A enxada
Cornélio Pires
Com febre alta, o velho Zé da Hora
Limpa a roça no Sítio da Chapada,
Treme, cai... De repente não vê nada,
Tudo escuro no campo, terra afora.
Tanto tempo serviu. Mas Zé agora
Tem cabeça branca e fatigada;
Morre o sol, vem a noite, e ao pé da enxada,
De mão no peito aflito, reza e chora.
Zé larga o corpo e, Espírito liberto,
Pede luz e eis que a luz surge de perto;
Tropeçando, levanta-se... Quer vê-la...
Mas cai de novo em pranto de alegria:
A enxada do seu pão de cada dia
Brilhava convertida numa estrela.
Do livro O Espírito de Cornélio Pires, obra psicografada pelos médiuns Waldo Vieira e Francisco Cândido Xavier.
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