeia! Ou: Quem privatizou a Petrobras mesmo? Mais ou menos? Ok. Recupero a história em 13 passos e avanço depois, porque já há novidades. Quem tem tudo na memória pode ir direito para o entretítulo “Voltei”.
1: Em janeiro de 2005, a empresa belga Astra Oil comprou uma refinaria americana chamada Pasadena Refining System Inc. por irrisórios US$ 42,5 milhões. Por que tão barata? Porque era considerada ultrapassada e pequena para os padrões americanos.
2: ATENÇÃO PARA A MÁGICA – No ano seguinte, com aquele mico na mão, os belgas encontraram pela frente a generosidade brasileira e venderam 50% das ações para a Petrobras. Sabem por quanto? Por US$ 360 milhões! Vocês entenderam direitinho: aquilo que os belgas haviam comprado por US$ 22,5 milhões (a metade da refinaria velha) foi repassado aos “brasileiros bonzinhos” por US$ 360 milhões. 1500% de valorização em um aninho. A Astra sabia que não é todo dia que se encontram brasileiros tão generosos pela frente e comemorou: “Foi um triunfo financeiro acima de qualquer expectativa razoável”.
3: Um dado importante: o homem dos belgas que negociou com a Petrobras é Alberto Feilhaber, um brasileiro. Que bom! Mais do que isso: ele havia sido funcionário da Petrobras por 20 anos e se transferiu para o escritório da Astra nos EUA. Quem preparou o papelório para o negócio foi Nestor Cerveró, à frente da área internacional da Petrobras. Veja viu a documentação. Fica evidente o objetivo de privilegiar os belgas em detrimento dos interesses brasileiros. Cerveró é agora diretor financeiro da BR Distribuidora.
4: A Pasadena Refining System Inc., cuja metade a Petrobras comprou dos belgas a preço de ouro, vejam vocês!, não tinha capacidade para refinar o petróleo brasileiro, considerado pesado. Para tanto, seria preciso um investimento de mais US$ 1,5 bilhão! Belgas e brasileiros dividiriam a conta, a menos que…
5:… a menos que se desentendessem! Nesse caso, a Petrobras se comprometia a comprar a metade dos belgas — aos quais havia prometido uma remuneração de 6,9% ao ano, mesmo em um cenário de prejuízo!!!
6: E não é que o desentendimento aconteceu??? Sem acordo, os belgas decidiram executar o contrato e pediram pela sua parte, prestem atenção, outros US$ 700 milhões. Ulalá! Isso foi em 2008. Lembrem-se que a estrovenga inteira lhes havia custado apenas US$ 45 milhões! Já haviam passado metade do mico adiante por US$ 360 milhões e pediam mais US$ 700 milhões pela outra. Não é todo dia que aparecem ou otários ou malandros, certo?
7: É aí que entra a então ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, então presidente do Conselho de Administração da Petrobras. Ela acusou o absurdo da operação e deu uma esculhambada em Gabrielli numa reunião. DEPOIS NUNCA MAIS TOCOU NO ASSUNTO.
8: A Petrobras se negou a pagar, e os belgas foram à Justiça americana, que leva a sério a máxima do “pacta sunt servanda”. Execute-se o contrato. A Petrobras teve de pagar, sim, em junho deste ano, não mais US$ 700 milhões, mas US$ 839 milhões!!!
9: Depois de tomar na cabeça, a Petrobras decidiu se livrar de uma refinaria velha, que, ademais, não serve para processar o petróleo brasileiro. Foi ao mercado. Recebeu uma única proposta, da multinacional americana Valero. O grupo topa pagar pela sucata toda US$ 180 milhões.
10: Isto mesmo: a Petrobras comprou metade da Pasadena em 2006 por US$ 365 milhões; foi obrigada pela Justiça a ficar com a outra metade por US$ 839 milhões e, agora, se quiser se livrar do prejuízo operacional continuado, terá de se contentar com US$ 180 milhões. Trata-se de um dos milagres da gestão Gabrielli: como transformar US$ 1,204bilhão em US$ 180 milhões; como reduzir um investimento à sua (quase) sétima parte.
11: Graça Foster, a atual presidente, não sabe o que fazer. Se realizar o negócio, e só tem uma proposta, terá de incorporar um espeto de mais de US$ 1 bilhão.
12: Diz o procurador do TCU Marinus Marsico: “Tudo indica que a Petrobras fez concessões atípicas à Astra. Isso aconteceu em pleno ano eleitoral”.
13: Dilma, reitero, botou Gabrielli pra correr. Mas nunca mais tocou no assunto.
VolteiJosé Sérgio Gabrielli, então presidente da Petrobras e hoje ocupando uma secretaria no governo baiano, chegou a emitir uma nota dizendo que não havia nada de errado com a negociação, mas preferiu não explicar a mágica. Felizmente, o Ministério Público se interessou pelo assunto, segundo informa Danilo Fariello, no Globo. Leiam trechos. Encerro depois.
*
O Ministério Público Federal (MPF) deve abrir uma investigação criminal para apurar irregularidades no processo de aquisição, pela Petrobras, da refinaria de Pasadena, no Texas (EUA), em 2006, com base em indícios levantados por procuradores do MPF que atuam no Tribunal de Contas da União (TCU). Desde a compra da refinaria, a petrolífera investiu US$ 1,18 bilhão nesse negócio, apesar de ela não processar um só barril de petróleo brasileiro e de a estatal não conseguir obter um retorno significativo do investimento feito.
Em novembro, os procuradores solicitaram à Petrobras esclarecimentos sobre o processo de aquisição. Após um pedido da Petrobras de prorrogação de prazo para resposta, que foi aceito pelo órgão de controle, a estatal entregou cerca de 700 páginas com documentos, dos quais boa parte já foi analisada. Segundo uma fonte que teve acesso ao conteúdo entregue pela empresa ao TCU, durante o recesso de fim de ano, até agora não apareceram argumentos convincentes para justificar o investimento, tanto do ponto de vista financeiro quanto pelo aspecto estratégico.
“Há várias decisões questionáveis, que podem levar o MPF a abrir um procedimento para verificar se há ocorrência de crime. Pode até pedir auxílio à Polícia Federal, uma vez que havia uma pessoa ligada à Petrobras que fazia parte da empresa belga (Astra Oil, de quem a estatal brasileira foi sócia na refinaria)”, disse a fonte.(…)
Encerro
Os números da operação são aqueles que vocês viram, nunca contestados pela Petrobras. Alguém tem alguma dúvida de que estamos diante de um óbvio caso de polícia?
Por Reinaldo Azevedo



NO BLOG DO CORONELEAKS

Eleitor subsidiado,país sucateado.

O editorial do Estadão confirma que a indústria de bens de consumo caiu 1%, contra 2,7% em todo o segmento industrial, porque o governo petista subsidiou fortemente carros e eletrodomésticos, para que a "nova classe média" pudesse continuar consumindo. Mesmo assim, o país teve que apelar para importações, pois a indústria não deu conta de produzir.

A Folha de São Paulo, por sua vez, em longa reportagem, informa que os programas sociais petistas consomem a metade dos gastos federais. Recursos pagos diretamente a famílias representaram mais da metade -exatos 50,4%- das despesas do governo federal no ano passado, excluídos da conta os encargos da dívida pública. Dados recém-apurados da execução orçamentária mostram que o montante chegou a R$ 405,2 bilhões, distribuídos entre o regime geral de previdência, o amparo ao trabalhador e a assistência. Trata-se de 9,2% do Produto Interno Bruto, ou seja, de todos os valores recebidos pela população e pelas empresas instaladas no país.

O Globo, por outro lado, informa que as desonerações tributárias de quase R$ 50 bilhões, juros mais baixos da história e crédito abundante que estiveram presentes na economia brasileira em 2012, não foram suficientes para fazer os investimentos e o Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos no país) deslancharem. O pibinho vai fechar em 1%. 

Em dois anos de governo, Dilma Rousseff, reajustou  benefícios do Bolsa Família, que  passaram a ser calculados para que as famílias com filhos possam ultrapassar a linha da miséria, fixada em R$ 70 mensais por pessoa. Em consequência, a despesa com a clientela de 13,9 milhões de famílias saltou de R$ 13,6 bilhões, no fim do governo Lula, para R$ 20,5 bilhões no ano passado. Um aumento de 50%!

O PT tem um projeto de poder. Não importa que, para mantê-lo, o futuro do país seja destruído. Não existe um só indicador que possa mostrar que o futuro do país está no rumo certo. Para continuar no poder, o PT esta subsidiando o eleitor. E, lentamente, quebrando o país.














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