A fatalidade nas queimas de arquivo

Carlos Chagas na Tribuna da Internet de 06-11-12

São milhares os casos de queima de arquivo em nossa história. Aliás, da história do mundo inteiro. Vamos ficar em três exemplos recentes. Em 1962 Gregório Fortunato estava para ser libertado em poucos dias, por ato do presidente João Goulart. Em 1954 mobilizara a Guarda Pessoal da presidência da República, que chefiava, para tentar assassinar o jornalista Carlos Lacerda, responsável por impiedosa campanha contra o presidente Getúlio Vargas. Identificado, Gregório viu-se condenado a mais de vinte anos de prisão.
 “Vou contar tudo…”
Gregório jamais abriu a boca para revelar se havia um mandante ou se o atentado onde morreu um oficial da Aeronáutica fora de sua iniciativa. Prestes a ganhar a liberdade, teria manifestado o desejo de contar tudo e revelar a quem obedecia, ou quem o havia estimulado. Morreu esfaqueado na Penitenciária Lemos Brito por um preso meio débil mental, incapaz de revelar o porquê de seu ato.
Um corte na história nos leva ao assassinato de PC Farias, o caixa de campanha de Fernando Collor, responsável pelas contas pessoais e familiares do então presidente da República, óbvio achacador dos meios econômicos e financeiros da época. Poucos empresários escaparam de sua coleta milionária. Denunciado e condenado, conseguiu sair clandestinamente do país, passando a viajar pelo mundo. Identificado na Tailândia, foi recambiado para o Brasil, ficando algum tempo na prisão, beneficiando-se em seguida para estabelecer-se em Alagoas. Lá, foi morto por uma namorada recente, que se suicidou em seguida. Pairaram dúvidas sobre os policiais militares encarregados de sua segurança, mas nada foi apurado. Crime passional, concluíram.
Não faz pouco mataram o prefeito de Santo André, Celso Daniel, um dos companheiros mais chegados ao Lula, recém-eleito presidente. O caso foi dado como crime comum, ele teria sido vítima de latrocínio, um assalto seguido de morte. Ampla cortina de fumaça envolveu o episódio, inconcluso como os outros dois referidos. Cheio de buracos, como agora levanta Marcos Valério, operador do mensalão e já condenado a 40 anos de prisão. A República vai tremer, se o publicitário vier a falar o que sabe e o que viu, como anuncia num dia para desmentir no seguinte.
É preciso tomar cuidado com as coincidências. Mesmo estando em liberdade, pois sua sentença ainda não transitou em julgado, Valério assemelha-se a um arquivo vivo. Não pela lei, mas pela natureza das coisas, o Supremo Tribunal Federal é responsável por sua segurança. Adianta pouco imaginar que se já estivesse preso, estaria imune a atentados. Basta lembrar o que aconteceu com Gregório Fortunato. De qualquer forma, cabe ao poder público zelar pela vida dos cidadãos. Depois, quando as coisas acontecem, e como acontecem, a palavra fica com os ingênuos e com os outros, para os quais tudo não passou de fatalidade.
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CONFUSÃO
A confusão é geral no acampamento dos companheiros, ora inclinados a declarar guerra ao Supremo Tribunal Federal, ora contidos pelo bom-senso do ex-ministro Márcio Thomas Bastos. Chegaram a sustentar que a presidente Dilma Rousseff não deveria comparecer à cerimônia de estado da posse de Joaquim Barbosa como presidente da mais alta corte nacional de justiça. Prevaleceu o bom-senso, ela cumprirá o protocolo, mas nem por isso acalmou-se o PT.
O alvo agora é a mídia, que estaria estimulando os julgadores do mensalão a não pouparem os mensaleiros, como se fosse possível influenciá-los. Pensam em ressuscitar a proposta de controle estatal sobre os meios de comunicação, apesar de excessos aparecerem diariamente nas primeiras páginas dos jornais. Jogam os petistas, pela janela, montes de serviços prestados ao país, o maior dos quais foi surgirem como valor diferente dos demais partidos. Estão ficando iguais, ou já ficaram…

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