DA MÍDIA SEM MORDAÇA - 1º-9-2014

NA COLUNA DO AUGUSTO NUNES
ATUALIZADO ÀS 14h04 de 31-8-14
“Forçada a enfrentar a crise, Dilma imita Lula e a procissão de bravatas recomeça”, resumiu o título do post publicado em março de 2012. O texto tratou de mais um surto de soberba da doutora em nada que se imagina especialista em tudo: caprichando na pose de quem concluiu aquele curso de doutorado na Unicamp que nem começou, Dilma Rousseff resolveu dar conselhos a países europeus castigados pela crise de dimensões planetárias. Conseguiu apenas ampliar o acervo de cretinices acumulado desde 2008, quando Lula abriu o cortejo de falácias, fantasias, mentiras e falatórios sem pé nem cabeça produzidos pelos fundadores da Era da Mediocridade.
Nesta quinta-feira (28), o país (ainda) conduzido por farsantes soube que encalhou no atoleiro. Depois de encolher 0,2% no primeiro trimestre, o Produto Interno Bruto diminuiu mais 0,6% de abril a junho. Confrontados com a esqualidez do pibinho, os tripulantes da nau dos insensatos trataram de caçar justificativas para o fiasco histórico. Dilma desconfiou que não bastaria dar outro pito no vilão de sempre — a crise internacional que seu padrinho jurou ter derrotado. E então incluiu entre os culpados pela “recessão técnica”a Copa dos 7 a 1.
“Por causa da Copa do Mundo, tivemos a maior quantidade de feriados na história do Brasil, nos últimos anos, nesse trimestre”, fantasiou a presidente que, convencida de que a vadiagem coletiva melhora o trânsito, decretou a maior quantidade da História do Brasil. A Copa das Copas começou a semana na relação das proezas federais que aceleraram o crescimento econômico. Terminou-a acusada pela presidente de ter acentuado o raquitismo do pibinho. Haja cinismo.
A explicação é tão veraz quanto o palavrório costurado por Lula em 27 de março de 2008, quando a crise nascida nos Estados Unidos já contaminara vários países. “Um dia acordei invocado e liguei para o Bush”, gabou-se o então presidente. “Eu disse: ‘Bush, meu filho, resolve o problema da crise, porque não vou deixar que ela atravesse o Atlântico’”. Como Lula só fala Português, Bush decerto não entendeu o que ordenara o colega monoglota. E a crise navegou sem sobressaltos até desembarcar nas praias do Brasil.
O presidente invocado voltou ao tema só depois de seis meses ─ para comunicar que livrara o país do perigo. “Que crise? Pergunte ao Bush”, recomendou em 17 de setembro. “O Brasil vive um momento mágico”, emendou no dia 21. No dia 22, pareceu mais cauteloso: “Até agora, graças a Deus, a crise americana não atravessou o Atlântico”, ressalvou. Uma semana depois, a ficha enfim começou a cair. “O Brasil, se tiver que passar por um aperto, será muito pequeno”, disse em 29 de setembro.
A rendição pareceu iminente no dia 30: “A crise é tão séria e profunda que nem sabemos o tamanho. Talvez seja a maior na História mundial”. Em 4 de outubro, o otimista delirante voltou ao palco para erguer com poucas palavras o monumento à megalomania: “Lá nos Estados Unidos, a crise é um tsunami. Aqui, se chegar, vai ser uma marolinha, que não dá nem para esquiar”. No dia 8, conseguiu finalmente enxergar o tamanho do buraco.
A anemia dos índices registrados de lá para cá mostrou o que acontece a um país governado por quem se nega a ver as coisas como as coisas são, e enfrenta com bazófias e bravatas complicações econômicas de dimensões globais. Essa espécie de monstro é impiedosa com populistas falastrões. Mas o bando de reincidentes não tem cura: três anos depois, a estratégia inaugurada pelo Exterminador do Plural começou a ser reprisada em dilmês. Se Lula acordava invocado com George Bush, Dilma passou a perder a paciência com uma entidade que batizou de “tsunami monetário”.
Em março de 2012, numa discurseira de espantar napoleão de hospício, a presidente atribuiu a paternidade da criatura a “países desenvolvidos que não usam políticas fiscais de ampliação da capacidade de investimento para retomar e sair da crise que estão metidos e que usam, então, despejam, literalmente, despejam quatro trilhões e setecentos bilhões de dólares no mundo ao ampliar de forma muito… é importante que a gente perceba isso, muito adversa, perversa para o resto dos países, principalmente aqueles em crescimento”.
Lula vivia recomendando aos americanos que se mirassem no exemplo do Brasil. Dilma se promoveu a conselheira da Europa. “Eu acho que uma coisa importante é que os países desenvolvidos não só façam políticas expansionistas monetárias, mas façam políticas de expansão do investimento”, ensinou em 5 de março de 2012. Concluiu a lição no dia seguinte: “Somos uma economia soberana. Tomaremos todas as medidas para nos proteger”.
Quatro anos depois de reduzido por Lula a marolinha, o tsunami foi desafiado por Dilma a duelar com o Brasil Maravilha. “Nós estamos 100% preparados, 200% preparados, 300% preparados para enfrentar a crise”, avisou. Como o padrinho em 2008, a afilhada despejou outro balaio de medidas de estímulo ao consumo. Ficou mais fácil comprar automóveis, os congestionamentos de trânsito ficaram maiores nos dois anos seguintes. E o governo acabou obrigado a decretar durante a Copa os feriados que, segundo a presidente, acentuaram o raquitismo do pibinho.
Lula jurava que o país do carnaval foi o último a entrar na crise e o primeiro a sair. Dilma vinha repetindo de meia em meia hora que o resto do mundo inveja o colosso tropical. Conversa de 171, prova o infográfico no blog Impávido Colosso. Pouquíssimas nações fazem companhia ao Brasil no pântano do crescimento zero. A saúde da economia nativa não será restabelecida tão cedo. E pode piorar até o fim do ano.
Já na eleição de outubro, contudo, deverão ser extirpados os tumores lulopetistas, em expansão há quase 12 anos. Se continuassem sem controle por mais quatro, o Brasil democrático deixaria de existir.

NA COLUNA DO CLÁUDIO HUMBERTO
O marqueteiro Pedro Guadalupe, espécie de coordenador informal de mídias digitais da campanha de Aécio Neves (PSDB), recebeu nos últimos quatro anos mais de R$ 2,3 milhões do governo tucano de Minas Gerais. O governo mineiro bancou projetos de teatro e até de ilusionismo de Pedro Guadalupe. Só os dois últimos repasses, em 2013, pela da Lei Estadual de Incentivo à Cultura, custaram R$ 669 mil.
O marqueteiro Guadalupe atuava antes no PT, assessorando a campanha de Patrus Ananias. Hoje mantém o site “Dilma Mente”.
A tal “democracia direta”, através de conselhos populares e plebiscitos, além do controle externo do Congresso Nacional pela sociedade, faz parte do programa de governo de Marina Silva. Parece ter sido escrito na Venezuela e é aparentado com o projeto enviado por Dilma ao Congresso. Mas sua autoria não é de aloprado petista ou bolivariano chavista, mas sim da banqueira “socialista” Neca Setúbal, do Itaú.
A independência do BC, à moda de Marina/Neca, exclui controles externos, sobretudo do Congresso, e dá total liberdade para os bancos.
Neca lembra o “Partido dos Usineiros Socialistas” (PUS), nas Alagoas de 1980. Deveria criar o BUS, “Banqueiros Unidos pelo Socialismo”.
O “esforço concentrado” de setembro está previsto para esta semana, mas nem o presidente da Câmara, Henrique Alves (PMDB-RN), aposta que se realize. Os líderes decidirão se vão manter a vagabundagem geral dos liderados. É como perguntar se macaco gosta de banana.
Os deputados federais não trabalharam em agosto, a maioria não vai trabalhar em setembro, mas, tudo bem, a firma é rica: seus salários serão pagos integralmente. O contribuinte otário é bom pagador.
No “Stella Grill”, ponto de encontro de jornalistas em Brasília, colunista provocou um velho amigo de Lula, antigo frequentador do restaurante: “O sr. já marinou?” A resposta dele: “Sempre fui marineiro…”
O Gabinete de Segurança Institucional da Presidência, chefiado pelo general José Elito, vai gastar R$ 45.445,04 comprando lençóis, colchas e fronhas, todos de 200 fios. Sem esquecer os travesseiros, claro.

NO BLOG DO NOBLAT
Jaime González, BBC
Pesquisadores americanos conseguiram resolver um mistério científico que já durava décadas: as "pedras que andam" no Vale da Morte, no deserto de Mojave, na Califórnia. Algumas destas pedras chegam a pesar 300kg. Elas ficam em um lago seco, plano e rodeado por montanhas. Em algumas épocas do ano, este lago se enche com água da chuva, que evapora rapidamente.
Estas pedras se movem, deixando um rastro na terra por dezenas de metros. Mas, desde que elas começaram a ser estudadas por cientistas, nos anos 1940, ninguém as havia visto se mover. Isso fez com que surgissem várias teorias para o fenômeno, algumas delas bastante exóticas, atribuindo seu movimento a campos de energia poderosos, ao magnetismo da Terra e até mesmo a extraterrestres.
 
Fenômeno era investigado desde os anos 1940 e não havia sido testemunhado até agora - Foto: AP

G1
O chão foi o destino de 20% das árvores da Floresta Amazônica original. Que isso vem acontecendo há anos, todos sabem. O que você provavelmente não sabe é que esse crime ambiental tem a ver com a falta d'água na maior cidade da América Latina.
É que a Amazônia bombeia para a atmosfera a umidade que vai se transformar em chuva nas regiões Centro-Oeste, Sudeste e Sul do Brasil. Quanto maior o desmatamento, menos umidade e, portanto, menos chuva. E sem chuva, os reservatórios ficam vazios e as torneiras, secas.


O Globo
O fundo abutre NML Capital, do megainvestidor Paul Singer, ampliou seu raio de ação na guerra que trava com o governo argentino em torno do calote dos bônus soberanos do país em 2001.
Depois de avançar contra Lázaro Báez e YPF na Justiça americana e investigar o empresário Cristóbal López e até o Banco da China, agora seus disparos vão direto ao coração presidencial: buscam no exterior ativos de Florencia Kirchner, a filha caçula da presidente Cristina Kirchner.
 
Cristina Kirchner, à direita, com a filha, Florencia, e o filho, Máximo, no enterro do marido, Néstor Kirchner - Foto: La Nación

NO BLOG DO REINALDO AZEVEDO
Pois é… Sabem o jatinho em que morreu Eduardo Campos e mais seis? É aquele que, segundo Beto Albuquerque, agora vice na chapa de Marina Silva, NÃO É PROBLEMA do PSB! Seria, então, de quem? A Folha teve acesso ao contrato — ou algo assim… — de venda do avião, que pertencia à AF Andrade, para um comprador. Que comprador? Não dá para saber! O nome é ilegível. Leiam trecho da reportagem de Mario Cesar Carvalho. Volto em seguida.
*
A proposta que selou a compra, por US$ 8,5 milhões (R$ 19 milhões), do jato que caiu com o ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos (PSB) não cita nome nem informações sobre quem adquiriu a aeronave e não foi registrada em cartório. O documento, obtido pela Folha, traz só uma assinatura ao lado do local e data da proposta de compra (Recife, 15 de maio de 2014), o que é inusual para um negócio de quase R$ 20 milhões. O empresário pernambucano que foi apresentado pelo antigo dono do jato como o comprador, João Lyra de Mello Filho, recebeu da reportagem uma cópia do documento, mas não quis comentar se a assinatura na proposta era dele. João Lyra é dono de uma financeira em Recife, já foi multado por lavagem de dinheiro e não tem capacidade financeira de assumir uma dívida de US$ 8,5 milhões, segundo a Cessna.
O fabricante do jato recusou o nome dele para herdar o financiamento por falta de capacidade econômica. No contrato, o comprador se dispõe a pagar “todos os custos operacionais diretos e fixos da aeronave”, incluindo manutenção e salários dos pilotos. Os vendedores do jato, Alexandre e Fabrício Andrade, são os donos do grupo A. F. Andrade, de Ribeirão Preto (a 313 km de São Paulo), que já teve a maior usina de álcool no país, mas está em recuperação judicial, com dívidas que somam R$ 341 milhões. A ausência do nome é um indício de que o jato pode ter sido comprado com recursos de caixa dois de empresários ou do partido, segundo policiais ouvidos pela Folha.
(…)
Três advogados ouvidos pela reportagem, dois deles sob condição de que seus nomes não fossem citados, classificaram o documento de “papel de pão”, gíria para designar algo sem validade.
(…)
Voltei
É impressionante que os dirigentes do PSB procurem fazer cara de paisagem diante de um troço como esse. Caso Marina Silva seja eleita, é claro que seu mandato já começa com um escândalo no armário — evidência escancarada da “velha política”.
Não se trata de jogar a responsabilidade do avião nas suas costas. A questão não é pessoal. Caso se eleja, ela chega ao poder com um grupo de pessoas, com quem vai dividir a gestão — ou ela vai se declarar independente do PSB também? De resto, quando Marina foi bater à porta de Eduardo Campos, foi em busca também de sua estrutura, não é? Se ela apenas quisesse participar do pleito, poderia ter escolhido uma das várias pequenas legendas que lhe ofereceram abrigo temporário.
Qualquer político estaria obrigado a explicar esse imbróglio. No caso de Marina, esse peso é ligeiramente maior porque ela aponta o dedo contra todo o processo político e o chama de “velho” e viciado. E aquele em que ela se encora hoje? É o quê?

NO BLOG DO JOSIAS

Um cacique do pedaço do PMDB ainda leal ao governo diz que ficou muito fácil reconhecer em qualquer roda um político da coligação encabeçada por Dilma Rousseff. É o que estiver falando mal de Dilma, ele explica. As críticas aumentam na proporção direta da elevação do risco de derrota.
Por enquanto, o burburinho soa apenas atrás das portas. Na pior hipótese, Dilma terá tinta na caneta até 31 de dezembro, explica um membro do diretório nacional do PT. Mas, confirmando-se a derrota, petistas e aliados culparão Dilma quando puderem falar sobre 2014 sem medo de perder cargos, verbas e privilégios.
Levada no embrulho do desejo de mudança que as pesquisas farejam, Dilma é bombardeada até por seu estilo. Tornou-se mais difícil encontrar um apologista da presidente disposto a repetir a teoria da “firmeza” — aquela segundo a qual Dilma lida mal com questionamentos porque tem convicções sólidas.
No atacado, seus críticos a acusam de autossuficiência, teimosia e inépcia. Ela só chama os partidos que a apoiam para conversar na hora que o calo lhe aperta, afirma um senador governista. A conversa não flui, ele realça. O diálogo só é considerado bom quando ela obriga o interlocutor a calar a boca.
O senador resume: os empresários não confiam na Dilma, os políticos a detestam e os ministros têm medo dela. Quem desconfia não investe. Quem odeia não faz campanha. E quem teme só diz ‘sim senhora’! Como resultado, tem-se a combinação de PIB baixo com inflação alta, desânimo político e inação.
Curiosamente, os governistas isentam Lula de responsabilidade. Foi graças ao apoio dele que Dilma amanheceu um belo dia presidente. Mas os críticos da afilhada alegam que ela está em apuros porque fez ouvidos moucos para os pitacos do padrinho. Nessa versão, Lula engrossa, em privado, a sinfonia de críticas.
Confirmando-se o pior, Dilma será apresentada à adaptação de um velho axioma da política. Diz-se que a vitória tem muitos pais, mas a derrota é órfã. No caso de Dilma, o eventual insucesso virá acompanhado de uma subversão da máxima. Confirmando-se o pior — ou melhor, conforme o ponto de vista — Dilma será vista por seus pseudo-apoiadores como pai e mãe da própria derrota.

NO BLOG DO ALUIZIO AMORIM
Na maioria das vezes discordo de Elio Gaspari. Todavia, como já afirmei aqui em outras ocasiões, Gaspari possui um dos melhores textos da imprensa brasileira. E quando acerta em sua análise, como é o caso de sua coluna na Folha de S. Paulo deste domingo (31), o faz com mestria, justificando a transcrição aqui no blog.
O artigo de Gaspari desnuda Marina Silva. Calma! Refiro-me ao fato de que na verdade faz um exegese do palavreado que se conhece por "marinês", ou seja, uma versão de um "dilmês" rebuscado e com, digamos assim, pitadas de um certo viés exotérico ou seja lá o que for.
Passando tudo isso numa peneira fina, e é o que faz Elio Gaspari com competência, as promessas eleitoreiras de Marina Silva combinam-se perfeitamente com as intenções do PT, ou seja, detonar a democracia representativa. Aliás, revelei com exclusividade aqui no blog, já que os jornalistas que cobrem o Palácio do Planalto não viram nada, ou seja, o extraordinário aparato técnico e tecnológico erguido pelo PT para golpear as instituições democráticas. E, como se vê, os planos de Marina encaixam-se perfeitamente nos "participatórios" criados pelo Gilberto Carvalho, preparados para dar sequência prática ao Decreto 8.243, o já denominado "decreto bolivariano".
Em outras palavras, tanto os projetos do PT como os planos formulados pela Rede de Marina Silva, são como peças de um puzzle que se encaixam perfeitamente materializando um golpe de Estado comunista, igualzinho ao que aconteceu na Venezuela, no Equador e na Bolívia.
O texto de Elio Gaspari não diz isto com todas as letras como estou a fazer aqui, mas o seu artigo deve ser lido com atenção pois vai diretamente ao ponto expondo as falácias marinóides, na verdade um cipoal de contradições escamoteadas ardilosamente. Marina Silva é mais do mesmo, ou seja, uma embusteira! Por isso mesmo que numa eventualidade de um segundo turno entre Dilma e Marina Silva, anulo o meu voto sem maiores delongas.
Quem vota em Marina Silva, ou é um idiota ou um oportunista que, de alguma forma, supõe levar algum tipo de vantagem com a destruição da democracia e, consequentemente, da liberdade. Claro, em regimes bolivarianos é muito mais fácil se locupletar com negócios escusos. O título original do artigo de Gaspari não poderia ser mais perfeito: "As bolsas Plebiscito de Dilma e Marina". Leiam:
Unha e carne do PT: Marina Silva veste o boné vermelho do MST e agora tentar enganar os trouxas com seu discurso enigmático.

Marina Silva merece todos os aplausos. Anunciou em seu programa o que pretende fazer se for eleita. Ela quer criar uma "democracia de alta intensidade". O que é isso, não se sabe. Lendo-a vê-se que, sob o guarda chuva de uma expressão bonita –"democracia direta"–, deseja uma nova ordem constitucional.
Apontando mazelas do sistema eleitoral vigente, propõe outro, plebiscitário, com coisas assim: "Os instrumentos de participação –mecanismos de participação da democracia representativa, como plebiscitos e consultas populares, conselhos sociais ou de gestão de políticas públicas, orçamento democrático, conferências temáticas e de segmentos específicos– se destinam a melhorar a qualidade da democracia."
Marina parte da premissa de que "o atual modelo de democracia (está) em evidente crise". Falta provar que esteja em crise evidente uma democracia na qual elegeu-se senadora, foi ministra e, em poucas semanas, tornou-se virtual favorita numa eleição presidencial. Ela diz que nesse país em crise "a representação não se dá de forma equilibrada, excluindo grupos inteiros de cidadãos, como índigenas, negros, quilombolas e mulheres". Isso numa eleição que, hoje, as duas favoritas são mulheres, uma delas autodefinida como negra.
Marina quer "democratizar a democracia". O jogo de palavras é belo, mas é sempre bom lembrar que na noite de 13 de dezembro de 1968, quando os ministros do marechal Costa e Silva aprovaram a edição do Ato Institucional nº 5, a democracia foi a exaltada dezenove vezes. Deu numa ditadura de dez anos e dezoito dias. A candidata, com sua biografia, é produto da ordem democrática. Ela nunca a ofendeu, mas seu programa vê no Congresso um estorvo. Se o PT apresentasse um programa desses, a doutora Dilma seria crucificada de cabeça para baixo.
Marina não está sozinha com seu projeto de reestruturação plebiscitária. Durante o debate da Band, Aécio Neves criticou a proposta de Dilma de realizar uma reforma política por meio de um plebiscito, rotulando-a de "bolivariana", numa alusão às mudanças de Hugo Chávez na Venezuela. Ela respondeu o seguinte:
"Se plebiscitos forem instrumentos bolivarianos, então a Califórnia pratica o bolivarianismo".
Que todos os santos de Roma e D'África protejam a doutora. Uma coisa não tem nada a ver com a outra. Desde janeiro de 2010, a Califórnia fez 338 plebiscitos e aprovou 112 iniciativas. O mais famoso deles ocorreu em 1978 e tratava do congelamento do imposto sobre propriedades, associado à exigência de dois terços das assembleias estaduais para aprovar aumento de impostos. Tratava-se de responder "sim" ou "não". Deu 65% a 35% e atribui-se a esse episódio um dos maiores sinais do renascimento do conservadorismo americano (em 1980, Ronald Reagan foi eleito presidente dos Estados Unidos).
No Brasil já se realizaram três grandes plebiscitos. Em 1963 e 1993 o povo escolheu entre parlamentarismo e presidencialismo. Ganhou o presidencialismo. Em 2005, a urna perguntava: "O comércio de armas de fogo e munição deve ser proibido no Brasil?" O "não" teve 64% dos votos.
A sério, um plebiscito é simples: "Sim" ou Não"? "Parlamentarismo" ou "Presidencialismo"? Essa é uma prática da democracia direta porque é simples.
A proposta de encaminhamento plebiscitário de uma reforma política só não é bolivariana porque vem a ser um truque muito mais velho que a bagunça venezuelana. Em 1934, Benito Mussolini fez a reforma política dos sonhos dos comissariados. Os eleitores recebiam uma lista de nomes com a composição do Parlamento e podiam votar "sim" ou "não". Il Duce levou por 99,84% a 0,15%.
A República brasileira não está em crise, pelo contrário. Seus poderes Executivo e Legislativo serão renovados numa eleição em que Marina vê vícios profundos, ainda que não os veja na possibilidade de ser eleita. Sua proposta de reordenamento do Estado pode encarnar a vontade do eleitorado mas, na melhor das hipóteses, dá em nada. Na pior, em cesarismo plebiscitário. Da Folha de S. Paulo deste domingo

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