PRIMEIRA EDIÇÃO DE 23-5-2017 DO 'DA MÍDIA SEM MORDAÇA'

NA COLUNA DO CLÁUDIO HUMBERTO
TERÇA-FEIRA, 23 DE MAIO DE 2017
O presidente da J&F e da JBS, Joesley Batista, está sob suspeita de haver preparado meticulosamente sua saída do País, por isso se articula na Câmara a criação de uma CPI para investigar o esquema. Ao vazar a delação, o grupo já havia reduzido o Brasil a apenas 20% de operação, concentrando 70% de tudo nos Estados Unidos, a nova pátria dos delatores. O País que financiou o grupo virou “passado”.
Financiado pelo BNDES nos governos Lula e Dilma, o grupo J&F/JBS saltou seu faturamento dos R$4 bilhões em 2007 para R$170 bilhões.
Antes da delação, o “americanófilo” Joesley já vivia a maior parte do tempo nos EUA. Mas precisava se livrar das investigações no Brasil.
Com o esperto acordo de delação, os controladores da J&F/JBS se livraram de pelo menos 5 operações/ações penais muito cabeludas.
Os delatores também deixam para trás dívida de R$1,8 bilhão junto ao INSS e a devolução dos quase R$13 bilhões que tomaram do BNDES.
O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, impetrou no Supremo Tribunal Federal (STF) uma Ação Direta de Inconstitucionalidade contestando o artigo do novo Código Eleitoral, que prevê eleição direta no caso de vacância do cargo de presidente ou vice-presidente da República em até três anos e meio após o início do mandato. Ele alega que uma lei não pode alterar a Constituição, daí sua iniciativa.
A Constituição diz que se deve realizar eleição indireta, no Congresso, em caso de queda do presidente após os 2 primeiros anos de mandato.
A ação apresentada por Janot também faz com que eleições majoritárias, como para governador, sejam regidas pela lei estadual.
Caso o STF acate a ADI de Janot, a lei que fundamentou a substituição do governador do Amazonas pode ser alterada. A eleição pode mudar.
O lobista da JBS/J&F, Ricardo Saud, é réu agora de uma queixa-crime em razão de suas mentira contra este colunista. Mentiu em depoimento para se vingar da denúncia de sua atividade criminosa, aqui publicada em 2014, como "homem da mala" do grupo acusado de saquear o País. Ele próprio confessou que foi mesmo o “homem da mala” da JBS.
No PPS, dois nomes circulam entre líderes como alternativas a Michel Temer em caso de saída do presidente. Raul Jungmann e Nelson Jobim, ambos com bom trânsito nas Forças Armadas.
Garibaldi Filho (PMDB-RN), ex-ministro da Previdência de Dilma, fez mensagem em solidariedade a Temer nas redes sociais. Horas depois, excluiu a publicação. Quis “evitar o clima de intolerância”, explicou.
Assustados com as incertezas sobre o que viria por aí, e com a ameaça às reformas inadiáveis no Congresso, analistas do mercado já discutem nas redes sociais se a melhor saída para o Brasil seria manter o presidente Michel Temer no cargo.
A bancada do DEM na Câmara dos Deputados decidiu permanecer na base aliada do governo Michel Temer. É o que jura de pé junto o líder da legenda, deputado Efraim Filho (PB).
O ministro Henrique Meirelles (Fazenda) agradou no PSDB após dizer que as reformas em trâmite, apesar do atraso, devem seguir com ou sem Temer. Isso deixou os tucanos bem animados com o futuro.
O perito Ricardo Molina confirma haver encontrado “mais de 50 edições” no áudio entregue por Joesley Batista ao Ministério Público Federal. A perícia foi encomendada pela defesa de Michel Temer.
Supostos costumes indígenas desafiam a lei. Engravidar meninas rende processo penal, exceto entre índios. No Sul, a Justiça mandou pagar salário maternidade a índias grávidas de menos de 16 anos.
...agora só falta o gravador do grampo de Joesley Batista ser extraviado na viagem dos Estados Unidos para o Brasil.

NO DIÁRIO DO PODER
DE PAI PARA FILHO
JBS PAGOU A RENAN R$1 MILHÃO EM PROPINA ‘CARIMBADA’ PARA O FILHO
DELATOR CITA GOVERNADOR DE ALAGOAS COMO BENEFICIÁRIO DE PROPINA
Publicado: terça-feira, 23 de maio de 2017 às 01:09 - Atualizado às 01:19
Davi Soares
No mês seguinte à abertura de seus dois primeiros inquéritos pelo Supremo Tribunal Federal (STF), o governador de Alagoas, Renan Filho (PMDB), voltou a ser inserido no enredo das delações da Operação Lava Jato. Com R$ 1,3 milhão doados pela JBS, registrados na prestação de contas oficial de sua campanha de 2014, Renan Filho foi citado pelo diretor da empresa, Ricardo Saud, como destinatário final de parte do montante de quase R$ 10 milhões em propina enviada através do delator ao senador Renan Calheiros (PMDB-AL).
Segundo Saud, R$ 1 milhão dos R$ 9,9 milhões pagos ao senador alagoano teriam o objetivo de eleger “Renanzinho” governador de Alagoas. O restante, seria para comprar a eleição de Renan para a presidência do Senado.
“Renan Calheiros: 9 milhões e 900 [mil]. É, 1 milhão, que eu entendo também que o Renan usou parte desse dinheiro para preparar já sua eleição para a presidência do Senado. E parte desse dinheiro para eleger o seu filho Renanzinho, em Alagoas. Um milhão para o PMDB de Alagoas, carimbado para o Renan Filho. Aí vem 300 mil para o PMDB de Sergipe, por ordem de Renan Calheiros; 500 mil para o PMDB do Amapá, por ordem de Renan; 455 para o PMDB nacional, carimbado para o Renan; 500 mil para o PTB da Paraíba, por ordem de Renan; 300 mil para o PT do B nacional, por ordem do Renan”, delatou Ricardo Saud.
O diretor da JBS disse que parte do dinheiro foi entregue no apartamento do senador em Alagoas, certamente em Maceió, na Ponta Verde. E outra parte foi enviada à sede do PMDB de Alagoas, que fica na Jatiúca.
Saud também afirmou que frequentava a casa do então presidente do Senado, para definir a operacionalização da partilha da propina.
Ao responder à reportagem do Jornal Nacional, da Rede Globo, Renan Calheiros, considerou a delação de Saud “fantasiosa”. E disse que o fato de o delator ter frequentado sua casa não significaria que o senador tenha qualquer relação com atos criminosos. Ao JN, Renan disse ainda que Ricardo Saud ou qualquer outro delator jamais falaria com ele sobre propina ou Caixa Dois.
O governador Renan Filho não vai se pronunciar a respeito da delação, segundo sua assessoria de imprensa.

DELAÇÃO JBS
PGR INSISTE QUE O SUPREMO MANDE PRENDER AÉCIO NEVES E ROCHA LOURES
ADVOGADOS SUSTENTAM QUE NÃO HÁ MOTIVOS PARA PRENDÊ-LOS
Publicado: segunda-feira, 22 de maio de 2017 às 21:34 - Atualizado às 01:36
Redação
O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, recorreu da decisão do ministro Edson Fachin, relator da Operação Lava Jato, e pediu ao Supremo Tribunal Federal (STF) a prisão do senador afastado Aécio Neves (PSDB-MG) e do deputado afastado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR). O pedido será analisado pelo plenário do STF.
O advogado José Luis Oliveira Lima, que defende Rodrigo Rocha Loures, afirmou que não há qualquer motivo para a prisão do deputado afastado e disse que aguarda o plenário do Supremo mantenha a decisão que negou o pedido de prisão feito por Janot. "O deputado, no momento oportuno, irá prestar todos os esclarecimentos devidos", disse.
O advogado Alberto Toron, que faz a defesa de Aécio Neves, informou que aguarda ser intimado sobre o pedido da PGR "para apresentar suas contrarrazões, oportunidade em que demonstrará a impropriedade" do pedido. Também afirmou que ingressará no STF com um pedido para revogar o afastamento do senador do mandato "por falta de base legal e constitucional".
O órgão entende que Aécio e Loures foram pegos em “flagrante por crime inafiançável” na tentativa de obstruir as investigações da Operação Lava Jato, com base nas gravações realizadas pelos donos da JBS, entregues na delação premiada da empresa.
Janot, no entanto, argumentou que as gravações e interceptações telefônicas demonstrariam que Aécio e Loures “vem adotando, constante e reiteradamente, estratégias de obstrução de investigações da Operação Lava Jato”.
O procurador-geral acrescentou que só não pediu a prisão de ambos antes, quando recebiam dinheiro da JBS, para poderem coletar mais provas. Janot também mencionou “uso espúrio do poder político” e “encontros indevidos em lugares inadequados” para justificar o pedido de prisão.
“No tocante às situações expostas neste recurso, a solução não há de ser diversa: a excepcionalidade dos fatos impõe medidas também excepcionais”, diz Janot.
O julgamento em plenário ainda não tem data para ocorrer. Caberá agora ao ministro Edson Fachin pedir a presidente do STF, Cármen Lúcia, para marcar uma data de julgamento. Antes, poderá ouvir as defesas de Aécio e Rocha Loures.

CORRUPÇÃO
LULA É DENUNCIADO MAIS UMA VEZ POR CORRUPÇÃO, DESTA VEZ NO CASO DE SÍTIO
PROCURADORES ACUSAM LULA NO CASO DO SÍTIO-PROPINA DE ATIBAIA
Publicado: segunda-feira, 22 de maio de 2017 às 18:52
Redação
Mais uma vez, nesta segunda-feira, o ex-presidente Lula foi denunciado pelos procuradores da força-tarefa da Lava Jato por corrupção e lavagem de dinheiro na reforma do seu sítio em Atibaia, em São Paulo. Nas outras ações penais, ele é réu por receber propina das construtoras OAS e Odebrecht.
Além de Lula, outras 12 pessoas são citadas neste processo. Todos são acusados pelos crimes de lavagem de dinheiro e corrupção ativa e passiva. Se o juiz Sérgio Moro aceitar a denúncia, como é provável que o faça, Lula passará a ser réu também neste novo processo.
Os demais acusados pelos procuradores são: Marcelo Odebrecht, ex-presidente da Odebrecht: corrupção ativa; José Adelmário Pinheiro, o Léo Pinheiro, dono da OAS: corrupção ativa e lavagem de dinheiro; José Carlos Bumlai, pecuarista: lavagem de dinheiro; Agenor Franklin Medeiros, ex-executivo da OAS: corrupção ativa; Rogério Aurélio Pimentel, ex-assessor especial da Presidência: lavagem de dinheiro; Emílio Odebrecht, dono da construtora Odebrecht: lavagem de dinheiro; Alexandrino de Alencar, ex-executivo da Odebrecht: lavagem de dinheiro; Carlos Armando Guedes Paschoal, ex-diretor da Odebrecht: lavagem de dinheiro; Emyr Diniz Costa Junior, engenheiro da Odebrecht: lavagem do dinheiro; Roberto Teixeira, advogado de Lula: lavagem de dinheiro; Fernando Bittar, empresário, sócio de um dos filhos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva: lavagem de dinheiro; Paulo Gordilho, engenheiro da OAS, lavagem de dinheiro
A acusação trata do pagamento de propina de pelo menos R$ 128 milhões pela Odebrecht e de outros R$ 27 milhões por parte da OAS, e Lula se beneficiou desse dinheiro, por meio de obras realizadas no sítio Santa Bárbara, em Atibaia. Segundo o MPF, a Odebrecht e a OAS custearam R$ 850 mil em reformas na propriedade.
O MPF diz que Lula ajudou as empreiteiras ao manter nos cargos os ex-executivos da Petrobras, Renato Duque, Paulo Roberto Costa, Jorge Zelada, Nestor Cerveró e Pedro Barusco, que comandaram boa parte dos esquemas fraudulentos entre empreiteiras e a estatal, descobertos pela Lava Jato. Todos já foram condenados em ações penais anteriores.
Conforme a denúncia, as duas empreiteiras foram beneficiadas em pelo menos sete contratos. Também faz parte da denúncia o contrato de aluguel do navio-sonda Vitória 10.000, realizado pela empreiteira Schahin, junto à Petrobras. Nesse contrato, o processo apura um suposto pagamento de R$ 150 mil a Lula, com a ajuda do pecuarista José Carlos Bumlai, que teria intermediado os repasses ao ex-presidente.
Os procuradores defendem que todo o esquema na Petrobras era chefiado por Lula. "Efetivamente, como apurado, após assumir o cargo de Presidente da República, Lula comandou a formação de um esquema delituoso de desvio de recursos públicos destinados a enriquecer ilicitamente, bem como, visando à perpetuação criminosa no poder, comprar apoio parlamentar e financiar caras campanhas eleitorais", diz trecho da denúncia.
A Odebrecht informou por nota que "está colaborando com a Justiça no Brasil e nos países em que atua. Já reconheceu os seus erros, pediu desculpas públicas, assinou um Acordo de Leniência com as autoridades do Brasil, Estados Unidos, Suíça e República Dominicana, e está comprometida a combater e não tolerar a corrupção em quaisquer de suas formas".

NA VEJA.COM
Dilma cancela palestra em Londres sobre “golpe”
Ex-presidente desistiu na última hora, frustrando universidade, que bancou passagem e estada
Por Diana Brito
Segunda-feira 22 maio 2017, 19h26 - Atualizado em 22 maio 2017, 19h56
A ex-presidente Dilma Rousseff (PT) cancelou na tarde de sexta-feira (19) sua participação em um evento na Escola de Direito do Instituto de Ciências Humanas de Birkbeck, Universidade de Londres, em meio à avalanche de acusações feitas por executivos da JBS em acordo de delação premiada, que levaram o presidente Michel Temer à mais grave crise de seu mandato.
Dilma havia confirmado presença em palestras no sábado e nesta segunda-feira sobre o “golpe” do impeachment. A petista justificou à universidade que não poderia viajar para participar do evento – chamado “Foco no funk: golpe sujo” (Focus on the funk: Coup d’ funk) – em razão da crise política no Brasil.
Em seu depoimento, Joesley Batista, um dos donos da JBS, disse que comprou por 5 milhões de reais o voto de deputados contra o impeachment de Dilma e revelou a existência de uma conta-propina vinculada a ela e seu antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva, de 150 milhões de dólares em saldo.
Surpreendida pelo cancelamento, a organização acadêmica mostrou-se aborrecida ao dar explicações aos estudantes, já que a universidade arcou com as despesas da passagem aérea e acomodação – e Dilma, uma das principais palestrantes do encontro, nem sequer mandou um representante. A reportagem tentou contato com a assessoria de imprensa da ex-presidente, sem sucesso.

NO BLOG DO JOSIAS
Aliados cozinham Temer à procura do ‘Plano B’
Josias de Souza
Terça-feira, 23/05/2017 04:31
O derretimento político de Michel Temer deflagrou em Brasília um enredo novo. Os aliados do Planalto passaram a tratar Temer como chefe de um governo que chegou ao fim com o presidente ainda no cargo. Nesta terça-feira os caciques governistas se esforçarão para reativar as votações no Congresso. Mas fazem questão de dissociar a iniciativa da estratégia concebida por Temer para passar a impressão de que ainda preside.
“Não devemos deixar o País degringolar em função de uma crise de governo”, disse Tasso Jereissati, presidente do PSDB. Estamos avaliando a situação do governo separadamente.” Agripino Maia, presidente do DEM, ecoou: “Os Três Poderes precisam funcionar. O Judiciário faz o seu papel. O Executivo precisa fazer o dele. A nós cabe colocar o Legislativo em funcionamento. Faremos isso em nome do interesse do País, que não pode ser paralisado pela crise.”
No momento, os governistas parecem menos preocupados com Temer e mais ansiosos por encontrar uma saída que os redima do fiasco de ter subido numa ponte com aparência de pinguela sem ter um plano de contingência. O Plano A era trocar Dilma Rousseff por Temer e aprovar no Congresso reformas que reacendessem as fornalhas da economia. Reativado o PIB, os apologistas do governo seriam os primeiros a se beneficiar eleitoralmente da volta do crescimento.
A delação da Odebrecht indicou que era ilusória a ideia de que Temer seria um presidente em condições de dirigir os rumos do País nesta ou naquela direção. Ficou claro que lhe faltava uma noção qualquer de ética. A delação da JBS teve para Temer o peso de uma lápide. Grampeado pelo delator Joesley Batista, o pseudo-presidente tornou-se personagem de uma história fantástica, passada num país à beira do imaginário. Uma história bem brasileira.
Aliados em geral — PSDB e DEM em particular — puseram-se a matutar: “O Plano B era, era, era…'' Perceberam que não havia um Plano B. Abraçado ao PMDB sem projetar uma saída de incêndio. Agora, improvisam um Plano B em cima do joelho. Consiste na repetição do Plano A, só que com outro cúmplice no papel de presidente. Falta-lhes consenso quanto ao nome do ator substituto a ser escalado para salvar as aparências até a eleição de 2018. Por isso, cozinham Temer por mais algum tempo.
Ficou fácil identificar os apoiadores de Temer no Congresso. Eles estão nas rodinhas em que as conversas terminam sempre em especulação sobre os nomes dos hipotéticos substitutos de Temer.
As menções a Henrique Meirelles chegam acompanhadas do aviso de que o ministro da Fazenda já trabalhou para a J&F, holding que controla a JBS do delator Joesley Batista. Nelson Jobim? Virou banqueiro, sócio do BTG Pactual. Rodrigo Maia? É o ‘Botafogo’ das planilhas da Odebrecht. FHC? Não tem mais idade. Tasso Jereissati? Irrrc… Cármen Lúcia? Vade retro!
A esse ponto chegou o País. Temer, como um disco arranhado, repete incessantemente: “Não vou renunciar.” Na sua penúltima manifestação, veiculada nesta segunda-feira pela Folha, o suposto presidente acrescentou: “Se quiserem, me derrubem.” Seus aliados avaliam que talvez não seja necessário empurrar.
Os pajés da aldeia governista enxergam Temer como uma espécie de cocheiro de diligência que deixou as rédeas dos cavalos escaparem de suas mãos. Pode espatifar-se a qualquer momento. No dia 6 de junho, por exemplo, quando o Tribunal Superior Eleitoral retoma o julgamento sobre a cassação da chapa Dilma Rousseff—Michel Temer. Isso, evidentemente, se até lá não for encontrada no interior da diligência desgovernada a mala com R$ 500 mil que a JBS entregou a Rodrigo Rocha Loures, o ex-assessor que Temer credenciou como interlocutor junto a Joesley Batista, o ''falastrão''.

Aliados dão corda e Temer se enforca sozinho
Josias de Souza
Segunda-feira, 22/05/2017 22:10
Michel Temer não precisa mais de acusadores. O presidente se tornou um caso raro de autoincriminação. Ele se complica cada vez que tenta se defender. Espremendo-se tudo o que disse em pronunciamentos e entrevistas, Temer produziu as seguintes evidências contra si mesmo: admitiu o diálogo com Joesley Batista, que ele próprio diz ser um empresário desqualificado. Validou trechos vexatórios da conversa gravada pelo pilantra. Entre eles o pedaço do áudio que trata de Eduardo Cunha e da compra de um procurador e de juízes. Temer confirmou ter indicado como seu interlocutor um deputado que depois seria filmado recebendo mala de propina: R$ 500 mil.
Temer também declarou que recebeu o delator Joesley por “ingenuidade”. Afirmou que “não sabia” que o amigo era investigado. Disse que o ex-assessor pilhado com a mala de R$ 500 mil tem “boa índole, muito boa índole”. Já que não pode mais realizar os seus sonhos, Temer tenta pelo menos impedir a realização do pesadelo do surgimento de um novo delator.
Por tudo isso, Temer tornou-se um presidente precário. Até a semana passada, sua prioridade era salvar o País, aprovando reformas no Congresso. Hoje, seu objetivo estratégico é salvar o próprio pescoço. Enquanto tenta desqualificar no STF a delação do corrupto que recebeu com toda fidalguia, Temer pede aos aliados que retomem as votações no Congresso. Os partidos dão corda ao presidente. E vão esboçando um Plano B à medida em que ele se enforca.

Perito não pode negar o que Temer já confirmou
Josias de Souza
Segunda-feira, 22/05/2017 21:15
Contratado pelo escritório do criminalista Antonio Claudio Mariz de Oliveira, que defende Michel Temer, o perito Ricardo Molina disse em entrevista que a gravação da conversa do presidente com o delator Joesley Batista é imprestável e deveria ser jogada no lixo. Ainda que o conselho fosse seguido, o pesadelo criminal de Temer não seria extinto. O presidente já confirmou a autenticidade de vários trechos do áudio. Para efeitos penais, a palavra do acusado se sobrepõe ao teor do grampo. E as confirmações de Temer não tornaram a cena menos malcheirosa. Elas reforçaram a necessidade de investigação. Vão abaixo alguns trechos da gravação que foram avalizados pelo grampeado.
— ‘Tem que manter isso, viu?’: Acusado de avalizar uma mesada que o delator Joesley desembolsaria para manter Eduardo Cunha calado, Temer defendeu-se em pronunciamento feito no último sábado, no Planalto. Declarou: “É interessante: quando os senhores examinam o depoimento [de Joesley] e o áudio, os senhores identificam que a conexão de uma sentença à outra não é a conexão de quem diz: ‘Olha, eu estou comprando o silêncio de um ex-deputado e estou dando tanto a ele. Não. A conexão é com a frase: ‘Eu me dou muito bem com o ex-deputado, mantenho uma boa relação’. Eu digo: mantenha isso, viu?”
Nesse ponto, Temer confirmou que o delator, personagem que ele próprio diz que deveria estar preso, lhe revelou que vinha mantendo uma “boa relação” com Eduardo Cunha, ex-presidente da Câmara, condenado por corrupção e mantido atrás das grades. Temer confirmou ter declarado: “Mantenha isso, viu?”. Terá a oportunidade de explicar o sentido do seu comentário no curso do inquérito que corre no Supremo Tribunal Federal.
Em entrevista à Folha, veiculada nesta segunda-feira, Temer reconheceu como autêntico outro trecho da gravação que se refere ao ex-amigo Eduardo Cunha. Nele, o delator soou em timbre monetário. Perguntou-se ao presidente: O Joesley fala [na gravação] em zerar, liquidar pendências [com Cunha e o doleiro Lúcio Funaro, seu operador]. Não sendo dinheiro, seria o quê?
Eis a resposta de Temer: “Não sei. Não dei a menor atenção a isso. Aliás, ele falou que tinha [comprado] dois juízes e um procurador. Conheço o Joesley de antes desse episódio. Sei que ele é um falastrão, uma pessoa que se jacta de eventuais influências. E logo depois ele diz que estava mentindo.” O presidente se faz de desentendido. Entretanto, torna válido mais um trecho do áudio que o perito Molina gostaria de enviar à lata de lixo.
‘Ótimo, ótimo’: No áudio produzido pelo delator, Temer ouve um relato de Joesley sobre a compra de dois juízes e de um procurador da República. O empresário disse que estava “segurando” as autoridades. O presidente não demonstrou contrariedade. Ao contrário, expressou-se assim: “Ótimo, ótimo.” Na entrevista à Folha, foi questionado: Não é prevaricação se o sr. ouve um empresário dentro da sua casa relatando crimes?
Temer respondeu assim: “Você sabe que não? Eu ouço muita gente, e muita gente me diz as maiores bobagens que eu não levo em conta. Confesso que não levei essa bobagem em conta. O objetivo central da conversa não era esse. Ele foi levando a conversa para um ponto, as minhas respostas eram monossilábicas…”
Os repórteres insistiram: Quando o sr. fala ''ótimo, ótimo'', o que o sr. queria dizer? E Temer: “Não sei, quando ele estava contando que estava se livrando das coisas etc.” Os dicionários informam que o vocábulo “ótimo” significa “muito bom”. No curso do inquérito, o presidente poderá esclarecer se conhece outros significados. A gravação tornou-se desnecessária para o aprofundamento do tema. Será interessante saber porque Temer recebe ''muita gente'' que vai ao presidente da República para dizer ''as maiores bobagens.''
‘Pode fazer isso’: Temer tratou como fidedigno outro trecho do áudio que o perito considera inservível. Nesse pedaço da gravação, resumiu o presidente no seu pronunciamento de sábado, o delator expôs o que o Temer definiu como “reclamações contra o ministro da Fazenda, contra o Cade, contra o BNDES.” Para Temer, as queixas de Joesley são uma “prova cabal de que meu governo não estava aberto a ele.” Porém…
No trecho validado por Temer, o dono da JBS, hoje um corrupto confesso, pede um “alinhamento” de posições com o presidente. Algo que lhe permitisse ser mais direto nas cobranças dirigidas ao ministro Henrique Meirelles Fazenda). E Temer assentiu: “Pode fazer isso.” No inquérito, terá a oportunidade de responder à seguinte indagação: Fazer o quê?
Homem da Mala: Temer também avalizou o pedaço do grampo em que credenciou o ex-assessor, hoje deputado federal, Rodrigo Rocha Loures como seu interlocutor junto a Joesley. “O autor do grampo relata no diálogo suas dificuldades”, declarou o presidente no sábado. “Simplesmente ouvi. Nada fiz para que ele obtivesse benesses do governo.” Paradoxalmente, acrescentou: “Não há crime, meus amigos, em ouvir reclamações e me livrar do interlocutor indicando outra pessoa para ouvir as suas lamúrias.”
Rocha Loures, a “outra pessoa” que Temer indicou para ouvir as “lamúrias” do delator foi quem marcou o encontro do presidente com Joesley, ocorrido na calada da noite do dia 7 de março, no Palácio do Jaburu. Dias depois, o mesmo personagem, já credenciado por Temer como pessoa de sua “mais estrita confiança”, foi filmado pela Polícia Federal recebendo propina de R$ 500 mil acondicionada numa mala. Os delatores da JBS afirmam que o dinheiro se destinava ao presidente da República. Temer nega. O inquérito servirá para acomodar a encrenca em pratos asseados. E o áudio que o perito chama de lixo já não é necessário para que as investigações prossigam. No mínimo, o processo servirá para que Temer explique os seus conceitos sobre índole. Na entrevista à Folha, o presidente declarou que Rocha Loures, o preposto corrompido, é um homem de ''boa índole, muito boa índole.''

Em privado, Temer ataca o amigo de ‘boa índole’
Josias de Souza
Segunda-feira, 22/05/2017 18:47
Os comentários que Michel Temer faz em privado sobre o deputado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR) são bem diferentes da avaliação que ele faz sobre o amigo publicamente. Em conversa com ministros e aliados, na noite de domingo, 21, Temer chamou de “idiota” e “imbecil” o preposto que indicara ao delator Joesley Batista, no diálogo gravado em 7 de março. Em entrevista à Folha, o mesmo Loures foi definido por Temer como homem de “boa índole, de muito boa índole.”
Depois do encontro de Temer com Joesley, sócio da JBS, Rocha Loures foi pilhado em gravações e filmagens acertando uma venda de favores e recebendo mala contendo propina de R$ 500 mil (no vídeo ele sai correndo de uma pizzaria, em São Paulo, carregando a mala). Temer ataca o personagem a portas fechadas para tentar demonstrar aos aliados que não tem nada a ver com o dinheiro da mala. Afaga-o em público para não irritar um potencial delator.
Suplente de deputado, Rocha Loures assessorava Temer no Planalto. Foi guindado à Câmara depois que o presidente nomeou o titular do mandato, Osmar Serraglio (PMDB-PR), para o posto de ministro da Justiça. Só não foi preso pela Polícia Federal na semana passada graças ao escudo do foro privilegiado que ganhou ao assumir a cadeira na Câmara. Convertido em protagonista do novo escândalo, Rocha Loures pode aprofundar o pesadelo de Temer com uma simples articulação do gogó.
Amigos em comum informam a auxiliares de Temer que o encrencado está, do ponto de vista psicológico, em frangalhos. Afastado do exercício do mandato pelo ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal, o preposto que o presidente credenciou junto ao “fanfarrão” Joesley terá de prestar esclarecimentos à Polícia Federal e à Procuradoria. O Planalto trabalha com a hipótese de que Rocha Loures distanciará Temer da mala de dinheiro. A conferir.

Como Lula e Dilma, o Temer também ‘não sabia’
Josias de Souza
Segunda-feira, 22/05/2017 14:06
A exemplo dos antecessores Lula e Dilma, Temer aderiu à frase-lema do Brasil da corrupção: “Eu não sabia”. Inquirido em entrevista sobre o inusitado de receber o multi-investigado Joesley Batista no Jaburu, o inquilino do palácio declarou: “Eu nem sabia que ele estava sendo investigado.” Ai, ai, ai.
Esse tipo de desculpa será lembrado quando, no futuro, quiserem recordar a época em que o Brasil era regido pelo cinismo. Ao se apropriar do bordão da era petista assim, tão desavergonhadamente, Temer se autoinseriu num seleto grupo de governantes. São presidentes capazes de tudo, que pedem ao País que os considere incapazes de todo.
A conversa de Temer com os repórteres da Folha se parece muito com um desastre. Nela, o presidente da República se define como um tolo —“Fui ingênuo ao receber uma pessoa naquele momento”— e trata os brasileiros como imbecis ao afagar o preposto Rocha Loures, pilhado recebendo mala com propina de R$ 500 mil —“Coitado, ele é de boa índole, de muito boa índole.''
Submetido a escândalos em série, o brasileiro precisa confiar na cara dos seus governantes. A percepção de que o semblante da principal autoridade da República tornou-se uma máscara que não consegue dar à mesma porcaria de sempre nem mesmo uma fachada um pouco mais atraente empurra o País para o ceticismo terminal.


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